Conversa Afiada
19/10/2015
O Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, articulista do New York Times, deu entrevista a Giuliana Vallone, da Fel-lha de São Paulo.
O Conversa Afiada se permite “traduzir” a importante entrevista.
Assim:
Tá vendo como a crise é global, como diz a Dilma?
Diz Krugman: O que vemos agora nos mercados emergentes é uma versão menor do que o que aconteceu no fim dos anos 1990: perda de confiança dos investidores, queda no preço das commodities e problemas nos resultados financeiros corporativos, dada a quantidade substancial de dívidas atreladas ao dólar.
A desaceleração da China não vai arruinar o Brasil
Diz Krugman: A China é um consumidor importante de matérias-primas, parte importante da economia global, então, claro, problemas no país são um entrave. Mas o resto do mundo só exporta cerca de 2% do que produz para o mercado chinês. É difícil que uma desaceleração grave na China faça tanto estrago.
Essa crise não é tão grave quanto a de 2008
Diz Krugman - … não espero uma nova crise como a de 2008. O que está acontecendo é que o cenário global começa a se parecer com o que o europeu tem sido há algum tempo: baixo crescimento, pressões deflacionárias e desempenho econômico bastante decepcionante.
… ninguém quer gastar, não há demanda suficiente. Temos um problema de superoferta global. Vai levar um tempo até que consigamos determinar se isso é uma estagnação secular, mas certamente estamos olhando para um mundo com uma falta persistente de demanda adequada.
Se a Dilma trocar o Levy pelo Nelson Barbosa tudo melhora!
Diz Krugman - Se os países que têm custos de financiamento extremamente baixos fizessem um grande programa de investimentos em infraestrutura, isso ajudaria muito a saída deles –e do resto do mundo– dessa situação.
O problema é que, politicamente, não há nenhuma perspectiva disso acontecer. Se você me perguntar se os livros apresentam uma solução, eu diria que sim, um programa amplo de estímulo fiscal, temporário, ajudaria a elevar a inflação e tudo ficaria bem. Agora, se quiser saber se há alguma chance de isso acontecer nos próximos anos, a resposta é não.
A “crise” brasileira é política e não na Economia
Diz Krugman - … o Brasil esta(r) obviamente uma bagunça, do ponto de vista político, e mesmo que a economia tenha sofrido um retrocesso perto de todo aquele otimismo de alguns anos atrás, os fundamentos econômicos do país não chegam nem perto de estar tão ruins quanto em episódios anteriores.
A situação fiscal não é desesperadora e o país está longe de um momento em que precisaria imprimir dinheiro para pagar suas contas. A taxa de câmbio está alta, mas nada perto dos níveis que associamos a crises graves.
Houve, sim, impacto da queda nos preços das commodities, e isso é significativo. Mas o Brasil de 2015 não é a Indonésia em 1998, nem a Argentina em 2001. É um problema, é desagradável e um pouco humilhante se ver nesta situação de novo. Mas as pessoas estão exagerando.
Só os parvos levam as agencias de risco a sério!
Diz Krugman - Nos países avançados, as classificações de risco não têm efeito nenhum. Para o Brasil e outras economias emergentes, isso ainda pode importar um pouco, mas bem menos que antes. É importante dizer que não há informação nenhuma na nota, as agências não têm nenhuma informação que as pessoas que acompanhem os dados e os jornais não saibam.
Isso pode ter algum efeito porque há alguns investidores institucionais que são obrigados a considerar o rating para montar seus portfólios. Mas eu suspeito que isso não seja grande coisa na situação atual. Isso gera manchetes, mas o que importa mesmo é a percepção.
(...)
O problema é a desigualdade. Viva a Dilma! Viva o Lula!
Diz Krugman - … a desigualdade está entre os três maiores problemas (o mais importante, segundo Krugman, são os riscos de danos ambientais – PHA) tanto por causa de suas implicações diretas quanto por causa dos efeitos na política econômica. É uma coisa gigante. Resolver qualquer outro problema se torna muito mais difícil por causa da desigualdade.
(…)
O problema é que há forças políticas poderosas que têm interesse na desigualdade, que querem aumentá-la. Se você olhar para os políticos, entre os partidos não há diferença intelectual sobre o que funciona: um partido quer reduzir os impostos para os ricos e reduzir a ajuda para os pobres e o outro quer fazer o contrário. Então a discussão é sempre sobre desigualdade.
