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domingo, 30 de abril de 2017

Juíza do Trabalho avalia blindagem empresarial na Reforma Trabalhista

Copio e colo o esclarecedor post da juíza do trabalho Tamara Hiss (do face do colega advogado Ismar Pires Martins):

"Para quem acha que essa Reforma Trabalhista vem para modernizar as relações de trabalho e não para retirar direitos, sugiro uma lida rápida em algumas 'novidades' por ela introduzidas:

Sabia que está autorizada pela Reforma a blindagem patrimonial? Ou seja, seu 'patrão' poderá criar uma nova empresa, com os mesmos sócios, e mesmo que ela seja sócia majoritária da empresa em que você trabalha, ela não responderá por nenhuma verba trabalhista? Novo artigo 2º, §3º da CLT.

Você sabe que se o seu 'patrão' vender a empresa, ele não será mais responsável por suas verbas trabalhistas, mesmo que você trabalhe 5 anos para ele, e 1 dia para a empresa nova? Novo artigo 448 da CLT

Voce sabia que se uma marca famosa de roupas contratar uma empresa para fabricar exclusivamente suas roupas, e esta explorar trabalho análogo ao de escravo, esta marca não poderá mais ser responsabilizada de nenhuma forma? Novo artigo 3º, §2º da CLT

Você sabia que passa a existir a modadlidade de dispensa 'por acordo', em que o empregado receberá metade do aviso prévio e da multa do FGTS, saca 80% do FGTS, e não tem direito ao seguro desemprego, e o sindicato não precisará mais homologar para saber se o acerto está certo? Na prática, o 'acordo' será: assina ou não recebe...Novo artigo 458 da CLT

Te contaram que se você tiver formação superior e receber mais do que R$11.062,62, não pdoerá questionar cláusulas que considere injustas do seu contrato na Justiça do Trabalho? Seu contrato terá o mesmo valor que uma Convenção Coletiva firmada por sindicato, e terá prevalência também sobre a lei. Novos artigos 444 e 611-A da CLT

Alguem te disse que você poderá ser contratado sempre como 'autônomo', independente de sua função, ainda que trabalhe exclusivamente para seu patrão todos os dias? Vai sobrar algum empregado? Novo artigo 442-B da CLT

Sabia também que agora você poderá ser contratado de forma intermitente? Nesse contrato, se a empresa quiser que você trabalhe menos dias ou menos horas em uma semana de menor movimento, você só receberá pelas horas trabalhadas, e não um salário mensal ajustado. Ou seja, não poderá programar adequadamente nem os dias e horários de trabalho, e nem saberá quanto receberá ao final do mês. Novos artigos 443 e 452-A da CLT

Sabia que o valor do dano moral do trabalhador será medida de acordo com seu salário? OU seja, se houver morte, lesão, humilhação por culpa da empresa, a vida de quem ganha mais terá maior valor, e a de quem ganha menos, menor valor? Novo artigo 223-G§1º da CLT

Valeu demais Belchior!

Grande perda para o Brasil, a do trovador Belchior.

E ainda ontem à tarde cantamos no encontro dos 40 anos da turma de Jornalismo UFG 1977, belo momento de reencontrar muita gente amiga:

"Sonho e escrevo em letras grandes, de novo,  pelos muros do país....João, o tempo, andou mexendo com a gente sim..."

E ontem à noite fui a uma Festa do Vinil, dos amigos Eliomar/Ivoneide, de arromba.

A primeira música que tocou na radiola foi COMO NOSSOS PAIS, baita sucesso do Belchior nos anos 70.

Está no bolachão Falso Brilhante, voz eterna de Eliz Regina.

Marcou muito a nossa geração.

Valeu demais Belchior!

Vamos homenageá-lo, sempre.

Assista:

https://youtu.be/Y3HTEKQ-rh8


https://youtu.be/6e7sC7YLQ0k






sexta-feira, 28 de abril de 2017

Ou você acha que pobre compra políticos?

