Blog ZEDO TOKO
1º de setembro de 2014
Se Deus criou o mundo e se ele existe é o que menos importa no debate sobre criacionismo.
Fundamental, na crença de que Deus criou o mundo em 7 dias, são e devem ser as implicações conceituais, históricas e políticas dessa caricatura de aparência inofensiva.
Em primeiro lugar, quem acredita nisso não pode, por uma exigência lógica, acreditar que há evolução, história e política.
Por Katarina Peixoto[*]
A imagem caricatural do fanático que denega a existência pregressa dos dinossauros tem veracidade: a existência e o processo de extinção dos dinossauros se deram, comprovadamente, num lapso de tempo maior do que 7 dias.
E os milhões de anos que separam a sua história da nossa, bem como a do planeta, tampouco podem ser contados na arregimentação do velho testamento feita pelos pentecostais.
Na hipótese estapafúrdia de uma jabuticaba pentecostal, isto é, de igreja evangélica peculiar ao Brasil, que admita alguma narrativa metafórica na tese da criação das coisas neste mundo e que, portanto, aceite a existência pregressa de dinossauros (o que implica aceitar a possibilidade de extinção, evolução, progressão e regressão de complexidade dos organismos, mecanismos intrínsecos de maior ou menor velocidade evolutiva, entre outras coisas), restaria a ser esclarecido como a criação das coisas do mundo em 7 dias (ou anos, ou semanas, digamos) tornam inteligíveis a história e a política.
O fato é que não tornam, nem podem tornar.
E aí reside o seu conflito e a sua aversão à democracia.
E é por isso que os representantes pentecostais, em qualquer parte do mundo, advogam uma política descarnada, dogmática e refratária ao esclarecimento.
Rejeitar uma ordem temporal biológica, portanto, não é tão inofensivo, nem conceitual, nem historicamente, como as nossas certezas estéticas e de classe podem dar a ver.
Não é o grotesco do ignorante subletrado o que deve incomodar, pelo menos não somente.
O problema é a presença das suas crenças na nossa vida cotidiana, reivindicando poder sobre ela.
E é revelador da penúria do debate político brasileiro, bem como da tibieza de sua esquerda, não levar a sério o caráter destrutivo, niilista e repressor dessas expressões políticas que estão, em maior ou menor grau, invadindo as esferas de decisão, formulação e comunicação.
Não é um mero oportunismo imoral que explica a adesão do pentecostalismo à teologia de mercado da finança [1].
Não é o ressentimento e uma vingança pessoal, embora a egolatria possa estar presente (e, nesta eleição presidencial, claramente está), o que explica o vínculo conceitual e histórico entre a visão financista da vida social e política com a aversão ao darwinismo, característica dos pentecostais.
As variantes neoclássicas da teoria econômica e a sua concepção rude de utilitarismo e de darwinismo social (que de darwinista nada tem, e de social, menos ainda) andam de par com o desprezo do que chamam de “estado provedor”.
Que fique claro: essa identidade não é inteligível como mera aliança de ocasião, patifaria trivial e fraude histórica.
Se essas coisas estão presentes, e parecem estar, é porque há uma lente, um modo de entender a vida, que as identifica.
Há algumas teses fundamentais, de ambos os conjuntos de crenças, que conferem unidade conceitual entre ambas as doutrinas:
1) a religião não é um fenômeno social, nem comporta interpretações metafóricas, mas uma doutrina, que pode ser acessada pela exegese da literalidade das histórias do pentateuco, ou do Antigo Testamento; assim, Deus criou o mundo em sete dias, criou o homem e, da costela desse, a mulher, tinha uma serpente falante, havia gigantes, a Arca de Noé existiu, etc.;
2) a economia é uma ciência pura, não uma teoria social, nem comporta interpretações históricas, e pode e deve ser entendida a priori;
3) tudo tem e deve ter um preço e o dinheiro não tem outra referência que a si mesmo, logo:
4) o mercado deve agir livremente, sem amarras e
5) o estado, quando é governado pelos hereges, isto é, os políticos, torna-se repressor da atividade desse homem postulado na nossa teoria da natureza humana, informada pela biologia arregimentada pelos darwinistas sociais que não estudaram nem precisam estudar Darwin.
