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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

6 tramas de Nelson Rodrigues que irão chocar reaças que o “admiram” sem conhecer sua obra

Com as ressalvas deste blogdoorro de que a experiência da construção do socialismo na URSS trouxe inúmeros avanços sociais, econômicos, científicos e culturais, apesar do aspecto negativo da supressão da democracia, publicamos o belo apanhado de Cynara Menezes no blog Socialista Morena sobre a vida e a obra de Nelson Rodrigues. 
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cartaztodanudez

O pernambucano Nelson Rodrigues (1912-1980), o maior dramaturgo brasileiro, se assumia como “reacionário” e apoiou a ditadura militar até descobrir que a tortura não era só lenda –seu filho, Nelsinho, militante de uma organização clandestina, foi preso e torturado e ficou na cadeia de 1972 até 1979. Nelson morreria no ano seguinte. Apesar de ser um anticomunista ferrenho, o escritor teve muitos amigos esquerdistas e comunistas, como João Saldanha, e inclusive interveio junto aos militares para tirar alguns da prisão. Em 1979, voltou-se contra a ditadura e participou da campanha pela anistia.

A obra teatral de Nelson, por outro lado, foi alvo constante da censura durante quase toda a sua vida por desafiar a moral, os bons costumes e a igreja, o que não condiz muito com o perfil de um “direitista”. Estas nuances fizeram com que alguns críticos teatrais, como Sábato Magaldi, se tornassem reticentes sobre o que há de real e de pilhéria no “reacionarismo” assumido de Nelson.

“Um dia será necessário rever o epíteto de reacionário que o próprio Nelson se afixou”, escreveu Magaldi. “Na verdade, há muito de feroz ironia nesse qualificativo. Porque Nelson Rodrigues foi reacionário apenas na medida em que não aceitou a submissão do indivíduo a qualquer regime totalitário.” No fim, sua crítica ao totalitarismo dos regimes comunistas liderados pela extinta União Soviética estava correta e os esquerdistas de então é que estavam equivocados em apoiá-lo.

Na biografia O Anjo Pornográfico, o escritor Ruy Castro oferece ao leitor as inúmeras facetas do dramaturgo e cronista, e algumas delas simplesmente não ornam com o estigma de reacionário que deu a si mesmo. Nelson Rodrigues foi, por exemplo, pioneiro em denunciar o racismo no País, coisa que a direita brasileira até hoje nega existir. Escreveu O Anjo Negro, em 1948, para seu amigo Abdias do Nascimento (1914-2011), que acabou impedido de representar o papel principal: o Teatro Municipal exigiu um branco com a cara pintada de graxa no lugar, para revolta de Nelson.

Lamentavelmente, quase 35 anos após sua morte, Nelson Rodrigues virou ídolo de jovens conservadores que nunca leram sua obra e o conhecem apenas pela frase “sou reacionário: minha reação é contra tudo que não presta”. Mas será que eles sobreviveriam diante de um filme ou peça de teatro baseados em Nelson? Será que Nelson Rodrigues tem realmente algo a ver com o ideal reaça de Família, Tradição e Propriedade? Duvido.

Escolhi seis peças de Nelson Rodrigues para testar até onde vai a “adoração” do neoconservadorismo brazuca por ele. Vejamos.

1. O Beijo no Asfalto (1960)

Um moribundo atropelado pede a um passante, Arandir, um beijo. O ato de caridade é transformado pela imprensa sensacionalista e por um delegado de polícia num escândalo. O sogro de Arandir insinua o tempo todo que ele é homossexual e parece ter uma relação incestuosa com a filha, mas no final se revela apaixonado pelo próprio genro.

(Cena do filme O Beijo no Asfalto, de Bruno Barreto, 1980)

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2. Bonitinha, Mas Ordinária ou Otto Lara Rezende (1963)

Maria Cecília, menina rica, simula uma farsa para realizar a fantasia sexual de ser estuprada por cinco negros enquanto grita o apelido do cunhado, “cadelão”. Sua família, porém, pretende esconder o fato e tenta subornar o contínuo da empresa, Edgard, para que se case com a patricinha e restaure sua “honra”. Enquanto isso, Ritinha, a mulher por quem Edgard é apaixonado, finge ser professora, mas é prostituta.

