01/11/2014
Os votos da eleição presidencial foram contados há menos de uma semana. A posse da presidenta reeleita está marcada para as 10 horas da manhã de 1 de janeiro de 2015. Mas a oposição segue no ataque.
Por Paulo Moreira Leite
Agência Brasil
A estratégia é valer-se de cada posição — de cada milímetro na máquina do Estado e no conjunto das instituições políticas, inclusive a mídia — para neutralizar as ações da presidenta, esvaziar suas decisões e impedir a formação de um segundo governo capaz de prosseguir as mudanças iniciadas em 2003 e dar respostas eficazes aos imprevistos e dificuldades que surgiram nos últimos anos.
É uma postura predadora, num comportamento de quem não tem compromissos maiores com o futuro do país e da maioria dos brasileiros, numa postura explicada com a devida elegância em palestra recente de Paulo Arantes, professor de ideias marxistas, mestre de várias gerações que fizeram o curso de Filosofia na Universidade de São Paulo.
Referindo-se a política da direita norte-americana, modelo e exemplo da facção mais ativa do conservadorismo brasileiro, o professor, mestre de tantas gerações que passaram pela Filosofia da Universidade de São Paulo, explica, em palestra transcrita pela Folha de S. Paulo:
“A direita norte-americana não está mais interessada em constituir maiorias de governo. Está interessada em impedir que aconteçam governos. Não quer constituir políticas no Legislativo e ignora o voto do eleitor médio. Ela não precisa de voto porque está sendo financiada diretamente pelas grandes corporações”, afirma.
Por isso, seus integrantes podem “se dar ao luxo de ter posições nítidas e inegociáveis. E partem para cima, tornando impossível qualquer mudança de status quo. Há uma direita no Brasil que está indo nessa direção.”
Segundo ele, “a esquerda não pode fazer isso porque tem que governar, constituir maiorias, transigir, negociar, transformar tudo em um mingau”. O que se assiste no Brasil desde o último domingo é uma versão local deste processo.
A eleição mostrou a imensa dificuldade dos conservadores conquistarem a maioria do eleitorado, apesar da unidade do grande empresariado em torno de QUALQUER candidato capaz de derrotar Dilma e o PT e da falta absoluta de escrúpulos democráticos confirmada pela tentativa de golpe midiático ocorrida nas 48 horas anteriores a votação.
O que se tenta, a partir de então, através de posições “nítidas e inegociáveis,” que tornem impossível qualquer mudança de status quo, é impedir que o governo “aconteça”, que faça seu “mingau”.
É sintomático que a primeira iniciativa da campanha do PSDB após a derrota tenha sido questionar a apuração no TSE.
“A direita norte-americana não está mais interessada em constituir maiorias de governo. Está interessada em impedir que aconteçam governos. Não quer constituir políticas no Legislativo e ignora o voto do eleitor médio. Ela não precisa de voto porque está sendo financiada diretamente pelas grandes corporações”, afirma.
Por isso, seus integrantes podem “se dar ao luxo de ter posições nítidas e inegociáveis. E partem para cima, tornando impossível qualquer mudança de status quo. Há uma direita no Brasil que está indo nessa direção.”
Segundo ele, “a esquerda não pode fazer isso porque tem que governar, constituir maiorias, transigir, negociar, transformar tudo em um mingau”. O que se assiste no Brasil desde o último domingo é uma versão local deste processo.
A eleição mostrou a imensa dificuldade dos conservadores conquistarem a maioria do eleitorado, apesar da unidade do grande empresariado em torno de QUALQUER candidato capaz de derrotar Dilma e o PT e da falta absoluta de escrúpulos democráticos confirmada pela tentativa de golpe midiático ocorrida nas 48 horas anteriores a votação.
O que se tenta, a partir de então, através de posições “nítidas e inegociáveis,” que tornem impossível qualquer mudança de status quo, é impedir que o governo “aconteça”, que faça seu “mingau”.
É sintomático que a primeira iniciativa da campanha do PSDB após a derrota tenha sido questionar a apuração no TSE.
Não havia um indício, nenhum fato, para justificar a mais remota suspeita contra o resultado das eleições — apenas a vontade irresponsável de colocar em questão a decisão das urnas, naquele aventureirismo típico do “se colar, colou.”
No Brasil de hoje, o “mingau” de Dilma (lembra a história do Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau que queria criancinhas para fazer mingau?) é construir uma maioria para governar.
A presidente precisa recompor a maioria política, confirmando, após a vitória eleitoral, aquilo que as urnas disseram — ela é a liderança mais adequada para mobilizar a sociedade para a defesa os interesses da maioria.
Nas circunstâncias concretas da política brasileira, Dilma necessita de um novo eixo político para o segundo mandato. É obrigação natural de qualquer governo recém-eleito.
No caso brasileiro, consiste na única forma de manter políticas de distribuição de renda e proteção dos mais fracos que marca os governos Lula-Dilma desde 2003.
Neste caminho, terá de “transigir, negociar,” como explica o marxista Paulo Arantes. A experiência mostra, porém, que este é um debate possível e legítimo. Há exemplos para sustentar as duas opiniões.
