* Por Ricardo Capelli
Desde que Joaquim Barbosa, durante o julgamento do mensalão, decretou que “a Constituição é o que o STF interpreta”, a vitória de Temer é a primeira derrota da ofensiva obscurantista que tomou setores da sociedade brasileira. A derrota da Globo é histórica. Julgamentos desta natureza não são jurídicos. Expressam a concertação de grandes blocos de interesse. Os desdobramentos serão sentidos:
1 – O Isolamento da “Aliança” – A “Aliança do Coliseu”, liderada pela Globo com setores antinacionais da burocracia estatal, elegeu “a política” como inimiga. Quem reabriu a ação do PSDB contra a chapa Dilma/Temer foi Gilmar Mendes. Na época, mirava o PT. O cenário mudou, e foi o próprio Gilmar quem liderou a derrota da ação. Gilmar tem dado importantes sinais de não concordar com a ofensiva da “Aliança” para criminalizar os partidos e a atividade política no país. Com esta estratégia, a Aliança uniu todos, governo e oposição. Grupos de mídia com forte presença em São Paulo e ligações históricas com os Tucanos passaram a criticar “a Operação”. O corajoso Estadão defendeu, em editorial, a absolvição do presidente. Ninguém derruba um Presidente sem um forte consenso e a aglutinação de amplos setores. Dilma se isolou e caiu. A “Aliança” tentou derrubar Temer na marra. Se isolou e perdeu.
2 – Quem quer a saída de Temer? – Para quem está de olho em 2018, nada melhor que um presidente fraco e com níveis alarmantes de rejeição para “segurar a vaga” até lá. Diretas tem grande dificuldade no Congresso, não unifica as Centrais Sindicais, não unifica os artistas e ainda carece de povo nas ruas. Parcela da população tem medo, teme a volta de Lula. Indiretas? Rodrigo Maia? E se Maia se fortalece e mexe no jogo de 2018? Jobim? O mesmo risco aparece. O PSDB deve desembarcar do governo assim que perceber que Temer não cai. Contraditório? Não. Apoairá o que sobrar das reformas no Congresso mas se distanciará do “contágio do impopular”. Este jogo vai sendo conduzido pela dupla Alckmin-Doria. A esquerda grita “Diretas!”. Mas quem seria o candidato agora? Mandato tampão? Antecipação? Lula deu a linha no Congresso do PT, “as eleições....de 2018 já estão aí, vamos nos preparar”. A “Aliança do Coliseu”, ao tentar jogar todos aos Leões, conseguiu outra proeza, unificou o mundo político no “Fica Temer Fraco”, apesar das “aparências” sinalizarem o contrário.
3 – A Batalha Final - Derrotada, a “Aliança” irá ampliar sua ofensiva. Novos fatos podem surgir. Agora, o que de mais grave pode aparecer que uma gravação do presidente com um empresário corrupto confesso e um asessor seu correndo com uma mala lotada de dinheiro? Vitorioso no TSE, Temer irá se preparar para a batalha final. Seu próximo ato deve ser a troca do Diretor Geral da Polícia Federal. Seu foco agora será demonstrar força ao Congresso. Assumir o comando da PF é um belo sinal. O PGR solicitará ao STF abertura de processo contra Temer. Para seguir com o processo, necessitará de autorização do Congresso. Quem vocês acham que os deputados irão escolher? O MPF, que toda semana denuncia ou tenta prender um parlamentar, ou Temer que lhes dirá que já controla a PF e que indicará o sucessor de Janot em setembro, assumindo o controle da PGR?
4 – As Vinganças - Derrotada a denúncia no STF, a indicação do novo PGR terá um gosto especial para Temer. Mantido no poder, o presidente passará a fazer parte do passado, deixando de ser pauta do jogo estratégico. Derrotada no seu plano original, a criminalização da política, capaz de dar-lhe condições de, sozinha, ungir um “Novo Collor”, a Globo tentará recompor suas relações com São Paulo com o objetivo de impedir a candidatura de Lula. O ex-presidente, que anda meio “fora da pauta Global”, voltará com tudo. Uma onda de revanchismo e divisão deve continuar no país. Algumas “caçadas” já estão anunciadas. Joesley, Janot e Fachin não deverão ter vida fácil. “Acertos de contas”, nos diversos setores da burocracia estatal e entre os poderes, continuarão. As feridas na Democracia ainda levarão longo tempo para cicatrizar.
* Secretário Chefe da Representação no DF do Estado do Maranhão.
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Pitacos deste blogdoorro:
Faz muito sentido essa análise do Ricardo Cappelli.
Acredito que o Brasil, antes de começar a melhorar ainda vai ter uma "piora boa", como na anedota do médico preocupado em não apavorar a família ao informar sobre o estado do paciente internado.
Isso não é pessimismo, e sim um reconhecimento da dinâmica inerente ao tal do golpe: pode-se ver quando e com quem ele começa.
Mas por onde trilhará e como e quando findará, quem há de saber?
Como ele tem registrado em suas postagens no facebook, o acúmulo de forças pro-democracia (restauração) já conta com movimentos importantes:
- o racha no consórcio golpista;
- o início, ainda lento, do "caindo a ficha", uma movimentação para o campo da oposição a Temer de forças sociais que haviam respaldado o golpe de 2016;
- o crescimento das mobilizações por soluções democráticas e em defesa de direitos (atos, greve geral), que precisam ser ampliados radicalmente.
Dia 30/junho: nova greve geral, ótima forma de luta para que o componente POVO venha a ter papel cada vez mais decisivo no deslinde da luta política, que não pode ficar só na mão dos políticos.
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