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domingo, 8 de maio de 2016

A onda conservadora de Trump e de Moro. Por Emir Sader.


domingo, 8 de maio de 2016

A onda conservadora de Trump e de Moro

Por Emir Sader, na Revista do Brasil:

Não há dúvida de que há uma nova onda conservadora no mundo. A profunda e prolongada crise econômica europeia, produto do fracasso das políticas neoliberais de austeridade, não tem tido como regra respostas por parte da esquerda – dos seus partidos, dos sindicatos –, mas tem fortalecido a extrema-direita. Um fenômeno que afeta a França há décadas e que agora chega com força também à Alemanha, depois de percorrer já grande parte dos países da Europa.

O tema da imigração resume o egoísmo dessa nova direita, encastelada nos muros da sociedade que construiu na base do colonialismo e do imperialismo, protegendo-se dos “novos bárbaros” que chegam da miséria que ela produziu na África e das guerras que ela produz no Oriente Médio. A mentalidade de cidadela da civilização sitiada pelos bárbaros produz uma nova extrema-direita, que encontra amplos setores, especialmente de classe média, dispostos a apoiá-la nas suas políticas xenófobas, discriminatórias, racistas.

O sucesso da campanha de Donald Trump nos Estados Unidos corresponde a um fenômeno similar. Não é à toa que Trump tem nos mexicanos, nos imigrantes em geral, nos muçulmanos, a pedra de toque de sua ideologia, que convoca os sentimentos mais conservadores da classe média do chamado “EUA profundo”. Construção de muros, expulsões, proibição de ingresso – tudo vai na mesma direção do egoísmo que atribui a culpa da crise, provocada pela economia que eles mesmos semearam ali e no mundo, às suas vítimas. Pode não triunfar, mas demonstra que há um caldo de cultivo enorme no próprio centro do sistema para uma nova direita ainda mais extremista. Corresponde ao que Richard Nixon denominou, ainda nos anos 1960, de a “maioria silenciosa”, os norte-americanos do país profundo, conservadores na sua alma.

Por aqui, a direita não tolera mais o convívio na democracia. Nem no Brasil, nem na Argentina, nem no Equador, nem na Venezuela, nem na Bolívia. Pelos meios de comunicação disseminam ódio, mediante campanhas de desqualificação pessoal dos seus dirigentes, na impossibilidade de discutir alternativas e comparar governos. A direita atual tem como característica nova o ódio, a agressividade, a discriminação aberta, as manifestações de rua em que exibem lemas de ofensas abertas aos dirigentes políticos da esquerda. São amplos setores da classe média desesperados porque passaram a perder eleições. A democracia era boa quando a direita ganhava. Quando passou a perder, começou a apelar para a violência, verbal e física.

Hoje estão dispostas a lançar-se a um novo golpe, que pode assumir a forma do impeachment ou de alguma forma de parlamentarismo que, na prática, tire o poder da Dilma. Perguntados sobre o que querem, qual a via de solução para os problemas do país, só sabem responder: um país sem o PT. Não podem especificar as políticas que colocariam em prática caso controlassem de novo o governo, por uma via ou por outra, porque são as velhas e derrotadas fórmulas do neoliberalismo.

Do ponto de vista do marketing, decisivo nas campanhas eleitorais, trata-se de buscar candidatos que se digam nem de direita nem de esquerda, que denunciem os políticos como corruptos, que se digam cansados da polarização entre PT e tucanos, que falem generalidades. Marina ou Moro se candidatam a esse papel, mas têm dificuldades. Ela já se queimou, especialmente com os jovens, aos quais frustrou depois de se apresentar como renovação.

Moro, da mesma forma que Joaquim Barbosa, surfa na onda das campanhas da mídia de priorização do tema da corrupção como o central no país. Não tem mais nada a dizer. JB não se arriscou ao teste das urnas. Moro dificilmente vai tentar. Salvo se conseguir proscrever da política o Lula, pode se candidatar a “salvador da pátria”, ainda assim completamente blindado pela mídia e pela repressão da esquerda e dos movimentos populares. Muito difícil também para ele.

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