Brasil 247
"A adesão de Marina Silva ao candidato tucano, Aécio Neves, consolida o bloco de centro-direita no cenário eleitoral.
Trata-se do capítulo final de um enredo que começou a ser escrito há dois anos, nos centros de comando da oposição ao governo petista", diz o jornalista Breno Altman, em seu novo blog, desenvolvido em parceria entre o Opera Mundi e o 247;
; "As urnas poderão ser favoráveis ao PT se as ruas forem tomadas por um sentimento apaixonado de resistência contra o retrocesso neoliberal, fundado sobre novo pacto programático que faça avançar e aprofundar as reformas"; leia a íntegra
13 DE OUTUBRO DE 2014 ÀS 15:59
247 - O jornalista Breno Altman, diretor do site Opera Mundi, estreia, nesta segunda-feira um novo blog, em parceria com o 247, no endereço www.brenoaltman.com.
Ele avalia que a eleição presidencial será decidida pelo voto de esquerda. Leia abaixo:
Ele avalia que a eleição presidencial será decidida pelo voto de esquerda. Leia abaixo:
VOTO DE ESQUERDA DECIDIRÁ ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
Por Breno Altman
A adesão de Marina Silva ao candidato tucano, Aécio Neves, consolida o bloco de centro-direita no cenário eleitoral.
Trata-se do capítulo final de um enredo que começou a ser escrito há dois anos, nos centros de comando da oposição ao governo petista.
Parte da burguesia e de seus braços midiáticos imaginou que o PT somente poderia ser derrotado por uma dissidência dentro de seu próprio campo, que trouxesse os principais partidos de direita a reboque em eventual segundo turno.
A operação apresentava contornos parecidos com a estratégia desfechada em 1994, quando Fernando Henrique foi catapultado como nome capaz de liderar o reordenamento da coalizão neoliberal, provisoriamente destroçada com o impedimento de Fernando Collor.
A candidatura de Eduardo Campos nasceu com a marca dessa política, robustecida quando Marina Silva aceitou ser vice-presidente na fórmula do PSB, depois de inviabilizada a formação de seu partido.
A ideia era que tal postulação impediria a vitória da presidente Dilma Rousseff logo no primeiro turno, ao roubar franjas de seus votos naturais.
Se Eduardo fosse à segunda volta, teria o apoio automático do PSDB e seus aliados. O drama, para o conservadorismo, era que a atração dos sufrágios socialistas, caso Aécio Neves estivesse na cédula final, era mais insegura.
A morte trágica do ex-governador de Pernambuco mudou a posição das peças no tabuleiro.
Marina Silva, alçada à cabeça de chapa, rapidamente assumiu ampla dianteira nas pesquisas.
Fez, a partir de então, movimentos cujos zigues-zagues determinaram seu apogeu e declínio.
Acenou para setores progressistas do eleitorado, especialmente dos grandes centros urbanos, que estavam cansados ou insatisfeitos com os governos petistas.
Suas armas, para esses segmentos, eram de ordem biográfica e narrativa, adotando um discurso melífluo de conexão com os movimentos juvenis eclodidos em junho de 2013.
Ao mesmo tempo, tratou de ocupar o máximo de espaço à direita, mesclando tanto a assimilação do programa econômico do neoliberalismo quanto a convocação subliminar do voto evangélico, entre outros trunfos.
Sua posição de vanguarda nas sondagens de opinião, por fim, também permitiu a sedução passageira do eleitorado tucano menos fiel, inclinado a apoiar qualquer nome capaz de derrotar o PT.
Primeiro turno: declínio de Marina Silva
Quando a campanha de Dilma começou a polemizar com as opções programáticas de Marina, vinculando a candidatura neossocialista à plataforma do capital financeiro e ao campo do conservadorismo, uma fração dos votantes marinistas, mais à esquerda, acabou retornando ao leito petista.
Imediatamente se produziu declínio da ex-senadora nas enquetes, suficiente para o voto útil conservador regressar a Aécio.
