O jornalista Antônio Pinheiro Salles, de Goiânia, acaba de cumprir uma extensa programação política na Europa.
O principal objetivo foi a divulgação, na Suíça e na Alemanha, do seu livro Ninguém pode se calar – Depoimento na Comissão Nacional da Verdade, lançado no Brasil em 2013 e editado recentemente na Alemanha, onde recebeu o título Es darf niemand schweigen – Eine Aussage vor der Nationalen Kommission für Wahrheit.
A viagem resultou de um convite do professor Erich Flückiger, coordenador do Projeto Suíço Jovem com Futuro. Pinheiro, que é presidente da Comissão da Verdade, Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e vice-presidente da Comissão Nacional de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas, estava acompanhado da advogada Kelly Gonçalves, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).
Eles anexaram outros temas, além do livro, ao debate que fizeram com entidades e instituições dos países visitados.
Assim, a situação política atual do país mereceu um maior aprofundamento. "O golpe parlamentar implementado no Brasil, com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, sem crime de responsabilidade, representa um dos maiores atentados à democracia na América Latina", denunciaram em cada momento da viagem.
Por isso mesmo, o jornalista e a advogada se movimentaram em busca de apoio para a preservação das conquistas democráticas do povo brasileiro, que, segundo eles, "custaram dor, sofrimento, sacrifícios, sangue e vidas - inúmeras vidas". Nos contatos diversos, Pinheiro Salles e Kelly Gonçalves, sempre acompanhados do professor Erick Flückiger, estiveram com importantes personalidades, incluindo o filósofo, escritor e professor da Universidade de Genebra e da Sorbonne, em Paris, Jean Ziegler, vice-presidente do Comitê Consultivo do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
O representante da ONU deu as boas-vindas aos brasileiros e falou da “honra” de encontrar-se com “um guerrilheiro e uma feminista da América Latina”, acrescentando que “a mulher é sempre o motor da História”.
Prometeu buscar alternativas para o encaminhamento das questões apresentadas e, imediatamente, por telefone, já acionou jornalistas do seu país e da França para o começo das suas iniciativas.
Ele, que já havia lido o livro Es darf niemand schweigen, de Pinheiro Salles, solicitou uma dedicatória do autor. E recebeu, ainda, outros livros de presente, inclusive Flores no Quintal, da jornalista goiana Laurenice Noleto Alves, que trata das memórias suas e do seu companheiro Wilmar Alves, narrando as lutas, prisões e torturas desse militante precocemente falecido.
Essa obra também está sendo traduzida para o alemão, sob os auspícios do Projeto Suíço Jovem com Futuro.
O jornalista Pinheiro Salles, que passou nove anos nos porões do regime nazifascista, com sua voz firme conseguiu muito sensibilizar as pessoas que o ouviram, mais ainda quem já havia lido a tradução do depoimento feito à Comissão Nacional da Verdade, ao expor as seqüelas irreversíveis presentes em várias partes do seu corpo.
Além disso, denunciou a impunidade daqueles que cometeram crimes de lesa-humanidade durante a ditadura militar (1964-1985).
Apresentou as 29 recomendações da Comissão Nacional da Verdade e a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que, conforme sua informação, "não mereceram qualquer atenção do governo brasileiro".
Registrou, também, sua disposição de continuidade da luta pela revisão da Lei de Anistia (Lei 6.683/79), imposta pela ditadura, que beneficiou os torturadores, e que, em 2010, foi equivocadamente ratificada pelo Supremo Tribunal Federal.
Dentre os demais temas abordados pela advogada Kelly Gonçalves e pelo jornalista, teve o necessário destaque a "criminalização dos movimentos sociais no Brasil, com a aprovação da Lei de Organização Criminosa (12.850/2013), por um Congresso composto, em sua maioria, por parlamentares mercenários, corruptos, fundamentalistas, a serviço de forças econômicas e políticas que não aceitam o exercício democrático no país".
Como principal vítima dessa reacionária ofensiva das classes dominantes, apontaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que, por continuar sua luta pela reforma agrária, até poucos dias atrás, estava com três militantes presos no estado de Goiás.
Volkswagen
Outro importante encontro dos dois militantes goianos foi com o jornalista alemão Christian Russau, do Instituto para os Movimentos Sociais (FDCL), em Berlim.
Com ele, o assunto tratado prioritariamente foi a participação da Volkswagen na estruturação do golpe de Estado de 1964, a perseguição aos seus operários no país, a manutenção e o funcionamento do aparelho repressivo que assegurou o terrorismo de Estado responsável pela execução, no Brasil, de hediondos crimes contra a humanidade.
Sobre essa questão, que já vem sendo encaminhada há um longo tempo, Christian recebeu cópias, para distribuição na Alemanha, de um documento produzido pelo Fórum de Trabalhadoras e Trabalhadores por Justiça e Reparação instalado em São Paulo.
Concluindo a abordagem de tantos temas de interesse mundial, entrevistas foram realizadas com Pinheiro Salles e Kelly Gonçalves para a revista Latein Amerika Nachrichten.
E o Instituto recebeu a doação de 100 exemplares do livro Es darf niemand schweigen, para divulgação na Alemanha, além de outros livros destinados à sua biblioteca.
Numa visita ao Museu Topografia do Terror, com nítidas imagens de torturas, execuções e trabalhos forçados, entre outras atrocidades praticadas pelos nazistas sob o comando de Adolf Hitler, Pinheiro se sentiu mal e preferiu não continuar revendo cenas dolorosamente conhecidas na própria carne.
Nesse roteiro, foram ainda até as ruínas do Muro de Berlim e reafirmaram sua convicção de que o socialismo, "mais do que nunca, há de unir os povos de todos os países do mundo".
Por isso mesmo, a advogada Kelly Gonçalves e o jornalista levaram flores ao monumento da revolucionária comunista Rosa Luxemburgo e - "com emoção maior" - prestaram uma homenagem a Marx e Engels.
"As flores vermelhas, depositadas em seus pés, certamente representaram a reafirmação do nosso compromisso de jamais negligenciarmos na luta pela libertação da classe trabalhadora, que, afinal, será obra dessa mesma classe", enfatizou Pinheiro Salles.
Retornando a Goiânia, depois de passarem pelas principais cidades da Suíça e da Alemanha, a convite de uma entidade européia, o jornalista e a advogada reiteraram o entendimento da dimensão da luta que, no caso de Pinheiro Salles, não sofreu nenhuma interrupção nos últimos 50 anos.
Concluiu ele: "Nossa luta, a luta dos trabalhadores da cidade e do campo, dos povos oprimidos do Brasil e do mundo, mais se intensificará quando os inimigos do socialismo tudo fazem para impedir o avanço da organização e das conquistas da classe trabalhadora".
Serviços:
Texto: Laurenice Noleto - MTB 192 - DRT-GO
Contatos:
nononoleto@gmail.com (62) 99265-5611
Kelly Gonçalves:
advocaciafeminista@gmail.com (62) 98257-3733
Pinheiro Salles: (62) 3207-1114
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