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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Janio de Freitas e a historinha mal contada do rojão

13 de fevereiro de 2014 | 09:27 

Autor: Fernando Brito

tres

 

Volta e meia, lendo o que escreve Janio de Freitas, acabo por lembrar que ainda existe jornalismo no Brasil.

Porque, no mais das vezes, a apuração jornalística é igual a inquérito policial mal-feito: depende apenas do que as pessoas dizem ou confessam.

Hoje, Janio fotografa o mar de contradições e reticências que virou a cobertura da prisão dos dois confessos disparadores do rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade.

E, sinceramente, é preocupante a rapidez com que o delegado – até agora competente na prisão dos responsáveis diretos – diz que vai concluir o inquérito e entregá-lo à Justiça, amanhã.

Preocupa, também, o Ministério Público, ao menos que se saiba, não estar acompanhando o inquérito policial.

O que disse o advogado dos acusados é extremamente sério para ser ignorado.

Resume Janio:

“Os manifestantes violentos são pagos.” Quem paga? “Vão buscá-los em casa.” Quem vai? “Tem organização por trás deles.” Quem? “É preciso investigar vereadores, deputados, diretórios regionais de partidos.” Quem? Quais? “Minhas conversas indicaram, é preciso investigar vereadores, deputados, diretórios regionais, não só do Rio, de São Paulo e outros Estados também.” “Vereadores, deputados, diretórios”, “vereadores, deputados, diretórios” –sem fim. Quem e quais? “Não me disseram.”

Opa! Ou se trata de uma grosseira chicana jurídica, para semear confusão ou é algo que leva  a responsabilidades muito além de dois rapazes irresponsáveis e com desvios de personalidade.

Há um monte de perguntas não respondidas e que se tem de responder com os fatos que não surgirão sem investigação.

Como apareceu o rojão assassino? Brotou do chão? Fábio o achou, não sabia o que era, deu para alguém que não sabia quem era, esse alguém o disparou?

Fábio era ou não era tatuador profissional? onde estão os clientes que pagavam por seus serviços, pelos quais sustentava o aluguel de um apartamento? Há um contrato de locação? Eram os pais que pagavam? Por que?

Porque Caio recusou-se a falar senão em juízo, um garoto que é inexperiente, estava apavorado e passou horas ao lado dos policiais que o detiveram? Como, se assumiu a culpa pelo disparo – o que o coloca diretamente  como réu em crime de homicídio – em  entrevista à Globo, calou-se para só falar em juízo? Obvio que foi por orientação do advogado, logo ele, um falastrão.

E, claro, toda a série de perguntas que Janio elenca, mas que podem ser respondidas por uma investigação policial eficaz.

Porque não fazê-la, se os prazos legais ainda estão no início e os dois estão presos? E a prisão temporária, que depende de indícios suficiente de autoria e de que, livre, o acusado possa interferir na apuração do fato (coagindo ou orientando testemunhas, por exemplo), seria facilmente decretada, e esta não tem prazo para caducar.

Ora, se a investigação policial precisa ir a estes pontos, por que é que a investigação jornalística não deveria fazê-lo?

Não é indo ouvir os vizinhos para saber se Fábio era “bom” ou “mau” rapaz, com certeza.

Os bobalhões da extrema esquerda, que já serviam de biombo para os interesses da direita com a simbiose com  arruaceiros, vão servir de bode expiatório também na responsabilização criminal?

Os meandros e os podres desta onda de provocação precisam vir à tona, se de fato se quer exorcizar os demônios que transformaram manifestações em infernos.

E isso não se fará com inquéritos a toque de caixa e jornalismo  ”fulano disse, beltrano declarou”.

http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/02/suspeito-de-acender-rojao-que-matou-cinegrafista-so-fala-em-juizo

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