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sábado, 8 de agosto de 2015

Hiroshima e Nagasaki: Para a máxima glória de Washington

7 de Agosto de 2015 - 13h48 

Portal Vermelho


Os visitantes do Museu Nacional do Ar e do Espaço – santuário dos Estados Unidos para a vanguarda tecnológica do complexo industrial militar – ouvem uma narrativa familiar dos guias turísticos, diante do Enola Gay – avião que jogou uma arma atômica sobre os civis de Hiroshima há exatos 70 anos. 

A bomba foi lançada, dizem eles, para salvar a vida de milhares de norte-americanos que, de outro modo, teriam sido mortos na invasão do arquipélago japonês.


Por Gar Alperovitz, no The Nation


Reprodução
Nagasaki, arrasada em 9 de agosto de 1945. Explosão das duas bombas atômicas, quando Japão já estava vencido teve motivação geopolítica: EUA temiam influência da União Soviética no pós-guerra

Nagasaki, arrasada em 9 de agosto de 1945. Explosão das duas bombas atômicas, quando Japão já estava vencido teve motivação geopolítica: EUA temiam influência da União Soviética no pós-guerra

Hiroshima e Nagasaki foram, em grande parte destruídas, e as vidas de 135 mil a 300 mil pessoas – a maioria mulheres, crianças e idosos japoneses (os homens jovens estavam na guerra) – foram sacrificadas como resultado de um cálculo terrível, mas moralmente justo, que visava levar ao fim uma guerra insuportável.

Essa história pode aplacar a consciência do visitante do museu, mas é em grande parte um mito, inventado para sustentar nossas memórias da “boa” guerra. 

Os principais generais e almirantes que comandavam a 2ª Guerra Mundial geralmente sabiam mais. Tome a pequena e pouco notada placa do Museu Nacional da Marinha dos EUA que acompanha a réplica da “Little Boy”, bomba despejada em Hiroshima. 

Em seu único parágrafo, fica claro que “assessores políticos” de Truman prevaleceram sobre os militares ao determinar como a guerra no Japão seria concluída. 

Além disso, ao contrário do mito popular sobre os poderes quase mágicos da bomba atômica para acabar com a guerra, a explicação do Museu da Marinha sobre a história indica claramente que “a vasta destruição causada pelos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki e a perda de 135 mil vidas tiveram pouco impacto sobre os militares japoneses.”

Seria, aliás, surpreendente se tivessem: a despeito do terrível poder concentrado das armas atômicas, o bombardeio de Tóquio – antes, em 1945 – e a destruição de numerosas cidades japonesas pelas bombas convencionais mataram muito mais gente. 

O Museu da Marinha reconhece o que muitos historiadores sabem há tempo: foi somente com a entrada na guerra do Exército Vermelho da União Soviética, dois dias depois do bombardeio de Hiroshima, que os japoneses foram finalmente levados à rendição.

 O Japão estava acostumado a perder cidades para os bombardeios norte-americanos; o que seus líderes militares mais temiam era a total destruição militar do país por uma ofensiva do Exército Vermelho.

Os mais altos líderes norte-americanos que lutaram na 2ª Guerra Mundial, para surpresa das muitas pessoas que desconhecem os registros históricos, foram bastante claros ao dizer que a bomba atômica era desnecessária, que o Japão estava prestes a se render e – para muitos – que era imoral a morte de um enorme número de civis. 

A maioria era de conservadores, não liberais. O almirante William Leahy, chefe do staf do presidente Truman, escreveu em suas memórias Eu Estava Lá (I Was There), de 1950, que “o uso desse armamento bárbaro em Hiroshima e Nagasaki não tinha serventia material em nossa guerra contra o Japão.

 Os japoneses já estavam derrotados e prontos para se render… ao sermos os primeiros a usá-lo, nós … adotamos um padrão ético comum aos bárbaros da Idade das Trevas. Eu não fui ensinado a fazer a guerra dessa maneira, e as guerras não podem ser vencidas destruindo mulheres e crianças”.

O general-comandante da Força Aérea Militar dos EUA, Henry “Hap” Arnold, deu fortes sinais de sua análise numa declaração pública, apenas onze dias depois de Hiroshima ser atacada. 

Diante da pergunta do New York Times, em 17 de agosto, sobre se a bomba atômica provocou a rendição do Japão, Arnold disse que “a derrota japonesa era irreversível antes mesmo de cair a primeira bomba atômica, porque os japoneses perderam o controle de seu próprio espaço aéreo.”

