Frente Ampla une Lacerda, Jango e JK
contra ditadura e por volta da democracia
Há 50 anos, movimento articulado pelo ex-governador da Guanabara, que apoiara golpe de 64, criou aliança entre perseguidos do regime. Após comícios, grupo foi proibido em 68
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- 27 de Setembro de 1966, Geral, página 1
- 07 de Outubro de 1967, Geral, página 6
- 26 de Setembro de 1967, Primeira seção, página 1
- 01 de Fevereiro de 1968, Geral, página 6
- 14 de Setembro de 1967, Geral, página 6
- 14 de Outubro de 1966, Geral, página 1
- 15 de Setembro de 1966, Geral, página 12
- 22 de Outubro de 1966, Geral, página 13
- 25 de Novembro de 1966, Geral, página 12
- 28 de Outubro de 1966, Geral, página 1
- 28 de Outubro de 1966, Geral, página 12
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Sandro Macedo*
Movimento político contra a ditadura e pela volta da democracia ao país, articulado pelo ex-governador da Guanabara (1960-1965) e apoiador do golpe de 1964 Carlos Lacerda (UDN-GB), a Frente Ampla surgiu quando o político percebeu que estava sendo afastado das decisões pelos militares. Esse processo se acentuou a partir da derrota de seu secretário de Educação, Carlos Flexa Ribeiro, para Francisco Negrão de Lima (PSD-GB) nas eleições estaduais de 3 de outubro de 1965. Além disso, a decretação do AI-2 pelo marechal-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, em 27 de outubro, tornando indireta a eleição para presidente, punha fim às pretensões políticas de Lacerda. O ato institucional, que ainda reabriu processos de cassação e extinguiu os partidos políticos, fora uma resposta do regime às derrotas sofridas pelos candidatos a governador oficiais em estados importantes como Minas Gerais e Guanabara.
Lacerda foi politicamente esvaziado, pois com a criação do bipartidarismo a maior parte dos udenistas filiou-se à situacionista Aliança Renovadora Nacional (Arena), que se contrapunha ao oposicionista Movimento Democrático Nacional (MDB). O ingresso dos deputados lacerdistas da Guanabara no MDB, segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getulio Vargas (CPDOC-FGV), também marcou sua ruptura com os militares.
O ex-governador resolveu então procurar seus antigos adversários políticos, como os exilados e cassados Juscelino Kubitschek, em Portugal, e João Goulart, no Uruguai, numa tentativa de juntar forças para lutar pela restauração da democracia no país. O movimento foi ganhando corpo e conquistando a adesão de importantes emedebistas, como o "secretário-geral do partido, Mário Covas, líder da bancada, ou o senador Josafá Marinho, figura proeminente da oposição", conforme O GLOBO noticiou em 27 de setembro de 1966.
Mas o movimento enfrentaria muitas dificuldades para vingar, como apostava o deputado Rui Santos (Arena-BA), vice-líder do partido do governo, que afirmou na mesma edição que "seus articuladores se esquecem de que o povo tem memória, não podendo aceitar a união dos contrários, de homens que vivem de costas uns para os outros, tanto já se agrediram''.
Juscelino já admitira, em reportagem publicada no jornal em 14 de outubro, que estava colaborando com Lacerda e Jango na preparação de "um manifesto conjunto". O texto cita ainda a provável adesão do governador destituído de Pernambuco Miguel Arraes (ex-PST), também exilado, à Frente Ampla. À essa altura, a imprensa falava sobre outros políticos que estariam aderindo ao movimento, como o governador cassado do Rio Grande do Sul, o exilado Leonel Brizola (ex-PTB), e o ex-presidente Jânio Quadros (ex-PDC-SP), também cassado, o que acabou não se confirmando. Segundo o CPDOC, "o governo estava atento às articulações da frente e não afastava a possibilidade de tomar medidas de represália contra ela, inclusive punindo os 'pombos-correios'".
