BRASIL ENERGIA
Duas usinas já armazenam ar comprimido em cavernas e pesquisadores querem estocar no fundo do mar
[09.10.2015] 14h44m / Por Felipe Grandin
A presidente Dilma Rousseff virou alvo de piadas na imprensa e nas redes sociais ao levantar a possibilidade de “estocar vento” das usinas eólicas durante uma entrevista coletiva concedida na última semana na sede da ONU, em Nova York. Assista ao vídeo (começa em 38m56s):
O que a presidente realmente quis dizer neste discurso é algo que só ela pode responder, mas o episódio levantou outra questão: é possível armazenar vento para gerar energia? O vento em si (deslocamento de ar por diferença de pressão) ainda não. Mas o ar, sim. Existem duas usinas atualmente em operação que armazenam ar comprimido em cavernas.
Uma é a térmica de armazenamento de energia por ar comprimido (CAES, na sigla em inglês) Huntorf (321 MW), na Alemanha, em funcionamento desde 1978. A outra é a usina CAES McIntosh (110 MW), no Alabama, Estados Unidos, operacional desde 1991. Ambas usam um sistema que injeta o ar em cavernas abaixo das usinas nos momentos de sobra de energia elétrica. Nos horários de pico, o ar sob pressão é usado para movimentar as turbinas e gerar eletricidade. Assista ao funcionamento no vídeo da PowerSouth, que opera a usina McIntosh:
Novas tecnologias
Esse sistema poderia ser, em tese, usado em parques eólicos, mas isso não seria simples. Apesar do sucesso comercial das duas usinas, nenhuma outra foi construída até hoje. Entre os motivos está o alto custo de construção, a limitada opção de fornecedores e a necessidade de ter cavernas em condições ideiais para o armazenamento e operação dos equipamentos.
Uma opção atualmente em estudo é armazenar o ar no fundo do oceano. É o defendem os pesquisadores liderados pelo professor Seamus Garvey, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.
Os cientistas desenvolvem em parceria com as empresas canadenses Hydrostor e Thin Red Line Aerospace um método chamado de armazenamento de energia por ar comprimido submerso (do inglês Underwater Compressed Air Energy Storage, ou UW-CAES). A idéia é relativamente simples, mas de execução complexa.
Um balão flexível é colocado no fundo do mar. No momento em que a energia está sobrando, bombeia-se vento, inflando o balão. No horário de pico, o ar é liberado e aciona uma turbina, gerando eletricidade. O trabalho de expulsar o ar não consome energia, pois é feito pela pressão submarina.
Fornecedora da NASA, a Thin Red Line é especializada em fabricar estruturas flexíveis para uso no espaço, feitas com materiais ultrarresistentes. Seu protótipo batizado de “Energy bag” pesa apenas 75 kg, mas é capaz de deslocar até 40 toneladas de água quando inflado. A aparência é semelhante a de um exaustor industrial.
Já a Hydrostor estuda um sistema formado por diversos cunjuntos de estruturas infláveis no formato de balões, com um conjunto de válvulas embaixo de cada um. O sistema seria ligado à rede e operado de acordo com a demanda e oferta de energia.
O desenvolvimento da tecnologia ainda está restrito aos laboratórios e precisa superar diversos obstáculos para se tornar comercial. Um deles é o tamanho e o potencial para acidentes dessas estruturas. Um enorme balão cheio de ar no fundo do oceano poderia derrubar navios se, por algum problema, se soltasse de suas amarras. Além disso, por seu porte, poderia ter enorme impacto na flora e na fauna submarinas. Sem contar, é claro, com a viabilidade comercial.
Armazenar ar, portanto, não é uma idéia absurda, mas ainda está longe de se tornar viável, especialmente em escala que faça diferença para o sistema brasileiro.
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