O almirante de esquadra Chester Nimitz, comandante em chefe da frota do Pacífico, falou em pronunciamento público no Monumento de Washington, dois meses depois do bombardeio, que “a bomba atômica não teve papel decisivo na derrota do Japão, de um ponto de vista puramente militar…”

 O almirante William”Bull” Halsey Jr., comandante da Terceira Frota dos EUA, afirmou publicamente, em 1946, que “a primeira bomba atômica era um experimento desnecessário… Foi um erro tê-la lançado… [os cientistas] tinham esse brinquedo e queriam testá-lo, então a jogaram…”

O general Dwight Eisenhower, por sua vez, declarou em suas memórias que, quando foi notificado pelo Secretário da Guerra Henry Stimson sobre a decisão de usar armas atômicas, “expressei a ele minhas graves apreensões, primeiro com base na convicção de que o Japão já estava derrotado e o lançamento da bomba era completamente desnecessário, e segundo porque pensei que nosso país devia evitar chocar o a opinião pública mundial pelo uso de uma arma cujo emprego já não era, pensava eu, obrigatório como medida para salvar vidas americanas … ” Mais tarde ele declarou publicamente: ”… não era necessário atingi-los com aquela coisa horrível.” 

Mesmo o famoso “falcão” general Curtis Le May, chefe do 21º Comando de Bombardeiros, foi a público no mês seguinte a Hiroshima e Nagasaki, dizendo à imprensa que “a bomba atômica não teve absolutamente nada a ver com o fim da guerra.”

Os registros são bem claros: da perspectiva de um número esmagador de importantes líderes das forças armadas dos EUA à época, o lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki não era uma questão de necessidade militar. A inteligência norte-americana já tinha quebrado os códigos japoneses e sabia que o governo japonês estava tentando negociar a rendição via Moscou. 

Há muito já havia aconselhado que a esperada declaração de guerra russa, no início de agosto, junto com a garantia de que o imperador do Japão seria autorizado a permanecer como uma figura impotente, traria a rendição muito antes que o primeiro passo da invasão de novembro dos EUA, três meses mais tarde, pudesse ser dado.

Os historiadores ainda não têm uma resposta definitiva de por que razão a bomba foi usada. Como a inteligência norte-americana avaliou que a guerra provavelmente terminaria, se fossem dadas ao Japão garantias com relação ao imperador – e dado que os militares norte-americanos sabiam que teriam de manter o imperador para ajudar a controlar o Japão ocupado, em qualquer circunstância – uma outro fator parece, claramente, ter sido decisivo.

Sabemos que alguns dos conselheiros mais próximos do presidente Truman viam a bomba como arma diplomática, e não simplesmente militar. 

O secretário de Estado James Byrnes, por exemplo, acreditava que o uso de armas atômicas ajudaria os Estados Unidos a dominar mais fortemente a era pós-guerra. 

De acordo com o cientista do Projeto Manhattan Leo Szilard, que esteve com ele em 28 de maio de 1945, “[Byrnes] estava preocupado com o comportamento da Rússia no pós-guerra… [e pensou] que a Rússia poderia ser mais manejável se fosse impressionada pelo poderio militar norte-americano, e que uma demonstração da bomba podia impressionar a Rússia. ”

A História raramente é simples, e confrontá-la de frente, com honestidade crítica, é frequentemente muito doloroso. Mitos — não importa o quão simplistas ou flagrantemente falsos — podem em geral ser adotados com muito mais facilidade que verdades inquietantes e inconvenientes. 

Mesmo agora, por exemplo, vemos como é difícil para o cidadão médio dos EUA chegar a um acordo com o registro brutal da escravidão e da supremacia branca que jaz sob a história do país.

 É provável que refazer o entendimento popular do “bom” ato que encerrou a 2ª Guerra seja igualmente difícil. Mas, se a bandeira dos confederados pode ser retirada na Carolina do Sul, talvez os EUA possam um dia começar a se fazer perguntas mais difíceis sobre a natureza do poder global dos Estados Unidos; e sobre o que é verdadeiro e o que é falso a respeito do motivo real pelo qual Washington despejou a bomba atômica sobre o Japão.

Poesia Rosa de Hiroshima

Em 1954 o poeta brasileiro Vinícius de Moraes compôs a poesia Rosa de Hiroshima, em homenagem às vítimas de Hiroshima e Nagasaki. Prosa, Poesia e Arte traz a poesia e a versão em música da banda Secos e Molhados.

Rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

Assista ao clipe: 

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