Dilma Rousseff tem a oportunidade de optar pelo modo como será retratada na história.
A líder democrata, pessoa honrada e honesta, patriota que deu o melhor de si para fazer o Brasil e seu povo avançarem, e foi vitimada por uma poderosa ofensiva político-midiática-judicial das forças conservadoras.
Uma grande brasileira injustiçada por um golpe. Merecerá sem dúvida esse registro nos livros de história do Brasil e quiçá no mundo.
Se o impeachment se consumar.
Mas há outro registro possível, mais à altura da encruzilhada brasileira e de sua própria biografia.
Dilma tem a oportunidade de entrar para a história em chave maior, como a estadista que pagou alto preço, defende a democracia, mas apresenta uma saída e um desfecho para a crise, em defesa do Brasil.
Enquanto corre o julgamento no Senado, o que a sociedade está julgando é o governo biônico de Temer. Um governo que só tem maioria nos estamentos políticos do país, de costas para a sociedade – que não se reconhece neles -, que cala a voz de quantos foram às ruas bradar pelo impeachment.
Se o governo afundar na instabilidade, antes ou depois da votação do impeachment aprovado, que fazer? Vamos a eleições indiretas, por esse mesmo Congresso?
E se o impeachment não se consuma? Como repactuar o país? Quando anunciar os caminhos da repactuação? Como conferir credibilidade e confiança nesses caminhos?
Dilma tem a outra opção: apresentar à nação os meios para se repactuar, a partir da única fonte de soberania: o voto popular, com a antecipação de eleição presidencial.
Basta-lhe dizer que ouve o clamor da sociedade e, sendo a vontade da maioria, não se oporá à proposta.
Fazê-lo antes da votação do impeachment, fortalece a saída democrática e conquista votos para derrotá-lo no Senado. Já estará sinalizada a repactuação que ela propõe à nação. É preciso torná-la um fato político.
Há um campo para disputar e unir em torno da proposta, mesmo que motivada por diferentes perspectivas. PCdoB a propõe, PSOL, REDE e a Frente Povo sem Medo a defendem, setores vários das forças democráticas e progressistas, lideranças sindicais e estudantis, ícones da mídia e análise política como Teresa Cruvinel, Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim. Não será difícil a adesão de forças mais amplas no campo popular, ao contrário: pode-se contar com apoio das ruas bastante marcante.
As contradições do bloco ora governante motivam outras possibilidades. É preciso explorá-las. A Folha de São Paulo optou por seu próprio caminho, também de antecipar eleições.
Assim ocorre nas propostas de saídas para grandes crises. Elas não se dão nas molduras já estabelecidas, exigem inventividade. As coisas vão moleculando, num debate paciente e perseverante. Projetos legislativos engavetados são resgatados para dar opções concretas às saídas. Há horas em que a própria evolução dos acontecimentos se encarrega de colocar no proscênio a solução que ainda não houvera maturado.
O importante é fazer progredir o debate nas forças democráticas, progressistas e da esquerda, para mobilizar amplas forças, mesmo as que não apoiavam o governo Dilma nem o PT, por um plebiscito para decidir se se deve antecipar eleições presidenciais.
Getúlio Vargas, num momento igualmente crítico da nação, deu sua própria vida para paralisar os intentos golpistas. Saiu da vida para entrar na história – seu gesto até hoje é considerado uma das páginas mais marcantes da história, pela demonstração de compromisso e integridade.
Os gestos têm grande valor simbólico e moral na luta dos povos. Um gesto de Dilma na direção de antecipar eleições, fará com que mereça um registro maior, à altura de seu verdadeiro valor, nos livros de história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário