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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Por que a elite acaba com a democracia quando os trabalhadores começam a melhorar de vida?

PARAR O BRASIL E DIRETAS JA
A luta contra as reformas e por Diretas remete ao período de 1985, quando o consenso era restabelecer a democracia após 21 anos de ditadura empresarial e militar para ganhar direitos
por Redação RBA publicado 25/06/2017 19h51
REPRODUÇÃO/CTB
diretas já.png
Carlos Roberto Horta, da UFMG: Temos de conquistar essas diretas, que depende de emenda constitucional
São Paulo – Na próxima sexta-feira (30), as centrais sindicais estarão nas ruas mais uma vez para pedir eleições Diretas Já e repudiar as reformas trabalhistas, que inclui a terceirização já aprovada, e da previdência, em curso no governo de Michel Temer (PMDB).
A luta contra as reformas e por Diretas remete ao período de 1985, quando o consenso na classe trabalhadora era restabelecer a democracia após 21 anos de ditadura empresarial e militar.
O paralelo entre os dois períodos históricos – a saída do autoritarismo e a atual ameaça de retorno a ele, por meio do eleição indireta e do avanço da perda de direitos – está na fala de especialistas ouvidos pelo programa Extra-Classe Greve Geral e Diretas Já, produzido pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais.
Em sua participação, o professor de Ciência Política da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) destaca que o Brasil vive governado por empresas, e não por políticos. E que, embora se fale pouco a respeito, a corrupção começa com o patrão. 
"O patrão corrompe o político e rouba do povo o direito de ser representado por um politico", diz.
Horta lembra ainda a falta de discussão de saídas para crise do financiamento da Previdência, que é usada como argumento para as reformas. "Ninguém fala a respeito de imposto sobre grandes fortunas e muito menos sobre as dívidas astronômicas de bancos e empresas, como a JBS. Por que não forçam primeiro o pagamento dessas dívidas antes de falar em tirar direitos da classe trabalhadora?"
Participam ainda a advogada Hellen Hazan, da Associação Mineira de Advogados Trabalhistas. Ela lembra que “estamos sendo governados por empresas que têm um programa de desmonte total de direitos”. Com isso, acrescenta, “a jornada poderá ser de 12h a 16h por dia, 15 minutos de almoço, não vai ter 13º salário, entre outras barbaridades."
Já Jorge Souto Maior, professor de Direito Trabalhista da Universidade de São Paulo, afirma que a terceirização ilimitada só pode trazer “maior sofrimento à classe trabalhadora, além de piorar o nível de emprego, precarizando as relações de trabalho”.
registrado em: reforma da previdência reforma trabalhista michel temer terceirização diretas já democracia parar o brasil greve geral centrais sindicais imposto sobre grandes fortunas
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Entrevista com o sociólogo Jessé Souza

CartaPlay


https://youtu.be/WsrLfa_kRpE
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Vice Media (EUA/Canadá) compra a Globo


Independência ou morte!

Bandeira.jpg
​O Conversa Afiada reproduz artigo do professor Pedro Augusto Pinho, por sugestão do Gustavo Santos.​
Meu inteligente leitor certamente já se questionou algumas vezes: por que um país tão rico em recursos naturais, com tão expressivas massa continental e população, não é uma potência, como os Estados Unidos da América (EUA), ou a Federação Russa (Rússia, que o golpista presidente chama República Soviética da Rússia), ou a República Popular da China (China)?

Não há só uma razão, como é óbvio. Mas entre as mais significativas, no meu entender, está a permanente ausência de um projeto político da construção da cidadania brasileira! Aliás deveríamos até enfatizar que, na preocupação das elites, dos detentores do poder, sempre se buscou o inverso: desconstruir nossa identidade nacional, promover o “vira-latismo”, o desprezo ou a vergonha por sermos brasileiros.

Recordemos que a construção da cidadania, no entendimento de pensadores contemporâneos – como Pierre Bourdieu, Nancy Fraser, Charles Taylor e tantos outros – se dá com a educação, iniciada já no berço e que se prolonga por toda vida. Não é este adestramento meritocrático, que provoca maior discriminação, mas a consciência de si mesmo e, por consequência, de seus humanos semelhantes. É a educação da autonomia, da liberdade, de que trata Paulo Freire, ou, também, dos saberes, como descreve Boaventura de Sousa Santos. Esta educação começa na formação da identidade. Se não sei quem sou, se não tenho meus referenciais étnicos, sociais, nacionais, o que serei então? Um boneco, um robô produtivo para outro?

Esta educação da “escola sem partido” tem, na verdade, um partido. E ele nem é um partido nacional, mas uma ameaça que paira hoje sobre todas as nações: a ditadura da banca (o sistema financeiro que se denomina nova ordem mundial). E aliada e cúmplice da banca, que a oculta e se opõe a tudo que lha combata, está a grande mídia. Esta mídia cada vez mais monopolizada, que estudos sobre a comunicação social revelam estar nas mãos de meia dúzia de megagrupos. Ela não é instrumento de informação, muito ao contrário, constitui-se em veículo de doutrinação. A quem se interessar pelo assunto recomendo o trabalho do brasileiro Maximiliano Martin Vicente, “História e comunicação na nova ordem mundial” (UNESP, SP, 2009).

Vejamos, agora, a matéria publicada em The Wall Street Journal (edição on line, 22/06/2017) de Lukas I. Alpert, com o significativo título: "VICE MEDIA assina contrato com Grupo GLOBO do Brasil”.

