É ano eleitoral no Brasil. Desse modo, os brasileiros têm menos de 3 meses para tomar uma decisão que afetará suas vidas por muito tempo. Muitos de nós, inclusive, poderão não viver mais tempo do que durarem os efeitos que tal decisão eleitoral irá gerar, pois o mandato de um presidente gera efeitos para bem além dos seus quatro anos de duração.
Refletir sobre a escolha do próximo presidente da República e dos parlamentares do Congresso Nacional, porém, é o que menos querem os grupos que pregam voto nulo ou em branco ou que estimulam que essa escolha seja feita com base em sentimentos pouco racionais como raiva ou desprezo.
Com efeito, nas próximas eleições dois grupos políticos majoritários disputarão a Presidência e a hegemonia no Congresso. Mas qual é a diferença entre eles?
Um desses grupos governa o país e vem atuando, ao longo de 11 anos e meio, de forma a tirá-lo da área de influência dos Estados Unidos. O outro grupo, desde sempre prega que copiemos o modelo estadunidense e que nos unamos de todas às formas ao seu modelo político, econômico, institucional.
A argumentação do grupo político aliado aos grandes grupos de mídia, aos ideais predominantes nos Estados Unidos, ao grande empresariado brasileiro e ao mercado financeiro do país é o de que a solução dos nossos problemas sociais e econômicos – os quais, apesar de não terem sido resolvidos em 12 anos, diminuíram consideravelmente no período – estaria em nos aproximarmos da potência hegemônica e, mais do que isso, em copiá-la.
Nesse contexto, é mais do que apropriado documentário sugerido pelo leitor G. Lima. Ele postou o link do vídeo em comentário, porém não fez referências a quem produziu. Como não consegui contatá-lo, acabei me lembrando de que já havia assistido documentário com o mesmo teor – se não me engano, em 2012.
Já faz alguns anos que acompanho o canal estadunidense Public Broadcasting Service. Trata-se de rede de televisão pública de caráter educativo-cultural que faz contraponto às grandes redes comerciais. A PBS produz documentários, telejornais e programas educativos que destoam da ideologia predominante nos EUA.
Em pesquisa, descobri que o documentário foi produzido pela PBS e tenho quase certeza de que é o mesmo a que assisti em 2012. Seja como for, o leitor em questão descreve o que o material contém:
1. Crianças catam latinhas para vender e sobreviver.
2. Crianças estadunidenses vivem em um único quarto ou em quartos de moteis, mantendo alimentos dentro de uma pia com gelo por falta de geladeira.
3. Crianças moram em bairro de São Francisco em que o tráfico de drogas ocorre ao ar livre.
4. Filas imensas de pessoas aguardando para usar vale-refeição fornecido pelo governo Obama nos bancos de alimentos.
5. Ratos fazem companhia a família que vive em abrigo para sem-teto.
O leitor G. Lima diz esperar que, após assistir a esse documentário “As pessoas aprendam a valorizar o seu país”. O que o leitor quer dizer é que o complexo de vira-latas de que padece boa parcela deste povo imagina que só aqui existem mazelas sociais.
Os basbaques pró-EUA dirão que lá existe pobreza, mas que a nossa é muito maior. Claro que sim. Isso é verdade. Há várias teorias para explicar por que irmãos do Norte alcançaram maior desenvolvimento cultural, tecnológico e econômico, como por conta da colonização (ingleses versus portugueses, etc.). Porém, essa linha de pensamento despreza a contradição ianque.
Os EUA são a maior potência econômica, tecnológica e cultural do planeta. Recursos para eliminar a pobreza não lhes falta. O que falta àquele povo é o entendimento de que a pobreza atrasa uma nação, a torna insegura e diminuiu suas possibilidades de progredir.
Em resumo, os estadunidenses, em maioria, não querem que o dinheiro público seja usado para eliminar a pobreza, que, por lá, é considerada – não por toda população, repito, mas certamente pela maioria – como um defeito do pobre, quase como uma deformação moral, intencional, como se alguém escolhesse ser pobre.
Resta, pois, deixar o leitor com esse importante documento histórico que mostra que a ideologia que um dos grupos políticos que pretende governar o Brasil acalenta é a de “convivência” com a pobreza. Esse grupo jamais dirá isso abertamente, mas quem acompanha a política brasileira sabe que a oposição ao governo vigente que conta, pensa assim.
Fique, pois, com “As Crianças Pobres da América”. E reflita.
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