O resultado do primeiro turno, apesar de tantos sobressaltos na campanha, acabou apresentando resultado político semelhante a 2010, mas com certo esvaziamento da atual presidente.
Dilma caiu de 46,91% dos votos válidos para 41,59%.
Aécio teve 33,55% dos sufrágios, contra 32,61% de José Serra há quatro anos.
Marina Silva subiu de 19,33% para 21,32%.
Os partidos menores foram de 1,15% para 3,54%, com forte crescimento do PSOL de Luciana Genro, que obteve 1,55% contra 0,87% do postulante Plínio de Arruda Sampaio em 2010.
O cenário apontaria para fácil vitória de Dilma no segundo turno se as condições econômicas e políticas fossem as mesmas de 2010, quando o PT atraiu metade dos votos de Marina e sua candidata venceu com 56% dos votos.
Mas o fato novo das eleições correntes é a existência de uma potente onda conservadora, que se manifesta na maior facilidade de convencimento dos eleitores de centro pela direita, particularmente através da ação dos principais meios de comunicação.
Ao contrário do que se poderia apostar há alguns meses, o principal partido direitista, o PSDB, é capaz de liderar uma aliança que absorve o PSB de Marina e outras agremiações menos relevantes.
Menos por suas virtudes, mais porque a fórmula de centro, dessa vez, não era uma terceira via como eventualmente o foi em 2010, mas hipótese orgânica de fatias burguesas agora reunificadas sob a chapa tucana.
Segundo turno: identidade de esquerda
São muitos os sinais que a candidata do PT somente vencerá as eleições se aprofundar sua identidade de esquerda e popular, prosseguindo e ampliando o movimento já realizado no primeiro turno.
O candidato da direita, apoiado pelo centro, corre para mostrar que as principais conquistas sociais não estão em risco.
A presidente precisa apontar claramente, através da história e do programa, porque a vitória do PSDB significa a derrocada das mudanças iniciadas em 2003.
Aécio precisa diluir as diferenças com o campo progressista para vencer.
Dilma somente será vitoriosa se demarcar radicalmente essas fronteiras.
A vitória petista pressupõe a manutenção dos 43 milhões de votantes do primeiro turno e a conquista de outros nove milhões de eleitores.
Quase dois milhões podem vir da extrema-esquerda. Outros 7 ou 8 milhões terão que sair do marinismo, o que equivale a um terço dos que sufragaram a candidata do PSB na primeira volta.
Pode-se supor que esse contingente, em sua maioria, votou por Dilma na última rodada de 2010, não possui raízes conservadoras ou antipetistas, não está sob hegemonia dos paradigmas da direita.
Suas fileiras estão constituídas por setores sociais, proletários e médios, que se desencantaram com o gradualismo petista e sua capacidade de oferecer respostas imediatas às más condições e perspectivas de vida nas grandes cidades.
Suas expectativas não são de menos Estado e mais mercado, ao contrário: mobilizaram-se por mais serviços públicos e menos concessões aos interesses do capital.
Estratégia de confronto
Para dirigir os votos dessas camadas, o petismo depende de uma firme estratégia de confronto.
A comparação dos doze anos dos governos de Lula e Dilma com os oito de gestão tucana é parte essencial dessa equação, mas insuficiente.
O enfrentamento provavelmente só será bem-sucedido se incluir a disputa programática, que marque a candidatura tucana como a representação das elites e dos ricos contra os pobres, a justiça social, a soberania nacional, os direitos civis e a democracia, valores a serem coluna vertebral da plataforma petista.
A recuperação destes eleitores de Marina Silva para o campo progressista não se restringe a propostas que possam atender a demandas específicas, nas distintas áreas da gestão pública.
A propaganda antipetista dificilmente será vencida por compromissos de serviço e eficácia, ainda que esses sejam fundamentais.