Primeiro devemos saber o que é Vice Media. De origem canadense, esta empresa se transferiu para os EUA, em 2001, e passou a contar com acionistas como The Walt Disney Company, Hearst Corporation e associação com a 21st Century Fox, de Rupert Murdock, entre outros grupos de empresas voltadas para a comunicação de massa. Tanto que, a Vice também possui a revista Vice, a rede Viceland (TV a cabo), a Vice Music, detentora de diversos selos (labels), a Vice Films, a Vice Book e a “Vice Guide to Everything”, que promete levar a você “uma abordagem nova, mais condensada e divertida da notícia” (!). Entendeu?

Talvez a Globo, como nas pichações no Rio de Janeiro, em 1964 – Chega de intermediários, Lincoln Gordon para presidente –, tenha deixado de ser a porta-voz para ser do próprio dono da voz: o sistema financeiro internacional, a banca.

Não me surpreenderia ler que a Som Livre também contratasse (sic) a Vice Music, o o Jornal Nacional assumisse ser a versão brasileira da Vice Guide to Everything.

Pronto, a maior rede de comunicação do Brasil passa a ser no Brasil.

Vamos para as consequências, que ultrapassam, e em muito, as simplesmente jurídicas, econômicas, trabalhistas. Elas atingirão ainda mais fortemente a desconstrução da própria nacionalidade. O que a banca, nesta fase de sua dominação planetária, está fazendo é destruir os Estados Nacionais. Tem dúvida? Veja, fora das mídias da banca, o que está acontecendo na Líbia, no Iraque, no Paquistão, na Ucrânia, na União Europeia (em andamento), na Síria (sangrenta tentativa) e a razão da maior onda migratória, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), desde sua criação. Na América do Sul, a banca ataca a Venezuela, onde está a maior reserva de petróleo conhecida, e o Brasil, que além da Amazônia, do nióbio, das terras produtoras de alimentos, também tem a Arábia Saudita em petróleo submarino, o pré-sal.

A educação não se dá apenas na sala de aula. Ela se dá no ambiente em que o jovem frequenta, em sua casa e, cada vez mais, nas redes de comunicação. Ao dominar a comunicação de massa, uma potência domina o presente e o futuro de uma nação. O jovem formada pela Vice Media é, inexoravelmente, o coxinha de amanhã, o alienado suicida que destrói seu país, sua identidade nacional, sem ganhar qualquer outra.

Sem receio, pois se trata de uma colônia, The Wall Street Journal (WSJ) afirma que o foco deste contrato é a atuação sobre a juventude, como pretende a Vice Media. E que espera alcançar 53 milhões de “doutrinados” (viewers), nos canais da Globosat, e, “eventualmente, criar um canal próprio da Viceland”. Também antevê uma expansão das “operações da Vice” no Brasil, mais intensamente fora do eixo São Paulo - Rio de Janeiro.

Meus prezados leitores, não basta o Fora Temer e o Diretas Já, temos que ir às ruas clamando: Independência ou Morte!

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
Postado por Unknown às 05:09 Um comentário:
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sábado, 24 de junho de 2017

Internet: robôs usados pelo PSDB em 2014 agora servem à Lava Jato

Portal Vermelho

A Universidade de Oxford publicou recentemente uma série de estudos sobre "propaganda política computacional", incluindo um documento (pdf) de cerca de 40 páginas sobre o Brasil. Segundo ele, os bots - sistemas automatizados que imitam o comportamento de usuários em redes sociais - são "determinantes" nos grandes eventos da política brasileira desde 2014.

O estudo divulgado no dia 19 de junho pela Universidade de Oxford, Reino Unido, detalha como a política brasileira foi influenciada por bots na internet. Caso não saiba, bots são programas ou dispositivos que agem de maneira autônoma na internet — por exemplo, existem bots de contas falsas nas redes sociais, um dos pontos-chave nessa pesquisa.

Chamado de "Propaganda computacional no Brasil: Bots sociais durante as eleições", o estudo do especialista em cibersegurança Dan Arnaudo, da Universidade de Washington, mostra alguns dados: o PSDB gastou cerca de R$ 10 milhões em bots em Facebook, Twitter e WhatsApp durante a corrida eleitoral de Aécio Neves no final de 2014. Após a derrota para Dilma Roussef, os bots do PSDB continuaram agindo, porém foram reprogramados para divulgar o conteúdo de páginas como "Revoltados ON LINE" e "Vem Pra Rua". No caso, o estudo diz que o Revoltados ON LINE contava com 16 milhões de bots do PSDB, enquanto o Vem Pra Rua tinha 4 milhões.

Na mesma época da corrida eleitoral, o PT também utilizou bots pró-Dilma Rousseff na internet. Contudo, "em uma escala muito menor". Enquanto os bots do PSDB alcançavam cerca de 80 milhões de pessoas, os bots do PT ficavam nos 22 milhões. O estudo ainda comenta que, após o fim das eleições, os bots comprados pelo PT foram encerrados em sua maioria — e algumas contas apenas replicavam programas do governo.

"Após a eleição, todos os servidores e bots da campanha de Dilma foram desligados ou foram trabalhar para a presidente, o que significa que eles tinham regras a seguir, já que estava operando para o gabinete. Enquanto isso, os outros bots [PSDB, Aécio, Revoltados e Vem Pra Rua] não tinham regras a seguir", disse um pesquisador brasileiro citado no estudo.

O resultado disso foi que, no início do mandato de Dilma em 2015, enquanto as mensagens do partido do governo atingiam cerca de 20 milhões de pessoas, as mensagens contrárias a ela chegavam a mais de 80 milhões. O estudo atribui essa diferença ao investimento dos partidos de oposição em bots e contas falsas dedicadas a replicar mensagens contrárias ao governo, operando sob leis muito mais lenientes do que aquelas que regiam as comunicações presidenciais.

