Portal Vermelho
6 de Janeiro de 2017 - 14h51
O ocidente e a parte do mundo que 'repercute' as explicações ocidentais vivem num mundo de ficção.
Vê-se facilmente por todos os lados que se examinem – nas supostas maquinações que os russos teriam 'urdido' para eleger Donald Trump presidente dos EUA; nas supostas armas de destruição em massa que Saddam Hussein não tinha e que seriam ameaça aos EUA (uma nuvem-cogumelo sobre cidades dos EUA; que Assad da Síria teria usado armas químicas contra o próprio povo; que o Irã teria programa de armas nucleares; que uns poucos sauditas enganariam todos os serviços secretos de EUA, UE e Israel, para aplicar a maior humilhação de toda a história à "única superpotência mundial" [no ataque às torres gêmeas que, para PCR é 'serviço interno' (NTs)], que a Rússia teria invadido a Ucrânia e poderia a qualquer instante invadir os países do Báltico e a Polônia; que a taxa de desemprego nos EUA é de 4,6%; que o superávit comercial da China em relação aos EUA seria efeito de manipulação da moeda chinesa; e por aí vai e a lista é imensa.
Em teoria, viveríamos uma era científica de informação, mas que bem poderia advir de tanta informação sempre falsificada e orquestradamente repetida? Dado que as notícias falsas distribuídas pelos presstitutos e presstitutas das mídia-empresas atendem a poderosos interesses privados e de grupos dentro do governo... como se pode saber o que é fato, sobre coisa alguma?!
Por exemplo, considerem o que todos os jornais dos EUA e todos os serviços do estado no país 'noticiam' e repetem sem parar, de que déficit da balança comercial dos EUA em relação à China seria efeito de os chineses manipularem a moeda, mantendo o yuan desvalorizado em relação ao EUA-dólar.
É mentira, 'fato' inventado, o que não impede que até 'comentaristas' e 'analistas' midiáticos russos também repitam em incontáveis blogs e grandes jornais em russo. A moeda chinesa é ligada diretamente ao EUA-dólar. Move-se como se move o dólar. A China ligou sua moeda ao dólar para gerar confiança em sua moeda. Ao longo da década passada, a China ajustou a conexão de sua moeda ao dólar e permitiu que o yuan subisse de valor, de 8,1 yuan para 6,9 yuan por EUA-dólar. (O yuan chegou a 6 por dólar, mas um dólar ascendente estava arrastando consigo o yuan, o que levou a China a ampliar a margem de flutuação, para evitar supervalorização indevida, por causa do aumento do dólar em relação a outras moedas asiáticas e europeias.)
Como o crescimento do yuan seria "manipulação da moeda"? Não esperem resposta dos presstitutos e presstitutas da mídia-empresa financeira ou de economistas-lixo (categoria em que incluo todos os crentes da religião conhecida como 'economia neoliberal').
A serventia do mito da manipulação da moeda chinesa está em que ele oculta de todos o fato de que o déficit comercial massivo China-EUA (a favor da China!) é devido à evidência de que as empresas norte-americanas deslocalizaram para a China, suas fábricas que produzem para o mercado norte-americano. Quando as fábricas norte-americanas trazem de volta bens e serviços para serem vendidos nos EUA, eles entram como importações, o que infla o déficit na balança comercial. O mito da manipulação da moeda tira a culpa das empresas norte-americanas e a deposita nas costas da China. Na verdade, é efeito da volta para o mercado dos EUA, de produção deslocalizada para a China (de computadores Apple, por exemplo), que faz inchar o déficit na balança comercial nos EUA.
As empresas norte-americanas produzem fora dos EUA, porque a mão de obra é mais barata, o que resulta em maiores lucros, ações mais valiosas na mão dos acionistas e em bônus mais gordos para os altos executivos. Uma das principais causas das altas médias no índice Dow Jones e de índices cada vez piores de renda e distribuição de riqueza nos EUA é a deslocalização, para outros países, dos postos de trabalho. Em 2016, os mais ricos acrescentaram $237 bilhões ao que já tinham; enquanto o aumento na dívida estudantil e na dívida no cartão de crédito, combinado com a renda ou estagnada ou em declínio, deixaram os norte-americanos comuns ainda mais pobres. Durante o século 21, o endividamento das famílias norte-americanas subiu, de cerca de 70% do PIB, para cerca de 80%. A renda pessoal não aumentou correspondentemente ao aumento do endividamento pessoal.
A deslocalização dos postos de trabalho só beneficia um pequeno número de acionistas e executivos, e impõe massivo custo externo a toda a sociedade norte-americana. Estados manufatureiros antes prósperos estão já naufragados em depressão de longo prazo. O valor dos imóveis desabou, em áreas das quais as indústrias desapareceram. A base de arrecadação foi exaurida. Sistemas estaduais e locais de aposentadorias e pensões não arrecadam o suficiente para pagar o que devem. A rede de seguridade social fracassa.
Para ter ideia dos custos externos que a deslocalização das indústrias impõe à população dos EUA, veja na Internet as imagens de Detroit, antes poderosa máquina industrial, hoje em impressionante estado de decrepitude e miséria. Escolas e bibliotecas abandonadas. Prédios inteiros abandonados. Fábricas abandonadas. Residências abandonadas. Igrejas invadidas pelo mato. Aqui, um vídeo de 4 minutos.
E não é só Detroit. Em meu livro The Failure of Laissez Faire Capitalism (Clarity Press, 2013) [O fracasso do capitalismo deLaissez-Faire, sem trad. para o Brasil], ofereço os dados do censo dos EUA de 2010. Detroit, antes a 4ª maior cidade dos EUA perdeu ¼ da população na primeira década do século 21. Gary, Indiana, perdeu 22%; Flint, Michigan, 18%; Cleveland, Ohio, 17%. Pittsburg, Pennsylvania, 7%; South Bend, 6%; Rochester, New York, 4%. St. Louis, Missouri, 20%. Todas essas foram o centro do poder da indústria e da manufatura norte-americanos.
