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Diretor veio ao Brasil divulgar 'Snowden - Herói ou Traidor' e falou sobre a falta de um candidato de esquerda nos Estados Unidos e as eleições norte-americanas
Oliver Stone é um dos diretores que mais gosta de falar sobre política - seja em seus filmes e documentários ou com as câmeras desligadas. São dois documentários sobre Fidel Castro (Comandante, de 2003 e Castro in Winter, de 2012), um sobre Hugo Chávez (Mi Amigo Hugo, de 2014) e outro sobre os movimentos sociais e políticos na América do Sul (Ao Sul da Fronteira, de 2009). Sendo assim, não seria possível fugir do assunto com o norte-americano vencedor de dois Oscar (por Nascido em 4 de Julho e Platoon), em sua vinda ao Brasil para divulgar seu último filme, Snowden - Herói ou Traidor.
A conversa, que aconteceu na última segunda-feira (7), um dia antes da eleição presidencial dos Estados Unidos, deixou claro que Stone não tem nenhum preferido na corrida entre Donald Trump ("Ele não é pior que os republicanos, e todos os republicanos são ruins") e Hillary Clinton ("Estão com tanto medo do Trump (...) você vai ver o que irá acontecer se elaganhar"). O problema, para ele, está na falta de um candidato que represente a esquerda no país. "Deveria existir um candidato como Lula", afirmou.
Confira nossa conversa com o diretor.
GQ - O filme está sendo distribuído no Brasil com o título ‘Snowden – Herói ou Traidor’...
Oliver Stone - Eu não gosto disso...
Você acha que essa dúvida é razoável e que as atitudes dele são, de alguma maneira, questionáveis?
Herói ou traidor, sabe... Você acha que os russos podem ter colaborado com ele?
Eu não sei, só estou perguntando.
Só quero dizer uma coisa: nenhum espião que eu conheça daria suas informações de graça. Isso é loucura. Você viu no filme, é algo que ele diz várias vezes aos jornalistas: “é sua responsabilidade. Você lide com isso”.
Você já veio para a América do Sul algumas vezes, tendo dirigido Ao Sul da Fronteira...
Lá vamos nós. Lá vamos nós.
Mi Amigo Hugo...
E daí? Eu sou comunista?
Não. Na verdade, amanhã (nesta terça-feira) ocorrem as eleições gerais nos Estados Unidos...
Sério? Eu não sabia.
Pois é. Você já votou?
Sim.
Em quem?
Se eu falar, essa vai ser a manchete, então vou manter segredo.
Bom, talvez você mantenha isso em segredo, mas talvez Donald Trump seja eleito, e...
(Risos).
Talvez?
Vocês acreditam em toda essa merda, né? Na Europa é a mesma coisa: eles estão com tanto medo do Trump que perdem o verdadeiro ponto dessa eleição, que é sobre nada. É sobre uma pessoa: Hillary Clinton, o poder que ela tem e quão longe ela pode ir. Ela é um personagem difícil e poderá trazer guerra a esse mundo, de uma maneira grande. Ela não aprendeu nada sobre a Líbia, Iraque, Afeganistão, Síria. Ela acha que os regimes deveriam continuar mudando. Ela é uma cold warrior [termo que referencia a Guerra Fria disputada entre Estados Unidos e Rússia]. Ela insultou muito o [Vladimir] Putin, até deixou implícito que eles podem ter hackeado eleições norte-americanas, para influenciar elas. Eles nunca fariam isso. Ela vai ganhar. Trump não vai chegar nem perto. Vocês adoram publicar histórias para causar medo. Na Europa é tudo que eles falam. “Se o Donald Trump ganhar...” Você vai ver o que irá acontecer se ELA ganhar.
Eu ia te perguntar sobre o Trump, então vou mudar para a Hillary: se ela for eleita, quais seriam as consequências para países da América do Sul?
Do que você está falando? Você acha que a Venezuela vai continuar ali para sempre? Os Estados Unidos podem ter participado, de alguma maneira, do golpe no Brasil. Você viu no filme: eles [os norte-americanos] estão ouvindo atentamente as questões brasileiras. Estavam focados na Dilma, na Petrobrás e tenho certeza que eles contribuíram com informações. Os EUA estão trabalhando em todos os lugares do mundo: Ucrânia, Ásia, Europa, para atingir seus objetivos. Tem a ver muito com o que o Snowden fala: controle total, nova ordem mundial. Esse é meu medo. Mas lutar pelo seu ideal e ir à guerra por ele é uma coisa, mudar regimes é outra - algo muito perigoso. Deixem as pessoas em paz e deixem terem seu próprio governo.
Você acha que o Trump foi a escada perfeita para Hillary?
Ele não sabia disso. Ele representa a raiva das pessoas de colarinho branco: perda de empregos, frustração de homens brancos em uma cultura opressora. Tem muito a ver com frustração de mentira. Não é real.
Mas ele foi perfeito para ela?
Trump não é pior que os republicanos. Todos os republicanos são ruins. Ele disse coisas estúpidas, mas se você olhar para as primárias republicanas vai perceber que os outros republicanos também diziam coisas imbecis. Assim como políticos brasileiros, que falam qualquer coisa para se elegerem. Deveria existir um candidato realmente à esquerda nos Estados Unidos, como Lula. Alguém que consiga falar pela paz.
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