O curso tumultuado e de acontecimentos abruptos da eleição presidencial vai adquirindo uma tendência de certa previsibilidade.
Qual o centro da contradição em evolução?
A luta entre dois projetos para o Brasil nas condições atuais, que se expressa em acirrado embate político e de ideias do campo democrático, popular e progressista em contraposição ao campo conservador, liberal-financeiro.
Esta é a síntese da disputa política eleitoral da campanha pela presidência da República.
Por Renato Rabelo*
Desabrocha e cresce a campanha da reeleição de Dilma
O bloco conservador que compõe, na sua aliança, os grandes
grupos de mídia do país, atingindo milhões de pessoas, já desde o ano passado
concentrou o gume de seu ataque em fazer desacreditar a presidenta Dilma, numa
feroz e ostensiva campanha antagônica.
De modo explícito, seu objetivo
eleitoral principal é impedir a reeleição da presidenta, abrindo caminho para a
predominância dos seus desígnios.
É impossível para essas forças conservadoras
e oligárquicas, pró-imperialistas, como tem sido na nossa história, aceitar a
continuidade do ciclo político aberto por Lula em 2002, que é expressão de
correntes democráticas e de esquerda.
Desse modo, por óbvio, para eles, o seu
recurso confiável foi a escolha da candidatura de Aécio Neves, originário das
hostes em defesa de seus grandes interesses, com o aval do grão-tucano Fernando
Henrique Cardoso.
Marina, instrumento do bloco conservador
Mas, diante do imprevisto – a morte trágica de Eduardo Campos, a súbita ascensão de Marina Silva e o declínio de Aécio Neves –, a aliança conservadora no seu desiderato obsessivo de truncar o ciclo político aberto em 2003 buscou sua alternativa em face do inesperado, encontrando receptividade mútua na candidatura de Marina Silva.
Marina, instrumento do bloco conservador
Mas, diante do imprevisto – a morte trágica de Eduardo Campos, a súbita ascensão de Marina Silva e o declínio de Aécio Neves –, a aliança conservadora no seu desiderato obsessivo de truncar o ciclo político aberto em 2003 buscou sua alternativa em face do inesperado, encontrando receptividade mútua na candidatura de Marina Silva.
Outro pacto conservador se estabeleceu.
Como já tínhamos afirmado, o “mercado financeiro” – oligarquia financeira e forças conservadoras –, através de Marina, encontrou alguém capaz de topar o que exigem, com uma vantagem:
Como já tínhamos afirmado, o “mercado financeiro” – oligarquia financeira e forças conservadoras –, através de Marina, encontrou alguém capaz de topar o que exigem, com uma vantagem:
ela poderia até ser exposta nesta eleição como
uma espécie de adereço simbólico, representando um “Lula de saias”.
Essa nova
situação se desenrolou, num verdadeiro recomeço da campanha presidencial.
A chamada onda Marina, com as garantias dadas por ela ao “mercado”, com tudo de emoção e apelação simbólica, entusiasmou a santa aliança antiDilma, refletindo no disparo da Bolsa de Valores.
A chamada onda Marina, com as garantias dadas por ela ao “mercado”, com tudo de emoção e apelação simbólica, entusiasmou a santa aliança antiDilma, refletindo no disparo da Bolsa de Valores.
A festa chegou ao cume nesse arraial. Seus
festeiros passaram a vaticinar a decisão do pleito, ganho por Marina, já no
primeiro turno.
Nem tudo que reluz é ouro
Nem tudo que reluz é ouro
Mas, nem tudo que brilha é
luz. A candidatura de Marina em pouco tempo foi demonstrando sua fragilidade,
inconsistência, contradições, seu verdadeiro compromisso e opção.
Ela foi se
adaptando a cada passagem da campanha, imprimindo erratas sucessivas em
posições importantes de seu improvisado programa.
Em verdade, vem sendo uma
candidatura de duas faces, num verdadeiro molejo de afirmação e negação do
mesmo tema.
É inevitável, então, por todos imaginar Marina na condição de
presidente da República, sujeita assim a enormes pressões e disputas.
Crescentes
contingentes do povo vão se dando conta de ser uma fraude o que ela representa
na sua apelação messiânica e forçadamente emocional.
