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quarta-feira, 16 de março de 2016

Como alguns poucos dias fazem diferença.



Pablo Villaça, no perfil do facebook. 


Na semana passada, quando a ideia de Lula assumir um ministério foi discutida pela primeira vez, considerei a iniciativa equivocada. "Passará a imagem errada", apontei. "A mídia vai massacrar", considerei. "Não é uma boa estratégia", julguei.

Isso, claro, foi antes de duas coisas importantes acontecerem: o pedido de prisão absurdo feito pelo MP de São Paulo e a divulgação do depoimento no dia em que foi conduzido coercitivamente ao aeroporto de Congonhas.

Esses dois fatores me fizeram desistir de manter qualquer esperança na imparcialidade da Justiça: o pedido de prisão foi tão ridículo que até a juíza que o enviou para Curitiba apontou, antes de fazê-lo, que os procuradores de São Paulo não haviam estabelecido qualquer elemento que apontasse quais teriam sido os benefícios obtidos pelos supostos favores a Lula. Além disso, a falta de evidências era tamanha que o PRÓPRIO PROCURADOR, ao ser confrontado pela falta de provas, respondeu que "a falta de provas era a prova de que o patrimônio era oculto". 

Por esta lógica, sou dono do Empire States Building.

A falta de qualquer evidência também ficou clara no depoimento dado por Lula ao delegado da PF em Congonhas: depois de mais de dois anos de investigação da Lavajato, o máximo que o delegado conseguiu foi apresentar certas suposições. Nenhuma prova ou elemento factual foi apresentado para que Lula pudesse responder. Lendo as 109 páginas do depoimento (que traz alguns momentos hilários, por sinal - como aquele no qual Lula diz que "consegue falar de boca cheia"), é impossível não perceber o delegado tateando no escuro, tentando encontrar alguma maneira de levar o ex-presidente a se comprometer. E sem sucesso.

O depoimento - repito: tomado depois de DOIS anos de investigação - foi tão inócuo que o máximo que a mídia fez para tentar pintar um retrato negativo de Lula foi contar quantas vezes ele disse "querido" e "Hein?". 

O que me traz a uma pergunta que me fazem frequentemente: "você realmente acha que Lula é inocente, que ele não sabia de nada?".

Em primeiro lugar, "achar" isso ou aquilo não é evidência jurídica. Eu posso achar ou não achar um monte de coisas - nenhum tribunal sério levaria isso em consideração. Na justiça norte-americana, há um termo para isso quando um advogado protesta: "Especulação!".

Dito isso, não sei se Lula é "inocente" no sentido extremo da palavra (de "nunca ter feito nada errado"), mas tenho a forte convicção de que não cometeu algum crime grave. Por que tenho essa opinião? Porque há QUARENTA ANOS ele é sistematicamente atacado pela mídia, vigiado de perto e questionado. E nestes QUARENTA ANOS, nenhuma prova surgiu de que ele tenha, de fato, feito algo capaz de enviá-lo para a prisão (a não ser quando foi preso, na ditadura, por ser líder sindical).

Observem, por exemplo, que contas já foram encontradas no exterior em nome de Cunha e da família de Aécio (isso em 2007, embora a imprensa só esteja divulgando de fato agora; aparentemente, desistiram do tucano). Obras questionáveis foram feitas em propriedades COMPROVADAMENTE pertencentes à família Neves (o aeroporto na fazenda do tio).

O que foi de fato provado contra Lula? Quais FATOS foram comprovados? Se o máximo que se consegue apontar contra o ex-presidente depois de QUARENTA ANOS são perguntas do tipo "mas você acha que ele não sabia de nada?", das duas uma: ou Lula está sendo perseguido pela mídia (e basta folhear qualquer jornal ou revista ao longo destas décadas para perceber isso) ou é um gênio do crime. E, portanto, é no mínimo irônico que os mesmos que vivem fazendo pouco da inteligência do ex-presidente também acreditem em sua capacidade descomunal de cometer crimes sem deixar rastros.

E isto me traz ao último ponto, que certamente será a base da narrativa que a mídia adotará de agora em diante: a de que Lula assumiu um ministério para "fugir da Justiça". 

Se você ouvir isso, aponte algumas questões fundamentais ao autor da afirmação:

1) Como "fugir da justiça"? Ser ministro não o impede de ser investigado. A única coisa que o "foro privilegiado" modifica é a instância do julgamento, que passa para o STF. Ou devemos acreditar que Moro é mais "justo" ou "confiável" do que o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL?

2) Do ponto de vista do réu (algo que Lula NÃO É; ao menos ainda, já que, como vimos, provas aparentemente não são necessárias para acusá-lo), ser julgado diretamente pelo STF é uma DESVANTAGEM. Se fosse pensar puramente em estratégia (e estou certo de que ele deve ter considerado isso ao hesitar tanto em aceitar o ministério), Lula deveria recusar o convite de Dilma. Por quê? Simples: ao ser julgado pelas instâncias menores, Lula poderia prolongar o processo quase indefinidamente através de adiamentos, recursos e o escambau - até chegar na instância máxima. Ao ser transferido diretamente pro STF, porém, ele perde todas estas vantagens. Caso seja condenado, por exemplo, ele só teria direito a mais UM recurso e pronto. 

Por que vocês acham que Eduardo Azeredo renunciou ao mandato de deputado federal justamente para retornar à primeira instância no julgamento do mensalão tucano e escapar do STF?

Mas o que realmente me empolgou com a possibilidade de ver Lula na Casa Civil é saber que, para aceitar, ele certamente colocou algumas condições na mesa, como a mudança na condução da economia e em políticas fundamentais do governo. Há muito venho dizendo que o governo Dilma tem sido uma profunda decepção para a esquerda - e mesmo ciente de que Lula tampouco tem um histórico muito invejável neste sentido, a probabilidade de que ajude a deslocar o governo um pouco (no mínimo) mais para a esquerda já me anima e me deixa um pouco mais otimista depois de tanto tempo de pura pancadaria.

Quanto à Dilma, digo apenas que fico feliz ao perceber que ela finalmente parece ter se dado conta de que não sabe fazer política - e por mais que a mídia tenha demonizado a POLÍTICA como um todo, o fato é que não se conduz um país sem esta, por mais imperfeita que seja. 

Observemos, agora, o que acontecerá nas próximas semanas. A mídia obviamente baterá muito, mas isto não é novidade. Tentará pintar tudo com as piores cores do mundo, mas isto é o de praxe. E vai procurar afastar a esquerda do governo.

E é aí que nós, você e eu, entramos. Porque este governo pode não ser a esquerda que queremos, mas é a que temos no momento. Perdê-la é jogar fora tudo o que foi conquistado nos últimos 13 anos.

E isto, sim, é absolutamente impensável.

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(Caso se interessem, também estou lá no Twitter e no Snapchat. Em ambos, @pablovillaca.) ;)

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