O drama dos refugiados cantado por Cora Coralina
Enviado por Edison Brito
18/09/2015
A poesia, a boa poesia, tem estas características: atemporalidade e universalidade.
Nestes versos de Cora Coralina podemos trocar facilmente 1945 por 2015 (guerra não falta), judeus por haitianos, sírios, libaneses, curdos, Afeganistão, congoleses, nigerianos, líbios e tantos outros que, de repente, veem seu mundo desaparecer num trovejar de bombas e povos que nunca terra tiveram.
Não há perda poética, nem triste verdade.
Barco sem rumo
Há muitos anos,
No fim da última guerra,
Mais para o ano de 1945,
Diziam os jornais de um navio-fantasma
Percorrendo os mares e procurando um porto.
Sua única identificação:
-drapejava no alto mastro uma bandeira branca.
Levava sua carga humana.
Salvados de guerra e de uma só raça.
Incertos e sem destino,
Todos os portos se negaram a recebê-lo.
Acompanhando pelo noticiário do tempo
O drama daquele barco,
Mentalmente e emocionalmente
Eu arvorava em cada porto do meu País
Uma bandeira de Paz
E escrevia em letras de diamantes:
Desce aqui.
Aceita esta bandeira que te acolhe fraterna e amiga.
Convive com o meu povo pobre.
Compreende e procura ser compreendido.
Come com ele o pão da fraternidade
E bebe a água pura da esperança.
Aguarda tempos novos para todos.
Não subestimes nossa ignorância e pobreza.
Aceita com humildade o que te oferecemos:
Terra generosa e trabalho fácil.
Reparte com quem te recebe
Teu saber milenar, Judeu, meu irmão.
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