A disputa do centro – entendido em seu perfil político e social – depende da polarização explícita e frontal entre dois projetos de país, que substitua a tentação da alternância pela negação do retrocesso.
A argamassa da direita, nesse momento, é o denuncismo anticorrupção, aproveitando-se de seu domínio sobre os meios de comunicação e sobre o poder judiciário.
Manter-se nessa agenda, na qual a capacidade de fogo do conservadorismo é determinada por seu poderio midiático, seria condenar a campanha petista à defensiva.
As urnas poderão ser favoráveis ao PT se as ruas forem tomadas por um sentimento apaixonado de resistência contra o retrocesso neoliberal, fundado sobre novo pacto programático que faça avançar e aprofundar as reformas.
Trata-se do capítulo final de um enredo que começou a ser escrito há dois anos, nos centros de comando da oposição ao governo petista.
Parte da burguesia e de seus braços midiáticos imaginou que o PT somente poderia ser derrotado por uma dissidência dentro de seu próprio campo, que trouxesse os principais partidos de direita a reboque em eventual segundo turno.
A operação apresentava contornos parecidos com a estratégia desfechada em 1994, quando Fernando Henrique foi catapultado como nome capaz de liderar o reordenamento da coalizão neoliberal, provisoriamente destroçada com o impedimento de Fernando Collor.
A candidatura de Eduardo Campos nasceu com a marca dessa política, robustecida quando Marina Silva aceitou ser vice-presidente na fórmula do PSB, depois de inviabilizada a formação de seu partido.
A ideia era que tal postulação impediria a vitória da presidente Dilma Rousseff logo no primeiro turno, ao roubar franjas de seus votos naturais.
Se Eduardo fosse à segunda volta, teria o apoio automático do PSDB e seus aliados. O drama, para o conservadorismo, era que a atração dos sufrágios socialistas, caso Aécio Neves estivesse na cédula final, era mais insegura.
A morte trágica do ex-governador de Pernambuco mudou a posição das peças no tabuleiro.
Marina Silva, alçada à cabeça de chapa, rapidamente assumiu ampla dianteira nas pesquisas.
Fez, a partir de então, movimentos cujos zigues-zagues determinaram seu apogeu e declínio.
Acenou para setores progressistas do eleitorado, especialmente dos grandes centros urbanos, que estavam cansados ou insatisfeitos com os governos petistas.
Suas armas, para esses segmentos, eram de ordem biográfica e narrativa, adotando um discurso melífluo de conexão com os movimentos juvenis eclodidos em junho de 2013.
Ao mesmo tempo, tratou de ocupar o máximo de espaço à direita, mesclando tanto a assimilação do programa econômico do neoliberalismo quanto a convocação subliminar do voto evangélico, entre outros trunfos.
Sua posição de vanguarda nas sondagens de opinião, por fim, também permitiu a sedução passageira do eleitorado tucano menos fiel, inclinado a apoiar qualquer nome capaz de derrotar o PT.
Primeiro turno: declínio de Marina Silva
Quando a campanha de Dilma começou a polemizar com as opções programáticas de Marina, vinculando a candidatura neossocialista à plataforma do capital financeiro e ao campo do conservadorismo, uma fração dos votantes marinistas, mais à esquerda, acabou retornando ao leito petista.
Imediatamente se produziu declínio da ex-senadora nas enquetes, suficiente para o voto útil conservador regressar a Aécio.
O resultado do primeiro turno, apesar de tantos sobressaltos na campanha, acabou apresentando resultado político semelhante a 2010, mas com certo esvaziamento da atual presidente.
Dilma caiu de 46,91% dos votos válidos para 41,59%.
Aécio teve 33,55% dos sufrágios, contra 32,61% de José Serra há quatro anos.
Marina Silva subiu de 19,33% para 21,32%.
Os partidos menores foram de 1,15% para 3,54%, com forte crescimento do PSOL de Luciana Genro, que obteve 1,55% contra 0,87% do postulante Plínio de Arruda Sampaio em 2010.