6) na doutrina, isto é, na verdade, o Estado não pode gastar mais do que arrecada: como não há, constitutivamente, qualquer distinção entre o Estado e uma empresa, ou entre o Estado e um banco, déficits são inimagináveis e decorrem da demagogia de que o Estado pode fazer o que, na verdade, não pode.
7) os hipossuficientes materialmente ou mais fragilizados pelas condições econômicas e sociais são perdedores e moralmente inferiores, variantes do pecador, que não levou a sério as exigências do seu livre arbítrio, porque acreditaram na serpente, etc.
8) Deus castiga os pecadores com tanta impiedade como a natureza das coisas como elas são, e a natureza é competitiva, excludente e não tem nem deve ter qualquer ética.
9) a política faz mal à sociedade, porque engana as pessoas e finge que pode ajudá-las e que pode haver tal coisa como mudança social. A mudança, se há, depende de líderes, de elites que vão se formando de acordo com os seus méritos próprios, com a sua natureza, independentemente das condições históricas, das coletividades, da vida em conjunto que, aliás, não existem, são pura invenção, derivada de uma outra ainda mais medonha e perigosa:
10) luta de classes, conflitos de interesses econômicos, negociações e jogos de poder são por natureza ilegítimos e imorais. Não há conflitos políticos e históricos, justificáveis moralmente, tudo isso é invenção retórica, que não corresponde à verdade.
11) o investimento em desenvolvimento, inovação, pesquisa, ciência e tecnologia deve ser privado e o Estado não tem de tutelar nada disso, pois o mercado é mais do que suficiente nesta tarefa.
Nos últimos dias, no debate da Band e na entrevista ao Jornal Nacional (27/08), várias dessas teses foram defendidas.
E elas devem ser levadas a sério, para muito além de um embate moralista.
Importa menos que Marina Silva minta, ao dizer que não é incoerente, do que acredite nos próprios delírios ou mentiras: as suas crenças são descarnadas o suficiente para que ela se veja como plenamente coerente e aí está a periculosidade do que ela representa.
Ela, a horda evangélica e a banca que a apoia e defende, acreditam numa coerência tão postulada como o são (não importa se os representantes da finança são ou não pentecostais, vai sem dizer) as suas teses sobre natureza humana, criação do mundo e funcionamento do Estado e da economia.
Essas crenças denotam um descompromisso genético com a experiência, com a vida encarnada, com as metáforas da vida cotidiana, com as contradições sociais e políticas.
E deixaram, no mundo, um rastro de destruição pelo qual parte significativa do planeta paga, hoje, um alto preço, em desemprego, super endividamento, miséria e destruição ambiental.
É possível que Marina Silva diga hoje que jamais foi ambientalista, nunca foi de esquerda e, ainda assim, que não acredite que está mentindo, como claramente está.
A sua visão de mundo autoriza essa conduta que, para quem é democrático, causa assombro, pela ausência total de qualquer respeito à alteridade, à memória e à experiência política.
Não há coisa alguma de acidental nos pronunciamentos da candidata missionária. O criacionismo, como se pode inferir, denega o acaso, ao contrário do darwinismo, que o toma como constitutivo.
É assim que, diante da mudança de época que a Universidade e a educação brasileira vivem, Marina Silva não se intimida de diagnosticá-la, no rastro do que pensam os seus aliados e apoiadores [2], de maneira reducionista e preconceituosa: há “18% de analfabetos funcionais” (um dado capturado por entidade obscura, em pesquisa, idem, num universo ínfimo).
Ser isto o que ela tem a dizer, além da sua posição contrária à pesquisa com células-tronco, não denota apenas a sua indigência intelectual e política, como o compromisso ideológico que se encaixa perfeitamente nesta indigência: universidade e pesquisa têm de ser feitos pelo mercado.
No quesito ambiental, a calamidade é enunciada em tons glossolálicos [3]. Nem parece preocupar a candidata a sua declaração de ontem [27 de agosto], na entrevista ao Jornal Nacional, que seria uma lenda a sua posição contrária aos transgênicos. O despudor é programático, doutrinário, imune à experiência.
É claro, para quem leu Darwin e leva o legado e as implicações do darwinismo a sério, que ambientalista criacionista é um círculo quadrado.
