LUIS NASSIF ONLINE
SEG, 15/09/2014 - 10:56
ATUALIZADO EM 15/09/2014 - 10:58
Passei dos 75 anos. Isto significa que já vivi três quartos de século. Descontados os 15 primeiros anos, de inocência, completei 60 de vida política, ou seja, como cidadão da “polis”, plenamente responsável pelos meus atos.
HISTÓRIA ANTIGA
No dia em que Getúlio se matou, eu, dolorido, sofri o drama, cada minuto daquele crime. O líder da oposição era Carlos Lacerda, o Corvo, o mesmo que, dizem, mandava jogar mendigos no Rio da Guarda, quando governador do Rio.
Vivi a eleição de Jânio Quadros e sua renúncia, incompreensível na época. Conheci a covardia, o medo, a delação e a conspiração e o terror quando João Goulart, que o sucedeu, foi deposto em 1964. Por trás do exército, manobravam a oligarquia nacional, o poder imperial dos EUA e a ganância dos poderosos.
TEMPOS DE GUERRA
Entrei na faculdade de direito da UFMG também em 1964. Dois anos depois, liderei um protesto contra a presença, em nosso restaurante, de Pedro Aleixo, então vice-presidente “eleito” da ditadura, que almoçava com Lourival Vilela, nosso diretor. Lourival, bom sujeito e meu amigo, veio até onde a gente berrava e pediu:
– Tião, não faça isso. Deixa o homem em paz!
Não deixamos, e eles se retiraram, sem terminar o almoço.
Até 1968, quando me formei, corri, suei, distribuí manifestos, produzi e preguei cartazes, pichei muros, escrevi panfletos e poemas revolucionários.
NASCE A ESPERANÇA
Não comentarei os chamados “anos de chumbo”. Direi apenas que em 1971, quando a repressão crescia, levei numa madrugada meu irmão Etelvino para o Rio de Janeiro, deixando-o num apartamento vazio na Tijuca. Só soube dele quatro anos depois, já morando no Maranhão, Hoje é um dos dirigentes estaduais do PCdoB.
Veio a abertura e a eleição de Tancredo, que morreu sem tomar posse. Vieram vários governos que tatearam e tentaram sem conseguir nada, ou quase nada. FHC, depois de manipular a reeleição, tentou privatizar o país, e quase conseguiu.
Então veio Lula, e tudo mudou.
A VOLTA POR CIMA
O primeiro passo foi liquidar a ALCA, que pretendia transformar toda a América Latina num vasto quintal dos EUA. O segundo foi abortar as privatizações em massa. O terceiro foi iniciar a lenta, penosa, árdua e difícil batalha pelos miseráveis, com o Bolsa Família, que a direita nunca engoliu. Porque a direita não admite que pobre tenha direitos, a não ser o de trabalhar como burro e morrer de fome.
Lula foi teimoso, inflexível. Como sua genialidade política, com sua intuição e seu carisma, deu muito nó em pingo d’água.
Comeu o pão que o diabo amassou, sendo o mais amargo deles o chamado Mensalão, modelo político-operacional existente desde o Brasil-colônia, que atravessou império e república sem deixar marcas, mas que a direita alvoroçada só passou a enxergar quando membros do PT decidiram usar o modelo.
COMBATENDO AO SOL
Não se governa sozinho. O presidente não é um todo-poderoso. Para atuar e exercer seu mandato, precisa de apoio. E o apoio vem de quem, se é que vem? Do Congresso (Senado e Câmara), do judiciário e da mídia, principalmente da televisão e do rádio, únicos veículos verdadeiramente de massa. Ah, sim, agora temos a internet!
Foi preciso costurar alianças. Com quem? O mais notório partido disponível e onívoro, metido em qualquer barganha, sempre disposto a abocanhar gordas fatias do poder, é o PMDB, saco de gatos nascido do outrora glorioso MDB.
Mas dois partidos não bastam, ou não se aprova nada, que o Congresso não deixa, bloqueando, discutindo vírgulas, botando senões, criando barreiras.
O NOJO À TONA
Um desses partidos aliados indicou o famigerado Paulo Roberto Costa, para diretor na Petrobras. De 2004 a 2012, manobrando na sombra, praticou um rombo estimado em R$ 10 bilhões, beneficiando dezenas de canalhas de seu porte.
Destituído por Dilma, que não gostava dele, Costa aceitou, diante do risco de condenação pesada, a nojenta delação premiada. E denunciou, ou inventaram que denunciou, muita gente graúda. A grande mídia deitou e rolou, como em toda véspera de eleição majoritária: “A Petrobras é um ninho de ratos”, decretou ela.
Duas ideias estão por trás disso: destruir a maior empresa nacional e derrotar a presidente Dilma. Para botar quem, no lugar dela? A grande imprensa ainda não se decidiu por Aécio ou Marina. Espera para dar o bote da conversão instantânea, isto é, espera para saber quem terá mais chances de derrubar o PT, o grande inimigo da direta nacional nos últimos 12 anos. Como Getúlio foi inimigo do Corvo.
MEU ORGULHO
Nunca me deixei cegar. Sei que o Mensalão foi uma farsa muito bem montada. Sei que existe corrupção desde que o mundo existe, e nunca foi tão combatida aqui quanto nos governos Lula-Dilma. Se os acusados não estão na cadeia, culpa de quem? Do judiciário e seus infinitos recursos sobre recursos sobre recursos.
E culpa também do Congresso, que trava qualquer tentativa de reforma política. Mesmo os simplórios conselhos populares, ideia simples de participação popular, não avançam de jeito nenhum. Deputados e senadores morrem de medo do povo.
