O Palácio do Planalto, sede do poder executivo.

As eleições estão demonstrando, à saciedade, de onde parte e a que ponto chegou a desconstrução da política e a pregação anti-partidos políticos.

A força das finanças reina absoluta, expressa até em pautas eleitorais como as da independência do Banco Central e a rigidez do tripé macro-econômico. Até o sistema político é por ela capturado e, no Brasil, dominado pelo financiamento corporativo quase exclusivo das campanhas eleitorais. Cercando tudo, os meios de comunicação monopolizados reinam acima de qualquer controle social.

Mas há sempre a quinta-coluna. As instituições de Estado no Brasil são conservadoras e se revelam pouco republicanas, mormente no caso da Justiça e Ministério Público, sem falar em redes seletivas de vazamentos por segmentos da Polícia Federal.

Nesse sentido, será a terceira eleição marcada por denuncismo anti-PT e anti-esquerda, para atingir o projeto liderado por Lula e Dilma. Desta feita, o caso Petrobrás é vazado seletivamente, no tempo milimétrico para atingir o segundo turno. Utiliza-se de delação premiada de um corrupto confesso, assacando contra tudo e todos, sem provas, amplificadas ad nauseam na mídia, como guerra política contra o governo. Da compra de votos para a reeleição de FHC, ou o caso Alston do governo de SP e do mensalão tucano, a blindagem da mídia se quer inexpugnável.

Coisa de dar inveja ao udenismo lacerdista dos anos 50, ou mesmo à oposição venezuelana, quanto ao escárnio, desfaçatez e cinismo.  Na Itália, tal exacerbação, com a operação Mãos Limpas – apoiada por segmentos progressistas – levou ao domínio da direita berlusconiana, que desmoralizou aquela nação.

É de se perguntar: quem mina mesmo o espírito republicano?

Com essas e outras, captura-se pelo lado conservador, reacionário e regressivo qualquer sentimento sincero de mudanças que haja no caso brasileiro – e o há -, mas sob o preço de mistificá-lo e despolitizá-lo. Manipula-se àqueles que ascenderam e têm pressa de ir mais longe, sem medir os caminhos das conquistas alcançadas e nem compreendem a importância de defendê-las; àqueles que não têm experiência política ou abraçam a anti-política; ou, ainda, àqueles cuja experiência de vida social incuba ideários conservadores da meritocracia, de fundamentalismo religioso, intolerâncias variadas: se não é algo novo, é um ovo de serpente presente no mundo e aportando entre nós.

Isso catalisa a anti-política. Nada desmoraliza mais a política que o signo da anti-política, o borrar fronteiras entre projetos opostos. Será histórico, a esse título, mais um caso deprimente de transformismo político. O PSB, de rica tradição democrática e de esquerda, adere ao campo da direita moderna do Brasil e no mundo, não sem a resistência de figuras históricas como Roberto Amaral. Marina Silva, mais uma certa “esquerda democrática” assim intitulada, seguem o mesmo caminho. Estabelecem, afinal, o passo à frente, que é para atrás: de possíveis ideais progressistas na questão ambiental, para pactos regressivos e conservadores sob a égide tucana. Tudo se tergiversa, entre os aderentes e entre os que recebem apoio. Como diz Erundina: se era para superar a polarização PT X PSDB por que reforçar um dos polos agora, precisamente o conservador?

Em meio a isso tudo a ofensiva conservadora prevalecente, ainda, no mundo. A maior crise capitalista dos últimos 85 anos é meramente rebarbada na análise do desempenho da economia nacional (no caso da maior seca dos últimos 80 anos é suficiente para “salvar” Alckmin). Compara-se esse desempenho com o de outros países cujos desafios tem natureza bastante diversa da brasileira. Resgataram-se da crise os setores financeiros, sem mudar uma ideia e mantendo-as como pensamento único para economias profundamente díspares, com o receituário minimalista de tripé macroeconômico sob a égide da finança internacional que levou exatamente à crise. Transformam a parte em todo: estabilidade da moeda como suficiente para a estabilidade da economia, ideia bem funcional aos interesses da banca internacional.

Assim que as eleições do Brasil são estratégicas.

Dilma foi longe. É valente e inatacável quanto ao republicanismo e moral pública. Os fundamentos políticos e morais de seu programa de governo são sólidos. As propostas são claras e dão continuidade avançada ao que vem sendo feito. Para ampliar sua votação, falta-lhe pregar na veia novas medidas impactantes de governo, num novo pacto de natureza universalista para fazer dos serviços públicos a base do bem-estar social nas questões da saúde, educação, previdência, segurança pública e mobilidade urbana. Por que não a carreira nacional de professores e agentes de saúde como os médicos? Por que não o fim do fator previdenciário?

O essencial ela pautou: o sentido maior é o de dois campos opostos em disputa, não só no passado, mas se projetando para o futuro, na vida de cada brasileiro, sobretudo os que vivem do próprio trabalho. E a desconstrução da pregação de Aécio, mistificante e mistificada.

Resta mobilizar a base social, esclarecer o que está em jogo. Vencendo Dilma, se impõem as impostergáveis reformas de fundo na esfera política-eleitoral e meios de comunicação, entre outras, que alterem de fato a composição estrutural de forças que assegura um Estado intrinsecamente conservador. É longa a marcha pela afirmação nacional, democrática, soberana e inclusiva.