Tem-se como certo que a alta de juros promovida pelo Copom, no final de 2008, serviu para aprofundar a crise dos derivativos no Brasil. Uma tragédia, que repercutiu no crescimento negativo.
Mas a histórica redução dos juros, promovida em agosto de 2011, que recebeu apoio enfático de tantos observadores, esteve longe de produzir os resultados aguardados, não é mesmo?
Outra pergunta: será útil discutir se a nova equipe econômica deve trazer sinais de abertura ao mercado?
Pode-se debater quais sinais, para que, a favor de quem. Quem acha que Dilma não está cumprindo o que disse na campanha precisa lembrar que ela não foi a candidata da ruptura com o capitalismo.
No Brasil de hoje, o “mingau” de Dilma (lembra a história do Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau que queria criancinhas para fazer mingau?) é construir uma maioria para governar.
A presidente precisa recompor a maioria política, confirmando, após a vitória eleitoral, aquilo que as urnas disseram — ela é a liderança mais adequada para mobilizar a sociedade para a defesa os interesses da maioria.
Nas circunstâncias concretas da política brasileira, Dilma necessita de um novo eixo político para o segundo mandato. É obrigação natural de qualquer governo recém-eleito.
No caso brasileiro, consiste na única forma de manter políticas de distribuição de renda e proteção dos mais fracos que marca os governos Lula-Dilma desde 2003.
Neste caminho, terá de “transigir, negociar,” como explica o marxista Paulo Arantes. A experiência mostra, porém, que este é um debate possível e legítimo. Há exemplos para sustentar as duas opiniões.
Tem-se como certo que a alta de juros promovida pelo Copom, no final de 2008, serviu para aprofundar a crise dos derivativos no Brasil. Uma tragédia, que repercutiu no crescimento negativo.
Mas a histórica redução dos juros, promovida em agosto de 2011, que recebeu apoio enfático de tantos observadores, esteve longe de produzir os resultados aguardados, não é mesmo?
Outra pergunta: será útil discutir se a nova equipe econômica deve trazer sinais de abertura ao mercado?
Pode-se debater quais sinais, para que, a favor de quem. Quem acha que Dilma não está cumprindo o que disse na campanha precisa lembrar que ela não foi a candidata da ruptura com o capitalismo.
Fez uma campanha com base na luta de “nós contra eles”, em nome de um horizonte de construção do Estado de bem-estar social, base para o convívio entre a democracia, que é o regime da maioria, com a propriedade privada e o mercado, que é o sistema de uma minoria de empresários e acionistas.
O nome disso é “capitalismo democrático,” ensinou o cientista político Adam Przeworski, num texto sempre útil chamado “O capitalismo na encruzilhada.”
No mundo de hoje, as posições “nítidas, inegociáveis”, encontram-se do outro lado, como ensina Paulo Arantes. A agenda é negativa: impedir o governo Dilma de agir. Tirar o oxigênio das urnas. Paralisar.
O Brasil não se encontra, é bom lembrar, nas circunstâncias dolorosas daquele país que Lula recebeu em 2003. A economia interna, nem de longe, encontra-se num estado calamitoso.
Representa a 7a. economia do mundo, um mercado de renda média de 200 milhões de pessoas, capaz de justificar uma “guerra” nas palavras pouco diplomáticas do Financial Times.
Numa situação externa desfavorável, a oposição investe na degradação do ambiente político como estratégia para criar uma crise econômica capaz de inviabilizar o exercício do governo.
O apetite exibido para o confronto e o ataque direto, os murmúrios recorrentes em torno da palavra impeachment, sugerem que pode ser até ingenuidade imaginar que a oposição pretende aguardar até 2018 para tentar um retorno ao Planalto, respeitando a vontade do eleitor e o calendário eleitoral. A estratégia é apostar numa crise final a cada esquina.
Você entende certo?
Fonte: Blog Paulo Moreira Leite
No mundo de hoje, as posições “nítidas, inegociáveis”, encontram-se do outro lado, como ensina Paulo Arantes. A agenda é negativa: impedir o governo Dilma de agir. Tirar o oxigênio das urnas. Paralisar.
O Brasil não se encontra, é bom lembrar, nas circunstâncias dolorosas daquele país que Lula recebeu em 2003. A economia interna, nem de longe, encontra-se num estado calamitoso.
Representa a 7a. economia do mundo, um mercado de renda média de 200 milhões de pessoas, capaz de justificar uma “guerra” nas palavras pouco diplomáticas do Financial Times.
Numa situação externa desfavorável, a oposição investe na degradação do ambiente político como estratégia para criar uma crise econômica capaz de inviabilizar o exercício do governo.
O apetite exibido para o confronto e o ataque direto, os murmúrios recorrentes em torno da palavra impeachment, sugerem que pode ser até ingenuidade imaginar que a oposição pretende aguardar até 2018 para tentar um retorno ao Planalto, respeitando a vontade do eleitor e o calendário eleitoral. A estratégia é apostar numa crise final a cada esquina.
Você entende certo?
Fonte: Blog Paulo Moreira Leite
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