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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Entrevista de Maria Ester Cristelli Drummond Maillard

Leia a entrevista de Maria Ester Cristelli Drummond Maillard nesta sexta - feira,  4 de novembro de 2016,  no Diário da Manhã 
E X C L U S I V A 
Por Renato Dias




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O jornalista e sociólogo Renato Dias gostaria de convida - lo (a) para o lançamento do livro Exílio.
A autora é a psicóloga clínica e psicanalista, além de assistente social,  Maria Ester Cristelli Drummond Maillard,  de 72 anos de idade,  radicada na França desde 1977, quando escapou da repressão da ditadura civil e militar no Brasil. O  lançamento é,  hoje, sexta - feira,  4 de novembro,  dia da morte de  Carlos Marighella. Local: sede da  Adufg,  Vila Nova,  Goiânia.  Horário - 19 h
Preço do livro : R $ 30, 00. 


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Tarja - Direito à Memória e à Verdade

E X C L U S I V O – Maria Ester Cristelli Drummond Maillard

Choro de uma mãe e duas crianças,

no exílio, pelo pai morto, em 1976

 

Ex-AP, psicanalista radicada em Paris desde 1977 luta para ter o seu nome real registrado

Ela é viúva do economista João Batista Franco Drummond, assassinado na Queda da Lapa

Durante uma hora e 45 minutos ela não chorou, mas não aguentou ao ouvir Lembranças

Anistiada em 2011, conseguiu retificar atestado de óbito e incluir tortura como causa mortis

 

Legendas das fotografias:

1 – Em 1965 – Maria Ester Cristelli

2 – Em 2016 – Maria Ester Cristelli Drummond Maillard

3 – João Batista Franco Drummond

4 – Documentos: identidade e atestado de óbito

 

Renato Dias

Especial para o Portal Vermelho

 

Com seu indefectível chapéu Panamá, Luiz Carlos Orro, advogado, jornalista e cantor, canta a música Lembranças, de autoria de Benil Santos e Raul Sampaio, imortalizada nas vozes de Martinho da Vila e Nelson Ned. Radicada na França desde o ano turbulento de 1977, Maria Ester Cristelli Drummond chora. Lágrimas e lágrimas escorrem pelo seu rosto marcado por tragédias em seus 72 anos de vida. O tempo fecha. O ambiente, a casa aconchegante do advogado Egmar Oliveira e de sua bela mulher Bruna, carrega o clima sombrio dos anos de chumboUma pedaço da história do Brasil é desnudadoSob forte tensão emocional.

Nascida em Belo Horizonte [MG], no dia 8 de agosto de 1944, ao fim da segunda guerra mundial, em que URSS, EUA e Inglaterra derrotaram o nazismo, de Adolf Hitler, e o fascismo de Benito Mussolini, além do Japão, ela ingressou na Universidade Católica em Serviço Social. Logo virou diretora da União Estadual dos Estudantes [UEE- MG]. Os ventos do marxismo-leninismo sopraramem seu rosto. Maria Ester Cristelli acabou na Ação Popular, a AP, que fazia uma leitura materialista e dialética da História. Um ano após o golpe de Estado civil e militar de primeiro de abril de 1964, no Congresso da UNE, em São Paulo, conheceu o homem que mudaria suvida

- João Batista Franco Drummond.

Com 1,73 m de altura, magro, cabelos encaracolados, ele tocava violão, cantava Bossa-Nova e adotara a liturgia formulada por Karl Marx, F. Engels e Vladimir IlichUlianov, codinome Lênin. O advogado, com inusitado cavanhaque, que fez, ao lado de Leon Trotsky, a primeira revolução socialista do mundo, na Rússia, em outubro de 1917, que, em 2017, fará o seu centésimo aniversário. Os dois começaram a namorar e se casaram, em 24 de novembro de 1966. A primeira filha nasceu, em 27 de abril de 1968: Rosa Cristelli Drummond. A segunda filha veio depois, 3 de setembro de 1969, lvia Cristelli Drummond. Duas meninas lindas. Com a decretação do Ato Institucional Número 5, em 13 de dezembro de 1968, eles já estavam na clandestinidade.

São Paulo, Recife, Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Uberlândia foram cidades onde montamos aparelhos.

Os aparelhos eram onde os esquerdistas, que lutavam contra a ditadura civil e militar e pelo socialismo, se escondiam. Maria Ester Cristelli Drummond enfrentou tempos de solidão. O marido estava mergulhado nas lutas politicas e à espera da revolução no Brasil. A mãe, às vezes, tinha que se distanciar das filhas. As três sofriam. Até em Goiânia, no bairro tradicional da Vila Nova, o casal com as duas meninas morou. É que o PC do B, uma dissidência de 1962 do Partidão, fundado em março de 1922, deflagrou a Guerrilha do Araguaia. O conflito durou de 1972 a 1975. Com um saldo trágico de mais de 60 mortos e desaparecidos políticos.

- João Batista Drummond, economista, morreu na Queda da Lapa.

