‘Não se trata de terrorismo eleitoral, mas de simples análise do pensamento econômico de Dilma Rousseff e dos economistas dos dois outros candidatos’

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por Luis Nassif [título original: 'O projeto de Brasil dos três candidatos']

Nos próximos anos, a Gol deverá adquirir aviões E-Jets E2 da Embraer.

 A TAM também anunciou que até o final do ano deverá realizar encomendas de jatos da Embraer para as rotas regionais. 

Em julho, a Azul assinou pedido firme para comprar 30 aeronaves da Embraer.

Mesmo estando no Brasil, a Embraer só logrou contornar o cerco da Boeing e da Airbus devido ao programa de incentivo à aviação regional lançado pelo governo Dilma.

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Nos últimos anos, apenas no setor naval foram qualificados 97 mil técnicos.

 Em 2014 e 2015 serão mais 18 mil, em 185 categorias profissionais.

 Trabalhando junto ao Sebrae, a Petrobras ampliou de 14 mil para 19 mil fornecedores PMEs (Pequenas e Micro Empresas).

 Hoje em dia o setor naval tem uma carteira de 389 encomendas, no valor de US$ 6,5 bilhões até 2020 e emprega 82 mil trabalhadores.

Esse avanço não seria possível sem o programa de conteúdo nacional e sem as encomendas da Petrobras viabilizando estaleiros nacionais.

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Programas desses tipos não prosperariam em um eventual governo Marina Silva ou Aécio Neves. 

E não se trata de terrorismo eleitoral, mas de simples análise do pensamento econômico de Dilma Rousseff e dos economistas dos dois outros candidatos.

Do ponto de vista conceitual, a visão econômica do governo Dilma é a seguinte:

  1. O país chegou a um nível de desenvolvimento e de democracia social que não comporta mais o achatamento de salários como fator de competitividade.
  2. Para garantir emprego e competitividade, tem que se trabalhar em sistemas integrados de competição, na área de educação, inovação, financiamento, compras públicas, acordos comerciais.
  3. Não há condições do país competir em todos os setores na economia global, dadas as desvantagens competitivas frente a países que já se industrializaram. Se abrir a economia sem negociar, destrói o que resta de indústria nacional.
  4. O caminho consistirá em identificar setores estratégicos montando programas de política industrial visando fortalecê-los.

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A lógica mercadista é outra.

Os economistas não enxergam o país mas o mundo. 

São a favor da abertura das fronteiras comerciais, da liberdade de movimentos dos capitais e contra toda forma de política industrial.

Tratam todos os programas da ótica da economicidade, modelo de política pública que está sendo revisto em muitos países, entre os quais os Estados Unidos.

Nos EUA decidiu-se, anos atrás, que a economia nacional deveria ser a do conhecimento e do serviço, muito mais nobre, exportando a manufatura para os países asiáticos. 

Como consequência, houve perda de empregos e de dinamismo econômico, comprometendo o crescimento nacional e produzindo uma nova onda de concentração de renda.

Ou seja, havia uma lógica microeconômica de economicidade em construir um computador na China ou um automóvel em outro país.

 Do ponto de vista da lógica macroeconômica nacional, foi um desastre.

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Por exemplo, adquirir uma plataforma no exterior sai mais barato do que construir no país com parte de conteúdo nacional.

 Mas o sobre preço do conteúdo nacional lança as sementes para a criação de competência interna e a possibilidade, mais à frente, de transformar o país em um exportador de plataformas.

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Essa mesma lógica vale para todas as demais políticas, inclusive as regionais.

Hoje em dia, há ênfase à regionalização das universidades federais, do Reuni, do Prouni.

A visão mercadista é que a concentração de verbas nas universidades já existentes – especialmente no eixo Rio-São Paulo – é mais produtivo, por encontrar equipes mais capacitadas e instaladas.

Mas a abertura de universidades regionais dinamiza toda a economia regional e permite transformar cidades médias em centros de acumulação de conhecimento, peça central para um desenvolvimento equilibrado.

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No campo macroeconômico, a lógica é similar.

Melhora-se o ambiente econômico, mas sem distinção entre empresas nacionais e internacionais. 

Abre-se a economia completamente, reduzindo as alíquotas de importação.

 Amplia-se a competição, mas retira-se das empresas nacionais o acesso ao crédito subsidiado, às compras públicas.

Ao mesmo tempo, amplia-se o ajuste fiscal, mas só em cima de despesas correntes – e a maior parte das despesas correntes é de cunho social. 

Confere-se ao Banco Central liberdade para utilizar os juros sem limites.

O resultado final será um país meramente exportador de commodities, sem oferecer empregos qualificados e sem condição de manter a melhoria da qualidade de vida de sua população.

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O governo Dilma tem cometido desacertos na gestão macroeconômica, um voluntarismo irritante, um personalismo desastrado.

Mas, dos três candidatos, é a única em condições de manter o modelo atual de desenvolvimento, em uma fase crucial de consolidação do capitalismo brasileiro.