Tenho lido os indignados descobridores da pólvora dizer que a Odebrecht mandava no Brasil. Será que ficarão mais indignados quando descobrirem que não é só a Odebrecht, mas o grande capital que controla o Estado brasileiro há muito?

O nome do troço é capitalismo por isso. Sabia não? Veja só que legal: capital ... ismo

E agora, por exemplo, com a PEC da morte, que impede os gastos sociais, a intervenção do capital é direta sobre o Estado: a prioridade de gastos por 20 anos é com o pagamento de juros, ou seja, com a remuneração do capital. Não é sem motivo que um banqueiro está no Ministério da Fazenda.

Simples. Não precisa nem desenhar.

O que havia de diferente nos governos dos últimos 13 anos não era a corrupção, essa era igual e sempre atendeu a todos, sem se preocupar com as cores partidárias.

A corrupção é também uma forma de controle do capital sobre o poder do Estado e o poder político.

Ou você acha que pobre compra "político"?

E, olha, vou contar outra novidade para você: não é só no Executivo e no Legislativo (murmurando: o Executivo e o Legislativo são só parte do poder do Estado)

A diferença, nos governos "perversos" dos últimos 13 anos, é que uma pequena parte do poder do Estado estava sendo usada para combater os maiores problemas do Brasil: concentração de renda e uma das maiores desigualdades sociais do mundo.

Essa era a diferença!!!!

A corrupção existia e vai continuar a existir, porque corrupção não se combate com lei penal. Como disse o jurista argentino, Eugenio Raúl Zaffaroni, ex-ministro da Suprema Corte, professor emérito da Universidade de Buenos Aires e um dos maiores penalistas do mundo: prender corrupto é como prender sequestrador, o crime já foi cometido.

O que combate a corrupção é a democracia, é transparência e controle rígido por parte da sociedade e/ou por meio de suas instituições. E a democracia é exatamente o que mais foi e tem sido atacado no Brasil nos últimos tempos.

* Mário Simões, no face

Mesmo com recomendação contrária do TST, 7 TRTs fecham por causa de greve

Consultor Jurídico.  

PORTAS FECHADAS


Mesmo com recomendação contrária do TST, 7 TRTs fecham por causa de greve
27 de abril de 2017, 18h30

Não adiantou o presidente do Tribunal Superior do Trabalho e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho, ministro Ives Gandra Martins, recomendar aos presidentes dos tribunais regionais do Trabalho que mantenham o funcionamento das cortes nesta sexta-feira (28/4). Sete TRTs já afirmaram que vão fechar as portas por causa da greve geral, marcada por centrais sindicais contra as reformas da Previdência e trabalhista.



A assessoria de imprensa do TST afirma que o ofício enviado por Ives Gandra é apenas um “alerta”, pois os tribunais têm autonomia para decidir sobre seu funcionamento.

A paralisação atingirá TRTs da 3ª Região (MG), 4ª Região (RS), 5ª Região (BA), 7ª Região (CE), 10ª Região (DF e TO), 11ª Região (AM e RR) e 15ª Região (Campinas-SP), além dos tribunais de Justiça do Paraná e da Bahia.

Todos afirmaram que a medida é para evitar danos à segurança de juízes, desembargadores, advogados, servidores e demais usuários dos prédios forenses. As atividades só retornarão na terça-feira (2/5), depois do feriado do Dia do Trabalho.


Apenas o TRT-11 criticou oficialmente as reformas da Previdência e trabalhista: segundo a corte, as propostas apoiadas pelo governo federal e em andamento no Congresso tentam provocar “profundas reduções de direitos”.

O Tribunal de Justiça do Paraná declarou que, a partir de 2 de maio, os servidores serão obrigados a compensar as horas, trabalhando uma hora a mais durante sete dias.

Já o TJ de Mato Grosso, que abrirá as portas, admite que os serviços poderão ter alguns obstáculos. “Ficamos impossibilitados de obrigar os servidores a comparecer aos fóruns, tendo em vista que já há indicativo de greve de ônibus, meio de transporte usado por grande parte do nosso público interno”, afirma o presidente da corte, Rui Ramos Ribeiro.

