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quarta-feira, 2 de março de 2016

Eron Bezerra: Como parar a ofensiva da direita?


Blog do Renato

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Numa luta política é preciso, como bem definiu Sun Tzu, conhecer o terreno em que se dará o combate, a força do inimigo e a sua própria força. 

Na combinação adequada desses fenômenos e na clareza de tomada de decisões reside, no fundamental, o sucesso de um combate.

No momento a maior clareza que a luta política nos exige é precisamente saber de que lado estamos e, principalmente, com quem podemos contar. 

Clareza de lados, de posicionamentos, o que às vezes fica aparentemente confuso nos momentos de grande instabilidade política.

Mas essa confusão de fato é aparente, pois, por paradoxal que possa parecer, é exatamente nos momentos de crise, de grande tensionamento político – apesar dos prejuízos que eventualmente podem causar – que os posicionamentos tendem a ficar mais claros, mais evidentes. São momentos de raro aprendizado político.

Nessa hora as mais distintas ideias represadas acabam vindo à tona porque seus defensores acreditam que é chegado a hora do “assalto final” pela eventual fragilidade do governo ou de qualquer outro alvo.

 É exatamente o que estamos observando em todos os terrenos de atuação e não apenas no governo.

Cada segmento externaliza, com ênfase, seus pontos de vista e sua pauta reivindicatória.

A direita, por exemplo, expressa cada vez com mais nitidez seu programa reacionário. 

A vitória de Macri na Argentina e a generosidade com que os meios de comunicação de lá e daqui recepcionam seu “pacote de maldades” faz com que a direita brasileira se sinta a vontade para defender abertamente ideias semelhantes, que até então ela procurava disfarçar sob uma genérica crítica as despesas de custeio, sem explicitar que custeio é exatamente contratação de pessoal, salários, educação, saúde, programas sociais, etc.

Imagina que chegou a hora do assalto final e, portanto, defende com desenvoltura a retirada de direitos sociais dos trabalhadores e mais concentração de rendas. 

O único obstáculo a essa pretensão é o governo da presidenta Dilma e as forças sociais progressistas que lhe dão apoio. É preciso removê-las, sentenciam os seus teóricos. 

Os meios? Pouco importa. Recorrem a qualquer mecanismo espúrio, incluindo o golpismo, como temos observado.

Politicamente agem via judiciário, especialmente operação lava-jato e TSE; pelos meios de comunicação, criando um clima de terror e caos permanente; pelo legislativo, procurando desmontar os fundamentos da política até então em curso, como a entrega do pré-sal a empresas estrangeiras, a tentativa de acabar com as empresas estatais e impor mais arrocho aos trabalhadores, etc.; e pela via internacional, usando as agências de risco – cujo valor e credibilidade é de uma nota de 03 reais – para reforçar a ideia de caos e ingovernabilidade.

O governo, por seu lado, ainda não encontrou os mecanismos que lhe permita governar com certa tranquilidade. 

Parte dessa instabilidade decorre de fatores alheios ao próprio governo, dentre os quais o recrudescimento da luta de classes, da radicalização da pauta política.

No geral a política econômica tem se limitado a cortes, o que além de não proporcionar crescimento econômico ainda aprofunda a recessão, o desemprego, a queda de receitas. Tais medidas, combinada com juros estratosféricos de 14,25%, alimenta um círculo perverso de retração econômica e aumento de despesas.

No terreno tático o governo faz concessões ao inimigo na esperança de apoios. Revela que não conhece adequadamente o inimigo, cuja pauta não é apenas a interrupção desse governo, mas principalmente a interrupção de sua política. 

Não há acordo possível para acalma-los, salvo entregar o governo a eles ou ficar no governo fingindo que governa e executando toda a agenda reacionária deles. Esse é o dilema.

Por essa razão é que apesar da boa vontade da presidenta e mesmo de eventuais concessões, a artilharia da direita só aumenta. Como todos sabem, num combate, quanto mais se recua, mais o inimigo avança.

E nós só temos uma linha de contenção ao avanço da direita: os movimentos sociais. Sem essa linha de defesa o governo se tornará absolutamente refém dessa agenda reacionária e na prática terá chegado ao fim.

Sem desprezar os movimentos que amplie a base legislativa do governo é imperioso que não percamos de vista a imperiosa necessidade de, igualmente, consolidar a aliança com os movimentos sociais.

Eron Bezerra é Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.

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