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sábado, 19 de novembro de 2016

Richard Dawkins e outros cientistas proeminentes reagem à vitória de Trump — PARTE 1

O que as eleições significam para a ciência, em respostas sinceras do Conselho da Scientific American 

Esta semana os Estados Unidos da América elegeram o empresário e estrela de reality show, Donald Trump, como seu  45º presidente. Como a Scientific American reportou durante toda a campanha presidencial, as opiniões de Trump em relação à ciência, saúde e medicina parecem, na melhor das hipóteses, mal formadas, e, na pior delas, ignorantes e destrutivas. Para que se tenha ideia do que as maiores mentes da ciência, medicina e pesquisa estão pensando a respeito, nós pedimos para que o Conselho da Scientific American compartilhasse suas reações ao resultado das eleições. Os excertos, alguns editados por conta do tamanho, aparecem a seguir.
Colin Grey, sob licença Creative Commons Attribution 2.0 Generic

Richard DawkinkEsta semana os Estados Unidos da América elegeram o empresário e estrela de reality show, Donald Trump, como seu  45º presidente. Como a Scientific American reportou durante toda a campanha presidencial, as opiniões de Trump em relação à ciência, saúde e medicina parecem, na melhor das hipóteses, mal formadas, e, na pior delas, ignorantes e destrutivas. Para que se tenha ideia do que as maiores mentes da ciência, medicina e pesquisa estão pensando a respeito, nós pedimos para que o Conselho da Scientific American compartilhasse suas reações ao resultado das eleições. Os excertos, alguns editados por conta do tamanho, aparecem a seguir.


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Cara Nova Zelândia,

As duas maiores nações de língua inglesa acabam de sofrer ações catastróficas nas mãos dos eleitores — em ambos os casos, uma porção de eleitores anti-intelectuais e carentes de boa educação. A ciência nos dois países sofrerá um grande golpe: no primeiro, graças ao corte xenofóbico das relações meticulosamente construídas com parceiros europeus; e, no outro, graças à eleição de uma piada narcisista, misógina e não qualificada como presidente. Em nenhum dos casos o desastre terá curta duração: nos EUA, por causa da regra da não aposentadoria da Suprema Corte, e, no Reino Unido, porque o Brexit é irreversível.

 

Existem grandes cientistas nos EUA e no Reino Unido — pessoas talentosas, criativas e desesperadas para escapar da intolerância caipira de seus países natais. Cara Nova Zelândia, você é uma pequena nação profundamente civilizada, com uma pequena população em um par de ilhas maravilhosas e espaçosas. Você se importa com a mudança climática, com o futuro do planeta e outros problemas cientificamente importantes. Por que não escrever para todos os ganhadores de Prêmios Nobel do Reino Unido e EUA, escrever para os medalhistas Fields, os vencedores de prêmios Kyoto e Crafoord e International Cosmos, para os Fellows da Royal Society, os cientistas de elite da Academia Nacional de Ciências, os Fellows da Academia Britânica e de grupos semelhantes dos EUA? Ofereçam a eles cidadania. A contribuição que intelectuais criativos podem oferecer para a vida cultural e prosperidade de uma nação é desproporcional ao total deles. Você poderia tornar a Nova Zelândia a nova Atenas no mundo moderno.

 

Sim, cara Nova Zelândia, eu sei que é apenas um sonho surreal e irrealista. Mas no dia seguinte as eleições americanas, no ano do Brexit, a distinção entre o surreal e a parte horrorosa da realidade parecem se fundir em uma viagem ruim da qual o único refúgio possível é um sonho impossível.

 

Atenciosamente,

 

— Richard Dawkins, fundador e presidente do conselho da Richard Dawkins Foundation

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A eleição de Trump para presidente pegou muitos de surpresa. Nós não sabemos muito sobre a visão dele ou de seus colegas em assuntos científicos ou relacionados à pesquisa básica,  então eu posso apenas dizer que espero que ele reconheça o valor a longo prazo de investimento em pesquisas e que apoie as agências governamentais americanas que a apoiam, incluindo a Fundação Nacional de Ciência.

— Vint Cerf, evangelista chefe de internet, Google

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Como a muitos, o resultado desta eleição me pegou desprevenido. É a vontade das pessoas dos EUA, e dada a polarização do poder, podemos antecipar um número significativo de mudanças de longa duração. Eu acredito mesmo que, devido à realidade do mundo de hoje e dos choques e do equilíbrio construído no país, como essas mudanças afetarão o todo ainda será determinado. Antecipo que muitos se surpreenderão com o que pode e o que não pode ser feito em um governo. Pessoalmente, vim da pobreza, e tudo que conquistei, conquistei sozinho. A melhor maneira de maximizar o sucesso profissional e as recompensas, é trabalhando duro; maximizar a sociedade é ser caridoso; maximizar a paz é ser pacífico. Eu me vejo assumindo maior responsabilidade pessoal pelo bem-estar daqueles próximos a mim, e continuando a ser o melhor cientista possível, porque o que somos e o que seremos é amplamente decidido pelas descobertas científicas que aplicamos para mover a humanidade para a frente.

