publicado em 27 de agosto de 2014 às 11:27
No Twitter, Xico Graziano vibrava com as notícias do IBOPE sobre a explosão da candidatura Marina Silva, apesar de poder ser a pá de cal na candidatura do seu partido. Não se trata de um twiteiro convencional, mas do homem de confiança de Fernando Henrique Cardoso, que chegou a ser cogitado para comandar a campanha de Aécio Neves nas redes sociais.
Seu entusiasmo é uma demonstração eloquente da falta de substância no discurso oposicionista. Nesses doze anos, limitaram-se a brandir um anacrônico “delenda PT” em vez de buscar o discurso novo.
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Nem se pense que do lado do PT houve alguma inovação.
As manifestações de junho de 2013 poderiam ter sido um presente para o partido e para Dilma. Com mais de um ano de antecedência, vinha o aviso das ruas: o povo já tem pão, já tem escola, já tem luz; falta participação.
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Sabia-se que, fechado o ciclo de inclusão – promovido pelas políticas sociais de Lula e Dilma – apareceria em cena um novo cidadão, mais exigente em relação aos serviços públicos, mais consciente em relação aos seus próprios direitos, mais cético em relação às instituições convencionais da democracia representativa.
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A onda Marina Silva é a comprovação maior de como os partidos – tanto o PT quanto o PSDB – afastaram-se dos intelectuais e do sentimento das ruas.
Hoje em dia, é comum ouvir de líderes partidários críticas a Dilma, por não ter interpretado devidamente o sentimento das ruas. Mas o próprio PT tratou a insatisfação popular como uma tentativa de golpe ou da direita ou de grupos de extrema esquerda. Quem ousasse dar legitimidade à insatisfação das ruas era execrado. Julgaram que o novo cidadão ainda levaria alguns anos para emergir. Não tiveram o menor sentimento de urgência.
Aliás, não conseguiram sequer divulgar – até agora – avanços inegáveis que aconteceram em diversas políticas públicas.
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Do lado do PSDB, nem se diga. Desde Mário Covas o partido perdeu totalmente o sentimento de povo. As manifestações de junho mereceram apenas algumas análises óbvias de FHC e nenhuma forma de ação.
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Com essa insensibilidade ampla, a bandeira do aprofundamento democrático e da democracia digital ficou exclusiva de Marina Silva – fortalecida pela demonização da política patrocinada esses anos todos pelos grupos de mídia.
Um eventual governo Marina Silva é um enorme risco para o país. Analistas já comparam a Jânio Quadros e Fernando Collor – pelo isolamento, pela falta de estrutura partidária, pela ausência de jogo de cintura para tratar com os políticos e pela falta de um projeto mais amplo de país.
Dilma e Aécio representam propostas de política econômica claras e conhecidas. Já Marina é cercada por grupos absolutamente heterogêneos, onde despontam desde “operadores” de mercado (no pior sentido), como André Lara Rezende, a um certo empresariado industrial paulista mais moderno, os nacionalistas do PSB, e ONGs do setor privado, de boa reputação. Juntos, não formam um projeto.
Mais que isso, sobre essa orquestra disforme paira a personalidade de Marina.
É imensamente mais teimosa e menos preparada que Dilma. Tem muito menos habilidade política e capacidade de escolha de equipe que Aécio.
O crescimento de sua candidatura não se trata de um fogo fátuo, como tantos outros da história recente do país. Que a onda irá refluir, não se tenha dúvida. Não se sabe apenas se refluirá antes de terminadas as eleições.
Mas sua eleição é inegavelmente uma aposta de altíssimo risco.
PS do Viomundo: Sem tirar, nem por uma palavra. Quanto a 2013, foi o que me levou inclusive a perder amigos: tentem entender, não criminalizar, eu insistia. Acusado no Facebook de demonizar Marina como foi feito com Lula, em 2002, respondi: “Em 2002 o Lula tinha três eleições nas costas, um partido político sólido, que havia ajudado a criar, apoio de setores importantes da igreja, de uma central sindical e de um sem número de movimentos sociais. Tinha uma sólida base social no operariado de um dos setores industriais mais modernos do Brasil, no ABC paulista. Não me lembro dele ter herdado a vaga de candidato ao Planalto de um recém-falecido, nem de concorrer por uma legenda da qual pretendia sair. Não duvido da honestidade de Marina Silva, talvez até votasse nela em outras circunstâncias, mas nas de hoje, sinceramente, é uma aventura provocada pela desconexão entre as instituições e as ruas.
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