(Cena de Bonitinha, Mas Ordinária, de Braz Chediak, 1981)

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3. Álbum de Família (1945)

O pai, Jonas, gosta de desvirginar adolescentes para aplacar o tesão na própria filha caçula, Glória, e, ao que tudo indica, é correspondido. O filho mais velho também se sente atraído pela irmã, ao mesmo tempo que o segundo irmão é apaixonado pela própria mãe, dona Senhorinha. A matriarca, por sua vez, ama secretamente o terceiro filho, Nonô.

4. Toda Nudez Será Castigada (1965)

O viúvo Herculano, de uma família conservadora e religiosa, casa-se com uma prostituta, Geni. Enquanto mantém o casamento com Herculano, Geni o trai com o próprio enteado, Serginho, por quem está apaixonada. O rapaz acaba fugindo com um ladrão boliviano por quem fora estuprado na cadeia.

(Cena do filme Toda Nudez Será Castigada, de Arnaldo Jabor, 1972)

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5. Os Sete Gatinhos (1958)

A família Noronha é uma família normal de classe média do Grajaú. A aparente normalidade, porém, esconde um segredo: as quatro filhas do casal Aracy e seu Noronha se prostituem para bancar o colégio interno e o enxoval da caçula, Silene, de 16 anos. Até que se descobre que Silene de inocente não tinha nada…

6. Asfalto Selvagem ou Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados

A adolescente Engraçadinha seduz o primo Silvio na noite do seu noivado com outra prima, Letícia. Mais tarde, descobre que Silvio é na verdade seu irmão. Letícia se revela mais interessada em Engraçadinha do que no próprio noivo, e tenta beijá-la à força. Na segunda parte da história, Letícia tenta seduzir a filha de Engraçadinha, Silene.

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Agora me diz: você consegue imaginar Jair Bolsonaro assistindo a uma peça ou filme destes? Os Revoltados Online? Eduardo Cunha? Marco Feliciano? O jovem Kim Kataguiri, coitado, ia ficar assombrado. Nelson Rodrigues era anticomunista, sim. Mas, para mim, sua obra está mais para Marcha das Vadias do que para Marcha Para Jesus.

Quem ganha com as deserções na esquerda? Por BRENO ALTMAN

Providência: PMs são flagrados alterando cena de crime

O Globo

No vídeo, policial faz disparo e coloca arma na mão de adolescente morto em operação

por 

RIO — Foram cerca de três minutos. De filme de terror. No chão, está o corpo de um jovem numa poça de sangue. Cinco PMs podem ser vistos. Três estão mais próximos do adolescente — conhecido como Pintinho, pardo com cabelos descoloridos, que ainda estaria vivo — e dois, mais afastados. Eles alteram o local do crime como se ajeitassem o cenário de uma gravação. O “confronto” está prestes a começar. Um dos PMs mais distantes da cena principal dá um tiro para o alto. Um outro, ajoelhado, pega uma arma que, depois de limpa, é colocada na mão do baleado e disparada. O quase morto dá um, dois tiros, o que deverá garantir as marcas de pólvora na pele. Feito o simulacro, o policial joga a mão inerte do suspeito, cuja vida se esvaía. Fim.

A farsa, no entanto, ocorrida nesta terça-feira no Morro da Providência, no Centro, foi logo descoberta, graças a um vídeo feito por moradores. As imagens expuseram uma polícia violenta e corrupta, que ainda resiste ao programa de pacificação. Todos os PMs já foram presos administrativamente, por fraude processual. Na Justiça, deverão responder também por homicídio.

Eduardo Felipe Santos: morto aos 17 anos - Reprodução

O assassinato público de Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, ganhou as redes sociais, e as imagens chocantes amplificaram seu alcance. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, repudiou, por nota, a ação dos PMs e determinou rigor nas investigações, com “punição exemplar dos responsáveis’’. O porta-voz das UPPs, coronel Ivan Blaz, foi categórico ao afirmar que a acusação contra os policiais, lotados na unidade do morro, merecia “punição imediata”.

Mais cedo, antes de o vídeo ser divulgado, o comando da UPP da Providência havia informado que policiais faziam um patrulhamento de rotina na localidade conhecida como Pedra Lisa, por volta das 9h, quando se depararam com criminosos armados, que dispararam contra a equipe. Ainda de acordo com o comunicado oficial, Eduardo Felipe tinha sido atingido e não resistira aos ferimentos. Com ele, teriam sido apreendidos uma pistola 9mm, munição e um radiotransmissor.

O flagrante, feito por dois moradores do Morro da Providência, um homem e uma mulher, conta o que seria a verdadeira história do que aconteceu. Em determinado momento, ela sugere a ele:

— Grita “assassino!”.