 — Harold “Skip” Garner, diretor da Divisão de Informática e Sistemas Médicos e professor no Instituto de Bioinformática de Virgínia,  Virginia Tech

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Uma assembleia eleitoral menor do que a esperada (aproximadamente sete milhões de democratas e dois milhões de republicanos a menos do que nas eleições de 2012) foi capaz de causar esse resultado. Resultados inesperados são parte da vida científica e somos especialistas em aprender a partir deles.

 — Michael Gazzaniga, diretor do Centro Sage para Estudos da Mente, Sage Center for the Study of the Mind, Universidade da Califórnia, Santa Barbara

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Pesquisa essencial, lidar com a mudança climática e o meio ambiente, tratados sobre armas nucleares, relações internacionais, direitos das mulheres, saúde e bem-estar, e, de maneira geral, políticas públicas baseadas na realidade empírica, todos sofreram um golpe.

O presidente eleito expressou desinteresse ou desdém pelos resultados de análises científicas relevantes para políticas públicas, e o vice-presidente eleito tem sido um inimigo declarado da ciência.

 

Ainda veremos no que tudo isso resultará, mas um congresso republicano provavelmente não reverterá muito as coisas.

— Lawrence Krauss, diretor do Projeto Origens, Universidade Estadual do Arizona

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Muito, muito surpreso.

— Robert S. Langer, professor do Instituto David H. Koch e do Departamento de Engenharia do Instituto de Tecnologia Massachusetts (MIT)

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Primeiramente, eu acho que a capacidade de previsão da mídia e de outros envolvidos no estudo das eleições e da interação das ciências sociais está danificada. Isso é claro. De qualquer modo, somos um país forte, uma democracia forte, com grande capacidade intelectual e boa vontade, com grande senso de direitos humanos e justiça social compartilhada. Acho que, no final do dia, o povo americano, como um todo, apresentará um julgamento equilibrado.

Acho que o problema da competitividade americana no cenário mundial no que diz respeito à pesquisa nas áreas de ciência, tecnologia e artes continuará sendo chave quando chegar a hora de decidir qual possíveis políticas avançarão. É importante o fato de que alguns juízes da Suprema Corte serão, provavelmente, nomeados durante a próxima administração, e com apenas um partido dominando todos os aspectos do governo — o Legislativo, Judiciário e o Executivo — a influência no sistema judiciário e o futuro desenvolvimento de uma política social progressiva são uma preocupação.

 

A proeminência e influência internacional dos EUA se baseiam amplamente no prestígio e confiança dos quais o país desfruta, em parte como resultado das contribuições do último século para o avanço da ciência, medicina, tecnologia e busca por justiça social. Nossa posição como membros confiáveis da comunidade global precisa ser mantiva e aperfeiçoada se queremos impactar positivamente o desenvolvimento global para benefício dos nossos próprios cidadãos e dos cidadãos do mundo. 

— Robert E. Palazzo, reitor da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade do Alabama em Birmingham

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Nesse momento, no dia 9 de novembro de 2016, estou doente no coração e no espírito, desprovido de qualquer pingo de otimismo.

Todos os ideais do Iluminismo sobre os quais nossa nação foi fundada, todos os princípios da razão e da mente aberta que embasam a prática da ciência que apreciamos tão fervorosamente, e à qual nós podemos atribuir nosso progresso em melhorar o bem-estar da humanidade, foram efetivamente e completamente repudiados. O significado do resultado da eleição — que aqueles que se opõem a essas crenças irão ou controlar ou influenciar amplamente cada ramo do governo dos EUA — não pode ser mais enfatizado.

 

É um bloqueio.

 

Em um momento como esse é natural buscar lições no passado. Todas as civilizações bem-sucedidas ao longo da história chegaram a um colapso. Além disso, a evolução da democracia dos Estados Unidos está seguindo uma receita antiga: as sementes da vitória filosófica de Trump pode ser encontrada justamente na inclusividade multicultural e de braços abertos da democracia ideal que os EUA buscam desde seu início.

 

Em seu artigo na  New York Magazine, Andrew Sullivan encontra na obra República, de Platão, escrita há 2.400 anos, a visão de que “uma política tipo bandeira de arco-íris” é o instável mais inerente, e que a “tirania é, provavelmente, estabelecida a partir de nenhum outro regime além da democracia.” Isso realmente faz pensar se a noite passada não era inevitável.  

 

Minha maior preocupação é que essa transição possa significar o fim da República Americana e da luz que ela tentou, ao menos no papel, emitir para o mundo todo por 240 anos.

 

O que isso significa para a prática da ciência nesse país, para os direitos das mulheres e demais minorias, para o futuro da saúde do nosso planeta, a sobrevivência das criaturas com quem dividimos esse planeta e para as relações com outras nações, eu não tenho estômago para prever. Mas me parece muito, nesse momento, que a facção vencedora da população americana decidiu que a Terra é, de fato, plana e que esse será o princípio que guiará o governo a partir de agora.

 

— Carolyn Porco, líder da Cassini Imaging Team;  professora visitante da Universidade da Califórnia, em Berkeley; e diretora da Ciclops, Instituto de Ciência Espacial

 

Andrea Gawrylewski 

 

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