Questionado pela ConJur, o Conselho Nacional de Justiça afirmou que não enviou nenhuma manifestação a tribunais nem recebeu qualquer pedido sobre o assunto.

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Suspensão de prazos

Além dos tribunais que decidiram paralisar as atividades, pelo menos outros três tribunais suspenderam prazos processuais, de acordo com a LegalCloud, que desenvolve uma calculadora para advogados: o TRT da 12ª Região (SC), o TRT da 23ª Região (MT) e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.


* Texto atualizado às 19h15 do dia 27/4/2017 para acréscimo de informações.

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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Lobistas de bancos, indústrias e transportes estão por trás das emendas da reforma trabalhista.




LOBISTAS DE ASSOCIAÇÕESempresariais são os verdadeiros autores de uma em cada três propostas de mudanças apresentadas por parlamentares na discussão da Reforma Trabalhista. Os textos defendem interesses patronais, sem consenso com trabalhadores, e foram protocolados por 20 deputados como se tivessem sido elaborados por seus gabinetes. Mais da metade dessas propostas foi incorporada ao texto apoiado pelo Palácio do Planalto e que será votado a partir de hoje pelo plenário da Câmara.
The Intercept Brasil examinou as 850 emendas apresentadas por 82 deputados durante a discussão do projeto na comissão especial da Reforma Trabalhista. Dessas propostas de “aperfeiçoamento”, 292 (34,3%) foram integralmente redigidas em computadores de representantes da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística).
O deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), relator da reforma na comissão especial formada em fevereiro para discutir a proposta do governo, decidiu incorporar 52,4% dessas emendas, total ou parcialmente, ao projeto substitutivo. Elas foram apresentadas por deputados do PMDB, PSDB, PP, PTB, SD, PSD, PR e PPS – todos da base do governo de Michel Temer. Reforçando o artificialismo das emendas, metade desses parlamentares que assinaram embaixo dos textos escritos por assessores das entidades sequer integrava a comissão especial, nem mesmo como suplente.
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As propostas encampadas pelos deputados modificam a CLT e prejudicam os direitos dos trabalhadores. O texto originalenviado pelo governo alterava sete artigos das leis. O substitutivo de Rogério Marinho, contando com as emendas, mexe em 104 artigos, entre modificações, exclusões e adições.
Não falta polêmica para meses de discussão qualificada. Mas o governo decidiu encerrar o debate e colocar logo o projeto para voto, em regime de urgência. Numa primeira tentativa, não conseguiu votos suficientes para acelerar a tramitação. Mas, no dia seguinte (19 de abril), num movimento incomum, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), manobrou e conseguiu aprovar a urgência. Por ser um projeto de lei, se aprovado pela Câmara, vai direto para avaliação do Senado.
O tom geral da reforma é que o que for negociado entre patrões e empregados passa a prevalecer sobre a lei. O texto original enviado pelo governo, no entanto, não deixava isso explícito. Falava que o acordado teria “força de lei”, mas as empresas conseguiram emplacar emenda para deixar essa força do negociado mais evidente. Com isso, a redação nesse ponto passou a ser que os acordos “têm prevalência sobre a lei”.
As emendas aceitas também preveem restrições a ações trabalhistas. Deputados encamparam pedidos das associações empresariais para que o empregado, quando entrar na Justiça, passe a determinar o valor exato de sua reclamação e que o benefício da Justiça gratuita somente seja concedido àqueles que apresentarem atestado de pobreza. Ainda no campo da negociação entre empregadores e empregados, apesar de o que for acordado ganhar peso sobre a lei, ele não pode ser incorporado ao contrato de trabalho. O objetivo é forçar novas negociações a cada dois anos.
Outro exemplo de vitória das empresas em suas negociações no Congresso foi a incorporação da redução em 2/3 do valor do adicional que é pago a trabalhadores que têm seus horários de almoço ou descanso reduzidos – embora o Tribunal Superior do Trabalho tenha definido, por meio de súmula, que o valor a ser pago pelas empresas deve corresponder ao triplo do tempo “comido” pela empresa.
As emendas aprovadas também eliminam a necessidade de comunicação ao Ministério do Trabalho sobre casos em que houver excesso de jornada. O argumento, escrito por representante da CNT e aceito por parlamentares, é que “o empregado poderá recorrer à Justiça do Trabalho independentemente de comunicação à autoridade competente”.

