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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

23 mulheres inspiradoras que tornaram 2016 um ano melhor. Por Nathali Macedo

Diário do Centro do Mundo


Postado em 29 Dec 2016 

Listar as mulheres que mais me inspiraram em 2016 é a escolha mais difícil com a qual tive que lidar desde que precisei escolher uma profissão. 

É impossível listar todas – logo, é preciso escolher. 

Este foi o ano que me deixou atônita, como se mulheres incríveis brotassem consecutivamente em todos os lugares – na música, na internet, no jornalismo, no cinema, na política, nas escolas, nos realitys de culinária. 

Se não fosse de um prazer orgástico, teria sido difícil acompanhar todas. 

Portanto, por mais acusações (justas) que pesem contra 2016, ninguém pode lhe negar esse mérito: nós conhecemos mulheres fantásticas. As palavras mulher e poder estiveram juntas algumas vezes, e as palavras mulher e força estiveram juntas sempre.

Essa lista deveria ser quilométrica (mas ninguém teria paciência pra terminar de ler). 

Não fugi à tarefa quase masoquista de listar apenas algumas – em ordem alfabética, porque em ordem de preferência já é demais. 

1. Amara Moira – Em plena fogueira que se tornou a discussão em torno da prostituição – até mesmo internamente, no próprio movimento feminista – a escritora e doutoranda transexual Amara Moira lançou o livro “E se eu fosse puta?” em que conta, com uma sinceridade áspera e sob um viés no mínimo pouco visitado – o de que a prostituição deve ser debatida antes de ser demonizada – sua própria história de transição e prostituição. Corajosa, para dizer o mínimo. “E se eu fosse puta” é, aliás, uma leitura mais do que necessária.

2. Ana Júlia Ribeiro – A secundarista que protagonizou o discurso mais bonito e incisivo de 2016 tem só dezesseis anos – mas luta como mulher feita, e eu não poderia deixar de listá-la (se fizesse isso, talvez não conseguisse dormir). A estudante paranaense – que se tornou o rosto das ocupações de 2016 – deu aula de democracia aos deputados da Assembleia Legislativa do Paraná – e ao Brasil. Relembre aqui (https://www.youtube.com/watch?v=oY7DMbZ8B9Y). 

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3. Anna Muylaert – A cineasta Anna Muylaert é a cabeça por trás do premiado “Que Horas Ela Volta”. Através da história de Val (Regina Casé), e sua filha Jéssica – com a atuação brilhante de Camila Márdila – Anna toca com sensibilidade e precisão em pontos adstringentes – e sobre os quais pesa certa urgência didática – da classe média brasileira. O filme é de 2015, mas a representatividade artística e política de Muylaert é atemporal. 

4. Clara Averbuck – A escritora Clara Averbuck dialoga tão bem com esta geração que a sensação que se tem é que ela está – no auge de sua didática impecável – numa conversa amistosa com amigos chegados. Clara é uma das fundadoras do portal Lugar de Mulher e autora do romance “Toureando o Diabo” (além de muitos outros títulos) – não por acaso, a história de uma mulher e suas memórias. 

5. Cynara Menezes – Idealizadora do blog Socialista Morena, que, segundo ela mesma, é um espaço virtual de ideias e notícias com viés esquerdista. Mas também de literatura, música, cinema, HQ, humor, viagens.

A jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia já transitou por diversos veículos midiáticos, como Jornal da Bahia: Folha de S.Paulo, Estadão, revistas IstoÉ/Senhor, Veja, Vip e Carta Capital, e é atualmente colunista da revista Caros Amigos e do próprio blog: www.socialistamorena.com.br

6. Dilma Rousseff – Talvez o mérito mais notório da Presidenta Legítima – porquanto eleita democraticamente – seja o de não ter se acovardado em momento algum, mesmo pressionada e perseguida – diferente do que fizeram os golpistas. A honestidade de Dilma, em um país em que existem Geddel, Michel Temer e Eduardo Cunha (para ser sucinta nos exemplos), é digna de um prêmio. O Financial Times sabe disso, por isso premiou-a merecidamente como uma das mulheres do ano de 2016, ao lado de Beyoncè e Hilary Clinton. O Brasil lhe deve, além de um pedido de desculpas, todo respeito e admiração.

7. Djamilla Ribeiro – Filósofa, ela é uma das grandes representantes do feminismo negro da atualidade. É feminista, pesquisadora na área de Filosofia Política, colunista da Revista CartaCapital e recentemente foi nomeada secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

8. Elza Soares – O álbum “A Mulher do Fim do Mundo” é do final de 2015, mas, ao menos pra mim, significou o primeiro espanto positivo com o poder feminino em 2016. Além do mais, foi neste ano que Elza ganhou o Grammy Latino como melhor álbum de música popular brasileira (então tá valendo). 