Estou vivendo meu último quarto de século. Vi muito, vi até demais. Mas não gostaria de ver um presidente entregando a carne dos pobres aos banqueiros.
HISTÓRIA ANTIGA
No dia em que Getúlio se matou, eu, dolorido, sofri o drama, cada minuto daquele crime. O líder da oposição era Carlos Lacerda, o Corvo, o mesmo que, dizem, mandava jogar mendigos no Rio da Guarda, quando governador do Rio.
Vivi a eleição de Jânio Quadros e sua renúncia, incompreensível na época. Conheci a covardia, o medo, a delação e a conspiração e o terror quando João Goulart, que o sucedeu, foi deposto em 1964. Por trás do exército, manobravam a oligarquia nacional, o poder imperial dos EUA e a ganância dos poderosos.
TEMPOS DE GUERRA
Entrei na faculdade de direito da UFMG também em 1964. Dois anos depois, liderei um protesto contra a presença, em nosso restaurante, de Pedro Aleixo, então vice-presidente “eleito” da ditadura, que almoçava com Lourival Vilela, nosso diretor. Lourival, bom sujeito e meu amigo, veio até onde a gente berrava e pediu:
– Tião, não faça isso. Deixa o homem em paz!
Não deixamos, e eles se retiraram, sem terminar o almoço.
Até 1968, quando me formei, corri, suei, distribuí manifestos, produzi e preguei cartazes, pichei muros, escrevi panfletos e poemas revolucionários.
NASCE A ESPERANÇA
Não comentarei os chamados “anos de chumbo”. Direi apenas que em 1971, quando a repressão crescia, levei numa madrugada meu irmão Etelvino para o Rio de Janeiro, deixando-o num apartamento vazio na Tijuca. Só soube dele quatro anos depois, já morando no Maranhão, Hoje é um dos dirigentes estaduais do PCdoB.
Veio a abertura e a eleição de Tancredo, que morreu sem tomar posse. Vieram vários governos que tatearam e tentaram sem conseguir nada, ou quase nada. FHC, depois de manipular a reeleição, tentou privatizar o país, e quase conseguiu.
Então veio Lula, e tudo mudou.
A VOLTA POR CIMA
O primeiro passo foi liquidar a ALCA, que pretendia transformar toda a América Latina num vasto quintal dos EUA. O segundo foi abortar as privatizações em massa. O terceiro foi iniciar a lenta, penosa, árdua e difícil batalha pelos miseráveis, com o Bolsa Família, que a direita nunca engoliu. Porque a direita não admite que pobre tenha direitos, a não ser o de trabalhar como burro e morrer de fome.
Lula foi teimoso, inflexível. Como sua genialidade política, com sua intuição e seu carisma, deu muito nó em pingo d’água.
Comeu o pão que o diabo amassou, sendo o mais amargo deles o chamado Mensalão, modelo político-operacional existente desde o Brasil-colônia, que atravessou império e república sem deixar marcas, mas que a direita alvoroçada só passou a enxergar quando membros do PT decidiram usar o modelo.
COMBATENDO AO SOL
Não se governa sozinho. O presidente não é um todo-poderoso. Para atuar e exercer seu mandato, precisa de apoio. E o apoio vem de quem, se é que vem? Do Congresso (Senado e Câmara), do judiciário e da mídia, principalmente da televisão e do rádio, únicos veículos verdadeiramente de massa. Ah, sim, agora temos a internet!
Foi preciso costurar alianças. Com quem? O mais notório partido disponível e onívoro, metido em qualquer barganha, sempre disposto a abocanhar gordas fatias do poder, é o PMDB, saco de gatos nascido do outrora glorioso MDB.
Mas dois partidos não bastam, ou não se aprova nada, que o Congresso não deixa, bloqueando, discutindo vírgulas, botando senões, criando barreiras.
O NOJO À TONA
Um desses partidos aliados indicou o famigerado Paulo Roberto Costa, para diretor na Petrobras. De 2004 a 2012, manobrando na sombra, praticou um rombo estimado em R$ 10 bilhões, beneficiando dezenas de canalhas de seu porte.
Destituído por Dilma, que não gostava dele, Costa aceitou, diante do risco de condenação pesada, a nojenta delação premiada. E denunciou, ou inventaram que denunciou, muita gente graúda. A grande mídia deitou e rolou, como em toda véspera de eleição majoritária: “A Petrobras é um ninho de ratos”, decretou ela.
Duas ideias estão por trás disso: destruir a maior empresa nacional e derrotar a presidente Dilma. Para botar quem, no lugar dela? A grande imprensa ainda não se decidiu por Aécio ou Marina. Espera para dar o bote da conversão instantânea, isto é, espera para saber quem terá mais chances de derrubar o PT, o grande inimigo da direta nacional nos últimos 12 anos. Como Getúlio foi inimigo do Corvo.
MEU ORGULHO
Nunca me deixei cegar. Sei que o Mensalão foi uma farsa muito bem montada. Sei que existe corrupção desde que o mundo existe, e nunca foi tão combatida aqui quanto nos governos Lula-Dilma. Se os acusados não estão na cadeia, culpa de quem? Do judiciário e seus infinitos recursos sobre recursos sobre recursos.
E culpa também do Congresso, que trava qualquer tentativa de reforma política. Mesmo os simplórios conselhos populares, ideia simples de participação popular, não avançam de jeito nenhum. Deputados e senadores morrem de medo do povo.
Estou vivendo meu último quarto de século. Vi muito, vi até demais. Mas não gostaria de ver um presidente entregando a carne dos pobres aos banqueiros.
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