Relações de gratidão

As propostas agora defendidas pelos deputados provavelmente não estarão em seus palanques ou santinhos nas eleições do ano que vem, mas certamente poderão ser lembradas nas conversas de gabinete para acertar apoio a suas campanhas. Embora o financiamento empresarial tenha sido eliminado, pessoas físicas ligadas ao setor podem doar e, embora seja crime, ainda é difícil imaginar um cenário próximo sem o caixa 2.
O vínculo de gratidão de parlamentares que aceitaram assumir como suas as emendas preparadas por lobistas das entidades empresariais é verificável pela prestação de contas da última campanha. Julio Lopes (PP-RJ), Paes Landim (PTB-PI) e Ricardo Izar (PP-SP), que apresentaram sugestões da CNF na comissão, receberam doações de Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Safra, entre outras instituições financeiras. Desses, somente Landim participava da comissão especial, e ainda assim como suplente.
O potencial conflito de interesse também aparece de forma clara no caso de parte dos parlamentares que assinaram emendas da CNT. A começar por Diego Andrade (PSD-MG), que, além de ter recebido doações de empresas que dependem de logística adequada para o escoamento de suas produções, é sobrinho do presidente da entidade, o ex-senador Clésio Andrade. O deputado apresentou 22 emendas à Reforma Trabalhista. Todas elas, sem exceção, foram redigidas por um assessor legislativo da CNT. O deputado Renzo Braz (PP-MG) também chama a atenção. Todas as suas 19 emendas foram preparadas pelo mesmo assessor. Além de ser de família ligada ao transporte de cargas, sua campanha de 2014 foi bancada majoritariamente por empresas do setor de transportes.
Uma das emendas idênticas apresentadas pelos dois deputados mineiros, mas não acatadas pelo relator, previa que, por exemplo, se um motorista perdesse sua habilitação, ele pudesse ser demitido por justa causa pela empresa que o tivesse contratado. Da mesma forma que os colegas “amigos” da CNF, Diego Andrade e Renzo Braz também não estavam entre os 74 integrantes da comissão especial da Reforma Trabalhista.