Em vez de informar os fatos, os presstitutos e presstitutas 'especializados' em finanças na mídia-empresa e os 'economistas' da corrupta 'Economia' dos EUA ocultaram dos cidadãos os custos terríveis, sociais e externos da exportação massiva de empregos, sob a mentira de que a deslocalização seria boa para a economia. Em meu livro, dedico-me a desmascara serviçais de grandes empresas, como Matthew Slaughter (Universidade Dartmouth) e Michael Porter (Universidade Harvard), os quais, ou por incompetência ou por traição deliberada vivem de 'analisar' os grandes benefícios que chove(ria)m sobre os norte-americanos por terem os próprios empregos doados aos chineses e as próprias cidades entregues aos ratos, já convertidas em ruínas.
Ao longo de toda a história, os norte-americanos padeceram sob ondas e ondas de mentiras 'governamentais'. Mas só a partir do governo Clinton, durante os governos George W. Bush e Obama, a mentira oficial generalizou-se completamente, até que todos os fatos sumiram dos grandes jornais e redes de TV.
Considere-se o relatório de empregos do mês de novembro. Ali se lê que a taxa de desemprego teria recuado para 4,6% e que 178 mil novos postos de trabalho foram criados em novembro, que a 'recuperação' avança, etc., etc. Os fatos contam história muito diferente.
Aquela taxa de desemprego não considera desempregados que desistiram de procurar emprego. Procurar emprego sem jamais encontrar é caro, exaustivo, desmoralizante e depressivo. Em outras palavras: os desempregados estão sendo empurrados para a categoria dos desiludidos, muito mais depressa do que encontram trabalho. Por isso, a taxa oficial de desemprego 'diminui'. Além do mais, essa taxa suposta baixa de desemprego não é consistente com a taxa declinante de participação da força de trabalho. Quando há empregos, as pessoas entram para a força de trabalho para auferir os benefícios das oportunidade de emprego; e os índices da participação da força de trabalho aumentam.
O 'noticiário' inventado por presstitutos e presstitutas 'financeiros' só fazem ampliar o escopo das mentiras. Em novembro teriam aparecido 178 mil novos empregos. E pronto. Mas os dados distribuídos pelo Bureau of Labor Statistics mostra muitos aspectos muito problemáticos dos 'dados'. Por exemplo: só 9 mil, dos supostos 178 mil novos empregos, são empregos de tempo integral (definidos como 35 horas e mais, por semana). De setembro a outubro, sumiram 103 mil empregos de tempo integral; de agosto a setembro, sumiram 5 mil empregos de tempo integral. Ninguém nem tenta explicar por que a economia estaria extinguindo empregos de tempo integral, em tempos de 'recuperação'.
O quadro da distribuição dos novos empregos em novembro é, só ele, muito assustador: 77 mil dos empregos foram para trabalhadores com 55 anos e mais. Apenas 4 mil empregos foram para homens e mulheres de 25-34 anos, idade em que a maioria dos norte-americanos estariam constituindo família.
O estado civil dos desempregados também é preocupante. Em novembro, foram 95 mil homens casados com cônjuge presente empregados, a menos, e 74 mil mulheres casadas com cônjuge presente empregadas, a menos que em outubro. Em outubro, foram 331 mil homens casados e 87 mil mulheres casadas empregadas a menos, na comparação com setembro.
Dessas enormes diferenças mês a mês, pode-se concluir que as estatísticas oficiais não prestam. E é bem possível que não prestem. Por exemplo, como tanto repeti em relatórios sobre dados mensais sobre folha de pagamento, há sempre número crescente de novos empregos para garçonetes e balconistas de bares. Mas o movimento nos restaurantes caiu sempre, durante nove meses consecutivos. Por que os restaurantes contratariam mais empregados, com o movimento em queda?
Como John Williams (shadowstats.com) informou, é perfeitamente possível que os 'dados' das folhas de pagamento mensais não passem de agregação de estimativas de um modelo viciado de nascimentos/mortes com ajustes sazonais manipulados. Dito de outro modo, os números de 'novos empregos' podem não passar de fantasias estatísticas.
John Williams também chama a atenção para a possibilidade de os números do crescimento alegado do PIB serem simples subproduto de erro ou vício na aferição da inflação. Há alguns anos, as medidas da inflação foram "reformadas" para excluir aposentados e pensionistas de qualquer ajuste por aumento real no custo de vida. Em vez de um índice ponderado que calculasse o custo de padrão de vida real, introduziu-se o índice 'substituto'. No novo índice, se o preço de um item do índice aumenta, é trocado por outro item cujo preço tenha diminuído. Além disso, os aumentos são definidos como "aprimoramentos na qualidade". Claramente, aí está um índice desenhado para subconsiderar preços em ascensão.
Resumo: a suposta 'recuperação' que estaria em curso desde junho de 2009 pode não passar de fantasia estatística gerada por critério viciado para medir a inflação.
O que os norte-americanos esperam da economia em 2017? Primeiro, analisemos o contexto. A política do presidente Reagan para derrotar a estagflação entregou ao governo Clinton uma economia em bom estado. A economia norte-americana mais saudável não foi nada de perfeitamente ótimo, porque mascarou as consequências adversas da deslocalização dos postos de trabalho, que começou depois do desmonte da União Soviética, em 1991.
O desmonte da URSS encorajou uma mudança de atitude nos governos de Índia e China, na direção do capital externo. Wall Street e grandes varejistas como Walmart forçaram a relocalização para a China de grande parte da manufatura dos EUA, que foi também acelerada em seguida pelo crescimento da Internet de alta velocidade, com a deslocalização para a Índia dos empregos de mais alta qualificação tecnológica, como engenharia de software. Essas realocações dentro da atividade econômica dos EUA para outros países deixaram buracos na economia norte-americana e reduziu o número de oportunidades de trabalho para os norte-americanos.
A renda real média das famílias parou de crescer. Sem aumentos no gasto de consumo para puxar a economia, o Federal Reserve passou a usar um crescimento no endividamento dos consumidores, onde antes usava o já então falecido crescimento real médio das famílias. Mas o crescimento na dívida dos consumidores é limitado pela falta de crescimento na renda dos consumidores. Assim, uma economia que dependa da expansão do endividamento tem limitada capacidade para se expandir. Diferente do governo federal, o povo norte-americano não pode imprimir em casa o dinheiro de que precisa para pagar as próprias contas.