A pesquisa ressalta os problemas que leis frágeis em torno do uso de ferramentas digitais em campanhas eleitorais podem gerar. Ela também mostra uma estratégia adotada pela campanha do PSDB, de usar bots do WhatsApp para inflamar outras pessoas a se manifestar pelo Facebook e pelo Twitter. Documentos da campanha do partido indicam, segundo o estudo, que a quantidade de dinheiro necessária para mobilizar grandes quantidades de usuários em diversas plataformas sociais é relativamente pequena.

Mas por que partidos contratam bots? Ora, os bots têm a capacidade de perpetuar uma ideia pela internet e angariar novos aliados aos partidos. Além disso, os números de apoio são inflados e, com isso, acabam captando até eleitores indecisos.

Isso tem o efeito de desvirtuar debates políticos entre usuários humanos e "inflar" números de apoio a determinadas ideias ou pessoas. Com isso, candidatos ou medidas que seriam consideradas inviáveis podem acabar, ilusoriamente, sendo levadas a sério. No estudo referente aos EUA, os pesquisadores ressaltam que "a ilusão de apoio por um candidato pode gerar apoio de fato por meio de um efeito de manada. Trump fez do Twitter o palco principal nessa eleição, e os eleitores prestaram atenção". 

Um pesquisador ouvido pelo Guardian ressalta também que os bots "multiplicam massivamente a habilidade de uma pessoa em manipular outras". "Imagine que seu amigo chato do Facebook que sempre entra em discussões políticas tivesse um exército de 5.000 bots. Seria muito pior, não?"

O papel de junho de 2013


Foi em junho de 2013 que “autoridades” de direita surgiram pela primeira vez como mobilizadoras na internet. “A partir do dia 17, que foi quando rolou aquela pancadaria, junho já estava em disputa. A análise da rede deles mostra que quem estava chamando era gente na raiz dessa direita”, explica Sérgio Amadeu, especialista em monitoramento e intervenção digital, em entrevista à Agência Pública. Entre as páginas que conseguiram atrair grande repercussão em seus posts, estudadas pela Interagentes, já aparecem nomes como A Verdade Nua e Crua, o Movimento Contra a Corrupção (MCC) e Quero o Fim da Corrupção – além do Anonymous Brasil, grupo que, diferentemente do movimento internacional, no Brasil propaga bandeiras de direita. “O discurso da direita manteve-se estável desde então”, diz Amadeu. “A direita gostou da rua”, complementa Tiago Pimentel, também da Interagentes. Páginas que propagam a luta contra a corrupção, como o MCC, cresceram exponencialmente durante os protestos. Aberta no começo de 2010, a fanpage do MCC no Facebook tinha angariado alguns milhares de fãs até o início de 2013. Hoje, ela tem mais de 1,4 milhão. Em maio, um post propondo “Joaquim Barbosa para presidente em 2108” obteve mais de 124 mil compartilhamentos.

Hoje, a página do MCC no Facebook é um dos perfis mais influentes da rede conservadora, assim como o site Folha Política, ao qual é ligada. O site, que se diz de “jornalismo independente”, é especialista em usar o sensacionalismo como arma para fabricar “fatos” que, de tanto serem repetidos, passa a ser vistos como verdade. “Ministro de Dilma confessa a jornalista da Veja que PT quer promover guerra civil no país”, diz um vídeo postado no site. “Lula comemora e debocha da demissão de centenas de trabalhadores, revoltando internautas” é o título de outro vídeo, proveniente do canal de YouTube Ficha Social – o mesmo que tornou famoso Kim Kataguiri, a “cara pública” do Movimento Brasil Livre.

Tanto o site do MMC (contracorrupcao.org) quanto o Folha Política foram abertos pelo bacharel em direito pela USP Ernani Fernandes Barbosa Neto, segundo revela uma pesquisa avançada de DNS. É impossível descobrir quem registrou os sites através de uma pesquisa simples de domínio (Whois), porque todos pagam para ter os dados do fundador mantido em privacidade. Porém, o email de Ernani Fernandes aparece como administrador do servidor principal de todos esses sites em pesquisas feitas com ferramentas como a “dig”, que pode ser consultada no site digwabinterface. (veja aqui e aqui).

Ernani também aparece como administrador de outros sites antigovernistas que foram criados entre o começo de 2013 e o final de 2014, como Política na Rede (criado em 6 de agosto de 2013, tem quase 400 mil fãs no Facebook), Folha do Povo (criado em 26 de dezembro de 2013, tem mais de 93 mil mil seguidores no Facebook), Humor 13 (Criado em 30 de janeiro de 2014, conta com mais de 364 mil curtidas na fanpage) e Correio do Poder (Criado em 7 de setembro de 2014, tem mais de 55 mil seguidores).

Ainda em 2013, ele começou uma parceria com João Almeida Vitor Lima, o “João Revolta”, segundo uma entrevista dada por este ao canal Youpix. Procurado por email pela reportagem, Ernani não respondeu à mensagem.

Formado em Rádio pela Faculdade de Belas Artes, João Revolta credita à parceria com Ernani Fernandes o crescimento do seu canal do Youtube, que hoje conta com mais de 38 mil inscritos, 3,5 milhões de seguidores no Facebook e uma produção para lá de intensa – e cara. Ernani dirigiu e fez o roteiro de uma série de vídeos do TV Revolta, enquanto dirigia também vídeos do canal Confronto Entrevistas no Youtube, uma espécie de “talk show” que tinha João Almeida como apresentador. Boa parte da produção conjunta, no entanto, não pode ser mais acessada, pois o canal original TV Revolta foi suspenso do Youtube em março de 2014 depois de diversas denúncias de usuários. Pouco depois, estava no ar o Canal TV Revolta. Durante as eleições, João aumentou significativamente as postagens no seu site tvrevolta.com.br: em vez de 2 ou 3 posts, como costuma fazer, ele conseguiu postar 20 novos posts a cada mês, sempre com base em vídeos – a grande maioria produzidos pelo canal Ficha Social. Seu último vídeo próprio, criticando a entrevista de Dilma a Jô Soares em 12 de junho deste ano, foi assistido por mais de 500 mil pessoas. 