Assim, o projeto que vem sendo pactuado por Marina e seus cortesões, fundamentalmente, é o mesmo de Aécio Neves, comprometido com o campo conservador, liberal-financeiro.
Assim, o projeto que vem sendo pactuado por Marina e seus cortesões, fundamentalmente, é o mesmo de Aécio Neves, comprometido com o campo conservador, liberal-financeiro.
Não há nenhuma terceira via! Marina fez sua
opção, completou sua travessia para o outro lado, extrapolando até o
receituário neoliberal aplicado por Fernando Henrique Cardoso, na década de
1990.
Como os convertidos, para dar demonstração de sua nova crença, Marina
topou “assegurar o mais rapidamente possível a independência do Banco Central,
de forma institucional”, ou seja, dar ao Banco Central o caráter de um poder de
Estado, independente do Executivo. Nem os tucanos tinham ainda chegado a
tanto.
O “mercado” não festeja sem garantias certificadas.
O “mercado” não festeja sem garantias certificadas.
E ainda correu atrás do
chamado agronegócio, contrariando o que defendia, prometendo juras de
compromisso para ter a sua confiança.
A “nova política” como o seu prato de
resistência, pregação da negação dos partidos, tornou-se claro ardil político.
“Hóspede” do Partido Socialista Brasileiro (PSB), a candidata ao Planalto
transforma essa legenda em instrumento dos seus compromissos e objetivos.
Através de seu vice, Beto Albuquerque, reconhece que “não se pode governar sem
o PMDB”, não se afastando da “velha política” tanto quanto quer aparentar.
O
PSB, seu Partido hospedeiro, mantém-se como linha auxiliar do PSDB nos
importantes estados de São Paulo e Paraná.
A candidata ao Planalto esconde
zelosamente as fontes de seus altos rendimentos.
A transparência vale para os
outros, não para ela.
Marina passou a negar o papel fundamental do pré-sal para
o futuro do país; propôs modificar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
flexibilizar o conceito de trabalho escravo, tudo indicando uma ameaça
regressiva.
Essa visão mesclada com as propostas econômicas de cunho neoliberal e sobre o desenvolvimento nacional, defendidas por seus expoentes ideólogos, demonstra uma concepção antagônica à linha de continuar o aprofundamento das mudanças através da realização das reformas democráticas estruturais, progresso social e afirmação da soberania nacional e integração solidária com nossos vizinhos.
Em tempo a verdade vai se impondo.
Essa visão mesclada com as propostas econômicas de cunho neoliberal e sobre o desenvolvimento nacional, defendidas por seus expoentes ideólogos, demonstra uma concepção antagônica à linha de continuar o aprofundamento das mudanças através da realização das reformas democráticas estruturais, progresso social e afirmação da soberania nacional e integração solidária com nossos vizinhos.
Em tempo a verdade vai se impondo.
Neste momento, os analistas de plantão do
próprio campo oposicionista são forçados a reconhecer que Marina perde terreno
no seu súbito favoritismo e que já “esteja em curso uma corrosão política da
postulação marinista” (Editorial da FSP, 20-09-2014).
As sondagens de opinião,
em grande parte submetidas aos monopólios de comunicação, pela aproximação do
pleito são forçadas a diminuir sua margem de manipulação.
Começa se esboçar a
tendência de queda gradativa de Marina, subida progressiva da candidatura da
presidenta Dilma.
Apesar da força de vontade oposicionista em fazer inflar o
seu campo, tentando ressuscitar a candidatura de Aécio, pode-se constatar desde
agora que a tendência principal que vai se firmando é de crescimento da
candidatura à reeleição de Dilma Rousseff.
A aliança oposicionista
tem a
mídia monopolista – TV, radio, jornais e revistas – como sua grande
divulgadora, dado que, verdadeiramente, é de longe o maior tempo de propaganda
política contra a candidatura de Dilma e de sua base de aliança.
Nesta fase de
agudeza da campanha, suas manifestações oposicionistas não se resumem aos
inúmeros articulistas escolhidos e pagos ao seu dispor, seus editoriais
intolerantes ao governo, mas, ainda mais grave, entram no terreno das notícias,
para “informar”, seguindo o padrão de distorcer, ou encobrir os 80% da
conquista alcançada, destacando apenas os 20% que faltam, para arrematar como
resultados de um governo desastroso.
