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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Governador Flávio Dino: “A vantagem é que a história não acaba”

5 de Outubro de 2016 - 14h01 

Flávio Dino: “A vantagem é que a história não acaba”


Em entrevista ao Blog do Rovai, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), fez uma análise do momento político do país, incluindo as eleições deste ano. Tratou ainda da forma com que a Lava Jato foi instrumentalizada e a mudança de direção nos rumos do país. Aproveitando os 28 anos de promulgação da Constituição, Flávio Dino, que já foi juiz federal, comentou que a carta magna, “fruto de uma articulação progressista”, deu contribuições importantes no cenário político do país.


 

 

Para Dino, as eleições municipais no Maranhão enterraram de vez a oligarquia política da Era Sarney. O PCdoB elegeu 46 prefeitos, dentre um universo de 153 eleitos do campo aliado ao governo e mais 215 vereadores. Para ele, o principal mérito “foi ter conseguido paradoxalmente manter vivo o sentimento da mudança”. 

“Em pouco tempo, um ano e meio, conseguimos mostrar para a população que é possível, ainda que de modo incipiente, claro, fazer mudanças assertivas na vida das pessoas, no modo de governar”, comemora.

O governo atribui o resultado positivo nas eleições municipais do Maranhão também à sustentação da “credibilidade”, apesar das dificuldades econômicas e fiscais, “do desemprego na sociedade, a gente manteve um estoque e credibilidade para continuar falando de mudanças e a população acompanhar. O tempero principal foi a capacidade de em pouco tempo, com poucos meios, gerar alguns resultados simbólicos que mantiveram nossa capacidade de aglutinar o campo pela alta aprovação popular”, avalia.

Aspecto nacional

Entretanto, para o governador, cabe uma revisão dos vários fatores que levaram à “derrota” do campo progressista e popular e a ascensão da direita e do conservadorismo, nas eleições, em nível nacional. E citou como exemplo a vitória em primeiro turno do empresário João Doria (PSDB) em São Paulo. 

Para Dino, uma das razões para desequilibrar o jogo político ocorreu em 2014, com a instrumentalização política da Lava Jato. “Qual a resultante do fortalecimento desse bloco no terreno da política, já que gostam tanto de falar de Operação Mãos Limpas, sem entender direito as consequências? Nós temos uma situação similar, meio italiana nesse sentido também, que é ‘berlusconização’ da política. Agora nós temos o próprio Berlusconi que é o João Dória.”

Segundo o governador, o que houve foi uma crise de representação aguda e uma “fragmentação do sistema partidário, de forma que você consegue identificar derrotados, mas tem dificuldade de identificar vencedores”. E dessa forma, teve “um afastamento da população da política, resultados indo na direção da abstenção, voto nulo e branco. Ou seja, uma descrença”.

Para ele, ninguém ganhou, “tirando essa vitória notável do Dória, em São Paulo, você vê que o próprio PSDB teve derrotas. O PMDB teve derrotas expressivas. Então, temos uma desestruturação de todo o sistema institucional”.

Crise da esquerda

No que tange a participação política no campo institucional, Flávio Dino faz uma análise de “profunda crise da esquerda”. “Como vimos, fomos reduzidos a praticamente 20% da sociedade”, explicou, citando os números eleitorais nos grandes centros. 

“A esquerda foi pulverizada e reduzida a 20% praticamente da expressão institucional da política. Isso, naturalmente, não pode ser afirmado de forma aritmética. O pensamento de esquerda, a meu ver, é maior que 20% da sociedade. No que se refere ao jogo institucional, nós fomos reduzidos a um quinto.”

Para ele, o problema é que com um quinto “você não polariza o centro político, porque não há força suficiente”. “Nós estamos diante desse desafio enorme, de crise de representação política, fragmentação da esquerda, que tem dificuldade de se colocar para a sociedade em outros termos. E aliado a isso você tem uma recessão e um desemprego brutal, que naturalmente leva à ‘direitização’ da política.” 

Flávio Dino recordou que o “nazifascismo surgiu do ventre de uma grande crise econômica”. “Crises econômicas agudas levam a saídas autoritárias, normalmente. A crise de 1929 foi o combustível do nazifascismo dos anos 1930. Nós vivemos isso em termos internacionais. Não somente na política brasileira. Mas qual é o desafio? Falar de esperança e de propostas que sejam galvanizadoras no sentimento, no quadro objetivo de muitas derrotas, porque há a Lava Jato como território hostil. A sociedade indiferente à política, o desemprego e a recessão dizimando a luta social. Não é uma coisa simples. A vantagem é que a história não acaba, você não pode ser fatalista de achar que tudo acabou.”

Redução de direitos x igualdade de oportunidades

Entretanto, Dino ressaltou que tem convicção que esse “ciclo” de crise deve durar pouco tempo. “Porque uma sociedade perversamente desigual e injusta tem impasses muito profundos que você não consegue resolver. A meu ver, com políticas que reforcem exatamente a desigualdade, injustiça e a negação de direitos, isso conduz a uma inviabilização da sociedade, porque significa, por exemplo, aprofundar a violência.”

“Acho que acertando o movimento nós conseguimos sair disso. Agora, o que não pode é acreditar no princípio da inércia”, avalia. “Não adianta uma subjetividade conduzir a uma certa tendência histórica sem você, ativamente, construir os sujeitos para fazer com que essa objetividade se materialize nos fatos.” 

Para Flávio Dino, a principal questão agora é “reorganizar nossos sujeitos históricos em um quadro profundamente adverso”. “É preciso, portanto, agregar um programa que seja prospectivo, porque não existe na sociedade voto de gratidão, por mais que as pessoas reconheçam os feitos do passado. Elas precisam acreditar que o que você apresenta vai ampliar benefícios para o futuro e, no mínimo, preservar conquistas ou ampliar benefícios.” 

Outra questão mais programática, analisa Dino, é a “agenda dos serviços públicos e da igualdade de oportunidades”. Para ele, esse é o ponto mais claro, a “contradição” dos campos: “É a questão que nos coloca em contradição, com esse modelo mais privatizado, centralizador”.

“Você tem que encontrar um jeito de repactuar as relações com o que se identifica mais claramente com a esquerda, mas também com outros rostos que podem e devem ser repolarizados.” 

Para Dino, “a grande lição é que hoje ninguém está em condição de ficar sozinho. A esquerda está toda no mesmo barco”. “As derrotas que o PT colheu, nós também colhemos, com a exceção do Maranhão”, destaca.


Do Portal Vermelho, com Blog do Rovai

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