O cenário apontaria para fácil vitória de Dilma no segundo turno se as condições econômicas e políticas fossem as mesmas de 2010, quando o PT atraiu metade dos votos de Marina e sua candidata venceu com 56% dos votos.
Mas o fato novo das eleições correntes é a existência de uma potente onda conservadora, que se manifesta na maior facilidade de convencimento dos eleitores de centro pela direita, particularmente através da ação dos principais meios de comunicação.
Ao contrário do que se poderia apostar há alguns meses, o principal partido direitista, o PSDB, é capaz de liderar uma aliança que absorve o PSB de Marina e outras agremiações menos relevantes.
Menos por suas virtudes, mais porque a fórmula de centro, dessa vez, não era uma terceira via como eventualmente o foi em 2010, mas hipótese orgânica de fatias burguesas agora reunificadas sob a chapa tucana.
Segundo turno: identidade de esquerda
São muitos os sinais que a candidata do PT somente vencerá as eleições se aprofundar sua identidade de esquerda e popular, prosseguindo e ampliando o movimento já realizado no primeiro turno.
O candidato da direita, apoiado pelo centro, corre para mostrar que as principais conquistas sociais não estão em risco.
A presidente precisa apontar claramente, através da história e do programa, porque a vitória do PSDB significa a derrocada das mudanças iniciadas em 2003.
Aécio precisa diluir as diferenças com o campo progressista para vencer.
Dilma somente será vitoriosa se demarcar radicalmente essas fronteiras.
A vitória petista pressupõe a manutenção dos 43 milhões de votantes do primeiro turno e a conquista de outros nove milhões de eleitores.
Quase dois milhões podem vir da extrema-esquerda. Outros 7 ou 8 milhões terão que sair do marinismo, o que equivale a um terço dos que sufragaram a candidata do PSB na primeira volta.
Pode-se supor que esse contingente, em sua maioria, votou por Dilma na última rodada de 2010, não possui raízes conservadoras ou antipetistas, não está sob hegemonia dos paradigmas da direita.
Suas fileiras estão constituídas por setores sociais, proletários e médios, que se desencantaram com o gradualismo petista e sua capacidade de oferecer respostas imediatas às más condições e perspectivas de vida nas grandes cidades.
Suas expectativas não são de menos Estado e mais mercado, ao contrário: mobilizaram-se por mais serviços públicos e menos concessões aos interesses do capital.
Estratégia de confronto
Para dirigir os votos dessas camadas, o petismo depende de uma firme estratégia de confronto.
A comparação dos doze anos dos governos de Lula e Dilma com os oito de gestão tucana é parte essencial dessa equação, mas insuficiente.
O enfrentamento provavelmente só será bem-sucedido se incluir a disputa programática, que marque a candidatura tucana como a representação das elites e dos ricos contra os pobres, a justiça social, a soberania nacional, os direitos civis e a democracia, valores a serem coluna vertebral da plataforma petista.
A recuperação destes eleitores de Marina Silva para o campo progressista não se restringe a propostas que possam atender a demandas específicas, nas distintas áreas da gestão pública.
A propaganda antipetista dificilmente será vencida por compromissos de serviço e eficácia, ainda que esses sejam fundamentais.
A disputa do centro – entendido em seu perfil político e social – depende da polarização explícita e frontal entre dois projetos de país, que substitua a tentação da alternância pela negação do retrocesso.
A argamassa da direita, nesse momento, é o denuncismo anticorrupção, aproveitando-se de seu domínio sobre os meios de comunicação e sobre o poder judiciário.
Manter-se nessa agenda, na qual a capacidade de fogo do conservadorismo é determinada por seu poderio midiático, seria condenar a campanha petista à defensiva.
As urnas poderão ser favoráveis ao PT se as ruas forem tomadas por um sentimento apaixonado de resistência contra o retrocesso neoliberal, fundado sobre novo pacto programático que faça avançar e aprofundar as reformas.
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