Para alcançar tamanha popularidade, a página da TV Revolta no Facebook apela aos temas que viralizam. Um post com diversas fotos de cachorros em que estava escrito “vira-latas não são lindos, feio é o seu preconceito” chegou a ter 21 mil compartilhamentos e 77 mil curtidas. Além dos ataques pessoais centrados em Dilma e Lula, posts satíricos contra a Copa, críticas à TV Globo, imagens de autoajuda, citações filosóficas e campanhas pelo direito dos animais também estão entre as postagens que fizeram dela um fenômeno nas redes. “A filosofia de João Revolta é usar a linguagem informal para atrair o telespectador. Para representar a raiva, João Revolta usa uma mesa e diferentes artefatos, usados para quebrar objetos durante a gravação dos vídeos”, explicou João Almeida na entrevista ao Youpix. “O objetivo do canal TV Revolta e da página TV Revolta no Facebook sempre foi e sempre será dar voz ao povo ignorado pelas mídias tradicionais.”

Como muitas “sub-redes” ou clusters, as páginas ligadas a João Almeida e Ernani Fernandes ganharam proeminência ainda maior durante a eleição, tendo sido fundamentais nos movimentos pós-eleição. A Pública entrevistou jornalistas que trabalharam nas três campanhas e especialistas em marketing digital, além dos coordenadores das três principais campanhas à Presidência, para ouvir sua avaliação daquela que ficou conhecida como a campanha mais agressiva nas redes.

Mais casos e vendas

Uma das companhias que vendem esse serviço, chamada de "Brasil Liker", vende curtidas em páginas no Facebook: são 50 likes por R$ 4,99 e 3 mil likes por R$ 200. Já para posts, a conta é R$ 90 por 10 mil curtidas. Agora, imagine o preço de um serviço automatizado e que une as três principais redes utilizadas por brasileiros — R$ 10 milhões? Uma pessoa que trabalhou na campanha do PSDB disse operar mais de 250 contas diferentes para reproduzir mensagens favoráveis ao candidato e desfavoráveis à sua adversária.

As eleições municipais do Rio de Janeiro também contaram com bots. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, uma rede com 3,5 mil contas falsas no Twitter atacavam diretamente o candidato Marcelo Freixo (PSOL) postando 100 ou mais vezes por hora. O candidato contrário e atual prefeito, Marcelo Crivella (PRB), negou a conexão com os botnets.



Gráfico mostra repercussões no Twitter de debate televisivo de candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro.


"A tática de propaganda computacional usada durante as eleições de 2014 não parou após a eleição da ex-presidente Rousseff. Esses métodos foram usados para engajar pessoas em grupos opositores tanto à presidente quanto ao partido da presidente, o que aumentou os pedidos por impeachment, sendo concretizado em outubro de 2016", diz o estudo.

Um estudo realizado pela USP em protestos contra e a favor do governo mostrou que os dois lados foram pesadamente influenciados por notícias falsas. Entre os apoiadores do impeachment, por exemplo, 64% disseram acreditar que o PT queria implementar um regime comunista. Os fatos, segundo o estudo, eram "demonstravelmente falsos", mas ajudaram a mobilizar os manifestantes. "Não há dúvida de que as redes sociais tiveram um papel crucial em criar essa narrativa e organizar os protestos. Os bots tiveram um papel na paisagem online desde o começo, e nunca pararam sua oposição eletrônica à sua administração, possivelmente um fator determinante na agilidade de sua suspensão", diz o estudo. 

Abaixo, resultado parcial de pesquisa feita durante manifestações de opositores ao governo Dilma na Avenida Paulista:


Conclusões

O levantamento conclui que a legislação brasileira é insuficiente para lidar com os casos de propaganda política computacional. "Embora a lei proíba qualquer propaganda eleitoral a três meses da eleição, isso é extremamente difícil de se controlar [na era digital]", diz o documento. 

Além disso, ele sugere também que o uso massivo de bots para fins políticos tem continuado ao longo das investigações da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. E ressalta que "propaganda política computacional terá um papel ainda maior nas eleições nacionais de 2018".

Outro dado interessante levantado pelo documento é o de que a agência de consultoria política responsável pelas campanhas bem-sucedidas a favor de Donald Trump e da saída do Reino Unido da União Europeia está investindo no Brasil, tendo aberto um escritório em São Paulo. 

Para finalizar, Dan Arnaudo, neste estudo da Universidade de Oxford, comentou o seguinte:
"Certamente, depois de anos de escândalos, a sociedade brasileira está examinando a reforma do seu sistema político. Em maio de 2017, com o alargamento do escândalo Lava Jato, a polícia lançou uma gravação do presidente Michel Temer organizando subornos para Cunha, ex-chefe do Senado preso, e com o chefe das maiores empresas de embalagem de carne no mundo (GREENWALD, 2017). As fitas levaram a um novo processo de impeachment (...) O Brasil, novamente, parece perto de um cataclismo político. O destino do governo não está claro, mas tudo isso demonstra que o desenvolvimento rápido da propaganda computacional desempenhará um papel crescente nas próximas eleições nacionais em 2018, o potencial impeachment e os processos políticos mais profundos que ainda não foram revelados."
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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Jessé Souza: “A classe média é feita de imbecil pela elite”

23 de Junho de 2017 - 14h40 

portal Vermelho 


Os extratos médios, diz o sociólogo, defendem de forma acrítica os interesses dos donos do poder e perpetuam uma sociedade cruel forjada na escravidão.