Diz Krugman: O que vemos agora nos mercados emergentes é uma versão menor do que o que aconteceu no fim dos anos 1990: perda de confiança dos investidores, queda no preço das commodities e problemas nos resultados financeiros corporativos, dada a quantidade substancial de dívidas atreladas ao dólar.
A desaceleração da China não vai arruinar o Brasil
Diz Krugman: A China é um consumidor importante de matérias-primas, parte importante da economia global, então, claro, problemas no país são um entrave. Mas o resto do mundo só exporta cerca de 2% do que produz para o mercado chinês. É difícil que uma desaceleração grave na China faça tanto estrago.
Essa crise não é tão grave quanto a de 2008
Diz Krugman - … não espero uma nova crise como a de 2008. O que está acontecendo é que o cenário global começa a se parecer com o que o europeu tem sido há algum tempo: baixo crescimento, pressões deflacionárias e desempenho econômico bastante decepcionante.
… ninguém quer gastar, não há demanda suficiente. Temos um problema de superoferta global. Vai levar um tempo até que consigamos determinar se isso é uma estagnação secular, mas certamente estamos olhando para um mundo com uma falta persistente de demanda adequada.
Se a Dilma trocar o Levy pelo Nelson Barbosa tudo melhora!
Diz Krugman - Se os países que têm custos de financiamento extremamente baixos fizessem um grande programa de investimentos em infraestrutura, isso ajudaria muito a saída deles –e do resto do mundo– dessa situação.
O problema é que, politicamente, não há nenhuma perspectiva disso acontecer. Se você me perguntar se os livros apresentam uma solução, eu diria que sim, um programa amplo de estímulo fiscal, temporário, ajudaria a elevar a inflação e tudo ficaria bem. Agora, se quiser saber se há alguma chance de isso acontecer nos próximos anos, a resposta é não.
A “crise” brasileira é política e não na Economia
Diz Krugman - … o Brasil esta(r) obviamente uma bagunça, do ponto de vista político, e mesmo que a economia tenha sofrido um retrocesso perto de todo aquele otimismo de alguns anos atrás, os fundamentos econômicos do país não chegam nem perto de estar tão ruins quanto em episódios anteriores.
A situação fiscal não é desesperadora e o país está longe de um momento em que precisaria imprimir dinheiro para pagar suas contas. A taxa de câmbio está alta, mas nada perto dos níveis que associamos a crises graves.
Houve, sim, impacto da queda nos preços das commodities, e isso é significativo. Mas o Brasil de 2015 não é a Indonésia em 1998, nem a Argentina em 2001. É um problema, é desagradável e um pouco humilhante se ver nesta situação de novo. Mas as pessoas estão exagerando.
Só os parvos levam as agencias de risco a sério!
Diz Krugman - Nos países avançados, as classificações de risco não têm efeito nenhum. Para o Brasil e outras economias emergentes, isso ainda pode importar um pouco, mas bem menos que antes. É importante dizer que não há informação nenhuma na nota, as agências não têm nenhuma informação que as pessoas que acompanhem os dados e os jornais não saibam.
Isso pode ter algum efeito porque há alguns investidores institucionais que são obrigados a considerar o rating para montar seus portfólios. Mas eu suspeito que isso não seja grande coisa na situação atual. Isso gera manchetes, mas o que importa mesmo é a percepção.
(...)
O problema é a desigualdade. Viva a Dilma! Viva o Lula!
Diz Krugman - … a desigualdade está entre os três maiores problemas (o mais importante, segundo Krugman, são os riscos de danos ambientais – PHA) tanto por causa de suas implicações diretas quanto por causa dos efeitos na política econômica. É uma coisa gigante. Resolver qualquer outro problema se torna muito mais difícil por causa da desigualdade.
(…)
O problema é que há forças políticas poderosas que têm interesse na desigualdade, que querem aumentá-la. Se você olhar para os políticos, entre os partidos não há diferença intelectual sobre o que funciona: um partido quer reduzir os impostos para os ricos e reduzir a ajuda para os pobres e o outro quer fazer o contrário. Então a discussão é sempre sobre desigualdade.
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