Além do presente que são essas músicas, sobretudo para esta geração, Elza foi a personificação da representatividade, engajada em causas como as questões de gênero e raça. “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim” e “A carne mais barata do mercado é a negra” deveriam ser hinos, se é que não já são. 

9. Emma Watson – Nem só de Hermione Granger vive Emma Watson. Além de atriz talentosíssima – ela ganhou nada menos que vinte e um prêmios durante sua carreira – Emma é Embaixadora da Boa Vontade da ONU para Mulheres, ativista feminista e agora professora da Universidade de Harvard. Como se não bastasse, recusou o espartilho no filme “A bela e a fera” – uma escolha no mínimo simbólica no que diz respeito ao enfrentamento à ditadura da beleza – e distribuiu livros feministas com dedicatória no metrô de Londres. Tradução literal do que eu quero ser quando crescer.

10. Fernanda Gentil – A talentosa apresentadora Fernanda Gentil merece o troféu quebradora de paradigmas 2016. Primeiro, respondeu com serenidade e elegância às críticas infundadas sobre o seu corpo. Depois, assumiu seu namoro com a também jornalista Priscila Montandon, resistindo invicta à onda de ataques lesbofóbicos dos quais foi vítima na internet e fora dela. 

11. Gleisi Hoffmann – A senadora Gleisi Hoffmann usou seu talento oratório e seu engajamento sagaz em prol da democracia e do Brasil. Foi uma das mais combativas ao golpe no Senado. Clara e firme em seus argumentos, fez com que Cristovam Buarque confessasse – não que todos já não soubessem – a principal motivação do golpe: Os golpistas não ganhariam nas urnas. 

12. Jandira Ferghali – Impossível esquecer a cena de Flávio Bolsonaro fingindo desmaio no debate da Band, após ser confrontado incansavelmente por sua oponente Jandira Ferghali. Jandira é uma daquelas mulheres de grelo duro que desmascaram – não que esta seja uma tarefa tão difícil assim – a covardia de certos homens (sexo forte?) da política brasileira. Como sendo, além de combativa, generosa e humana, Jandira – que também é médica – tentou socorrer Flávio durante o patético episódio, mas foi impedida pela falta de bom-senso de Jair Bolsonaro. 

Engajada em causas sociais, é autora da Lei Complementar que cria a Contribuição Social sobre Grandes Fortunas – que claramente seria uma solução possível para o Brasil, acaso Michel Temer não houvesse, em vez disso, optado pelo congelamento de gastos por vinte anos. 

13. Letícia Sabatella – Quando penso em Letícia Sabatella, me vem, primeiro, a imagem dela interpretando “Geni e o Zepelim” (e o arrepio que me dá todas as vezes em que assisto). Depois, a imagem de uma mulher serena, de tão segura – o cruzamento exato entre doçura, coragem e altruísmo. Como se não bastasse tudo o que Letícia sempre foi – talentosa, autêntica e politicamente engajada – ela preparou o elenco da peça “Haiti somos nós”. Atenção para a curva dramática: O elenco era formado por haitianos refugiados em São Paulo. 

14. Lola Aronovich – Lola Aronovich é uma das mais antigas blogueiras feministas de que se tem notícias. Ela é professora da UFC, doutora em Literatura em Língua Inglesa pela UFSC e escreve desde 2008 em seu Blog “Escreva, Lola, Escreva” (http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/) sobre cinema, literatura, política, mídia, e, segundo ela própria, sobre o que mais lhe der na telha, mas também e principalmente sobre feminismo. Em 2016, foi alvo de ameaças de morte por parte de “defensores dos direitos dos homens” – sim, você leu certo – que tentaram, em vão, silenciá-la. 

15. Luiza Erudina – Idade tem a ver com alma, dizem, e, se é assim, Erudina não tem os 82 anos que constam em sua carteira de identidade: O vigor é de vinte e poucos. Nenhuma retrospectiva 2016 que se preze pode esquecer dela sentando na cadeira de Eduardo Cunha – o gângster – pra impedir que o então Deputado atropelasse, não por acaso, uma votação de criação de comissões da Mulher, do Idoso, da Criança e do Adolescente, da Juventude e Minorias. Quero chegar aos 82 como ela: repetindo a plenos pulmões que “não queremos que nossas questões sejam decididas por homens”.

16. Madonna – Madonna é muito mais do que a rainha do pop: É uma figura emblemática e representativa, estética e politicamente. Ao aceitar o prêmio merecido de Mulher do Ano, ao invés de limitar-se a agradecer, falou sobre sexismo, misoginia e sua história de luta contra o abuso e a LGBTfobia.

