TIJOLAÇO
Um personagem dos muitos com que Jô Soares alegrou a TV brasileira, eternamente desempregado, explicava num francês arrevezado que vivia de “bicos”, biscates: “Je vis du béc“, dizia ele.
Parece o jeito que os governantes brasileiros escolheram para a nossa política econômica.
O Governo Federal, diante da crise arrecadatória dos Estados – que, ao contrário dele, não podem emitir dívida – separa R$ 5 bilhões da canequinha onde os evasores de capital pingaram a água da lavagem de seus dinheiros mandados para fora e lhes diz: pronto, ajudei, agora vocês mandem seus deputados votarem a PEC, o corte das aposentadorias, dos direitos trabalhistas, que vai ser melhor para todo mundo.
Os governadores, que estão como mendigos atrás de “uma esmolinha, pelo amor de Deus”, topam, claro. Melhor falir amanhã do que hoje.
Ñão apenas é dinheiro posto em saco sem fundo, porque os Estados continuarão deficitários – ou ficarão mais ainda, com os cortes na economia que isso representará – como é Novalgina para febre: alguns momentos de alívio para, daqui a pouco, a temperatura voltar a subir, se é que vai baixar, porque há outros na fila para seguir o “exemplo” do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul e entrarem em estado de calamidade.
Duvida? Vá conferir: a queda de arrecadação do ICMS do Estado de São Paulo caiu, em valores reais, 12,2% entre setembro de 2015 e setembro de 2016.
E é óbvio que quanto mais se corta, menos retorna em impostos. Ou você acha que, entre pagar a matrícula dos filhos, em janeiro, ou o IPVA do carro e o IPTU do apartamento o funcionário que não recebeu o 13° (ou vai recebe-lo em sete “suasves prestações”) escolherá o quê?
A crise das finanças públicas, embora exija corte de gastos, não é uma crise de despesa, mas de receita.
E como não há nenhum projeto econômico para o país, o Brasil só se torna atrativo mesmo para especulação financeira, com seus juros de vedete mundial.
Como o personagem do Jô, o Brasil “vis de béc”.
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