E a “morte em confronto” continua a ser engendrada. No diálogo entre os dois moradores, que acompanha o vídeo, eles afirmam que o rapaz fora morto apesar de ter se entregado. O homem afirma:

— Ele levantou a mão e o “cana” deu de queima-roupa. Olha lá, mexendo no garoto, mexendo no garoto.

Apavorado, ele afirma que continuará filmando porque acha que os policiais vão deixar Eduardo Felipe, a quem se refere como Pintinho, morrer.

— Minha perna está tremendo — admite, ao perceber que a morte acontecerá diante de seus olhos. — É a primeira vez que eu vejo alguém morrer. Novinho, que Deus o tenha.

O promotor Paulo Roberto Mello Cunha, da Auditoria Militar, que já se reuniu para tratar do caso, disse nesta segunda-feira que as imagens revelam de forma contundente uma fraude processual, apontando ainda para um caso de homicídio.

— Uma fraude processual como essa, evidentemente, já indica que ocorreu um homicídio e que não houve confronto — afirmou.

Policiais militares envolvidos na morte de Eduardo Felipe chegam à delegacia da Praça da República - Domingos Peixoto / Agência O Globo

Depois de prestarem depoimento na 4ª DP (Praça da República), os policiais seriam levados para a 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), que ficará responsável pelas investigações. A Corregedoria Interna da Polícia já instaurou inquérito sobre o caso. Já a Divisão de Homicídios da capital ficará responsável pela investigação sobre a morte do adolescente.

— A perícia no local já foi refeita — disse o delegado Rivaldo Barbosa, titular da DH. — O vídeo mostra flagrantemente uma fraude perpetrada pelos policiais, que será apurada juntamente com a possibilidade do crime de homicídio. A gente não vai descartar a possibilidade de a fraude ocultar uma execução. Essa é a nossa linha de investigação.

Muito abalado, o pai de Eduardo Felipe disse nesta terça-feira, ao deixar o IML, que não pensa em mover uma ação na Justiça contra o estado:

— Eu só quero enterrar meu filho em paz. Não quero mais nada.

De acordo com a Polícia Civil, o adolescente tem três anotações criminais: por tráfico de drogas, injúria e ameaça. No entanto, um tio do adolescente, que se apresentou como advogado, afirmou que o jovem não tinha envolvimento com o crime organizado. Segundo ele, o rapaz, que tinha oito irmãos — seis por parte de pai —, era estudante da rede estadual.

O enterro acontecerá nesta quarta-feira, às 13h, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Nesta terça-feira mesmo, um grupo de moradores do Morro da Providência já se mobilizou e criou uma página no Facebook para exigir justiça para o caso.

'EU VOU FILMAR, ELES ESTÃO DEIXANDO O MOLEQUE MORRER'

Durante a gravação do vídeo, os dois moradores da Providência que registraram o flagrante narram, em tom emocionado, cada ação dos quatro policiais acusados do crime.

“Dá pra gravar, puxa o zoom, puxa o zoom’’, diz um homem. A mulher responde: “Grita ‘assassino!’”. Em seguida, ele diz: “É o Pintinho, estou tremendo, olha eles mexendo no moleque, olha aí, rapá, eu vi o moleque falando ‘ai, ai, para, para’’’.

A narração continua com a mulher afirmando: “É o Pintinho... Tá dando pro alto, a polícia” (Um PM dispara)’. O homem diz: “O garoto tá lá no chão, ele fez ‘ai ai ai’, eu vi, levantou no primeiro tiro (...). Tá lá o garoto no chão cheio de sangue. (...) Ele levantou a mão e o cana deu de queima-roupa, olha lá, mexendo no garoto, mexendo no garoto”.

A mulher: “Assassinos, assassinos.” (Repete baixo para não ser ouvida)

Homem: “Eu tô com a minha perna tremendo. Calma, eles estão mexendo nele. Minha perna está tremendo”.

Mulher: “Eles vão deixar o garoto morrer...”

Homem: “Eles estão mexendo na pistola... Eles tão dando tiro (...), botou outro tiro em cima do moleque”.

Mulher: “Ai, mentira”.

Homem: “Eu vou filmar, eles estão deixando o moleque morrer...” 

GALERIAA FARSA DESCOBERTA NA PROVIDÊNCIA
  • Em vídeo, PMs aparecem forjando auto de resistência
    Em vídeo, PMs aparecem forjando auto de resistência Agência O Globo
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