Lobby informal

Numa visão condescendente, o que as entidades empresariais estão fazendo no caso da Reforma Trabalhista e em outras situações menos visadas tem nome: lobby. A atividade não é crime, mas também não tem regras definidas no Brasil. Em países como os Estados Unidos, ela é regulamentada. No Brasil, há mais de uma década o tema é alvo de discussão, com divisão de opiniões sobre a conveniência da criação de regras. Uma vantagem é clara: isso traria mais transparência para a atuação de grupos de pressão privados.
No dia a dia do Congresso, lobistas circulam livremente entre gabinetes de deputados e senadores, quase sempre com o rótulo de “assessor legislativo”, gerente de “relações governamentais” ou “relações institucionais” de associações que reúnem grandes empresas – ou, por vezes, representando diretamente uma empresa específica.
A legislação atual impede que eles apresentem emendas diretamente, embora isso seja feito de maneira clandestina, como revela o levantamento do The Intercept Brasil.
No regimento da Câmara, a determinação é que as emendas sejam apresentadas somente por parlamentares. No mesmo documento, o artigo 125 dá poderes ao presidente da Câmara para recusar emendas “formuladas de modo inconveniente” ou que “contrarie prescrição regimental”. Não há notícia de que o mecanismo tenha sido usado em algum momento para barrar emendas preparadas por agentes privados.
Advogados consultados pelo The Intercept Brasil divergem sobre a existência de crime a priori na produção de emendas por agentes privados.
“No caso do parlamentar, existe uma injeção ainda maior de dolo e é evidente o crime de corrupção passiva, justamente ao usar informações produzidas por uma entidade privada na esfera pública”, afirma Rafael Faria, professor de Processo Penal na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.
Segundo Faria, os parlamentares deveriam produzir emendas e suas justificativas por meio dos seus assessores contratados para trabalhar nos seus gabinetes, pagos com dinheiro público para exercer esse papel de assessoramento técnico e jurídico.
“Existe uma vantagem indevida, não sabemos qual é ainda, mas isso somente uma investigação poderá revelar. Mas que há, não tem dúvida. Não importa se o deputado não recebeu dinheiro de doações declaradas, é necessário que ele respeite as regras de compliance. Não trazer pareceres privados para a área pública”, argumenta.
“Mais uma vez verificamos que processo legislativo pode enganar ou esconder interesse escusos da sociedade.
Por outro lado, Carolina Fonti, especialista em Direito Penal Empresarial e sócia do escritório Urquiza, Pimentel e Fonti Advogados, acredita que é necessário verificar se houve vantagem indevida em troca das emendas antes de enquadrar no crime de corrupção.
“Mais uma vez verificamos que processo legislativo pode enganar ou esconder interesse escusos da sociedade. Identificada uma vantagem eventual, futura ou apenas prometida aos deputados, podemos então ter o crime de corrupção”, afirma.
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) apresentou, no ano passado, uma PEC (47/2016) com apoio do governo para regulamentar o lobby no país. No campo legislativo, sua proposta prevê que lobistas possam apresentar emendas a projetos em tramitação no Congresso. A tramitação está parada no Senado, aguardando designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça.

Criação e clonagem

Para chegar às 292 emendas redigidas pelas associações empresariais, The Intercept Brasil examinou todas aquelas protocoladas até o fim de março – antes, portanto, da apresentação do relatório de Rogério Marinho. Dentro dos arquivos PDF com o conteúdo da emenda e sua justificativa técnica, há metadados que indicam o “autor” original do arquivo, com a identificação do dono do computador onde ele foi redigido.
Há os casos que seriam naturais na atividade parlamentar, em que assessores do gabinete do deputado ou mesmo consultores legislativos da Câmara são os “donos” do arquivo. Mas em 113 deles o autor era um funcionário de uma das quatro entidades empresariais citadas na reportagem. Esses mesmos textos e justificativas foram clonados, inclusive mantendo eventuais erros de português, por outros parlamentares (veja aqui um exemplo, envolvendo os deputados Rômulo Gouveia (PSD-PB) e Major Olímpio (SD-SP).
Em alguns casos, o dispositivo a ser modificado na CLT era alterado, mas a justificativa permanecia exatamente a mesma. Na maioria das reproduções, o autor constava como “P_4189”, indicando o terminal de algum servidor do Congresso. Ou seja, um terminal específico serviu como “copiadora” de emendas originalmente redigidas pelas associações e que acabaram sendo apresentadas por diferentes deputados.
O parlamentar que mais assinou emendas apresentadas por associações foi Major Olímpio, candidato a prefeito de São Paulo nas últimas eleições e deputado do Solidariedade – partido fundado e presidido pelo sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, que é justamente um dos principais opositores da reforma. Com discurso geralmente pró-trabalhadores, Olímpio, no último dia 24, postou em seu Facebook um chamado para sua base eleitoral:
Na Reforma Trabalhista, Major Olímpio apresentou 31 emendas – 28 delas escritas pelas entidades empresariais.
Mas nem tudo envolvia apenas associações empresariais. Há casos de deputados que defenderam emendas de interesse dos trabalhadores, mas preparadas também por entidades externas que atuam na defesa desses interesses. Ao menos 22 emendas foram redigidas pelo presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, Angelo Fabiano Farias da Costa. Elas foram encampadas por parlamentares do PT, PC do B, Rede e PDT, que têm posições majoritariamente contrárias ao governo Temer.
Também há emendas cujo autor original, nos metadados dos arquivos, consta como TST – presumidamente o Tribunal Superior do Trabalho, inclusive considerando o conteúdo das emendas. Nesse caso, foram 11 emendas com essa autoria, todas apresentadas pela deputada Gorete Pereira (PR-CE) e com conteúdo restritivo aos atuais direitos previstos na CLT. O presidente do TST, ministro Ives Gandra Martins Filho, é um dos entusiastas da tese do “negociado acima do legislado” e já foi apontado como artífice da Reforma Trabalhista apresentada pelo governo Temer.

