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domingo, 25 de dezembro de 2016

O “agente Guarany”, a bomba e o poder da foto


riocentro

A conclusão – 35 anos depois – da apuração sobre a autoria, intelectual e material, do torpe assassinato de D. Lyda Monteiro, secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, na explosão da carta-bomba dirigida ao presidente da instituição, Eduardo Seabra Fagundes, já nos estertores da ditadura no Brasil, não é o ponto final desta chaga na história brasileira recente.

 

Agora, cabe à Procuradoria Geral da República – mais especificamente ao Dr. Rodrigo Janot – decidir se o caso vai ou não à Justiça, porque não está coberto sequer pela Lei da Anistia – promulgada no ano anterior ao crime – mas por uma alegação de prescrição que, afinal, só pode ser alegada se aceitar-se como legítima toda a “operação-abafa” que envolveu o episódio por décadas.

 

 

Antes de reproduzir um trecho do post de Auler – a íntegra está aqui – não posso deixar de prestar uma homenagem a Aníbal Philot – já morto – com quem trabalhei no início de minha carreira, em 1978, cuja foto histórica do atentado do Riocentro, meses depois da bomba na OAB, permitiu identificar com certeza o autor material daquele crime: o ex-sargento do DOI-CODI Magno Cantarino Motta, o “Agente Guarani”, visto no elevador que conduzia ao escritório do presidente da corporação por um ex-colega de quartel.

 

Dos olhos da testemunha e das lentes de Philot, que não se esmaeceram, saiu a verdade que tantos tentaram apagar.

 

O Mensageiro da Morte

Marcelo Auler (trecho)

Ao longo destes 35 anos, muitas pessoas apontaram para o agente “Guarany” como o portador da carta-bomba. O próprio, em 2014, ao ser procurado pela jornalista e pesquisadora da CEV-Rio, Denis Assis, parecia querer falar sobre o caso, mas recuou por interferência de sua mulher.

 

Havia evidências e testemunhos, faltava, porém, quem o reconhecesse como o homem visto com a carta-bomba na sede da OAB. Isto foi conseguido pela CEV-Rio, na semana passada, quando uma testemunha que se encontrava no prédio da Avenida Marechal Câmara, centro do Rio, e cruzou com o portador da carta-bomba, o reconheceu nas fotos apresentadas por Denise de Assis, na presença de Felipe Monteiro.

 

O agente paraquedista não agiu sozinho. Segundo depoimento do ex-delegado de Policia Civil do Espírito Santo, Claudio Guerra, o chamado autor intelectual do plano foi o já  falecido coronel Freddie Perdigão Pereira, que por muito tempo atuou no CIE (Centro de Informações do Exército), mas também teve participação ativa no DOI-CODI/RJ e na agência do Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Informações (SNI), onde estava quando decidiu pelo envio da carta-bomba.

 

O terceiro militar envolvido também já está morto. Trata-se do sargento Guilherme Pereira do Rosário, paraqudeista da turma de Guarany, especialista em explosivos. Ele montou o artefato levado por Guarany à OAB, em uma oficina de um primo seu, como revelou à CEV-Rio o ex-delegado Guerra,  que convivia com todos eles, principalmente com Perdigão.

 

Rosário faleceu ao tentar executar um novo atentado que, pelas evidências levantadas, partiu do mesmo grupo de militares: a explosão de uma bomba no show em comemoração ao dia do trabalhador, no Riocentro, Zona Oeste do Rio, em 30 de abril de 1981. Acabou sendo a única vítima fatal da bomba que ele próprio montou. Com ele estava o então capitão Wilson Dias Machado, que mesmo bastante ferido conseguiu sobreviver.

 

Na noite do atentado do Riocentro, Guarany estava no local. A foto dele acima  é um recorte de uma foto maior em que ele aparece ao lado do Puma onde seu colega de farda e de quartel, Rosário, faleceu com a bomba no colo. Segundo explicou à CEV-Rio o coronel Paulo Malhães, o artefato explodiu quando a corrente do relógio do sargento fez o contato com os polos positivo e negativo do artefato.

 

Como nesta sexta-feira lembrou o jornalista Chico Otávio em reportagem em O Globo, Rosário, dias depois do atentado à OAB, foi encontrado por duas parentes de Lyda Monteiro na beira do túmulo dela, chorando, como se estivesse pedindo desculpas. As duas senhoras só vieram a saber a identidade daquele estranho visitante quando da sua morte no Riocentro, através das fotos divulgadas pelos jornais.

 

Nas entrevistas dadas à CEV-Rio nos meses de fevereiro e março de 2014, Paulo Malhães, ao ser questionado sobre a possível participação de Guarany na morte de Lyda, admitiu o envolvimento, apenas ressalvando que ele não seria o autor da ideia.

 

– Eu conheço o Guarany. Pode até ter sido enviado por alguém para colocar essa bomba. Partir dele, não.

 

Além de Guerra, dois outros companheiros de Guarany revelaram  à CEV-Rio que é ele quem aparece no retrato falado feito na Policia Federal, em 1990, em um segundo inquérito o qual, controlado pelo próprio Perdigão, tentou jogar a responsabilidade no americano  Ronald James Watters, que acabou inocentado pela Justiça por falta de provas.

 

Valdemar Martins, também paraquedista da turma de Guarany e Rosário, no último dia 3 confirmou o que já havia dito em 2014 à Denise Assis:

 

-Na época em que eu estive ai dando o depoimento para vocês, vi algumas fotos. Falei que era o Magno Cantarino Motta. Um agente que era sargento paraquedista, que serviu na mesma unidade que eu, junto com o Guilherme Rosário, ai no Rio de Janeiro. Era o agente Guarany. Confirmo que era o Magno Cantarino Motta, sargento paraquedista que serviu na minha unidade.

 

 -Então podemos considerar um depoimento oficial para a CEV-Rio, uma declaração sua de que reconheceu aqui na sede da Comissão o paraquedista Magno Cantarino, o agente Guarany, como autor da entrega?

 

– Sim.
Sim, o autor da entrega. Mas não o único autor do crime.

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