Por Sergio Lirio


 
Em agosto, o sociólogo Jessé Souza lança novo livro, A Miséria da Elite – da Escravidão à Lava Jato. De certa forma, a obra compõe uma trilogia, ao lado de A Tolice da Inteligência Brasileira, de 2015, e de A Ralé Brasileira, de 2009, um esforço de repensar a formação do País.

Neste novo estudo, o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada aprofunda sua crítica à tese do patrimonialismo como origem de nossas mazelas e localiza na escravidão os genes de uma sociedade “sem culpa e remorso, que humilha e mata os pobres”. A mídia, a Justiça e a intelectualidade, de maneira quase unânime, afirma Souza na entrevista a seguir, estão a serviço dos donos do poder e se irmanam no objetivo de manter o povo em um estado permanente de letargia. A classe média, acrescenta, não percebe como é usada. “É feita de imbecil” pela elite.

CartaCapital: O impeachment de Dilma Rousseff, afirma o senhor, foi mais uma prova do pacto antipopular histórico que vigora no Brasil. Pode explicar?
Jessé Souza: A construção desse pacto se dá logo a partir da libertação dos escravos, em 1888. A uma ínfima elite econômica se une uma classe, que podemos chamar de média, detentora do conhecimento tido como legítimo e prestigioso. Ela também compõe a casta de privilegiados. São juízes, jornalistas, professores universitários. O capital econômico e o cultural serão as forças de reprodução do sistema no Brasil.

Em outra ponta, temos uma classe trabalhadora precarizada, próxima dos herdeiros da escravidão, secularmente abandonados. Eles se reproduzem aos trancos e barrancos, formam uma espécie de família desestruturada, sem acesso à educação formal. É majoritariamente negra, mas não só. Aos negros libertos juntaram-se, mais tarde, os migrantes nordestinos. Essa classe desprotegida herda o ódio e o desprezo antes destinados aos escravos. E pode ser identificada pela carência de acesso a serviços e direitos. Sua função na sociedade é vender a energia muscular, como animais. É ao mesmo tempo explorada e odiada.

CC: A sociedade brasileira foi forjada à sombra da escravidão, é isso?
JS: Exatamente. Muito se fala sobre a escravidão e pouco se reflete a respeito. A escravidão é tratada como um “nome” e não como um “conceito científico” que cria relações sociais muito específicas. Atribuiu-se muitas de nossas características à dita herança portuguesa, mas não havia escravidão em Portugal. Somos, nós brasileiros, filhos de um ambiente escravocrata, que cria um tipo de família específico, uma Justiça específica, uma economia específica. Aqui valia tomar a terra dos outros à força, para acumular capital, como acontece até hoje, e humilhar e condenar os mais frágeis ao abandono e à humilhação cotidiana.

CC: Um modelo que se perpetua, anota o senhor no novo livro.
JS: Sim. Como essa herança nunca foi refletida e criticada, continua sob outras máscaras. O ódio aos pobres é tão intenso que qualquer melhora na miséria gera reação violenta, apoiada pela mídia. E o tipo de rapina econômica de curto prazo que também reflete o mesmo padrão do escravismo.

CC: Como isso influencia a interpretação do Brasil?
JS: A recusa em confrontar o passado escravista gera uma incompreensão sobre o Brasil moderno. Incluo no problema de interpretação da realidade a tese do patrimonialismo, que tanto a direita quanto a esquerda, colonizada intelectualmente pela direita, adoram. O conceito de patrimonialismo serve para encobrir os interesses organizados no chamado mercado. Estigmatiza a política e o Estado, os “corruptos”, e estimula em contraponto a ideia de que o mercado é um poço de virtudes.

CC: O moralismo seletivo de certos setores não exprime mais um ódio de classe do que a aversão à corrupção?
JS: Sim. Uma parte privilegiada da sociedade passou a se sentir ameaçada pela pequena ascensão econômica desses grupos historicamente abandonados. Esse sentimento se expressava na irritação com a presença de pobres em shopping centers e nos aeroportos, que, segundo essa elite, tinham se tornado rodoviárias.

A irritação aumentou quando os pobres passaram a frequentar as universidades. Por quê? A partir desse momento, investiu-se contra uma das bases do poder de uma das alas que compõem o pacto antipopular, o acesso privilegiado, quase exclusivo, ao conhecimento formal considerado legítimo. Esse incômodo, até pouco tempo atrás, só podia ser compartilhado em uma roda de amigos. Não era de bom tom criticar a melhora de vida dos mais pobres.

CC: Como o moralismo entra em cena?
JS: O moralismo seletivo tem servido para atingir os principais agentes dessa pequena ascensão social, Lula e o PT. São o alvo da ira em um sistema político montado para ser corrompido, não por indivíduos, mas pelo mercado. São os grandes oligopólios e o sistema financeiro que mandam no País e que promovem a verdadeira corrupção, quantitativamente muito maior do que essa merreca exposta pela Lava Jato. O procurador-geral, Rodrigo Janot, comemora a devolução de 1 bilhão de reais aos cofres públicos com a operação. Só em juros e isenções fiscais o Brasil perde mil vezes mais.