Tempos de governo Trump
Só ele – o único em todos que disputaram a presidência nos EUA –, o presidente eleito Ronald Trump pôs imediatamente o dedo na ferida da deslocalização de empregos, como ataque mortal contra o povo dos EUA e a economia norte-americana. Ainda não se sabe o que conseguirá fazer, porque a deslocalização de empregos atende a interesses fortíssimos de empresas globais e seus acionistas.
Há muitos anos as folhas de remuneração mensal mostram que os EUA estão em decadência, caminhando para valores de Terceiro Mundo, onde a maior parte dos chamados 'novos empregos' são empregos de baixa remuneração. As projeções de BLS para dez anos de dados sobre emprego mostram poucos novos empregos que exijam grau universitário. Se empregos de alto valor agregado e alta produtividade para a classe média alta não forem trazidos de volta para os EUA, o futuro da economia dos EUA é de declínio continuado, rumo a status de nação de Terceiro Mundo.
Considerando as limitações sobre o consumidor, grande parte dos lucros das empresas veio de cortes no custo da mão de obra, efeito da deslocalização das fábricas. Para empresas como Apple, cujos produtos são quase totalmente fabricados em fábricas chinesas, os lucros despencam, se os empregos tiverem de ser devolvidos aos EUA. Para manter os próprios lucros, a empresa Apple planeja substituir o trabalho chinês barato por robôs, que não cobram salários nem 'direitos'. Que exemplo mais eloquente da desconexão mortal entre capital e trabalho, que fábricas chinesas robotizadas em contexto de oferta excessiva de mão de obra?
O manual de economia de Samuelson ensinou-me sobre a falácia da composição: o que é bom para o indivíduo, pode não ser bom para a comunidade. Os economistas Keynesianos aplicaram isso às poupanças. Poupar é bom para o indivíduo, mas se a poupança agregada excede o investimento, a demanda agregada despenca, puxando para baixo a renda, o emprego e a poupança.
É o que se vê no caso da deslocalização dos postos de trabalho. Pode aumentar os lucros da firma, mas no agregado derruba a renda agregada da população e limita o crescimento das vendas. O que a deslocalização dos empregos faz nesse sentido, será feito muito mais rapidamente, muito mais completamente, pelos robôs.
Quando leio presstitutos e presstitutas economistas e comentaristas de economia glorificando a redução de custos que se obteria com robôs, me ocorre que podem ter enlouquecido completamente, sem que ninguém esteja percebendo (supondo que algum dia não tenham sido completamente doidos). Robôs não compram casa, mobiliário, eletrodomésticos, automóveis, bicicletas, comida, roupas, férias, entretenimento. Quando robôs ocupam os postos de trabalho, onde os humanos conseguem renda com a qual comprar os produtos produzidos pelos robôs?
Essa questão sempre deixada sem exame atento tem implicações extraordinárias para os direitos de propriedade e a organização social da própria sociedade. Ralph Gomory disse-me há alguns anos, que uma meia dúzia de pessoas detêm todas as patentes dos robôs. Assim sendo, em mundo robotizado não haverá problemas de distribuição de renda e riqueza. Tudo pertencerá a umas poucas dúzias de pessoas. Pensando bem... Que renda ou riqueza haverá, não importa se grande ou pequena?
Só restará à humanidade, para sobreviver, voltar a ser agricultores e criadores autossuficientes, sem renda monetária para comprar as 'utilidades' que robôs produzirão. Com cada vez menos pessoas com renda suficiente para comprar a produção das fábricas robotizadas, secará a fonte de riqueza dos donos das patentes.
Estou convencido de que, se os robôs suplantarem o trabalho humano, as patentes terão de ser socializadas, e a renda distribuída de modo relativamente igualitário por toda a sociedade dos humanos.
Tudo isso considerado, Trump conseguirá dar jeito na economia em 2017?
Não haverá conserto possível, a menos que sejam repostos os degraus da mobilidade social para cima, que fizeram dos EUA uma sociedade da oportunidade. Será preciso trazer de volta os empregos para a classe média que foram exportados; ou, supondo que haja algum meio para criar empregos com alto valor agregado, impedir que os novos empregos sejam mandados para outros países.
Há um meio para fazer isso: adequar os impostos sobre empresas conforme a localização geográfica das fábricas onde as empresas acrescentem valor agregado ao que produzam para vender. Empresas que acrescentem valor agregado domesticamente, com trabalho de norte-americanos, pagarão taxas menores de impostos. Se o valor for agregado em país estrangeiro, os impostos cobrados sobem. É possível ajustar as taxas de modo a controlar os lucros auferidos fora dos EUA.
Apesar da propaganda a favor de alguma 'globalização' e 'livre comércio', a economia dos EUA foi inteiramente construída com protecionismo; e a força da economia dos EUA sempre esteve no mercado doméstico. A prosperidade dos EUA jamais dependeu de exportações. E, com o EUA-dólar como moeda internacional de reserva, os EUA nunca precisaram de exportações para pagar pelo que importamos. Só por isso os EUA suportaram até agora o déficit na balança comercial causado pela exportação de postos de trabalho.
O chamado 'globalismo' é efeito do conluio entre economistas-lixo neoliberais, atuando em cumplicidade com os grandes bancos, Wall Street e empresas multinacionais. O 'globalismo' é o disfarce 'contemporâneo' da antiga exploração de muitos a favor de poucos. Os supostos benefícios do globalismo foram usados para justificar a exportação de empregos, para enriquecer executivos de grandes empresas e acionistas.
O que importa sempre mais é a economia doméstica, não alguma economia 'global'. A população mais sofrida dos EUA finalmente compreendeu essa lição. E elegeu Trump.
