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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Comissão da Verdade: Ossadas da Vala Clandestina de Perus começam a ser identificadas


Portal Vermelho
04/09/2014

Passados 24 anos desde que a vala comum clandestina do Cemitério Dom Bosco, na região de Perus, na capital paulista foi aberta, finalmente as 1049 ossadas encontradas serão analisadas e identificadas. 

Criada durante a ditadura militar, acredita-se que a vala comum foi utilizada para ocultar cadáveres de presos políticos, além de jovens assassinados pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) e vítimas de meningite que o Estado brasileiro na época tentou esconder.

Por Mariana Serafini, do Vermelho


Reprodução
A vala clandestina do Cemitério Dom Bosco foi criada durante a ditadura militar e só reaberta em 1990, mas a identificação dos corpos será feita apenas agora, passados 24 anos da descoberta das 1049 ossadas




 

A vala clandestina do Cemitério Dom Bosco foi criada durante a ditadura militar e só reaberta em 1990, mas a identificação dos corpos será feita apenas agora, passados 24 anos da descoberta das 1049 ossadas

Um ato solene, realizado na tarde desta quinta-feira (4) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, marcou a retomada dos trabalhos de análise e identificação das ossadas da Vala de Perus, como é conhecida a vala clandestina do cemitério Dom Bosco. 

Esta data marca os exatos 24 anos que a vala foi aberta, durante a gestão da então prefeita de São Paulo, Luíza Erundina, no dia 4 de setembro de 1990. 

Os trabalhos de análise e identificação dos corpos ocultados pela ditadura militar são fruto de uma parceria da Comissão Nacional da Verdade com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, a Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que vai realizar a pesquisa e a investigação. 

De acordo com a ministra da secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, a secretaria constituiu uma equipe de profissionais especialistas em antropologia forense que vão trabalhar junto à Unifesp. 

Esses profissionais já tem uma larga experiência, pois trabalharam na identificação de corpos ocultados durante as ditaduras militares da Argentina e do Peru. 

“Todos os esforços serão depositados na busca pela verdade. Esse é o desejo da nossa presidenta [Dilma Rousseff] que teve o corpo, a carne, a mente e o coração atingidos por este período tão duro que a sociedade brasileira enfrentou”, disse emocionada a ministra. 

Para Ideli, o trabalho desenvolvido pela secretaria de Direitos Humanos na busca de uma resposta definitiva sobre a Vala Clandestina de Perus é importante para a memória, verdade, justiça e reparação, mas principalmente para que novas valas não venham a ser criadas pela política de extermínio, ainda utilizada pela Polícia Militar de São Paulo. 

A reitora da Unifesp, Soraya Smaili, encara como um desafio os trabalhos que serão desenvolvidos pela instituição de ensino.

 “Nós entendemos que é papel da universidade pública proporcionar memória verdade e justiça à sociedade, e fomentar que a ciência trabalhe a serviço destes objetivos”, disse. 

Ela anunciou que o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense no campus na universidade já está pronto para iniciar a investigação. 

Segundo um dos membros da equipe, o grupo de trabalho vai buscar analisar e identificar as ossadas e, a partir disso, terá condições de dizer quem eram e como essas pessoas morreram. 

O secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, acredita que o Estado brasileiro deu um novo passo rumo à democracia plena, ao retomar a identificação das ossadas da Vala de Perus. 

Para ele, este ato solene foi um marco no tratamento do Estado aos indigentes. “São mais de mil histórias que certamente terão por traz delas uma realidade de violação dos direitos humanos e o Estado terá de dar resultados concretos na busca pela verdade”. 

Já o secretário municipal de Direitos Humanos da capital paulista, Rogério Sotili, destacou a vontade política do prefeito Fernando Haddad em assumir este projeto.

 “A identificação das ossadas da Vala de Perus é uma bandeira que temos levado muito a sério em nossa gestão.

 Inúmeros jovens, quase todos negros, morriam ontem e continuam morrendo hoje pelas mãos da polícia do Estado”. 

Para ele, identificar os mortos da ditadura militar é também uma forma de enfrentar os crimes cometidos pela Policia Militar de hoje, uma instituição que não passa de uma herança sombria dos anos de chumbo. 

E neste sentido a ministra da secretaria nacional de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, afirmou que “a impunidade dos torturadores e assassinos [da ditadura militar] reflete, sem dúvida nenhuma, na impunidade de toda a polícia militar hoje”. 

O deputado Adriano Diogo (PT-SP) coordenou a mesa de trabalhos durante a sessão solene. 

Ele é também o presidente da Comissão da Verdade de São Paulo “Rubens Paiva” e defende a revisão da Lei da Anistia, para que os torturadores e assassino da ditadura possam ser punidos. 

A investigação sobre as ossadas da Vala de Perus vai além, os profissionais tentarão descobrir quem foi o responsável pela abertura da vala no cemitério municipal que foi construído durante a administração do então prefeito Paulo Maluf. 

A solenidade contou com a presença de autoridades políticas, movimentos sociais e familiares de mortos e desaparecidos. 

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