CC: Esse pacto antipopular pode ser rompido? O fato de os antigos representantes políticos dessa elite terem se tornado alvo da Lava Jato não fragiliza essa relação, ao menos neste momento?
JS: Sem um pensamento articulado e novo, não. A única saída seria explicitar o papel da elite, que prospera no saque, na rapina. A classe média é feita de imbecil. Existe uma elite que a explora. Basta se pensar no custo da saúde pública. Por que é tão cara? Porque o sistema financeiro se apropriou dela. O custo da escola privada, da alimentação. A classe média está com a corda no pescoço, pois sustenta uma ínfima minoria de privilegiados, que enforca todo o resto da sociedade. A base da corrupção é uma elite econômica que compra a mídia, a Justiça, a política, e mantém o povo em um estado permanente de imbecilidade.

CC: Qual a diferença entre a escravidão no Brasil e nos Estados Unidos?
JS: Não há tanta diferença. Nos Estados Unidos, a parte não escravocrata dominou a porção escravocrata. No Brasil, isso jamais aconteceu. Ou seja, aqui é ainda pior. Os Estados Unidos não são, porém, exemplares. Por conta da escravidão, são extremamente desiguais e violentos. Em países de passado escravocrata, não se vê a prática da cidadania. Um pensador importante, Norbert Elias, explica a civilização europeia a partir da ruptura com a escravidão. É simples. Sem que se considere o outro humano, não se carrega culpa ou remorso. No Brasil atual prospera uma sociedade sem culpa e sem remorso, que humilha e mata os pobres.

CC: Algum dia a sociedade brasileira terá consciência das profundas desigualdades e suas consequências?
JS: Acho difícil. Com a mídia que temos, desregulada e a serviço do dinheiro, e a falta de um padrão de comparação para quem recebe as notícias, fica muito complicado. É ridícula a nossa televisão. Aqui você tem programas de debates com convidados que falam a mesma coisa. Isso não existe em nenhum país minimamente civilizado. É difícil criar um processo de aprendizado.

CC: O senhor acredita em eleições em 2018?
JS: Com a nossa elite, a nossa mídia, a nossa Justiça, tudo é possível. O principal fator de coesão da elite é o ódio aos pobres. Os políticos, por sua vez, viraram símbolo da rapinagem. Eles roubam mesmo, ao menos em grande parte, mas, em analogia com o narcotráfico, não passam de “aviõezinhos”. Os donos da boca de fumo são o sistema financeiro e os oligopólios. São estes que assaltam o País em grandes proporções. E somos cegos em relação a esse aspecto. A privatização do Estado é montada por esses grandes grupos. Não conseguimos perceber a atuação do chamado mercado. Fomos imbecilizados por essa mídia, que é paga pelos agentes desse mercado. Somos induzidos a acreditar que o poder público só se contrapõe aos indivíduos e não a esses interesses corporativos organizados. O poder real consegue ficar invisível no País.

CC: O quanto as manifestações de junho de 2013, iniciadas com os protestos contra o reajuste das tarifas de ônibus em São Paulo, criaram o ambiente para a atual crise política?
JS: Desde o início aquelas manifestações me pareceram suspeitas. Quem estava nas ruas não era o povo, era gente que sistematicamente votava contra o projeto do PT, contra a inclusão social. Comandada pela Rede Globo, a mídia logrou construir uma espécie de soberania virtual. Não existe alternativa à soberania popular. Só ela serve como base de qualquer poder legítimo. Essa mídia venal, que nunca foi emancipadora, montou um teatro, uma farsa de proporções gigantescas, em torno dessa soberania virtual.

CC: Mas aquelas manifestações foram iniciadas por um grupo supostamente ligado a ideias progressistas...
JS: Só no início. A mídia, especialmente a Rede Globo, se sentiu ameaçada no começo daqueles protestos. E qual foi a reação? Os meios de comunicação chamaram o seu povo para as ruas. Assistimos ao retorno da família, propriedade e tradição. Os mesmos “valores” que justificaram as passeatas a favor do golpe nos anos 60, empunhados pelos mesmos grupos que antes hostilizavam Getúlio Vargas. Esse pacto antipopular sempre buscou tornar suspeito qualquer representante das classes populares que pudesse ser levado pelo voto ao comando do Estado. Não por acaso, todos os líderes populares que chegaram ao poder foram destituídos por meio de golpes.
 

 Fonte: Carta Capital
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quarta-feira, 14 de junho de 2017

33 anos do comício que mudou o Brasil.

Posted by marcusvinicius on junho 13th, 2017 , em seu blog.


No dia 15 de junho de 1983, era feito o primeiro comício pelas Diretas Já, que começou timidamente, um ano depois, 300 mil pessoas iriam à Praça Cívica exigir o direito de escolher pelo voto direto o presidente da República


A campanha das Diretas Já nos anos 1980 foram a maior mobilização cívica do Brasil, mais de dez milhões de brasileiros foram às ruas pedir a volta da democracia com o direito de votar para presidente e pela instalação de uma Assembleia Constituinte para dar ao país uma nova Constituição, pondo fim ditadura militar.

O primeiro passo dessa longa marcha que percorreu ruas e praças em todo país teve início em Goiânia, onde foi realizado no dia 15 de junho de 1983, o primeiro comício da campanha Diretas Já.

No dia 02 de março de 1983 o deputado Dante de Oliveira (PMDB/MT) apresentou no Congresso Nacional PEC nº 5 (Proposta  Emenda Constitucional), que ficou conhecida como a Emenda das Diretas.

 Sua intenção era devolver ao povo o direito de escolher pelo voto direto o presidente da República. A bancada do PMDB encaminhou à executiva nacional do partido documento com planos para campanha pelas diretas. Mas ficou a dúvida: onde seria o primeiro comício?