Se Trump conseguirá levar ao ar sua "Fuga do Globalistão" [expressão cunhada por Pepe Escobar, ing. globalistan [NTs]? Trump pode, sim, perder essa guerra. O globalismo foi institucionalizado. As grandes empresas que exportaram a produção do que vendem para os EUA se oporão a qualquer movimento a favor de 'reimportar' os empregos. E assim também todos os fantoches que falam por elas nos cursos de Economia e na mídia financeira presstituta. Não sei até que ponto o globalismo pode ter-se enraizado na mente das populações na Ásia, África, América do Sul, mas na Europa – até mesmo, embora pareça que menos, na Rússia de Putin –, as população já foram vítimas de lavagem cerebral, e creem firmemente que não conseguirão sair do globalismo sem pagar alto preço econômico.
Considerem-se por exemplo os gregos. Em nome dos balancetes de uma meia dúzia de banqueiros norte-europeus (talvez também dos EUA), os povos grego e português foram empurrados para o mais furioso arrocho, chamado de 'austeridade' [do Brasil, então nem fala! (NTs)], o que resultou em desemprego tão alto, e padrões de vida de tal modo degradados, que muitas mulheres estão sendo empurradas para a prostituição, para não morrerem de fome. Esse efeito absolutamente não necessário, só aconteceu porque as populações e os governos naqueles países passaram por tal processo de lavagem cerebral que acabaram convencidos de que não sobreviverão como países independentes sem o 'globalismo' – e, no caso da Europa, sem se integrarem à União Europeia, que seria como que a 'concretização' do globalismo.
Na Grã-Bretanha, 45% da população ainda padece de idênticos efeitos da mesma descerebração provocada.
O globalismo – a globalização – é a mais recente técnica pela qual o capitalismo saqueia e destrói. No mundo ocidental, a classe trabalhadora e a classe média são as mais violentamente saqueada, perdendo agora empregos e carreiras. Na Ásia, África e América Latina, comunidades inteiras já plenamente autossuficientes, veem suas terras invadidas e saqueadas e são obrigadas a voltar aos tempos da monocultura, como trabalhadores, para colheitas a serem exportadas. Países antes autossuficientes para a própria alimentação tornam-se dependentes de importar até o que comem, e as respectivas moedas, sobre as quais desaba todo esse peso, são alvos de infindáveis especulação e manipulação.
O que teria empurrado os governos, em todos os cantos do mundo, na direção de ensinar ignorância aos seus cidadãos, para assim os tornar alvos fáceis da propaganda e da manipulação? O ímpeto do imbecilismo capitalista universal? A corrupção e as propinas?
Jornalistas de vanguarda, como Chris Hedges, que já viu muita coisa e noticiou muitos fatos, concluíram que o destino do mundo está entregue a tão poucas mãos que só agem a favor de seus próprios autointeresses, que só a Revolução, maiúscula, ampla, irrestrita, conseguirá corrigir os desequilíbrios entre os interesses de uns poucos oligarcas e os interesse da massa humana. É quase impossível discordar dessa ideias de Hedges.
Trump, que inicia sua descida ao fundo do ninho de cobras que é Washington, D.C., não pode esquecer o que aconteceu ao presidente Jimmy Carter. Na verdade, a melhor coisa que Trump pode fazer para salvar seu governo, é passar algum tempo conversando com Carter, antes da posse.
Carter também era um outsider, homem de princípios, e oestablishment de Washington não o queria no governo. E reduziram tudo que ele poderia efetivamente fazer. Para isso, enquadraram o Diretor do Orçamento e o Chefe de Gabinete da Presidência [ing. chief of staff]. Podem fazer o mesmo, supondo que Trump consiga que o Senado confirme suas indicações, senado cujos membros estão hoje aliados com aCIA, contra Trump.
O Reaganites tiveram experiência similar. Reagan tinha experiência política do governo da Califórnia, o maior estado, mas era outsider na relação com o establishmentRepublicano, cujo candidato à indicação do Partido fora George H.W. Bush.
Reagan derrotou Bush na disputa pela indicação, mas foi instruído pelos Republicanos (que recordavam o desmonte de Goldwater, quando as forças de Rockefeller viraram-se contra ele por não pôr o Rockefeller derrotado como se vice-presidente, o que custou a Goldwater a eleição), a escolher Bush como vice-presidente. Sem isso, Reagan logo se veria, como Goldwater, concorrendo contra os dois establishments, o Democrata e o Republicano.
O primeiro governo de Reagan transcorreu com o principal agente de George H.W. Bush na chefia do gabinete da Presidência na Casa Branca. Por causa disso, tive muitos problemas como Secretário Assistente do Tesouro para Política Econômica, porque eu era o primeiro homem do pelotão a favor da oferta, na economia de Reagan.
Os dois establishments – dos Democratas e dos Republicanos – interessam-se muito mais em controlar o Partido que em promover o bem dos cidadãos e do país. Durante os quatro anos do governo Carter, o establishmentDemocrata não fez outra coisa que não fosse trabalhar para arrancar o controle do Partido, das forças que haviam posto um outsider dentro da Casa Branca. Durante os oito anos de Reagan, o establishment Republicano não fez outra coisa que não fosse trabalhar para arrancar dos Reaganitas o controle sobre o Partido Republicano.
É provável que agora Trump conheça todo o furor armado contra o qual se desenrolaram os governos de Carter e Reagan. Farão de tudo para forçá-lo a ceder e esvaziar a própria agenda de campanha. Ironicamente, esse ataque furioso contra Trump está recebendo o auxílio luxuoso de forças progressistas da esquerda, que teriam de estar defendendo Trump em nome dos interesses da classe trabalhadora, da classe média e a favor da paz com a Rússia. Muitos websites progressistas, de esquerda, já estão recolhendo fundos para fazer campanha contra e tornar impossível o governo de Trump.
Quer dizer: até quando conseguimos eleger um presidente que pode pelo menos tentar defender os interesses do povo dos EUA, que diz falar em nome do povo dos EUA, tantas vozes que dizem defender o mesmo povo... aliam-se à escória dos oligarcas dedicados a destruir Trump.
O lado esquerdo do espectro sempre parece, exatamente como o lado direito, favorecer o que mais odeiam: Trump é bilionário? Não presta. Trump nomeou um magnata da energia? Não presta. Trump nomeou um general de 3 estrelas? Não presta.
