domingo, 23 de julho de 2017
Delação de Valério mostra que Joaquim Barbosa foi partidário
Weden Alves
Pois é. As notícias têm pernas curtas. Mas a História tem braços longos. Embora Janot tenha rejeitado o acordo de delação, Marcos Valério vai falar à PF. E o que ele vai falar? Que o mensalão começa com FHC - como qualquer leitor não limitado à grande mídia já sabia - e que tanto os procuradores quanto Joaquim Barbosa tinham elementos suficientes para tocar ação e julgamento não partidários. Era essa a convicção dos críticos que agora se reforça. JB atuou deliberadamente para ocultar que os contratos do BB com Marcos Valério (que aliás não envolvem dinheiro público) foram firmados desde 1998 e que Aécio é o autor do contrato que levou o empresário à Câmara dos Deputados. .
É sempre bom lembrar que os críticos mais equilibrados não eram contra as investigações que levaram à ação, mas à forma seletiva como se conduziu toda o processo.
Como era esperado a História nos deu razão. Como nos dará em relação ao Lava Jato, outro uso criminoso de aparato institucional para perseguições políticas.
Sobre isso ler Janio de Freitas:
Marcos Valério revela sistema que financiou desvios desde o governo FHC
O uso de delação premiada pela Polícia Federal, como o acordo com Marcos Valério já submetido ao Supremo, torna-se mais ácido para a contrariada Lava Jato com um tempero incluído nas denúncias prometidas.
O período que Valério se dispôs a abranger não começa, como na Lava Jato, com o governo Lula. Ele oferece a revelação do sistema que financiou, por meio de suas empresas de publicidade, desvios financeiros desde o governo de Fernando Henrique. O contrário do que a Lava Jato admitiu aos seus delatores.
Os temas de Valério não incluem as grandes compras e obras da Petrobras, mas nem por isso negócios da estatal ficam de fora. Grande parte da atividade ilícita das agências DNA e SMP&B, com envolvimento de partidos e políticos, valia-se de programas de publicidade e marketing de estatais, nos quais a Petrobras há muito tem proeminência.
Dessas atividades é inesquecível, por exemplo, a pretendida mudança de nome da Petrobras, para Petrobrax. Só a contratação para troca da marca em todos os seus usos no país inteiro, daria mais um dos escândalos típicos da Lava Jato. Se, incumbida de desvendar as ilicitudes na Petrobras, a força-tarefa curitibana não restringisse a tarefa em vez da força. Mas o xis do problema não foi no governo Lula. Era um preparativo, retirando do nome o sentimentalismo nacionalista, para a venda da empresa.
Mais de um delator da Lava Jato referiu-se ao período anterior a 2003. Pedro Barusco citou com precisão negócios ilícitos na Petrobras já em 1998. Não entraram, porém, na zona de denúncia e acusação da Lava Jato. Quando lá apareceu, inesperada, uma menção a algo "no governo Fernando Henrique", ficou também registrado o brusco e definitivo "isso não interessa!".
Nessa linha, não é menos ilustrativa a recusa da Procuradoria da República em Minas e da Procuradoria-Geral, de Rodrigo Janot, ao acordo de delação proposto por Marcos Valério, e por fim aceito na PF. Também em Minas, o "mensalão" do PSDB, ocorrido quatro anos do "mensalão petista", ainda não tem seu processo concluído: desde o fato a ser julgado, são 19 anos. E 12 desde as condenações dos acusados pelo "mensalão petista".
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