Para a linha-dura do regime, o movimento poderia minar a eleição indireta do marechal Artur da Costa e Silva para a Presidência da República, mas o nome do militar foi aprovado pela Arena em 3 de outubro, com a abstenção do MDB, cujos parlamentares menos cordatos cobravam abertamente a redemocratização do país. Após cassar vários deputados no dia 12, a crise agravou-se mais e, em 21 de outubro, o presidente Castelo Branco fechou o Congresso.
Sem querer esperar mais, em 28 de outubro de 1966 Lacerda publicou em seu jornal, a "Tribuna da Imprensa", um manifesto dirigido ao povo brasileiro defendendo eleições livres e diretas, a reforma partidária e institucional, a retomada do desenvolvimento econômico e a adoção de uma política externa soberana. O documento tinha apenas a sua assinatura, mas confirmava as negociações entre o ex-governador e os ex-presidentes. Na edição desse dia, o jornal informa que o tão esperado manifesto não alcançou a repercussão esperada por Carlos Lacerda (que convocara a imprensa nacional e internacional para o lançamento do documento), e que até provocara reações negativas, causando mesmo decepções. No documento, Lacerda, lança “palavras violentas e expressões grosseiras, agrediu o Exército, as Forças Armadas, a Escola Superior de Guerra, os Estados Unidos, o Departamento de Estado, a CIA, o Pentágono, e a antiga UDN, entre outros”, conforme publicou o jornal.
No entanto, dias depois Lacerda se encontrou com JK em Portugal e, em 19 de novembro, os dois lançaram a "Declaração de Lisboa", reafirmando que haviam superado as divergências passadas, se comprometendo a seguir a orientação do documento publicado na "Tribuna". A adesão formal de João Goulart à Frente Ampla só viria em 25 setembro de 1967, após declaração conjunta entre Jango e Carlos Lacerda na cidade de Montevidéu, local onde o ex-presidente encontrava-se exilado.
O movimento era recebido com reservas pelo MDB, que temia o enfraquecimento da oposição, como mostra a edição de 7 de outubro 1967, quando o líder do partido na Câmara, senador Aurélio Viana, afirmou que “a Frente Ampla provocou profunda e irreversível divisão entre as correntes oposicionistas brasileiras, pois, ao invés de congregar, desuniu e seccionou”. Se inicialmente alguns importantes representantes do MDB haviam sido conquistados pelo projeto de agremiação, logo em seguida estes retornaram para o partido. Mesmo assim, em dezembro, houve os primeiros comícios da Frente Ampla no ABC Paulista, nas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, reunindo milhares de trabalhadores. O movimento chegou a realizar outros comícios, dessa vez no Paraná, em 1968, nas cidades de Londrina e Maringá, com o apoio de estudantes.
Em 1º de fevereiro de 1968, o jornal registra que, no lugar de dividir os militares, a Frente Ampla os unira ainda mais. No entanto, a morte do estudante Edson Luís Lima Souto, por policiais no restaurante do Calabouço, no Rio, em 28 de março, desencadeou uma onda de protestos estudantis em todo o país, atraindo o apoio da opinião pública contra o regime militar.
Para tentar estancar a crise e as pretensões de Lacerda e seus agora aliados, em 5 de abril de 1968, o Ministério da Justiça proibiu todas as atividades da Frente Ampla e ordenou à Polícia Federal a prisão de quem violasse a Portaria 177. Não foi o suficiente: em 26 de junho, a Passeata dos Cem Mil, realizada por artistas, estudantes, intelectuais e outros setores da sociedade civil no Centro do Rio, mostrou que o regime militar corria risco. Após uma série de crises, que incluiu o fechamento do Congresso, em 13 de dezembro de 1968 o marechal-presidente Costa e Silva editou o AI-5, um conjunto de ações arbitrárias que promoveram o endurecimento do regime e duraram até 1978. Na lista dos cassados estavam Carlos Lacerda e o secretário-geral da extinta Frente Ampla, Renato Archer (MDB-MA).
* com edição de Matilde Silveira
Superando divergências. Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek conversam a respeito da Frente Ampla: tentativa de unir a oposição contra o regime 09/04/1967 / Agência O Globo
Leia mais: http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/frente-ampla-une-lacerda-jango-jk-contra-ditadura-por-volta-da-democracia-20345714#ixzz4tnEUKZV2
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