Não só a carne é fraca.

A questão da carne, tendo como foco a JBS, carece de alguns esclarecimentos em relação às notícias divulgadas:

(i) a JBS, assim como Odebrecht e outras grandes empresas nacionais, se beneficiaram dos investimentos da política implementada no Governo Lula para a consolidação econômica no mercado internacional. Aqui cabe um parêntese: sabe-se que o espírito do neoliberalismo fundamenta-se na constituição de grandes conglomerados econômicos, tendo por princípio a virtualização do Mercado e demonização do Estado; ou seja, o Mercado, sob o domínio de grandes conglomerados econômicos, passa a responder pela gestão das políticas patrimonialistas, destinando ao Estado uma função essencialmente reguladora. Portanto, quanto maior a representação dos países no número de conglomerados consolidados no mercado, maior o poder de participação nas decisões políticas internacionais;

(ii) a adoção política de investimentos do BNDS fez com que a JBS adquirisse a norte-americana Swift & Company em 2007 por US$ 225 milhões e a Smithffield Foods no ano seguinte. Em 2009 a JBS assumiu a operação de alimentos do Grupo Bertin, consolidando a sua posição como a maior produtora de carne do mundo. Hoje o grupo controla a Swift, Friboi, Maturatta, Seara, Cabana Las Lilas, Pilgrim´s, Gold Kist Farms, Pierce, 1855 e Big Frango;

(iii) os investimentos destinados à JBS responderam pelo expressivo aumento de suas contribuições nas campanhas políticas: doou 19,7 milhões de reais em 2006, 83 milhões em 2010 e 391,8 milhões em 2014. Embora vários candidatos de diferentes partidos tenham sido beneficiados, contribuiu, em 2014, para a vitória de Dilma Roussef, 12 senadores, 18 governadores e 190 deputados federais, tornando-a "perigosa" nas decisões governamentais.

Concluindo: a ascensão e consolidação econômica da JBS e suas relações com o poder, além da carga hereditária com a gestão petista e contrária aos interesses da oligarquia conservadora nacional, a operação da PF tem mais razões do que as divulgadas pela imprensa. Para os adeptos do neoliberalismo comandado pelo Tio Sam, nada melhor que aproveitar o momento para abrir espaço ao capital internacional, visando não só os interesses dessa estrutura dependente, como receber as bênçãos hegemônicas dos eternos algozes. Não só a carne é fraca, como toda essa estrutura que tem por objetivo leiloar o país em benefício próprio.

* do perfil do facebook de Valter Casseti