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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Crise capitalista nos EUA e Reino Unido: 'Isso não é uma recuperação, é uma bolha, e ela vai estourar'


Bolhas de proporções históricas estão se desenvolvendo nos Estados Unidos e no Reino Unido, os dois mercados de ações mais importantes do mundo.

Carta Maior -

Ha-Joon Chang - The Guardian
The Guardian

Londres - De acordo com o mercado financeiro, a economia do Reino Unido está vivendo um boom. Não um velho e tradicional boom, mas um histórico. Em 28 de outubro de 2013, o índice FTSE 100 atingiu 6,734 pontos, rompendo o nível alcançado no auge do boom econômico antes da crise financeira global de 2008 (que foi de 6.730 , registrado em outubro de 2007) .

Desde então, esse índice tem registrado altos e baixos, mas em 21 de fevereiro de 2014, o FTSE 100 subiu para um novo patamar de 6,838 . Neste ritmo, poderá em breve ultrapassar o nível mais alto já alcançado desde que o índice começou em 1984 - 6.930, registrado em dezembro de 1999, durante os dias de glória da bolha pontocom.

Os níveis atuais de preços das ações são extraordinários , considerando que a economia do Reino Unido ainda não se recuperou o terreno perdido desde o crash de 2008. A renda per capita no Reino Unido hoje ainda é menor do que era em 2007. E não nos esqueçamos de que os preços das ações em 2007 estavam definitivamente dentro do território bolha de primeira ordem.

A situação é ainda mais preocupante nos EUA. Em março de 2013, o índice do mercado de ações da Standard & Poor atingiu o maior nível da história, superando o pico de 2007 (que foi maior do que o pico registrado durante o boom das pontocom), apesar do fato de que a renda per capita do país ainda não ter recuperado seu nível de 2007. Desde então, o índice subiu cerca de 20%, embora a renda per capita dos EUA não tenha aumentado ainda mais de 2% durante o mesmo período. Esta é, definitivamente, a maior bolha do mercado de ações da história moderna.

Ainda mais extraordinário do que os preços inflacionados é que, ao contrário dos dois booms de preços das ações anteriores, ninguém está oferecendo uma narrativa plausível para explicar por que os níveis evidentemente insustentáveis dos preços das ações são realmente justificáveis.

Durante a bolha pontocom, a visão predominante era de que a nova tecnologia da informação estava prestes a revolucionar completamente as nossas economias para o bem. Diante disso, argumentava-se, os mercados de ações continuariam subindo (possivelmente para sempre) e chegariam a níveis sem precedentes. O título do livro, Dow 36.000: A Nova Estratégia para Lucrar com a ascensão na Bolsa de Valores, publicado no outono de 1999, quando o índice Dow Jones não era ainda 10.000, resume muito bem o espírito da época.

Da mesma forma, no período preparatório para a crise de 2008, os preços dos ativos inflados foram justificados em termos do suposto avanço em inovação financeira e nas técnicas de política econômica.

Argumentou-se que a inovação financeira - manifestada na sopa de letrinhas de derivados e ativos financeiros estruturados, como MBS , CDO e CDS - tinha melhorado enormemente a capacidade dos mercados financeiros para precificar o risco  corretamente, eliminando a possibilidade de bolhas irracionais . De acordo com essa crença, no auge da bolha do mercado imobiliário dos EUA em 2005, tanto Alan Greenspan (então presidente do Federal Reserve) como Ben Bernanke (então presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente e mais tarde sucessor de Greenspan) negaram publicamente a existência de uma bolha do mercado imobiliário - talvez com exceção de alguma "espuma" em algumas localidades, de acordo com Greenspan .

Ao mesmo tempo, uma melhor teoria econômica - e, portanto, melhores técnicas de política econômica – era defendida para permitir políticas capazes de resolver aqueles problemas que os mercados não podem eliminar. Robert Lucas, o principal economista do livre mercado e ganhador do prêmio Nobel de Economia, em 1995, orgulhosamente declarou em 2003 que "o problema da prevenção da depressão foi resolvido". Em 2004, Ben Bernanke (sim, ele de novo) argumentou que, provavelmente, graças a uma melhor teoria da política monetária, o mundo entrou na era da "grande moderação", em que a volatilidade dos preços seria minimizada.

Desta vez, ninguém está oferecendo uma nova narrativa justificando as novas bolhas porque, bem, não há nenhuma história plausível. Essas histórias que são criadas para fazer o preço da ação subir para o próximo nível têm sido decididamente ambiciosas em escala e efêmeras em sua natureza: taxas mais elevadas do que o esperado de crescimento ou do número de novos postos de trabalho criados; perspectiva mais otimista do que o que é esperado no Japão, China, ou onde quer que seja; a chegada da "super-pomba" Janet Yellen à presidência do Fed; ou, qualquer coisa que possa sugerir que o mundo não vai acabar amanhã .

Poucos investidores do mercado de ações realmente acreditam nessas histórias . A maioria dos investidores sabe que os atuais níveis de preços das ações são insustentáveis. Dizem que George Soros já começou a apostar contra o mercado de ações dos EUA. Eles estão conscientes de que os preços das ações estão elevados, principalmente, por causa da enorme quantidade de dinheiro criada graças à política de flexibilização quantitativa (QE), do governo Obama, e não por causa da força da economia real subjacente. É por isso que eles reagem tão nervosamente a qualquer sinal que essa política pode ser reduzida em uma escala significativa.

No entanto, os investidores do mercado de ações fingem acreditar - ou até mesmo tem a pretensão de acreditar - nessas histórias fracas e efêmeras, porque eles precisam dessas histórias para justificar (para si e para seus clientes) a permanência no mercado de ações, dados os baixos retornos em qualquer outro lugar.