17. Manuela D’ávila – A deputada Manuela D’ávila tem se tornado um ícone feminista na política brasileira. Ela levanta as bandeiras da diversidade sexual e do combate ao machismo – tendo criado uma cartilha que esclarece a questão dos relacionamentos abusivos – enquanto exerce o seu direito de amamentar a filha, a pequena Laura, inclusive em plenária. 

18. Marcia Tiburi – Graduada em filosofia e artes, mestre e doutora em filosofia (UFRGS, 1999) e colunista da Revista Cult, Marcia publicou diversos livros de filosofia, dentre eles “Como conversar com um fascista”, sucesso de público e crítica. Ela ofereceu análises lúcidas e didáticas sobre os diversos acontecimentos políticos – quais acontecimentos, afinal, não são políticos? – do país em 2016. 

19. MC Carol – Contrariando o elitismo intelectual de quem afirma que “funk não é cultura”, MC Carol nunca precisou abaixar a cabeça para os padrões da chamada boa música brasileira. Negra, gorda e periférica, ela é a própria personificação da representatividade das minorias. A funkeira, que, além dos padrões musicais, quebra também padrões estéticos e, porque não dizer, políticos, compôs a música “Delação”, um retrato cru e brasileiríssimo do cenário político do país. 

20. Nana Queiroz – Diretora de redação da revista AzMina – uma das revistas feministas que mais se destacaram em 2016 e finalista do prêmio “Troféu Mulher IMPRENSA”, é autora do livro “Presos Que Menstruam”, uma narrativa tocante e urgente sobre as encarceradas brasileiras. 

21. Rafaela Silva – O Brasil não esquecerá – a menos que seja muito ingrato – o nome da judoca Rafaela Silva, que trouxe o primeiro ouro para o Brasil nas Olimpíadas Rio 2016. Negra e pobre, Rafaela foi beneficiada pelo programa Bolsa Pódio, criado em 2011, durante o governo Dilma. O incentivo, somado ao talento e à perseverança inesgotáveis de Rafaela, tornaram-na exemplo de atleta e – como não deixaria de ser – de mulher. 

22. Vanessa Graziottin – Ao lado de Gleisi, a também senadora Vanessa Graziottin teve um papel crucial no embate entre defensores da democracia e defensores do golpe no Senado. Em razão de sua postura, ela foi atacada e silenciada pelo também Senador Renan Calheiros – tendo respondido sempre à altura. Foi ela, também, quem inquiriu Janaína Paschoal – que deveria estar na lista de mulheres “desinspiradoras” de 2016 – levando-a a confessar ter recebido 45 mil reais do PSDB pela petição do golpe. Ver mulheres como Vanessa e Gleisi no Senado renova nossas esperanças de mais mulheres – em quantidade e qualidade – ocupando os lugares de poder no Brasil. 

23. Viola Davis – A atriz Viola Davis é a primeira negra a ganhar o Emmy, mas isso não é tudo: Ao receber o prêmio, a protagonista de How to get away with murder fez um discurso inesquecível e com força política inquestionável: “Deixem-me dizer algo: a única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”.

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Sobre o Autor
Colunista, autora do livro "As Mulheres que Possuo", feminista, poetisa, aspirante a advogada e editora do portal Ingênua. Canta blues nas horas vagas.

66 cenas da época de ouro do cinema com o hit 'Uptown Funk'


- Vírgula, no face

O canal Nerd Fest do Reino Unido reuniu 66 cenas da época de ouro do cinema com o hit 'Uptown Funk' ヽ(^.^)ノヽ(⌐■_■)ノ♪♬


quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

ROBERTO CARLOS & MARISA MONTE - "AINDA BEM"


-- do face

ROBERTO CARLOS & MARISA MONTE -  "AINDA BEM" (Arnaldo Antunes)
E pra quem não assitiu, vale a pena conferir o melhor da noite!

Especial Roberto Carlos 23/12/2016- "'Ainda Bem" com Marisa Monte

Assassinos do metrô torceram o coração de uma cidade


Passados três dias do assassinato brutal, dois agressores foram presos em meio à comoção por justiça


Familiares e curiosos clamam por justiça na chegada dos agressores na delegacia

A última quarta-feira do ano terminou com a prisão dos primos Alípio Rogério Belo dos Santos, 26, e Ricardo do Nascimento Martins, 21, os dois jovens que espancaram um homem até a morte neste domingo, dia 25 de dezembro. Na delegacia onde prestaram depoimento, no terminal Barra Funda, uma das estações de metrô mais movimentadas de São Paulo, o clima foi tenso. Familiares e curiosos clamavam por justiça, talvez numa tentativa emocionada de tentar aplacar o sentimento de revolta e incompreensão gerado pelo que foi visto nas imagens das câmeras de segurança da estação Dom Pedro II, onde o crime aconteceu no centro da cidade. Na filmagem, que dura pouco mais de um minuto, o vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas, o Índio, 54 anos, é chutado e surrado até a morte. O motivo aparente é ter tentado impedir que Santos e Martins batessem em duas travestis chamadas de Brasil e Pandora.