A esquerda suposta liberal e progressista não consegue fazer mais ou melhor que repetir as mesmas críticas, não importa se mudarem os bobos da corte.
Claro que podem acertar. Mas, como já escrevi outras vezes, Trump escolheu nomes que sempre se posicionaram contra oestablishment. Mais que isso, todos são homens duros, sobreviventes dentro dos EUA, como Trump. E essa capacidade é indispensável para que tenham planos de conseguir fazer mudanças de cima para baixo.
O diretor-presidente da Exxon quer negócios de energia, não guerras, com a Rússia. O general Flynn foi quem denunciou, pela TV, que Obama estava sustentando o ISIS com homens, dinheiro e armas, insistindo em derrubar o governo sírio, contra todos os pareceres da Agência de Inteligência da Defesa. O general Mattis foi o general daquele grau que contestou publicamente a efetividade dos métodos de tortura.
Todos os indicados de Trump são pessoas que desafiaram oestablishment. A velha cesta conhecida de indicados aprovados pelo establishment não são capazes de fazer mudanças em Washington, a favor do povo.
A esquerda liberal progressista deveria estar festejando a possibilidade de os EUA terem governo que não tenha saído diretamente do establishment. Mas parece ser só esquerda do Establishment, não mais que isso e tão oposta a Trump quanto o Republicano mais retrógrado.
Todos os dias recebo dúzias de pedidos de dinheiro para "ajudar a lutar contra Donald Trump". Que diabo pensam essas pessoas? Por que lutar contra alguém que todo oestablishment político dos EUA quer impedir que governe? Deviam, isso sim, estar trabalhando para ganhar a confiança de Trump e o direito de interferir na agenda de seu governo. Precisamente o que fez o general Mattis.
Não posso garantir que Trump não acabe como mais um fracasso e gigantesco desapontamento e patética enganação, feito Obama. Mas é grave erro partir do pressuposto de que assim será. Porque lutar tão freneticamente e tentar descartar de início o único norte-americano surgido em décadas, com coragem para pôr a própria vida em risco e chamar para a luta o imundo, corrupto, vicioso establishment de Washington?
Por que ajudar o establishment a derrotar Trump? Se Trump trair os norte-americanos, sim, então poderemos derrubá-lo. Podemos até decidir que Chris Hedges está correto, e só a Revolução pode fazer avançar a melhor solução.*****
*Paul Craig Roberts foi Secretário Assistente do Tesouro para Política Econômica de Ronald Reagan e editor associado do Wall Street Journal.
* Epígrafe acrescentada pelos tradutores [NTs].
Paul Craig Roberts: Trump conseguirá dar jeito na economia em 2017?
O ocidente e a parte do mundo que 'repercute' as explicações ocidentais vivem num mundo de ficção.
Por Paul Craig Roberts*
Em teoria, viveríamos uma era científica de informação, mas que bem poderia advir de tanta informação sempre falsificada e orquestradamente repetida? Dado que as notícias falsas distribuídas pelos presstitutos e presstitutas das mídia-empresas atendem a poderosos interesses privados e de grupos dentro do governo... como se pode saber o que é fato, sobre coisa alguma?!
Por exemplo, considerem o que todos os jornais dos EUA e todos os serviços do estado no país 'noticiam' e repetem sem parar, de que déficit da balança comercial dos EUA em relação à China seria efeito de os chineses manipularem a moeda, mantendo o yuan desvalorizado em relação ao EUA-dólar.
É mentira, 'fato' inventado, o que não impede que até 'comentaristas' e 'analistas' midiáticos russos também repitam em incontáveis blogs e grandes jornais em russo. A moeda chinesa é ligada diretamente ao EUA-dólar. Move-se como se move o dólar. A China ligou sua moeda ao dólar para gerar confiança em sua moeda. Ao longo da década passada, a China ajustou a conexão de sua moeda ao dólar e permitiu que o yuan subisse de valor, de 8,1 yuan para 6,9 yuan por EUA-dólar. (O yuan chegou a 6 por dólar, mas um dólar ascendente estava arrastando consigo o yuan, o que levou a China a ampliar a margem de flutuação, para evitar supervalorização indevida, por causa do aumento do dólar em relação a outras moedas asiáticas e europeias.)
Como o crescimento do yuan seria "manipulação da moeda"? Não esperem resposta dos presstitutos e presstitutas da mídia-empresa financeira ou de economistas-lixo (categoria em que incluo todos os crentes da religião conhecida como 'economia neoliberal').
A serventia do mito da manipulação da moeda chinesa está em que ele oculta de todos o fato de que o déficit comercial massivo China-EUA (a favor da China!) é devido à evidência de que as empresas norte-americanas deslocalizaram para a China, suas fábricas que produzem para o mercado norte-americano. Quando as fábricas norte-americanas trazem de volta bens e serviços para serem vendidos nos EUA, eles entram como importações, o que infla o déficit na balança comercial. O mito da manipulação da moeda tira a culpa das empresas norte-americanas e a deposita nas costas da China. Na verdade, é efeito da volta para o mercado dos EUA, de produção deslocalizada para a China (de computadores Apple, por exemplo), que faz inchar o déficit na balança comercial nos EUA.
As empresas norte-americanas produzem fora dos EUA, porque a mão de obra é mais barata, o que resulta em maiores lucros, ações mais valiosas na mão dos acionistas e em bônus mais gordos para os altos executivos. Uma das principais causas das altas médias no índice Dow Jones e de índices cada vez piores de renda e distribuição de riqueza nos EUA é a deslocalização, para outros países, dos postos de trabalho. Em 2016, os mais ricos acrescentaram $237 bilhões ao que já tinham; enquanto o aumento na dívida estudantil e na dívida no cartão de crédito, combinado com a renda ou estagnada ou em declínio, deixaram os norte-americanos comuns ainda mais pobres. Durante o século 21, o endividamento das famílias norte-americanas subiu, de cerca de 70% do PIB, para cerca de 80%. A renda pessoal não aumentou correspondentemente ao aumento do endividamento pessoal.