Derrotada a guerrilha no Araguaia, o PC do B programou para 16 de dezembro de 1976, em São Paulo, Capital, bairro da Lapa, uma reunião do Comitê Central que encontrava-se no País para fazer um balanço da experiência revolucionária. Jover Telles, comunista da instância, delatou o encontro. A repressão civil e militar chegou e matou Pedro Pomar e Ângelo Arroyo. Aldo Arantes e Elza Monerat foram presos e torturados. João Batista Drummond, preso, torturado, morreu no DOI-CODI, centro de torturas. A versão oficial, que saiu nos veículos de comunicação à época, teria sido por um suposto atropelamento. Mentira. Mentira. Mentira.

- Ele morreu sob torturas!

Maria Ester Cristelli Drummond estava escondida em Uberlândia [MG] quando soube da notícia trágica da morte do marido. Ela acabara de receber uma carta enviada por sua cara-metade. A postagem, porém, era de data anterior ao ‘massacre da Lapa’. O seu irmão, Augusto Drummond, sob ameaças, buscou o corpo. A ordem era enterrá-lo no mesmo dia, à noite e sem abrir o caixão – que permitiria constatar o corpo marcado por torturas e sevícias a que foi submetido no DOI-CODI [SP].  O enterro ocorreu no Cemitério Colina. A sua mulher e as duas filhas, Rosa e Sílvia, não puderam dar o último adeusao pai. É triste. De cortar o coração...

- Em 1977 fui para o exílio: Paris. 

Com o suporte institucional da Anistia Internacional, Maria Ester Cristelli Drummond, formada em Serviço Social, conseguiu que as suas duas filhas, Rosa, com 9anos de idade, e Sílvia, com 8 anos, fossem embarcadas pelos avós para a França. A primeira coisa que elas falaram para a mãe, que morria de saudades de suas crianças indefesas, era que o vovô, pai de João Batista Drummond, disse é que era para ela não namorar muito menos fazer política. Com energia e em defesa do direito à memória e à verdade, a mãe foi ao encontro, em duas ocasiões, de Mário Soares, primeiro-ministro socialista de Portugal. Para pedir intervenção no ‘massacre da Lapa’.

- Mário Soares enviou duas cartas à ditadura civil e militar do Brasil para cobrar explicações.

As crianças estudaram em escolas públicas, foram criadas com auxílio financeiro do Estado e com o magro salário que a mãe recebia. Em 1992, Maria Ester Cristelli se casou com um francês, o físico Jacques Jean Maillard. Eles não tiveram filhos. Ela fez ainda Psicologia Clínica e Psicopatologia em Rennes 2 e Psicanálise, em Paris 8. Anistiada em 2011, conseguiu uma decisão inédita no Judiciário Brasileiro. A revisão do atestado de óbito de João Batista Franco Drummond. Em 13 de novembro de 2014, o juiz de primeira instância, Guilherme Madeira, de São Paulo, determinou que constasse em sua certidão a causa mortis: torturas.

- Local: DOI-CODI, em São Paulo, dezembro de 1976.

O promotor de Justiça, Sebastião Sílvio de Brito, não aceitou a decisão e recorreu da sentença. A procuradora de Justiça do MP [SP] Carmen Beatriz contestou o promotor. O Tribunal de Justiça de São Paulo, por dois votos a um, confirmou a decisão do juiz de Direito, Guilherme Madeira. O voto contrário foi do desembargador GiffoniFerreira. A ação havia sido movida pela advogado goiano Egmar Oliveira, que chegou a exercer o cargo de vice-presidente da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça. A ex-guerrilheira agora, em novembro de 2016, trava uma nova batalha. Sem armas nas mãos. Uma guerra oculta dentro do Poder Judiciário.

- Quero registrar o meu nome verdadeiro: Maria Ester Cristelli Drummond Maillard. Na minha carteira de identidade. 

***

A decisão judicial para Teinha não tem data para sair.

Renato Dias, 49 anos de idade, é formado em Jornalismo pela Alfa, graduado em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Políticas Públicas pela UFG e mestre em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento [PUC-GO]. É autor dos seguintes ‘Luta Armada/ALN – Molipo As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz’; ‘O Menino que a Ditadura Matou – Luta Armada, VAR-Palmares e o desespero de uma mãe’;  História – Para Além do Jornal – Um repórter exuma esqueletos da ditadura civil e militar; ‘Cuba, hoje – Uma revolução envelhecida ou a reinvenção do socialismo? O reatamento entre Havana e a Casa Branca. Contato: renatodias67@gmail.com

 

Infográfico

Cronologia dos fatos

1964

Um golpe de Estado civil e militar no Brasil

 

 

1965

Na UEE [MG], Maria Ester conhece João Batista

 

1966

Maria Ester e João Batista Drummond se casam

 

1968

Decretação do Ato Institucional Número 5

 

1972

A guerrilha do Araguaia é deflagrada no País

 

1975

A guerrilha do Araguaia é liquidada pela repressão

 

1976

João Batista morre sob torturas no DOI-CODI

 

1977

Maria Ester Cristelli Drummond refugia-se em Paris

 

1979

Anistia é aprovada, em agosto, no Congresso Nacional

 

2011

Maria Ester Cristelli Drummond Maillard é anistiada

 

 

2014

Egmar Oliveira consegue retificar atestado de óbito

 

2016

Maria Ester Cristelli Drummond Maillard quer registrar nome real

 

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