O resultado, infelizmente, é que bolhas de proporções históricas no mercado de ações estão se desenvolvendo nos EUA e no Reino Unido, os dois mercados de ações mais importantes do mundo, ameaçando criar mais um crash financeiro global. Uma maneira óbvia de lidar com essas bolhas é controlar o excesso de liquidez que está inflando-as por meio de uma combinação de política monetária mais apertada e melhor regulamentação financeira contra a especulação do mercado de ações (com medidas restritivas para altas negociações). Claro, o perigo aqui é que estas políticas podem furar a bolha e criar uma confusão.

No longo prazo, porém, a melhor maneira de lidar com essas bolhas é incentivar a economia real, afinal, "bolha" é um conceito relativo e até mesmo um preço muito elevado pode ser justificado se for baseado em uma economia forte. Isso vai exigir um aumento no consumo mais sustentável, baseado em aumento dos salários, em vez de dívidas, maiores investimentos produtivos que irão expandir a capacidade da economia de produzir, e a introdução de regulação financeira que fará com que os bancos passem a emprestar mais para empresas produtivas do que para os consumidores. Infelizmente, essas são exatamente as coisas que os políticos atualmente no poder nos EUA e no Reino Unido não querem fazer.

Estamos caminhando direto para o problema.


Tradução: Louisa Antônia León



Créditos da foto: The Guardian





Roberto Locatelli - 25/02/2014
Em primeiro lugar, parabéns ao site Carta Maior pelo artigo. Excelente análise. Todos os investidores deveriam ter acesso a esse artigo e meditar sobre ele. As duas bolhas citadas são GIGANTESCAS. Quando estourarem, espalharão o caos econômico pelo planeta.

Ignez Régis - 25/02/2014
Parece que a receita para controlar o problema está sendo tentada no Brasil, desde Lula. Os economistas não aceitam porque contraria sua fome voraz de lucro. Tomara que medidas mais efetivas sejam tomadas por aqui, exatamente no sentido de não nos destroçarmos. Porém, a globalização da economia neoliberal nos coloca em xeque, permanentemente.

Ricardo Munhoz - 25/02/2014
Olhem esta matéria e me digam o que vai acontecer. Economia, 07/01/2014 - Finanças Santander lança fundos para brasileiros investirem no exterior Produtos são voltados para o segmento de alta renda e têm como objetivo a diversificação de aplicações Fundos terão de 15% a 20% de investimentos no exterior: em atidos da Europa, EUA, Ásia e dos mercados emergentes(Yuriko Nakao/Reuters) O Santander Asset Management anunciou nesta terça-feira o lançamento de dois fundos que permitem que brasileiros invistam em ações no exterior. O FI Global Multimercado e o FI Diversificação Global Van Gogh Multimercado são voltados para clientes de alta renda que pretendem diversificar seus investimentos para além do mercado brasileiro. A expectativa do banco é que cada fundo atinja uma captação de 300 milhões de reais ainda no primeiro trimestre deste ano. Os fundos, que abriram para captação na segunda-feira, têm uma participação de até 20% de ativos no exterior (o Van Gogh de até 15%). De acordo com o Santander Asset, os investimentos no mercado externo serão voltados para ações, visto que as bolsas de valores estrangeiras apresentaram um rendimento bastante maior do que a Bovespa em 2013. A gestora de ativos explicou ainda que a distribuição de ativos será feita em até 45% nos Estados Unidos, 30% na Europa e o porcentual restante será divido entre países asiáticos e os mercados emergentes. De acordo com a diretora da Santander Asset Management, Luciane Ribeiro, a diversificação de riscos é uma boa opção em períodos de volatilidade, como é previsto para este ano. "Esses ativos (multimercados) têm se mostrado interessantes. Para um cenário de volatilidade, ele funciona melhor", disse. A executiva explicou que, enquanto o porcentual de investimentos no exterior estará voltado para o mercado de renda variável, as aplicações no mercado doméstico serão distribuídas entre renda fixa, ações e o mercado de câmbio. Para ambos os fundos, a aplicação inicial é de 10 mil reais. A taxa de administração para o Fundo Global Multimercado é de 1,8% e o do Van Gogh de 2%. A Santander Asset Management disse ainda já ter parcerias fechadas com gestores internacionais. A instituição possui atualmente 122 bilhões de reais sob gestão. Expectativas para 2014 %u214 A gestora de recursos prevê que este ano seja marcado por volatilidade nos mercados, por isso reforça que a diversificação deve garantir mais rendimentos aos investidores. Contudo, destaca que, pela primeira vez nos últimos anos, não existe uma previsão de turbulência iminente. Para o economista do Santander Asset Ricardo Denadai, o ano será, "no mínimo, mais equilibrado". Denadai destaca que os olhos estarão voltados para a recuperação dos Estados Unidos, que deve impactar em uma nova diminuição dos estímulos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), caso os dados positivos se confirmem. Para a Europa, o analista vê um cenário de leve melhora, mas ainda existem desafios para que a região saia da estagnação econômica. Para a segunda maior economia do globo, a China, a estimativa é de crescimento de 7,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, e de uma média de 7% nos próximos anos. Já para o mercado brasileiro, o cenário será de baixo crescimento e inflação elevada. "Prevemos uma expansão do PIB em 1,9% em 2014, e do IPCA em torno de 6%", comentou Denadai. "Em 2014, nós teremos um crescimento moderado, mas com taxas positivas", comenta. A instituição aposta ainda em um cenário com a taxa básica de juros em 10,5% ao ano e um câmbio médio de 2,42 reais ao longo deste ano. (com Estadão Conteúdo)

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