 O país ainda vivia sob o ordenamento jurídico da ditadura, entre outros a Lei de Segurança Nacional, que vedava a realização de atos contra o regime militar. Eleito para o seu primeiro mandato como governador de Goiás, Iris Rezende topou o desafio e no dia 15 de junho de 1983 foi realizado o primeiro comício, que naquele dia reuniu apenas 6 mil pessoas. Apesar de modesto, aquele primeiro comício foi significativo, pois rompeu o medo, enfrentando a ditadura convocando o povo para ir às ruas.


A partir de Goiânia a campanha pelas Diretas foi tomando corpo e foram realizados comícios em Terezina, Recife, Ponta Grossa e São Paulo. Ao todo foram 40 comícios que se seguiram de norte a sul do país. Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), União Nacional dos Estudantes (UNE) se somam a outras entidades e a uma frente partidária que reúne PMDB, PT e PDT realizando mobilizações pelo  Brasil.


Inflação e fome
Naquele ano de 1983 eram comuns os panelaços na Avenida Goiás e nas ruas centrais de outras capitais do país, mas ao contrário de 2016, não eram os ricos que batiam panelas, mas sim os pobres, nas passeatas contra a carestia promovidas pelas comunidades de base da igreja católica e militantes de movimentos comunitários e de partidos de esquerda.

Um dos personagens desta campanha, que seria eleito vereador em 1985 foi o “Geraldão da Bicicleta”, que percorria as ruas montado na sua magrela batendo panela contra a política econômica da ditadura. Naquele ano de 1983 a inflação chegou a extraordinária taxa 239%, o povo não tinha emprego e passava fome numa economia que vivia a “estagflação”: estagnação econômica com hiperinflação.


Novos líderes


Goiânia deu o pontapé para a mobilização cívica que tomaria conta do país e abriu espaço para novos personagens na politica. Líder do movimento “Pula Catraca”, Denise Carvalho era presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFG (Universidade Federal de Goiás nos anos de 1983/84.

Através do DEC “ Tempo de Unir”, Denise conduziu a luta do pula-catraca, onde os estudantes se recusavam a pagar a passagem, literalmente passando por cima da catraca do ônibus, num protesto que levaria à conquista do meio passe estudantil.

Em 1983 Denise participou da formação do  Comitê Goiano Pelas Eleições Diretas pra Presidente da República, que tinha a participação dos professores Silvio Costa (P/c do B), Darci Accorsi (PT), Cleuber Cardoso, do deputado estadual Tobias Alves (PMDB) e o estudante Osmar Pires (PC do B).


Darci seria eleito prefeito de Goiânia em 1985 (ganhou mas não levou) e em 1992. Em 1984 Denise foi  eleita presidente da UEE-GO (União Estadual dos Estudantes de Goiás). Seria eleita depois vereadora e deputada estadual por três mandatos No grande comício de 12 de abril  de 1984, falaria em nome dos estudantes.


Dez governadores


Nas eleições de 1982, foram eleitos os primeiros  governadores pelo voto direto, desde 1965.

.A oposição elegeu dez, dos 22 governadores de então. Em Goiás foi eleito Iris Rezende (PMDB), em Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB), no Rio de Janeiro, Leonel Brizola (PDT), em São Paulo, Franco Montoro (PMDB), no Paraná José Richa, no Pará, Jader Barbalho (PMDB), no Amazonas, Gilberto Mestrinho (PMDB), no Acre, Nabor Júnior (PMDB), no Mato Grosso, Wilson Martins (PMDB) e no Espirito Santo, Gerson Camata (PMDB).

 Foi a eleição destes dez governadores que permitiu a realização da campanha das diretas. A campanha das diretas é fruto da determinação de Tancredo Neves, que enfrentou os golpistas em 1954, como ministro de Getúlo Vargas e, em 1964, como líder do governo Goulart e em 1983 topou o desafio de fazer a marcha cívida pelas diretas.

Ao lado de Tancredo perfilaram-se todos os demais governadores de oposição que mobilizaram as forças políticas em seus estados em favor da volta da democracia.


A emenda das diretas foi à votação foi ganhando adesão popular.

De acordo com pesquisa feita naqueles dias pelo IBOPE, 84% da população brasileira era favorável à aprovação da emenda. O crescimento da mobilização popular assustou a ditadura.

Uma semana antes da votação da emenda Dante de Oliveira, marcada para o dia 22 de abril, o general presidente João Baptista Figueiredo decretou estado de emergência no Distrito Federal, em Goiânia e em onze municípios goianos, sendo eles do entorno da capital do país, como Anápolis, Luziania, Formosa, Cristalina, outros da estrada de ferro como Catalão, Pires do Rio, Ipameri e cidades consideradas estratégicas como Goianésia, Itumbiara e Jataí.

 A medida foi tomada, sobretudo após o comício do dia 12 de abril em Goiânia, que mobilizoiu 30% dos cerca de 800 mil habitantes que a capital tinha na época. Os militares se assustaram ao ver 300 mil pessoas nas ruas e decidiu isolar Brasília, evitando novas manifestações pró-Diretas e intimidar o Congresso Nacional. O direito de reunião foi suspenso e foi se estabelecida a censura aos noticiários de rádio e TV.


O presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, em discurso enérgico, condenou “o ato ditatorial que afronta a nação”. O presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, diz que “o governo assinou seu atestado de óbito”. Um dia antes de decretar as medidas de emergência, o governo havia apresentado uma emenda constitucional marcando eleições presidenciais para 1988. Ulysses rejeitou a proposição.


