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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Oriente Médio: as forças antiimperialistas não são fascistas - Por Domenico Losurdo



4 DE SETEMBRO DE 2013 - 16H49
Portal vermelho 

Imperialismo contra a Siria (charge)
  

Oriente Médio: as forças antiimperialistas não são fascistas


O professor e pensador marxista italiano Domenico Losurdo responde a uma indagação feita por Antonio Santi, de Fermignano (Província de Pesaro e Urbino, Itália). Sua resposta ajuda a entender a crise, nos quadros da resistência antiimperialista.

Por Domenico Losurdo


Quem ainda pode ter dúvida sobre a infâmia do imperialismo faria bem em dar uma olhada sobre o Oriente Médio. O  pretexto da guerra desencadeada a partir de 1991 era trazer civilização, democracia, paz..

 Ora, depois de centenas de milhares de mortos, milhões de feridos e milhões de refugiados, a realidade está à vista de todos. Não se trata apenas das terríveis devastações materiais. 

Por ocasião da primeira e da segunda guerras do Golfo, os EUA e o Ocidente chamaram os xiitas iraquianos a lutarem contra os sunitas; agora, chamam os sunitas a pegar em armas contra os xiitas no Iraque e, sobretudo, na Síria.

 E em todo o Oriente Médio, na luta contra os regimes laicos que resultaram de revoluções anticoloniais, e contra os movimentos de libertação nacional de posição laica, o imperialismo apelou à religião e ao fundamentalismo religioso. Isso ocorreu no Iraque, Líbia, Síria, Palestina (onde Israel apoiou o Hamas contra a OLP de Arafat, depois assassinado). 

É impressionante o rastro de destruição e morte. Países como o Iraque, a Líbia, a Síria, correm o risco de deixarem de existir como estados nacionais unitários e independentes, e agora fica sem qualquer credibilidade a fundação de um estado nacional para o povo mártir palestino, cujo território é sistematicamente expropriado. 

Mas é ainda pior. No Oriente Médio há uma furiosa guerra civil entre leigos e religiosos; no âmbito do mundo religioso, entre islâmicos e cristãos, no âmbito do Islã, entre sunitas e xiitas. A devastação se dá até mesmo nas relações entre homens e mulheres, que correm o risco de perder os resultados alcançados na onda da revolução anticolonial.

 Esta é a civilização e a democracia, a paz, das quais o imperialismo pretende ser o portador. E não muda nada se na Casa Branca estiverem Bush pai, Clinton, Bush Jr, Obama...

Diante desta sistemática destruição bárbara não só do aparelho de Estado, mas a própria sociedade civil, como devem se portar as forças antiimperialistas? 

A questão de fundo não é entre leigos e religiosos, como pretende fazer crer a ideologia dominante: Irã e os combatentes do Hezbollah tem um papel indubitavelmente progressista; o próprio Hamas, apoiado no passado por Israel, é agora alvo de seus ataques selvagens. 

E a Irmandade Muçulmana? Na Síria, desempenhou um papel profundamente reacionário, sendo de fato subalterna ao imperialismo e a Israel. No entanto, na Arábia Saudita conduz uma luta que  merece atenção, contra uma monarquia feudal que é profundamente parasitária e corrupta, que coloca todas suas esperanças no imperialismo e que, no Oriente Médio, é um pilar fundamental da reação. 

Como avaliar a Irmandade Muçulmana no Egito? Não há dúvida de que chegaram ao poder com o aval de Washington, que esperava usá-la na luta contra a Síria. Mas é também verdade que o golpe recente aconteceu com o aval de Washington e Tel Aviv. 

O imperialismo e o sionismo começaram a desconfiar: Morsi havia consolidado notavelmente as relações entre o Egito e a China; personalidades de relevo na Irmandade Muçulmana condenaram expressamente os acordos de Camp David (isto é, a capitulação do Egito ante Israel, com o consequente isolamento da resistência palestina); aos olhos do Ocidente era motivo de desconfiança o permanente contato entre a Irmandade Muçulmana e o Hamas, que continua a opor-se à farsa de um processo de paz encenado sob a cobertura do permanente expansionismo sionista. 

Eis porque em certo momento Washington e Tel Aviv decidiram apoiar os militares, embora o último dos quais tem mostrado uma crescente impaciência e começa a ser tentado pelo nasserismo. Se há algo que, no Egito de hoje, une uma sociedade tão profundamente dividida, é o ódio contra o imperialismo dos EUA, que provocou a catástrofe já vista. 

Como deveriam se comportar no Egito as forças antiimperialistas? Não seria correto fazer julgamentos sobre uma realidade sobre a qual não se tem um conhecimento profundo.

 Mas, no que diz respeito ao Oriente Médio como um todo, uma coisa parece certa. As forças antiimperialistas serão forçadas a lutar contra os males e as devastações da sociedade civil provocadas pelos EUA, pela União Europeia e Israel. 

Não seria correto nem no plano analítico, nem no político, estigmatizar como fascistas as forças que no Egito e no Oriente Médio são influenciadas pela religião e pelo próprio fundamentalismo. Sobre o fascismo deve-se olhar, em primeiro lugar, para a Casa Branca. 

Há um nexo estreitíssimo entre o fascismo e o imperialismo. Esta foi a lição que o movimento comunista aprendeu, durante o século XX, somente depois de um tortuoso processo de aprendizagem, e que hoje não pode ser esquecida

 (tradução: José Carlos Ruy).

Obs: título atribuído pela redação.

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