As lições da Lava Jato






https://theintercept.com/2017/04/26/lobistas-de-bancos-industrias-e-transportes-quem-esta-por-tras-das-emendas-da-reforma-trabalhista/

terça-feira, 25 de abril de 2017

Paulo Moreira Leite: O foco é a greve geral

Paulo Moreira Leite: O foco é a greve geral

Paulo Moreira leite em 22/4/2017
Num país onde os trabalhadores são atacados no direito ao trabalho – pelo desemprego em massa –, nos direitos a uma velhice com dignidade – na reforma da Previdência –, no direito ao estudo e a saúde – pela emenda do Teto –, no direito a verdade – pela ditadura do pensamento único – é preciso manter o foco e definir prioridades. O rumo do pais no próximo período pode começar a ser resolvido na greve geral marcada para sexta-feira, 28 de abril, uma jornada com vocação histórica.
Não vamos nos iludir. Nenhuma definição essencial do difícil momento político brasileiro será decidida de modo favorável à democracia e a maioria dos brasileiros por Sérgio Moro em Curitiba, nem por Edson Fachin em Brasília. Muito menos por Eunício Oliveira ou Rodrigo Maia no Congresso. Nada se pode esperar das surrealistas conversas na Lisboa de Gilmar Mendes, numa geopolítica nostálgica que lembra tempos anteriores a 1822, quando uma Metrópole em fim de linha histórica tentava orientar – em mensagens de navio – os rumos de uma colônia do outro lado do Atlântico que já se tornava mais importante e decisiva.
Todos estes personagens sabem muito bem o que fazer. Sequer escondem suas intenções. As delações premiadas já cumpriram seu papel. Aquilo que merece o nome de classe dominante – e não apenas seus espantalhos de plantão, descartáveis a qualquer momento – começa a se recompor e se perdoar, entre sorrisos e até algumas cabeças baixas de submissão, deixando, como inevitável, uns poucos feridos na beira da estrada.
Nada se pode esperar daí. Nem por demagogia tentam simular alguma preocupação com os direitos do povo – a não ser, é claro, como fonte para alimentar uma insaciável sede de ganhos, para que sejam atacados e diminuídos, um pouco mais, sempre, em qualquer oportunidade.
Um ano depois do golpe, chegamos a este momento que é um produto calculado e previsível. As instituições estão vazias e desmoralizadas, sem interesse nem capacidade para resistir a um permanente esforço para consolidar um governo sem voto nem legitimidade, humilhado nas conversas de 78% dos brasileiros, não apenas a multidão absoluta de honestos e trabalhadores, mas também entre os corruptos, comparsas e cúmplices. Nesta conjuntura em que o céu ameaça cair sobre nossas cabeças, como prevê uma velha lenda indígena, apenas o rosto corajoso de homens e mulheres do povo poderá impedir a derrocada que ameaça tantas gerações.
Primeira definição de espaço público no mundo construído após a Idade Média, no Brasil de nossos dias a rua tornou-se o ponto central de resistência, até que outros espaços sejam abertos e recuperados. É ali que se pode consumar a derrota da reforma da Previdência, o Vietnã do governo Temer.
As piruetas da equipe de Henrique Meirelles apenas refletem o temor de quem enxerga o peso de derrota cada vez mais inevitável de um desastre político antes de ser econômico.
Não há escapatória nem pode haver descanso. A hora é de luta.

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