Os exemplos são múltiplos e variados.
Podem-se citar as suas manifestações recentes diante da conquista histórica na
qual o Brasil pela primeira vez sai do mapa estrutural da fome, fato destacado
e reconhecido pelos organismos pertinentes da ONU e omitido por eles, ou a sua
parcialidade ostensiva diante de grandes conquistas desses últimos anos
reveladas nos dados do Pnad, malgrado que dados ainda mais positivos não foram
devidamente apresentados, reconhecidos agora por erros na sua compilação.
Intricado dilema da oposição conservadora
A luta política e de ideias em torno das convicções de temas relevantes, assumidos diretamente pela presidenta Dilma, e seus aliados, no embate explícito com Marina e demais candidatos, tem sido reveladora e necessária para a decisão do povo.
No entanto, na ótica da grande mídia oposicionista, esse embate
esclarecedor é concertado por essa, com a denominação de “ataques” e “campanha
do medo”, num claro viés de sua posição antiDilma.
Entretanto, o verdadeiro
ataque partiu de Marina, quando deixou o plano da própria política, para se
insurgir arrogantemente contra o PT, acusando-o levianamente de ter colocado um
diretor na Petrobras para “assaltar” (sic) essa estatal.
Esse Partido teve que
apelar em sua justa defesa no plano judiciário, impetrando uma ação contra a
agressão rasteira de Marina Silva.
A tendência que vai se esboçando de retomada e avanço da candidatura democrática e mudancista de Dilma Rousseff incomoda acerbamente o bloco oposicionista.
A tendência que vai se esboçando de retomada e avanço da candidatura democrática e mudancista de Dilma Rousseff incomoda acerbamente o bloco oposicionista.
Sua aliança odienta e desesperada, antiDilma, antiPT,
antiesquerda, contrária ao avanço democrático e popular, leva esse consórcio
oposicionista ao desespero e provocação.
Nessa situação, saem, como sempre, do
terreno próprio da política para engrossar o ataque no âmbito de uma farisaica
moral contra a base política do governo democrático e progressista, no uso
recorrente dos meios tradicionais da direita udenista-lacerdista, na tentativa
de confundir para virar o jogo.
Fernando Henrique Cardoso clama a Aécio para
que “dramatize sobre suspeitas da Petrobras”.
A esta altura, próximo do final do primeiro turno, a aliança oposicionista conservadora passou a viver intricado dilema.
A esta altura, próximo do final do primeiro turno, a aliança oposicionista conservadora passou a viver intricado dilema.
As suas duas candidaturas: a de
Aécio não manifesta sinal de uma recuperação maior, enquanto a de Marina vai
esboçando indicações de estagnação e certo declínio.
Mas o que pesa mais para
os oposicionistas é a demonstração incessante que tem revelado grande
fragilidade e inconsistência dessa candidatura.
Para eles, uma aposta de
premissa exitosa no início, contando com a adesão satisfatória dessa candidata
às suas exigências fundamentais, mas que, por sua própria vulnerabilidade cada
vez mais exposta, condicionou uma situação de insegurança no sucesso do
empreendimento marinista.
Esta é uma situação objetiva que amedronta os
círculos oposicionistas conservadores, financeiros, pró-imperialistas,
tornando-os mais temerosos acerca do resultado que almejam alcançar.
A luta política e ideológica se estende na campanha
O campo democrático e mudancista tem avançado e se impõe na luta de ideias, na luta política; a posição e postura firmes e coerentes da presidenta Dilma em procurar esclarecer a trajetória de seu governo, que optou em seguir o caminho de garantir no bojo da crise internacional do sistema elevado nível de emprego e da renda do trabalho; a motivação e mobilização crescente da militância do nosso campo.
A luta política e ideológica se estende na campanha
O campo democrático e mudancista tem avançado e se impõe na luta de ideias, na luta política; a posição e postura firmes e coerentes da presidenta Dilma em procurar esclarecer a trajetória de seu governo, que optou em seguir o caminho de garantir no bojo da crise internacional do sistema elevado nível de emprego e da renda do trabalho; a motivação e mobilização crescente da militância do nosso campo.
Tudo isso contribuiu para se ir
desnudando a verdadeira face da candidatura de Marina Silva e os intentos das
forças conservadoras.
