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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Haroldo Lima: Os furos de Marina na questão energética.



Haroldo Lima: Dois pontos nevrálgicos estranhamente sacrificados

A parte energética do Programa da candidata Marina Silva é espantosamente despropositada e retrógrada. Levaria o Brasil a perder o rumo de sua construção. 

O aspecto mais dramático introduz no debate em curso, decorre de duas questões: a do pré-sal e a nuclear.

Por Haroldo Lima*, especial para o Vermelho

Exploração do pré-sal

Exploração do pré-sal

O texto divulgado esmera-se em proclamar as virtudes da energia renovável, mas passa por alto sobre o quanto o Brasil já fez e está fazendo nesse terreno.

 Nossa matriz energética, das mais limpas do planeta, é fundada na hidroeletricidade, na produção de biocombustíveis e num despertar vigoroso da energia eólica. 

Em cada um desses aspectos, estamos entre os primeiros países do mundo. O texto é, contudo, omisso em indicações concretas sobre como proceder para enfrentar a crise que hoje assola os produtores de biocombustíveis.

Mas, o aspecto mais dramático que a parte energética do programa da candidata Marina Silva introduz no debate em curso, decorre de duas questões: a do pré-sal e a nuclear.

É tão diminuta a referência ao pré-sal no Programa da candidata Marina, que a gente desconfia que o assunto esteja em outro lugar do texto.

 E qual não é a surpresa, quando se constata que é isto mesmo, que o pré-sal praticamente foi ignorado naquele caudaloso documento.

As imensas acumulações de óleo e gás descobertas em 2006 e anunciadas à Nação em 2007, conhecidas como “pré-sal”, constituem, por assim dizer, a “joia da coroa”, a maior jazida do gênero encontrada no mundo nas últimas décadas. 

Sua pujança movimentou o Executivo e o Legislativo de nosso país durante dois anos, na busca da melhor forma de explorá-la.

 Levou também, “coincidentemente”, o Governo americano a revitalizar sua 4ª Frota, a que cuida do sul do Rio Grande, onde estamos.

Colocar os gigantescos recursos recém-descobertos a serviço da Nação, de forma concreta e direta, foi o que se conseguiu fazer, depois de muito esforço. 

Introduziu-se a partilha como núcleo do novo marco regulatório e pôs-se em lei que 75% dos royalties do petróleo extraído no país irão para a educação, além de 50% do Fundo Social do pré-sal, e que 25% desses royalties irão para a saúde. No total, esses recursos podem chegar a mais de R$1 trilhão, no curso de três décadas e meia.

Enfim, a cadeia de fornecedores a ser organizada, a política do conteúdo local, que fortalece a indústria brasileira, as cerca de 40 plataformas necessárias ao grandioso projeto, tudo isso, pela sua magnitude e viabilidade, passou a ser, irreversivelmente, parte fundamental de qualquer planejamento futuro do Brasil.

Desconsiderar o pré-sal e admiti-lo com aparente desprezo, é uma posição da candidata Marina desajustada do Brasil real. Mas seu Programa incorre em outro erro palmar: o refugo à energia nuclear.

No Programa, chegou a ser publicada uma referência singela ao “programa de energia nuclear”, merecedor de “aperfeiçoamento e aumento de sua presença na matriz energética do país.” Horas depois, esse trecho foi retirado, com a explicação de que houvera “erro de revisão”.

Tudo parece indicar que estamos diante de uma idiossincrasia visceral e anacrônica à energia nuclear, longe dos interesses brasileiros, da tendência mundial e das correntes ecológicas mais avançadas.

Longe dos interesses brasileiros porque temos a sexta reserva de urânio do mundo, com 300 milhões de toneladas, e precisamos levar em conta os três princípios da sustentabilidade energética, o uso de fontes diversificadas de energia, de fontes limpas e de fontes disponíveis. 

Também não podemos descurar dos investimentos já feitos e do parque que já temos, onde se produz a energia termoelétrica mais barata do país.

Tampouco a tendência mundial é de dispensar a fonte nuclear. No ano passado, 438 usinas nucleares estavam em operação no mundo, 71 em construção, 26 na China, que já tem 15. Nós, duas.

Finalmente, os ecologistas mais avançados orientam-se pela ideia de conter o aquecimento global do planeta, diminuindo o consumo do combustível de origem fóssil e substituindo-o gradativamente por fontes alternativas, limpas, que não produzem gases poluentes. 

Assim, o uso da energia nuclear é um elemento para se combater o aquecimento global.

A propósito, é bom nos mirarmos no que escreveu, talvez o mais conhecido cientista ambientalista da atualidade, o inglês James Lovelock, em seu livro “A vingança de Gaia”, (pág. 11, ed Basic Books, 2006), do qual reproduzo as seguintes passagens:

“Eu sou um “verde” e devo ser classificado entre eles, mas, antes de tudo sou um cientista; por isto apelo aos meus amigos “verdes” para que reconsiderem sua crença ingênua de que tudo que é preciso fazer é defender o desenvolvimento sustentado, as energias renováveis e a economia de energia. 

Acima de tudo devem abandonar sua teimosa objeção à energia nuclear.”.

“Mesmo que estivessem certos a respeito dos perigos dessa energia – e não estão – o uso da energia nuclear, como fonte confiável e segura ofereceria uma ameaça insignificante, quando comparada às reais ameaças de intoleráveis e letais ondas de calor e a elevação do nível dos mares…” “A energia renovável… certamente tem futuro… mas nós não temos tempo…” “A civilização… tem que usar a energia nuclear agora, ou sofrer as dores que logo serão infligidas pelo nosso planeta enraivecido.” “Eu não estou recomendando (a energia nuclear)… como uma panaceia de longo prazo…”. “Eu a vejo como a única medicação efetiva de que dispomos agora”. “Ela é a medicação disponível, segura e limpa, capaz de suprir a demanda de eletricidade para manter acesas as lâmpadas desta nossa civilização…”.

Haroldo Lima é consultor na área de petróleo e ex-Diretor Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

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