Tudo nessa história parece ter sido feito para chocarcomo disse o jornalista Leonardo Sakamoto em sua coluna. Um senhor que é espancado brutalmente por ter defendido duas moradoras de rua. As imagens que mostram chutes e socos desferidos quase que exclusivamente contra a cabeça da vítima. O socorro de transeuntes ou seguranças do Metrô que não veio a tempo. O resgate da ambulância que demora mais de uma hora. O fato dos agressores serem dois jovens, que não satisfeitos com a primeira sessão de espancamento, voltam segundos depois para continuar a bater. A data em que tudo aconteceu: noite de Natal. Assim, a indignação de quem se espremia para ver a passagem dos agressores ao entrarem na delegacia nesta quarta-feira é facilmente compreendida. Muito poderia ser dito, contudo, por trás de tudo isso, há um número brasileiro que se repete ano a ano sem que nada mude.

O número, do qual Ruas provavelmente nunca ouviu falar e do qual agora faz parte, revela que 328 LGBTs morreram em decorrência da homofobia e transfobia em 2016. O dado, atualizado diariamente pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), é medido desde 2011 e nunca ficou abaixo da casa das 300 mortes. O ambulante, heterossexual, é o último caso acrescentado à estatística deste ano, que também pode ser lida desse modo: a cada 26 horas um brasileiro comete suicídio ou é assassinado por outros brasileiros que não conseguem lidar com orientação sexual diversa da tida como “padrão”. O número, importante dizer, é considerado subestimado, já que as ocorrências que o compõe são apenas as que ganham repercussão na mídia – por trás do caso de Ruas está a realidade das 300 e tantas mortes anuais que continuam a se repetir longe das câmeras.

Luiz Carlos Ruas, o Índio, em foto de arquivo pessoal REPRODUÇÃO

“Pegaram o meu coração e torceram", lamentou a viúva de Ruas, Maria Souza Santos, um sentimento comum aos paulistanos que se solidarizaram com a vítima da crueldade praticada em pleno dia de Natal. A cidade consegue viver o luto com Maria depois de assistir ao doloroso assassinato nas imagens captadas pelo Metrô. Mas muitas vezes deixa de se sensibilizar com outras mortes parecidas porque elas são só números, sem registro em vídeo da covardia que está por trás desses homicídios.

É verdade que o advogado dos jovens se prontificou a dizer que o assassinato não foi motivado por homofobia, mas sim por uma suposta tentativa de roubo. É verdade que haverá quem questione a inclusão da morte de Índio na estatística – como as discussões nas redes sociais já começaram a mostrar. Mas isso não deveria entrar em questão. É que não é por acaso que as travestis agredidas estavam lá. Ao pedir para que os agressores parassem, foi a realidade delas, moradoras de rua, que o ambulante defendeu. Ao defendê-la, tornou-se parte dela própria. Para entender, talvez seja necessário mostrar com mais números o que Ruas provavelmente entendeu pela empatia gerada na convivência diária com as travestis, proporcionada por seus 20 anos de trabalho como masqueteiro na estação Dom Pedro II.

Um Levantamento feito pela ONG Transgender Europe, por exemplo, diz que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Por aqui, a expectativa de vida dessa população é de apenas 35 anos, enquanto a média nacional está na casa dos 75. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais também mostra que apenas 10% dessa população trabalha com carteira assinada. A rejeição da sociedade, a necessidade de esconder a própria identidade de gênero, a instabilidade cotidiana, quase sempre empurra essas pessoas para uma vida marginalizada, fadada à prostituição e ao abandono. Mais uma vez: as travestis Brasil e Pandora não estavam lá por acaso. Elas foram o alvo das agressões como consequência de uma realidade inegável que vivem. Ao receber os chutes e socos, Ruas também foi elas.

No sobrenome de batismo de Luiz Carlos, está aquilo que talvez ele tenha melhor representado: as próprias ruas. É que se elas são, talvez em sua faceta mais visível, violentas, são também marcadas por uma humanidade fugidia. Desse modo, a morte do ambulante reflete bem a primeira condição das ruas. Já sua última decisão, a de intervir na agressão das travestis, é a melhor representação da segunda. “Não sou uma má pessoa”, tentou argumentar Ricardo Martins, um dos seus algozes, quando chegava algemado à delegacia. A “cachaça”, segundo ele, explicaria o estado alterado que o levou, por instinto raivoso, a atacar quem o contrariou. Foi por instinto também que Ruas defendeu quem era mais vulnerável que ele. A tênue fronteira entre o ódio e o altruísmo lhe custou a vida.

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