A deslocalização dos postos de trabalho só beneficia um pequeno número de acionistas e executivos, e impõe massivo custo externo a toda a sociedade norte-americana. Estados manufatureiros antes prósperos estão já naufragados em depressão de longo prazo. O valor dos imóveis desabou, em áreas das quais as indústrias desapareceram. A base de arrecadação foi exaurida. Sistemas estaduais e locais de aposentadorias e pensões não arrecadam o suficiente para pagar o que devem. A rede de seguridade social fracassa.
Para ter ideia dos custos externos que a deslocalização das indústrias impõe à população dos EUA, veja na Internet as imagens de Detroit, antes poderosa máquina industrial, hoje em impressionante estado de decrepitude e miséria. Escolas e bibliotecas abandonadas. Prédios inteiros abandonados. Fábricas abandonadas. Residências abandonadas. Igrejas invadidas pelo mato. Aqui, um vídeo de 4 minutos.
E não é só Detroit. Em meu livro The Failure of Laissez Faire Capitalism (Clarity Press, 2013) [O fracasso do capitalismo deLaissez-Faire, sem trad. para o Brasil], ofereço os dados do censo dos EUA de 2010. Detroit, antes a 4ª maior cidade dos EUA perdeu ¼ da população na primeira década do século 21. Gary, Indiana, perdeu 22%; Flint, Michigan, 18%; Cleveland, Ohio, 17%. Pittsburg, Pennsylvania, 7%; South Bend, 6%; Rochester, New York, 4%. St. Louis, Missouri, 20%. Todas essas foram o centro do poder da indústria e da manufatura norte-americanos.
Em vez de informar os fatos, os presstitutos e presstitutas 'especializados' em finanças na mídia-empresa e os 'economistas' da corrupta 'Economia' dos EUA ocultaram dos cidadãos os custos terríveis, sociais e externos da exportação massiva de empregos, sob a mentira de que a deslocalização seria boa para a economia. Em meu livro, dedico-me a desmascara serviçais de grandes empresas, como Matthew Slaughter (Universidade Dartmouth) e Michael Porter (Universidade Harvard), os quais, ou por incompetência ou por traição deliberada vivem de 'analisar' os grandes benefícios que chove(ria)m sobre os norte-americanos por terem os próprios empregos doados aos chineses e as próprias cidades entregues aos ratos, já convertidas em ruínas.
Ao longo de toda a história, os norte-americanos padeceram sob ondas e ondas de mentiras 'governamentais'. Mas só a partir do governo Clinton, durante os governos George W. Bush e Obama, a mentira oficial generalizou-se completamente, até que todos os fatos sumiram dos grandes jornais e redes de TV.
Considere-se o relatório de empregos do mês de novembro. Ali se lê que a taxa de desemprego teria recuado para 4,6% e que 178 mil novos postos de trabalho foram criados em novembro, que a 'recuperação' avança, etc., etc. Os fatos contam história muito diferente.
Aquela taxa de desemprego não considera desempregados que desistiram de procurar emprego. Procurar emprego sem jamais encontrar é caro, exaustivo, desmoralizante e depressivo. Em outras palavras: os desempregados estão sendo empurrados para a categoria dos desiludidos, muito mais depressa do que encontram trabalho. Por isso, a taxa oficial de desemprego 'diminui'. Além do mais, essa taxa suposta baixa de desemprego não é consistente com a taxa declinante de participação da força de trabalho. Quando há empregos, as pessoas entram para a força de trabalho para auferir os benefícios das oportunidade de emprego; e os índices da participação da força de trabalho aumentam.
O 'noticiário' inventado por presstitutos e presstitutas 'financeiros' só fazem ampliar o escopo das mentiras. Em novembro teriam aparecido 178 mil novos empregos. E pronto. Mas os dados distribuídos pelo Bureau of Labor Statistics mostra muitos aspectos muito problemáticos dos 'dados'. Por exemplo: só 9 mil, dos supostos 178 mil novos empregos, são empregos de tempo integral (definidos como 35 horas e mais, por semana). De setembro a outubro, sumiram 103 mil empregos de tempo integral; de agosto a setembro, sumiram 5 mil empregos de tempo integral. Ninguém nem tenta explicar por que a economia estaria extinguindo empregos de tempo integral, em tempos de 'recuperação'.
O quadro da distribuição dos novos empregos em novembro é, só ele, muito assustador: 77 mil dos empregos foram para trabalhadores com 55 anos e mais. Apenas 4 mil empregos foram para homens e mulheres de 25-34 anos, idade em que a maioria dos norte-americanos estariam constituindo família.
O estado civil dos desempregados também é preocupante. Em novembro, foram 95 mil homens casados com cônjuge presente empregados, a menos, e 74 mil mulheres casadas com cônjuge presente empregadas, a menos que em outubro. Em outubro, foram 331 mil homens casados e 87 mil mulheres casadas empregadas a menos, na comparação com setembro.
Dessas enormes diferenças mês a mês, pode-se concluir que as estatísticas oficiais não prestam. E é bem possível que não prestem. Por exemplo, como tanto repeti em relatórios sobre dados mensais sobre folha de pagamento, há sempre número crescente de novos empregos para garçonetes e balconistas de bares. Mas o movimento nos restaurantes caiu sempre, durante nove meses consecutivos. Por que os restaurantes contratariam mais empregados, com o movimento em queda?
Como John Williams (shadowstats.com) informou, é perfeitamente possível que os 'dados' das folhas de pagamento mensais não passem de agregação de estimativas de um modelo viciado de nascimentos/mortes com ajustes sazonais manipulados. Dito de outro modo, os números de 'novos empregos' podem não passar de fantasias estatísticas.
John Williams também chama a atenção para a possibilidade de os números do crescimento alegado do PIB serem simples subproduto de erro ou vício na aferição da inflação. Há alguns anos, as medidas da inflação foram "reformadas" para excluir aposentados e pensionistas de qualquer ajuste por aumento real no custo de vida. Em vez de um índice ponderado que calculasse o custo de padrão de vida real, introduziu-se o índice 'substituto'. No novo índice, se o preço de um item do índice aumenta, é trocado por outro item cujo preço tenha diminuído. Além disso, os aumentos são definidos como "aprimoramentos na qualidade". Claramente, aí está um índice desenhado para subconsiderar preços em ascensão.
