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quarta-feira, 26 de julho de 2017

“Você faz faxina? Não, faço mestrado. Sou professora”

25 de Julho de 2017 - 14h32 
Professora e historiadora Luana Tolentino 
Professora e historiadora Luana Tolentino 











Relato da professora e historiadora Luana Tolentino sobre racismo viraliza nas redes sociais

Por Ana Luiza Basilio 


A professora e historiadora Luana Tolentino viralizou nas redes sociais após relatar um caso de racismo sofrido em Belo Horizonte. Na quarta 19, a docente caminhava pela rua quando foi abordada por uma senhora branca que perguntou se ela fazia faxina. Luana escreveu um depoimento sobre o caso, refletindo sobre os impactos do racismo na sociedade.

Luana Tolentino, via Facebook:

Hoje uma senhora me parou na rua e perguntou se eu fazia faxina.

Altiva e segura, respondi:

– Não. Faço mestrado. Sou professora.



Da boca dela não ouvi mais nenhuma palavra. Acho que a incredulidade e o constrangimento impediram que ela dissesse qualquer coisa.

Não me senti ofendida com a pergunta. Durante uma passagem da minha vida arrumei casas, lavei banheiros e limpei quintais. Foi com o dinheiro que recebia que por diversas vezes ajudei minha mãe a comprar comida e consegui pagar o primeiro período da faculdade.

O que me deixa indignada e entristecida é perceber o quanto as pessoas são entorpecidas pela ideologia racista. Sim. A senhora só perguntou se eu faço faxina porque carrego no corpo a pele escura.

No imaginário social está arraigada a ideia de que nós negros devemos ocupar somente funções de baixa remuneração e que exigem pouca escolaridade. Quando se trata das mulheres negras, espera-se que o nosso lugar seja o da empregada doméstica, da faxineira, dos serviços gerais, da babá, da catadora de papel.

É esse olhar que fez com que o porteiro perguntasse no meu primeiro dia de trabalho se eu estava procurando vaga para serviços gerais. É essa mentalidade que levou um porteiro a perguntar se eu era a faxineira de uma amiga que fui visitar. É essa construção racista que induziu uma recepcionista da cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, a maior honraria concedida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, a questionar se fui convidada por alguém, quando na verdade, eu era uma das homenageadas.


Não importa os caminhos que a vida me leve, os espaços que eu transite, os títulos que eu venha a ter, os prêmios que eu receba. Perguntas como a feita pela senhora que nem sequer sei o nome em algum momento ecoarão nos meus ouvidos. É o que nos lembra o grande Mestre Milton Santos:

“Quando se é negro, é evidente que não se pode ser outra coisa, só excepcionalmente não se será o pobre, (…) não será humilhado, porque a questão central é a humilhação cotidiana. Ninguém escapa, não importa que fique rico.”

É o que também afirma Ângela Davis. E ela vai além. Segundo a intelectual negra norte-americana, sempre haverá alguém para nos chamar de “macaca/o”. Desde a tenra idade os brancos sabem que nenhum outro xingamento fere de maneira tão profunda a nossa alma e a nossa dignidade.

O racismo é uma chaga da humanidade. Dificilmente as manifestações racistas serão extirpadas por completo. Em função disso, Ângela Davis nos encoraja a concentrar todos os nossos esforços no combate ao racismo institucional.

É o racismo institucional que cria mecanismos para a construção de imagens que nos depreciam e inferiorizam.

É ele que empurra a população negra para a pobreza e para a miséria. No Brasil, “a pobreza tem cor. A pobreza é negra.”

É o racismo institucional que impede que os crimes de racismo sejam punidos.

É ele também que impõe à população negra os maiores índices de analfabetismo e evasão escolar.



É o racismo institucional que “autoriza” a polícia a executar jovens negros com tiros de fuzil na cabeça, na nuca e nas costas.

É o racismo institucional que faz com que as mulheres negras sejam as maiores vítimas da mortalidade materna.

É o racismo institucional que alija os negros dos espaços de poder.

O racismo institucional é o nosso maior inimigo. É contra ele que devemos lutar.

A recente aprovação da política de cotas na UNICAMP e na USP evidencia que estamos no caminho certo.


Fonte: Carta Capital 

2 comentários:

  1. Somos iguais, por isso acho que cota é uma forma de racismo, mas infelismente pelo racismo institucionalizado e aprovado consuetudinariamente pela população, é uma forma de garantir o acesso às universidades de "monorias". Coloco minorias entre aspas porque na realidade a população afro já é maioria da população brasileira.
    Mas tem um porém que todos deveriam saber: o homosapiens é originário da Africa, O homo nienderthalensis da Europa. Foram contemporâneos e até cruzaram espécies. O porém é que, já comprovaram cientificamente pela paleontologia, pelos utensílios encontrado, que o homosapiens era mais evoluído que o nianderthal.Os nianderthal eram loiros e viveram onde hoje é Alemanha. Hoje, geneticamente, quanto mais escura a pele se têm, apenas 1% de gene nianderthal e quanto mais louro se é mais gene nianderthal, em torno de 5%. Então pode-se concluir quem é geneticamente mais evoluido! Essa com certeza fará muitos racistas históricos se revirarem nos túmulos, mas não há necessidade, basta que os atuais brancos racistas leiam e saibam, sua decepção já será um prato cheio. Como diriam os piadistas: chupa essa!

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    1. José Fernando Gouvêa Borges me parece que vc não entende o que é e o porquê do sistema de cotas. Pensa o seguinte: Mais ou menos 54% da população brasileira é negra. Vivemos em uma sociedade historicamente desigual e injusta que forçou os negros para as classes mais baixas e para as comunidades e favelas. 70% da população brasileira é pobre. Os negros representam 75% desses pobres brasileiros. A esmagadora maioria dos negros é pobre. Pensa agora em um/uma jovem negro(a), pobre e favelado(a), quais as opções que ele(a) tem? Estudar é uma. Então estudam em um colégio público porque não tem como pagar colégio particular, e todos sabemos que a qualidade do estudo em colégio particular é superior ao público. Nisso o branco já sai em vantagem sobre o negro. Existe branco pobre? É claro que existe, mas são a minoria e a esmagadora maioria da classe média e classe alta, que pode pagar colégio particular, é BRANCA. Então esse jovem negro não tem como decidir, nem se esforçar porque não tem dinheiro pra pagar colégio particular, isso se ele tiver TEMPO, porque geralmente, ele tem que começar a trabalhar mais cedo, e acaba não sobrando tempo pra estudar. Ele tem que optar: ou ajuda a família com o trabalho ou estuda. Fora o fato de que esse(a) jovem negro(a) é mal alimentado(a). Pobres se alimentam pior do que abastados e isso influencia nos resultados dos estudos. Chega então o momento de prestar vestibular ou Enem. Esse(a) jovem negro(a) que já está em desvantagem tem que agora enfrentar brancos ricos e classe média que tem grana pra pagar os melhores cursinhos. Mas eles só precisam se esforçar, não? Não é o que dizem os fãs da meritocracia? Como fazer isso em total desvantagem? Agora vamos pensar no seguinte: O jovem branco classe média e rico não conseguiu passar para uma universidade federal ou estadual, o que resta pra ele? Pagar boas universidades particulares caríssimas. O jovem negro não passou pra federal ou estadual. O que resta pra ele? NADA, porque ele não terá dinheiro pra pagar uma faculdade particular. Vc consegue entender que as cotas são uma forma de trazer equidade para uma sociedade desigual e corrigir erros históricos?

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