Trata-se de algo impensável, tamanha a impossibilidade lógica.
É nota característica da penúria de nossas escolas e da vida política da esquerda a negligência com esse debate, com o que está nele implicado.
É assim que a candidata do PSOL à presidência, num rasgo de brutal ignorância, perdeu a melhor chance de expor Marina Silva, no debate da Band. A ignorância quanto às implicações do criacionismo tornam a exigência de respeito aos dissidentes sexuais, aos gays e às mulheres, uma luta frágil.
Não há nada contraditório entre a caricatura pentecostal e o fundamentalismo de mercado: o que une o dois conjuntos de crenças é o dogmatismo descarnado e moralista, sobre a natureza humana, do estado e da economia, o seu descompromisso e o não-reconhecimento de qualquer coisa que não seja redutível, plenamente, a uma doutrina.
É uma união fundamentalista que sempre ameaçou e ameaça toda democracia.
Diante disso, os esquemas de corrupção, os aviões fantasmas, as empresas que pagam milhões e são peixarias de subúrbio, os teóricos rastaqueras de Universidades privadas, idem, pouco importam.
Não há compatibilidade conceitual entre criacionismo, fundamentalismo de mercado, por um lado, e democracia, por outro.
Há um conflito. E deve haver, para a sobrevivência da democracia e da atual experiência democratizante, sem precedentes, já vivida por este país.
Notas:
[1] para citar um exemplo do caráter teológico desse fundamentalismo de mercado, ler artigo sobre este episódio, denunciado pelo economista e professor Michael Hudson, na Universidade de Chicago:
[2] a propósito, vale saber o que pensa um dos assessores econômicos da candidata pentecostal, a respeito da universidade pública e da UNICAMP.
Aqui:
http://cartacampinas.com.br/2014/08/assessor-de-economia-de-marina-silva-defende-que-aluno-da-unicamp-pague-mensalidade/ e aqui:
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2014/08/giannetti-identifica-sectarismo-na-formacao-de-economistas-hoje-no-governo-410.html
[3] sobre o significado de glossolalia.
* é doutoranda em filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Carta Maior
1º de setembro de 2014
Se Deus criou o mundo e se ele existe é o que menos importa no debate sobre criacionismo.
Fundamental, na crença de que Deus criou o mundo em 7 dias, são e devem ser as implicações conceituais, históricas e políticas dessa caricatura de aparência inofensiva.
Em primeiro lugar, quem acredita nisso não pode, por uma exigência lógica, acreditar que há evolução, história e política.
Por Katarina Peixoto[*]
A imagem caricatural do fanático que denega a existência pregressa dos dinossauros tem veracidade: a existência e o processo de extinção dos dinossauros se deram, comprovadamente, num lapso de tempo maior do que 7 dias.
E os milhões de anos que separam a sua história da nossa, bem como a do planeta, tampouco podem ser contados na arregimentação do velho testamento feita pelos pentecostais.
Na hipótese estapafúrdia de uma jabuticaba pentecostal, isto é, de igreja evangélica peculiar ao Brasil, que admita alguma narrativa metafórica na tese da criação das coisas neste mundo e que, portanto, aceite a existência pregressa de dinossauros (o que implica aceitar a possibilidade de extinção, evolução, progressão e regressão de complexidade dos organismos, mecanismos intrínsecos de maior ou menor velocidade evolutiva, entre outras coisas), restaria a ser esclarecido como a criação das coisas do mundo em 7 dias (ou anos, ou semanas, digamos) tornam inteligíveis a história e a política.
O fato é que não tornam, nem podem tornar.
E aí reside o seu conflito e a sua aversão à democracia.
E é por isso que os representantes pentecostais, em qualquer parte do mundo, advogam uma política descarnada, dogmática e refratária ao esclarecimento.
Rejeitar uma ordem temporal biológica, portanto, não é tão inofensivo, nem conceitual, nem historicamente, como as nossas certezas estéticas e de classe podem dar a ver.
Não é o grotesco do ignorante subletrado o que deve incomodar, pelo menos não somente.
O problema é a presença das suas crenças na nossa vida cotidiana, reivindicando poder sobre ela.
