HAROLDO LIMA -
¶O recente anúncio do recuo de 36% no lucro líquido da Petrobras em 2012 causou um alvoroço tão grande quanto inadequado.
O desempenho financeiro de uma empresa como a Petrobras não pode prescindir de uma análise histórica de sua lucratividade, de uma apreciação sobre os preços do que produz e de uma consideração sobre suas congêneres. Só assim as distorções e os gargalos podem aparecer em suas verdadeiras dimensões, sem hipertrofias politico-ideológicas.
No ano de 2012, com o recuo de 36%, o lucro líquido da Petrobras ficou em R$21,18 bilhões. Seu significado fica mais claro quando o olhamos em perspectiva.
De 1995 até 1999, a média de lucros da estatal foi de R$1,19 bilhão. Em 2000, os lucros cresceram e sua média até 2002 foi de R$ 6,93 bilhões, praticamente seis vezes à dos primeiros anos do governo FHC.
A partir de 2003, início do governo Lula, há um salto nos lucros da estatal e a média atingida nos oito anos seguintes foi de R$ 25,5 bilhões, passando pelo recorde de R$ 35,19 bilhões em 2010. Nenhuma empresa brasileira teve durante tanto tempo lucros tão excepcionais.
Em 2011 e 2012, primeiros anos do governo Dilma, a média de lucros passou a ser de R$ 27,25 bilhões, maior que a estupenda média dos oito anos do governo Lula.
Vê-se assim que o lucro de R$ 21,18 bilhões de 2012 está longe de ser um desastre e nada tem a ver com risco de "desmonte" da Petrobras.
Porém, lucros altos e baixos ocorrem e suas causas são várias. Grosso modo, pode-se dizer que o fundamental para os lucros de uma grande petroleira é o preço do petróleo.
De 1999 para 2000, nenhuma mudança foi feita na direção da Petrobras e o lucro da empresa foi multiplicado por seis. Motivo? O preço do petróleo subiu! A partir de 2003, os preços do petróleo cresceram com mais ímpeto ainda, atingindo US$134/barril em meados de 2008. A Petrobras estabeleceu recordes de lucratividade, superiores a US$10 bilhões trimestrais.
Essa correlação entre lucro de grande petroleira e preço de petróleo é tão vigorosa que as maiores petroleiras lutam por garantir seus lucros no posto de venda dos derivados, mas sabem que o maior lucro não vem do posto, mas do poço. Naturalmente que outros fatores interferem na formação do lucro, como a produção, a demanda de óleo e seus derivados, a rede de distribuição, a exportação, a competência de seus dirigentes etc.
Alguns desses fatores atingem indistintamente as petroleiras, por isso, às vezes, elas se encontram em situações similares. No início do segundo semestre de 2012, por exemplo, de 20 grandes petroleiras, onze tiveram prejuízos, sendo que das dez maiores, apenas uma cresceu, a Exxon. Todas as demais tiveram queda de lucro. E a Exxon cresceu porque vendeu ativos.
O recuo de 36% no lucro da Petrobras se não é algo estranho ao mundo dos grandes negócios, é sim um problema que precisa ser compreendido e corrigido, a começar pela identificação de suas causas.
E aí é que se viu, na quase unanimidade da grande mídia brasileira, a ideia de que a causa central dessa queda foi a decisão governamental de não permitir o aumento do preço da gasolina, já que parte dela era importada a preço maior. Isto está longe de ser verdade.
Primeiro porque durante praticamente toda a década passada a estabilidade do preço da gasolina em nada impediu a incessante melhora dos resultados trimestrais. Entre 2003 e 2011, com preços estabilizados, o lucro da Petrobras foi multiplicado por cinco.
Segundo porque, no último ano, os preços dos combustíveis não ficaram congelados. Em novembro de 2011, os da gasolina subiram cerca de 10% e os do diesel, 2%. Em junho de 2012, a União "zerou" a CIDE o que, em tese, poderia reverter a margem negativa do refino da Petrobras.
Terceiro porque o prejuízo com a importação da gasolina, no segundo trimestre de 2012, foi quatro vezes menor que com a importação do diesel (R$ 400 milhões versus R$ 1,9 bilhão) e os dois somados formam um valor relativamente pequeno frente à receita das vendas totais: R$ 69 bilhões, com alta de 3%, comparado ao trimestre anterior.
Finalmente porque a maior causa do prejuízo foi cambial. Só no segundo trimestre do ano passado, o dólar saltou de R$ 1,80 para R$ 2,04, e a empresa teve que provisionar perdas de R$ 6,4 bilhões. Simulação de um especialista da ANP mostrou que, mantidas as importações da gasolina e do diesel, e sem aumentar seus preços internos, se não houvesse o prejuízo cambial, a Petrobras teria saído, no segundo trimestre de 2012, de um prejuízo de R$ 1,38 bilhão para um lucro de R$ 5 bilhões (Duque Dutra).
Outras causas existiram do dito recuo, como a queda da produção, a desvalorização de estoques, importações de gás natural liquefeito – GNL (por causa das térmicas), "baixa" de poços secos etc.
Uma petroleira estatal como a Petrobras tem como objetivos: ajudar o Estado a desenvolver o país, alavancar a indústria e os serviços, propiciar o surgimento de pequenas e médias empresas setoriais; tem também o dever de se afirmar como grande empresa, aumentando sua produção e modernizando-se.
Na convergência dessas finalidades deve garantir ao povo combustível bom e a preços módicos.
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