Claudia Dutra: Machismo de Gentili é um preconceito de gênero que atinge também Eliana, namorada, mãe e avó
01 de junho de 2017 às 07h01
Alienação, Preconceito e Machismo
por Claudia Pereira Dutra, especial para o Viomundo
Meu desejo era logo encontrar uma forma de manifestar a inquietação diante dos comunicadores de ódio que proliferam preconceitos, injúrias, discriminações e violências nas redes sociais e programas de televisão, como fez o apresentador Danilo Gentili, que gravou um vídeo contra a deputada Maria do Rosário reagindo à notificação da Procuradoria da Câmara dos Deputados e esfregou o documento na própria genitália, esbravejando “eu decido se você cala ou não a boca, nunca o contrário”.
Uma inquietação porque o ódio provoca ferimentos, faz mal e seus protagonistas organizam suas falas em função de exorcizar poderes de dominação.
O apresentador usa uma engenhosa maquinaria de palavrões classificados de humor para reproduzir os sistemas de exclusão que inferiorizam e ditam posições de submissão à determinados grupos sociais.
Entretanto, o antídoto para inibir práticas odientas é a produção de outras práticas discursivas que traduzam aquilo pelo que lutamos e o que desejamos construir.
Em um processo articulado, Gentili já comparou a posse da presidenta Dilma Rousseff, reeleita em 2014, à “posse dos porcos”, também ironizou uma publicação da presidenta com a expressão “vai se fude” e se referiu a senadora Regina Sousa (PT/PI) como a “tia do café”.
Seu discurso transita entre a ironia e a intolerância para dizer com o “não dito” que as eleições são uma brincadeirinha das elites e que os pobres podem participar, mas não podem vencer e, muitos menos, festejar.
Os comportamentos machistas permeiam nosso cotidiano e muitos não percebem como um comediante usa palavras e os gestos ofensivos camuflados na piada para reforçar o racismo e a misoginia.
Esse tipo de humor manifesta a repulsa à participação das mulheres e de negros e negras na política, estimulando repudiar presidenta, senadoras, deputadas.
Ou seja, mulheres que quebrem a hierarquia entre os sexos, que subvertem a ordem da subserviência, da condição das mulheres ao nível do objeto, afeita aos serviços domésticos, entre outras formas de limitação as quais se vinculam o estupro, a violência doméstica, a restrição econômica.
Ao protagonizar o tal vídeo fascista que ataca a deputada, o dito comediante decidiu incrementar a sua biografia de garoto mimado, branco, machista, racista e alienado.
Além de revelar ignorância sobre a base da representação política do sistema democrático e invocar um suposto poder de calar a parlamentar, uma autoridade constituída por delegação popular, o apresentador extravasa sua alienação e estupidez, reproduzindo um pensamento machista e retrógrado de quem não acompanhou uma das grandes revoluções do século XIX, o movimento feminista.
Sua compreensão das relações de gênero equivale à do golpista Michel Temer que, em pleno século XXI, atribui às mulheres a economia doméstica, sua mentalidade é moldada por fascistas como Jair Bolsonaro que fazem apologia à tortura e ao estupro e, dessa mistura, sua comédia disfarçada inferioriza as mulheres apoiando-se na ideia de masculinidade vinculada à agressividade e virilidade, onde se originam diversas violências de gênero.
Não há o que rir de um machista e sim o que lamentar e questionar o machismo que persiste na família, na escola, no trabalho, na política, na mídia e em toda dinâmica social que insiste criticar o carácter forte de mulheres independentes, insubmissas e enfáticas.
Ao agredir mulheres representativas no executivo e no parlamento, o apresentador nega sua presença nos espaços de poder político, desprestigia sua liderança e seu conhecimento. Essa é uma artimanha de controle que tenta colocar mordaça nas mulheres, diminuir sua autonomia e restringir suas opiniões.
Um preconceito de gênero que atinge todas as mulheres.
Claudia Pereira Dutra é professora e ativista de Direitos Humanos
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