E é revelador da penúria do debate político brasileiro, bem como da tibieza de sua esquerda, não levar a sério o caráter destrutivo, niilista e repressor dessas expressões políticas que estão, em maior ou menor grau, invadindo as esferas de decisão, formulação e comunicação.
Não é um mero oportunismo imoral que explica a adesão do pentecostalismo à teologia de mercado da finança [1].
Não é o ressentimento e uma vingança pessoal, embora a egolatria possa estar presente (e, nesta eleição presidencial, claramente está), o que explica o vínculo conceitual e histórico entre a visão financista da vida social e política com a aversão ao darwinismo, característica dos pentecostais.
As variantes neoclássicas da teoria econômica e a sua concepção rude de utilitarismo e de darwinismo social (que de darwinista nada tem, e de social, menos ainda) andam de par com o desprezo do que chamam de “estado provedor”.
Que fique claro: essa identidade não é inteligível como mera aliança de ocasião, patifaria trivial e fraude histórica.
Se essas coisas estão presentes, e parecem estar, é porque há uma lente, um modo de entender a vida, que as identifica.
Há algumas teses fundamentais, de ambos os conjuntos de crenças, que conferem unidade conceitual entre ambas as doutrinas:
1) a religião não é um fenômeno social, nem comporta interpretações metafóricas, mas uma doutrina, que pode ser acessada pela exegese da literalidade das histórias do pentateuco, ou do Antigo Testamento; assim, Deus criou o mundo em sete dias, criou o homem e, da costela desse, a mulher, tinha uma serpente falante, havia gigantes, a Arca de Noé existiu, etc.;
2) a economia é uma ciência pura, não uma teoria social, nem comporta interpretações históricas, e pode e deve ser entendida a priori;
3) tudo tem e deve ter um preço e o dinheiro não tem outra referência que a si mesmo, logo:
4) o mercado deve agir livremente, sem amarras e
5) o estado, quando é governado pelos hereges, isto é, os políticos, torna-se repressor da atividade desse homem postulado na nossa teoria da natureza humana, informada pela biologia arregimentada pelos darwinistas sociais que não estudaram nem precisam estudar Darwin.
6) na doutrina, isto é, na verdade, o Estado não pode gastar mais do que arrecada: como não há, constitutivamente, qualquer distinção entre o Estado e uma empresa, ou entre o Estado e um banco, déficits são inimagináveis e decorrem da demagogia de que o Estado pode fazer o que, na verdade, não pode.
7) os hipossuficientes materialmente ou mais fragilizados pelas condições econômicas e sociais são perdedores e moralmente inferiores, variantes do pecador, que não levou a sério as exigências do seu livre arbítrio, porque acreditaram na serpente, etc.
8) Deus castiga os pecadores com tanta impiedade como a natureza das coisas como elas são, e a natureza é competitiva, excludente e não tem nem deve ter qualquer ética.
9) a política faz mal à sociedade, porque engana as pessoas e finge que pode ajudá-las e que pode haver tal coisa como mudança social. A mudança, se há, depende de líderes, de elites que vão se formando de acordo com os seus méritos próprios, com a sua natureza, independentemente das condições históricas, das coletividades, da vida em conjunto que, aliás, não existem, são pura invenção, derivada de uma outra ainda mais medonha e perigosa:
10) luta de classes, conflitos de interesses econômicos, negociações e jogos de poder são por natureza ilegítimos e imorais. Não há conflitos políticos e históricos, justificáveis moralmente, tudo isso é invenção retórica, que não corresponde à verdade.
11) o investimento em desenvolvimento, inovação, pesquisa, ciência e tecnologia deve ser privado e o Estado não tem de tutelar nada disso, pois o mercado é mais do que suficiente nesta tarefa.
Nos últimos dias, no debate da Band e na entrevista ao Jornal Nacional (27/08), várias dessas teses foram defendidas.
E elas devem ser levadas a sério, para muito além de um embate moralista.
Importa menos que Marina Silva minta, ao dizer que não é incoerente, do que acredite nos próprios delírios ou mentiras: as suas crenças são descarnadas o suficiente para que ela se veja como plenamente coerente e aí está a periculosidade do que ela representa.