A inconsistência da candidatura de Marina veio sendo
exposta à luz do dia.
A sua coerência foi posta à prova – ela pode se tornar
uma errata de si mesma.
A candidatura de Aécio Neves já vinha sendo
desmascarada no curso do embate político eleitoral, isto já acontecendo no seu
próprio estado de origem, onde assumiu o governo por duas vezes.
Posições nodais entre os dois campos políticos em luta são vincados explicitamente permitindo o esclarecimento mais amplo da população.
Posições nodais entre os dois campos políticos em luta são vincados explicitamente permitindo o esclarecimento mais amplo da população.
Marina à
medida que passou inteiramente para o outro lado se confundiu com as concepções
conservadoras, liberal-financeiras e de alinhamento e dependência com as
grandes potências capitalistas.
O mesmo campo dos grandes interesses dos grupos
financeiros globalizados representados por Aécio.
Vai se tornando patente mais
amplamente que, em suma, a “mudança” defendida por Marina e Aécio é a mudança
de volta às bases do projeto da década de 1990, encabeçado por Fernando
Henrique Cardoso, ancorado nos paradigmas neoliberais, cujos ideólogos e
autores que instruem hoje as duas campanhas oposicionistas são os mesmos
componentes da escola neoliberal desse período.
A mudança defendida por Dilma é
mudança para ir adiante, ou seja, se abre uma nova etapa, um “novo ciclo
histórico” de crescimento – resultante das mudanças alcançadas até hoje –, que
avança e aprofunda as transformações.
O debate que evolui se torna de conhecimento mais amplo, estando expresso em temas relevantes.
A visão do desenvolvimento nacional na qual despontou dois temas divisores de água:
O debate que evolui se torna de conhecimento mais amplo, estando expresso em temas relevantes.
A visão do desenvolvimento nacional na qual despontou dois temas divisores de água:
Banco Central Independente de forma institucional, portanto conformado em
lei como uma instituição fora do poder Executivo, responsável pela condução
macroeconômica à parte do governo federal;
o papel dos bancos públicos –
fortalecidos nesse último período – passaria a um plano auxiliar dos bancos
privados, abrindo caminho para a própria privatização daqueles.
O papel fundamental do
pré-sal e seu modelo de exploração que garante a soberania do Estado nacional
sobre essa imensa riqueza, destinada em grande parte para a educação, saúde e
tecnologia e inovação – outra grande conquista desse último período –, é
colocado por eles à margem da prioridade para o desenvolvimento, mudando seu
modelo de exploração e abrindo caminho para um modelo privatizante.
A visão do papel do desenvolvimento com distribuição de renda e inclusão social maior é conquista desse recente período Lula/Dilma.
A visão do papel do desenvolvimento com distribuição de renda e inclusão social maior é conquista desse recente período Lula/Dilma.
Marina ao defender a
“atualização”, leia-se flexibilização da CLT, mais uma rendição da sua
conversão, abriu caminho para esse debate.
Na visão do campo conservador
liberal, o argumento essencial é de que a criação de riqueza depende de
incentivos de renda.
Desse modo, a desigualdade seria funcional, necessária
para o crescimento e pode ser “corrigida” pelo próprio mercado. Ao contrário do
que defendemos.
Em linguagem simples, a premissa deles é primeiro crescer o bolo
para depois dividi-lo...
A história demonstra como é essa “divisão” depois.
Por
isso, a campanha tangível para o povo, e que vai ganhando grande dimensão, no
dizer da presidenta Dilma é: “Voltar à época de vacas magras para o
trabalhador?
Nem que a vaca tussa”. Ou o slogan agora das Centrais sindicais:
“Mexer nos meus direitos? Nem que a vaca tussa”.
A luta política e ideológica vai ganhando as ruas e a consciência do povo.
A luta política e ideológica vai ganhando as ruas e a consciência do povo.
Assim, as nossas ideias se transformam em força material, sendo o passo decisivo
para o povo compreender o que está realmente em jogo, reelegendo a presidenta
Dilma em outubro – caminho imprescindível para o aprofundamento das mudanças!
* Presidente do Partido Comunista do Brasil – PCdoB.
* Presidente do Partido Comunista do Brasil – PCdoB.
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