Resumo: a suposta 'recuperação' que estaria em curso desde junho de 2009 pode não passar de fantasia estatística gerada por critério viciado para medir a inflação.
O que os norte-americanos esperam da economia em 2017? Primeiro, analisemos o contexto. A política do presidente Reagan para derrotar a estagflação entregou ao governo Clinton uma economia em bom estado. A economia norte-americana mais saudável não foi nada de perfeitamente ótimo, porque mascarou as consequências adversas da deslocalização dos postos de trabalho, que começou depois do desmonte da União Soviética, em 1991.
O desmonte da URSS encorajou uma mudança de atitude nos governos de Índia e China, na direção do capital externo. Wall Street e grandes varejistas como Walmart forçaram a relocalização para a China de grande parte da manufatura dos EUA, que foi também acelerada em seguida pelo crescimento da Internet de alta velocidade, com a deslocalização para a Índia dos empregos de mais alta qualificação tecnológica, como engenharia de software. Essas realocações dentro da atividade econômica dos EUA para outros países deixaram buracos na economia norte-americana e reduziu o número de oportunidades de trabalho para os norte-americanos.
A renda real média das famílias parou de crescer. Sem aumentos no gasto de consumo para puxar a economia, o Federal Reserve passou a usar um crescimento no endividamento dos consumidores, onde antes usava o já então falecido crescimento real médio das famílias. Mas o crescimento na dívida dos consumidores é limitado pela falta de crescimento na renda dos consumidores. Assim, uma economia que dependa da expansão do endividamento tem limitada capacidade para se expandir. Diferente do governo federal, o povo norte-americano não pode imprimir em casa o dinheiro de que precisa para pagar as próprias contas.
Tempos de governo Trump
Só ele – o único em todos que disputaram a presidência nos EUA –, o presidente eleito Ronald Trump pôs imediatamente o dedo na ferida da deslocalização de empregos, como ataque mortal contra o povo dos EUA e a economia norte-americana. Ainda não se sabe o que conseguirá fazer, porque a deslocalização de empregos atende a interesses fortíssimos de empresas globais e seus acionistas.
Há muitos anos as folhas de remuneração mensal mostram que os EUA estão em decadência, caminhando para valores de Terceiro Mundo, onde a maior parte dos chamados 'novos empregos' são empregos de baixa remuneração. As projeções de BLS para dez anos de dados sobre emprego mostram poucos novos empregos que exijam grau universitário. Se empregos de alto valor agregado e alta produtividade para a classe média alta não forem trazidos de volta para os EUA, o futuro da economia dos EUA é de declínio continuado, rumo a status de nação de Terceiro Mundo.
Considerando as limitações sobre o consumidor, grande parte dos lucros das empresas veio de cortes no custo da mão de obra, efeito da deslocalização das fábricas. Para empresas como Apple, cujos produtos são quase totalmente fabricados em fábricas chinesas, os lucros despencam, se os empregos tiverem de ser devolvidos aos EUA. Para manter os próprios lucros, a empresa Apple planeja substituir o trabalho chinês barato por robôs, que não cobram salários nem 'direitos'. Que exemplo mais eloquente da desconexão mortal entre capital e trabalho, que fábricas chinesas robotizadas em contexto de oferta excessiva de mão de obra?
O manual de economia de Samuelson ensinou-me sobre a falácia da composição: o que é bom para o indivíduo, pode não ser bom para a comunidade. Os economistas Keynesianos aplicaram isso às poupanças. Poupar é bom para o indivíduo, mas se a poupança agregada excede o investimento, a demanda agregada despenca, puxando para baixo a renda, o emprego e a poupança.
É o que se vê no caso da deslocalização dos postos de trabalho. Pode aumentar os lucros da firma, mas no agregado derruba a renda agregada da população e limita o crescimento das vendas. O que a deslocalização dos empregos faz nesse sentido, será feito muito mais rapidamente, muito mais completamente, pelos robôs.
Quando leio presstitutos e presstitutas economistas e comentaristas de economia glorificando a redução de custos que se obteria com robôs, me ocorre que podem ter enlouquecido completamente, sem que ninguém esteja percebendo (supondo que algum dia não tenham sido completamente doidos). Robôs não compram casa, mobiliário, eletrodomésticos, automóveis, bicicletas, comida, roupas, férias, entretenimento. Quando robôs ocupam os postos de trabalho, onde os humanos conseguem renda com a qual comprar os produtos produzidos pelos robôs?
Essa questão sempre deixada sem exame atento tem implicações extraordinárias para os direitos de propriedade e a organização social da própria sociedade. Ralph Gomory disse-me há alguns anos, que uma meia dúzia de pessoas detêm todas as patentes dos robôs. Assim sendo, em mundo robotizado não haverá problemas de distribuição de renda e riqueza. Tudo pertencerá a umas poucas dúzias de pessoas. Pensando bem... Que renda ou riqueza haverá, não importa se grande ou pequena?
Só restará à humanidade, para sobreviver, voltar a ser agricultores e criadores autossuficientes, sem renda monetária para comprar as 'utilidades' que robôs produzirão. Com cada vez menos pessoas com renda suficiente para comprar a produção das fábricas robotizadas, secará a fonte de riqueza dos donos das patentes.
Estou convencido de que, se os robôs suplantarem o trabalho humano, as patentes terão de ser socializadas, e a renda distribuída de modo relativamente igualitário por toda a sociedade dos humanos.
Tudo isso considerado, Trump conseguirá dar jeito na economia em 2017?
Não haverá conserto possível, a menos que sejam repostos os degraus da mobilidade social para cima, que fizeram dos EUA uma sociedade da oportunidade. Será preciso trazer de volta os empregos para a classe média que foram exportados; ou, supondo que haja algum meio para criar empregos com alto valor agregado, impedir que os novos empregos sejam mandados para outros países.