O grande comício

Segundo a ex-deputada Thelma de Oliveira, viúva do deputado federal Dante de Oliveira, “Jamais passou pela cabeça do Dante que a emenda se transformaria num fantástico movimento de massas”. Mas foi o que aconteceu. Goiânia, que deu o pontapé para os comícios que tomaram conta do Brasil, foi também a cidade que proporcionalmente colocou mais pessoas nas ruas.

O comício do dia 12 de abril, foi um dos último antes da votação da Emenda das Diretas. Pela importância de Goiânia, como a capital mais próxima de Brasília, o evento tratado como estratégico,e muito empenho foi feito para que tudo corre bem.


O jornalista Juscelino Kubstchek, o JK, é uma das testemunhas desta história. Em 1984 era repórter da Rádio Brasil Central (1270 AM) a mesma que em 1962 formou com a Rádio Guaíba a Rede da Legalidade, formada pelos governadores de Goiás, Mauro Borges (PSD) e do Rio Grande do Sul Leonel Brizola (PTB), cuja mobilização garantiu a posse do presidente João Goulart. JK conta que todo o aparato de comunicação do Estado, formado pela RBC, TV Brasil Central e os equipamentos de som do antigo Cerne (atual ABC) foram mobilizados para garantir ampla transmissão do evento para todo o Estado e todo o país, uma vez que as ondas médias da  RBC alcançavam todo o território nacional.

 “Naquele dia fiquei no palco, do lado esquerdo de Tancredo Neves, com equipamento da rádio transmitindo todo o discurso”, rememora.


Severo Gomes era da oposição sindical ao Sintel (Sindicato dos Telefônicos). Naquele dia do comício trabalhou arduamente na realização de novos cabeamentos para que houvessem linhas disponíveis para os realizadores do comício e da imprensa. “Trabalhei tanto que não fiquei no comício, mas sei que foi uma festa maravilhosa”, comenta.

 Ex-secretário de Finanças do Município o então estudante Geovalter Correia, chegou em Goiania em 1984 do território federal de Roraima, e já era militante pelas diretas. Ele conta que o que mais o impressionou naquele dia foi o discurso do jurista Paulo Brossard, que viria a ser ministro do Supremo Tribunal Federal. “Ele chamou a juventude a ir para as ruas para buscar de volta a liberdade que foi tomada pelos militares. Era o que os jovens queriam ouvir”, frisa.


Estudante de Estudos Sociais na Universidade Católica de Goiás, Luis Cesar Bueno era presidente do Centro Acadêmico foi para a Praça Cívica ao lado de estudantes da UCG e militantes do PT com faixas, bandeiras e folhetos impressos em mimiógrafos. “Foi um dia de muita efervescência. Os jovens acreditavam que podiam mudar o país e de fato, a mudança aconteceu, com a Constituinte em 1988 e as eleições diretas em 1989”, pontua. Luis Cesar engajou de fato na política, tendo sido eleito por duas vezes vereador e está agora no quarto mandato de deputado estadual.


Durval Mota, que era militante da ala do MDB autêntico, ocupou o Monumento das Três Raças com bandeiras do PMDB, do Brasil e das Diretas. Ex-presidente do Idago (Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás), Durval viria a ser um dos principais responsáveis pela demarcação da terra dos Calungas, nos municípios de Cavalcante e Monte Alegre.


Tarzan de Castro era deputado estadual pelo PMDB. Ele destaca naquele dia o discurso de Tancredo Neves: “Meus irmãos de Goiás, eu nunca me dou conta, se sou mineiro dentro de Goiás ou se sou goiano dentro de Minas Gerais. É que as divisas que nos separam são linhas convencionais, elas não conseguem deter a torrente de afeto, de estima, de respeito e admiração que nossos povos nutrem.

 Hoje nesta noite nesta praça, eu me orgulho de ser goiano pelo sentimento, porque eu vejo a minha gente em praça pública não se se curvando, não se acomodando e se rebelando. As eleições diretas são uma imposição da consciência democrática de nosso povo. Impedi-las é desrespeitar a nação. Impedi-las é profanar a nossa gente. Impedi-las é amesquinhar a dignidade cívica de nossos irmãos”.


Vitória na derrota


A Emenda das Diretas foi derrubada em votação na Câmara dos Deputados na noite de 25 de abril de 1984. Houve 298 votos a favor, 65 contra, 113 ausências e 3 abstenções. Por ser emenda constitucional, seria necessário a aprovação de dois terços da casa (320 votos). Com a derrota, por apenas 22 votos, a emenda nem sequer foi apreciada pelo Senado Federal. Apesar do resultado desfavorável no Congresso Nacional, o povo nas ruas já havia decretado o fim da ditadura. O fim do regime militar era irreversível.


A campanha das diretas rachou o PDS. A legenda da ditadura, que era chamado de “o maior partido do Ocidente”, cindiu-se e o seu presidente, o senador José Sarney, saiu da sigla formando o PFL juntamente com Marco Maciel (PE), Antônio Carlos Magalhães (BA) e Hugo Napoleão (PI). Esta nova legenda, formaria a Aliança Liberal com o PMDB de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. No dia 15 de janeiro de 1985, por 480 votos 72,4%), Tancredo Neves derrotou no colégio eleitoral o candidato da ditadura, o Paulo Maluf (PDS-SP), que teve 180 votos (27,3%).


No dia  5 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, que proclama no seu Art. 1º :
“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.


Aquele primeiro comício tímido em Goiânia, num certo 15 de junho de 1983, seria o responsável, cinco anos depois, por devolver o pais á democracia e dar ao Brasil uma constituição cidadã. Como disse, sabiamente o filósofo chinês Lao Tsé: “uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo”.



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