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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Aécio desconstruiu o próprio Aécio


Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

Uma das palavras da moda nestas eleições é “desconstrução”.

Ela tem sido usada pelos colunistas VPs, em tom de pretensa indignação, para definir o que o PT teria feito com Marina, no primeiro turno, e Aécio, no segundo.

Ah, sim: entenda, por VPs, as Vozes dos Patrões.

Marina é história. Tratemos da “desconstrução” de Aécio.

Desconstruir implica torcer fatos, manipular informações, inventar coisas que prejudiquem determinada pessoa.

Nada, absolutamente nada disso foi feito com Aécio.

Examinemos alguns dados da alegada “desconstrução”.

O aeroporto de Cláudio, por exemplo. Ele existe, ele custou cerca de 12 milhões, ele está situado num terreno que pertencia ao tio de Aécio e ele, embora pretensamente público, era usado privadamente por Aécio e uns poucos.

Desde que o caso apareceu, Aécio não conseguiu dar uma única explicação que fizesse sentido. Porque não há como defender o que é moralmente indefensável.

Construir o aeroporto de Cláudio acabou por desconstruir Aécio. Como quem construiu foi ele, podemos dizer que ele se desconstruiu.

A partir dali, falar em decência e em ética, pregar sobre o uso de dinheiro público, bradar contra a corrupção – tudo isso soou farisaico, cínico, mentiroso em Aécio.

Consideremos agora os familiares e agregados empregados por Aécio. Para quem fala compulsivamente em “meritocracia” e “aparelhamento”, praticar o nepotismo é particularmente acintoso.

A expressão maior do nepotismo de Aécio é sua irmã, Andrea Neves. Em seu governo em Minas, Andrea controlou as verbas de publicidade, uma atividade vital para o exercício de uma censura branca.

Você premia, com dinheiro, quem dá boas notícias sobre você. Pune, fechando as torneiras das verbas, quem faz jornalismo verdadeiro.

É uma situação que desconstrói quem quer que esteja no comando dela. Quem deu poderes a Andrea Neves? Foi Aécio. Não fui eu, não foi você, não foi o papa, não foi FHC.

Logo, também aqui, ele próprio se desconstruiu.

Não deve ser subestimado um fato, neste capítulo, que agrava as coisas. A família de Aécio tem pelo menos três rádios e um jornal em Minas, e para tudo isso foi destinado dinheiro público em forma de publicidade.

É, em si, uma indecência. Mas, para quem se apresente como guardião da moral, é pior ainda.

Ainda no capítulo do nepotismo, a trajetória de Aécio é o exato oposto da “meritocracia” de que ele fala abusivamente.

Aos 17 anos, o pai deputado federal lhe deu um emprego na Câmara, em Brasília. Só que, com esta idade, ele se mudara para o Rio para estudar.

Aos 25, um parente o nomeou diretor da Caixa Econômica Federal.

Isto não é desconstrução: é verdade. É biografia real. A verdade só desconstrói quando o objeto dela fez coisas que merecem desconstrução.

Aécio era uma desconstrução à espera do momento em que luzes clareassem as sombras que sempre o acompanharam. Este momento veio quando ele se tornou candidato à presidência.

Não bastassem os fatos, em si, houve as atitudes nos debates. A grosseria primeiro com Luciana Genro e depois com Dilma, o riso cínico e debochado: assim se desconstruiu a imagem de “bom moço”.

Mas de novo: Aécio não tem ninguém a quem culpar, também aí, senão a si próprio.

Aécio, ao longo da campanha, promoveu uma minuciosa autodesconstrução.

Ganhou a sociedade. Quem votar nele sabe em quem está votando.

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