Ela, a horda evangélica e a banca que a apoia e defende, acreditam numa coerência tão postulada como o são (não importa se os representantes da finança são ou não pentecostais, vai sem dizer) as suas teses sobre natureza humana, criação do mundo e funcionamento do Estado e da economia.
Essas crenças denotam um descompromisso genético com a experiência, com a vida encarnada, com as metáforas da vida cotidiana, com as contradições sociais e políticas.
E deixaram, no mundo, um rastro de destruição pelo qual parte significativa do planeta paga, hoje, um alto preço, em desemprego, super endividamento, miséria e destruição ambiental.
É possível que Marina Silva diga hoje que jamais foi ambientalista, nunca foi de esquerda e, ainda assim, que não acredite que está mentindo, como claramente está.
A sua visão de mundo autoriza essa conduta que, para quem é democrático, causa assombro, pela ausência total de qualquer respeito à alteridade, à memória e à experiência política.
Não há coisa alguma de acidental nos pronunciamentos da candidata missionária. O criacionismo, como se pode inferir, denega o acaso, ao contrário do darwinismo, que o toma como constitutivo.
É assim que, diante da mudança de época que a Universidade e a educação brasileira vivem, Marina Silva não se intimida de diagnosticá-la, no rastro do que pensam os seus aliados e apoiadores [2], de maneira reducionista e preconceituosa: há “18% de analfabetos funcionais” (um dado capturado por entidade obscura, em pesquisa, idem, num universo ínfimo).
Ser isto o que ela tem a dizer, além da sua posição contrária à pesquisa com células-tronco, não denota apenas a sua indigência intelectual e política, como o compromisso ideológico que se encaixa perfeitamente nesta indigência: universidade e pesquisa têm de ser feitos pelo mercado.
No quesito ambiental, a calamidade é enunciada em tons glossolálicos [3]. Nem parece preocupar a candidata a sua declaração de ontem [27 de agosto], na entrevista ao Jornal Nacional, que seria uma lenda a sua posição contrária aos transgênicos. O despudor é programático, doutrinário, imune à experiência.
É claro, para quem leu Darwin e leva o legado e as implicações do darwinismo a sério, que ambientalista criacionista é um círculo quadrado.
Trata-se de algo impensável, tamanha a impossibilidade lógica.
É nota característica da penúria de nossas escolas e da vida política da esquerda a negligência com esse debate, com o que está nele implicado.
É assim que a candidata do PSOL à presidência, num rasgo de brutal ignorância, perdeu a melhor chance de expor Marina Silva, no debate da Band. A ignorância quanto às implicações do criacionismo tornam a exigência de respeito aos dissidentes sexuais, aos gays e às mulheres, uma luta frágil.
Não há nada contraditório entre a caricatura pentecostal e o fundamentalismo de mercado: o que une o dois conjuntos de crenças é o dogmatismo descarnado e moralista, sobre a natureza humana, do estado e da economia, o seu descompromisso e o não-reconhecimento de qualquer coisa que não seja redutível, plenamente, a uma doutrina.
É uma união fundamentalista que sempre ameaçou e ameaça toda democracia.
Diante disso, os esquemas de corrupção, os aviões fantasmas, as empresas que pagam milhões e são peixarias de subúrbio, os teóricos rastaqueras de Universidades privadas, idem, pouco importam.
Não há compatibilidade conceitual entre criacionismo, fundamentalismo de mercado, por um lado, e democracia, por outro.
Há um conflito. E deve haver, para a sobrevivência da democracia e da atual experiência democratizante, sem precedentes, já vivida por este país.
Notas:
[1] para citar um exemplo do caráter teológico desse fundamentalismo de mercado, ler artigo sobre este episódio, denunciado pelo economista e professor Michael Hudson, na Universidade de Chicago:
[2] a propósito, vale saber o que pensa um dos assessores econômicos da candidata pentecostal, a respeito da universidade pública e da UNICAMP.
Aqui:
http://cartacampinas.com.br/2014/08/assessor-de-economia-de-marina-silva-defende-que-aluno-da-unicamp-pague-mensalidade/ e aqui:
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2014/08/giannetti-identifica-sectarismo-na-formacao-de-economistas-hoje-no-governo-410.html
[3] sobre o significado de glossolalia.
* é doutoranda em filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Carta Maior
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