Tijolaço
No final da semana, o amigo Rodrigo Viana fez, para a TV Record, ótima reportagem onde mostrava um veículo da polícia paulista avançando em alta velocidade contra um manifestante, atingindo-o com o pára-lamas e, em seguida, colocando o rapaz no compartimento de presos.
Uma cena de covardia e barbárie que, infelizmente, já não vira escândalo nacional, como se fosse algo corriqueiro e aceitável.
Afinal, já se espanca e algema advogados, já se desce a borduna até em jornalistas da BBC...“Sai, lixo…”
Nem fiquei espantado com os comentários facinorosos com que se reagiu a isso na internet, do tipo “se não quiser apanhar fica quietinho em casa”.
Recordo-me do chiste macabro do tempo da ditadura: “o que você acha disso? não acho nada, o último que achou não acharam mais”.
Está claríssima a estratégia de esperar as manifestações se dispersarem ao final e provocar grupinhos para criar “vandalismo e depredações”.
Infelizmente, com o apoio integral da mídia, que pede o “prende e arrebenta”, como fez a Folha ( e O Globo também) em um editorial reduzido a pó, hoje, por Gregório Duvivier, em “carta” dirigida a “Dona Folha”:
Não sei se por ignorância ou cinismo, a senhora ignorou o fato de a Alemanha nazista não ter sido criada pelos “fanáticos da violência”. Como bem lembrou Bruno Torturra, a Alemanha nazista se consolida quando Hitler culpa os tais baderneiros pelo incêndio do Reichstag e cria um Estado de exceção com o objetivo de “reprimir baderneiros” – igualzinho a senhora tá pedindo.
Quando o Reichstag pegou fogo, os jornais pediram medidas de emergência contra os “baderneiros” em editoriais muito parecidos com o seu. Hitler não teria ganhado terreno sem uma profusão de jornais pedindo “mais repressão aos grupelhos” – jornais estes que, vale lembrar, depois foram proibidos de circular.
O golpe de 64 não foi obra do “extremismo”, mas daqueles que alegavam querer combatê-lo. Quem instaura a ditadura não são os baderneiros, são os apavorados. Só há golpe quando há medo. Quando a senhora contribui com o medo, a senhora contribui com o golpe.
Dramaticamente, é imperioso reconhecer que o único possível freio à escalada ditatorial brasileira está lá fora, no mundio que já não é o mundo da Guerra Fria dos anos 60.
O “cantinho” arranjado para Michel Temer na foto do G-20, dentro de alguns dias, vai parecer um camarote de luxo, perto do isolamento em que o Brasil ficará.
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