Há um meio para fazer isso: adequar os impostos sobre empresas conforme a localização geográfica das fábricas onde as empresas acrescentem valor agregado ao que produzam para vender. Empresas que acrescentem valor agregado domesticamente, com trabalho de norte-americanos, pagarão taxas menores de impostos. Se o valor for agregado em país estrangeiro, os impostos cobrados sobem. É possível ajustar as taxas de modo a controlar os lucros auferidos fora dos EUA.
Apesar da propaganda a favor de alguma 'globalização' e 'livre comércio', a economia dos EUA foi inteiramente construída com protecionismo; e a força da economia dos EUA sempre esteve no mercado doméstico. A prosperidade dos EUA jamais dependeu de exportações. E, com o EUA-dólar como moeda internacional de reserva, os EUA nunca precisaram de exportações para pagar pelo que importamos. Só por isso os EUA suportaram até agora o déficit na balança comercial causado pela exportação de postos de trabalho.
O chamado 'globalismo' é efeito do conluio entre economistas-lixo neoliberais, atuando em cumplicidade com os grandes bancos, Wall Street e empresas multinacionais. O 'globalismo' é o disfarce 'contemporâneo' da antiga exploração de muitos a favor de poucos. Os supostos benefícios do globalismo foram usados para justificar a exportação de empregos, para enriquecer executivos de grandes empresas e acionistas.
O que importa sempre mais é a economia doméstica, não alguma economia 'global'. A população mais sofrida dos EUA finalmente compreendeu essa lição. E elegeu Trump.
Se Trump conseguirá levar ao ar sua "Fuga do Globalistão" [expressão cunhada por Pepe Escobar, ing. globalistan [NTs]? Trump pode, sim, perder essa guerra. O globalismo foi institucionalizado. As grandes empresas que exportaram a produção do que vendem para os EUA se oporão a qualquer movimento a favor de 'reimportar' os empregos. E assim também todos os fantoches que falam por elas nos cursos de Economia e na mídia financeira presstituta. Não sei até que ponto o globalismo pode ter-se enraizado na mente das populações na Ásia, África, América do Sul, mas na Europa – até mesmo, embora pareça que menos, na Rússia de Putin –, as população já foram vítimas de lavagem cerebral, e creem firmemente que não conseguirão sair do globalismo sem pagar alto preço econômico.
Considerem-se por exemplo os gregos. Em nome dos balancetes de uma meia dúzia de banqueiros norte-europeus (talvez também dos EUA), os povos grego e português foram empurrados para o mais furioso arrocho, chamado de 'austeridade' [do Brasil, então nem fala! (NTs)], o que resultou em desemprego tão alto, e padrões de vida de tal modo degradados, que muitas mulheres estão sendo empurradas para a prostituição, para não morrerem de fome. Esse efeito absolutamente não necessário, só aconteceu porque as populações e os governos naqueles países passaram por tal processo de lavagem cerebral que acabaram convencidos de que não sobreviverão como países independentes sem o 'globalismo' – e, no caso da Europa, sem se integrarem à União Europeia, que seria como que a 'concretização' do globalismo.
Na Grã-Bretanha, 45% da população ainda padece de idênticos efeitos da mesma descerebração provocada.
O globalismo – a globalização – é a mais recente técnica pela qual o capitalismo saqueia e destrói. No mundo ocidental, a classe trabalhadora e a classe média são as mais violentamente saqueada, perdendo agora empregos e carreiras. Na Ásia, África e América Latina, comunidades inteiras já plenamente autossuficientes, veem suas terras invadidas e saqueadas e são obrigadas a voltar aos tempos da monocultura, como trabalhadores, para colheitas a serem exportadas. Países antes autossuficientes para a própria alimentação tornam-se dependentes de importar até o que comem, e as respectivas moedas, sobre as quais desaba todo esse peso, são alvos de infindáveis especulação e manipulação.
O que teria empurrado os governos, em todos os cantos do mundo, na direção de ensinar ignorância aos seus cidadãos, para assim os tornar alvos fáceis da propaganda e da manipulação? O ímpeto do imbecilismo capitalista universal? A corrupção e as propinas?
Jornalistas de vanguarda, como Chris Hedges, que já viu muita coisa e noticiou muitos fatos, concluíram que o destino do mundo está entregue a tão poucas mãos que só agem a favor de seus próprios autointeresses, que só a Revolução, maiúscula, ampla, irrestrita, conseguirá corrigir os desequilíbrios entre os interesses de uns poucos oligarcas e os interesse da massa humana. É quase impossível discordar dessa ideias de Hedges.
Trump, que inicia sua descida ao fundo do ninho de cobras que é Washington, D.C., não pode esquecer o que aconteceu ao presidente Jimmy Carter. Na verdade, a melhor coisa que Trump pode fazer para salvar seu governo, é passar algum tempo conversando com Carter, antes da posse.
Carter também era um outsider, homem de princípios, e oestablishment de Washington não o queria no governo. E reduziram tudo que ele poderia efetivamente fazer. Para isso, enquadraram o Diretor do Orçamento e o Chefe de Gabinete da Presidência [ing. chief of staff]. Podem fazer o mesmo, supondo que Trump consiga que o Senado confirme suas indicações, senado cujos membros estão hoje aliados com aCIA, contra Trump.
O Reaganites tiveram experiência similar. Reagan tinha experiência política do governo da Califórnia, o maior estado, mas era outsider na relação com o establishmentRepublicano, cujo candidato à indicação do Partido fora George H.W. Bush.
Reagan derrotou Bush na disputa pela indicação, mas foi instruído pelos Republicanos (que recordavam o desmonte de Goldwater, quando as forças de Rockefeller viraram-se contra ele por não pôr o Rockefeller derrotado como se vice-presidente, o que custou a Goldwater a eleição), a escolher Bush como vice-presidente. Sem isso, Reagan logo se veria, como Goldwater, concorrendo contra os dois establishments, o Democrata e o Republicano.
O primeiro governo de Reagan transcorreu com o principal agente de George H.W. Bush na chefia do gabinete da Presidência na Casa Branca. Por causa disso, tive muitos problemas como Secretário Assistente do Tesouro para Política Econômica, porque eu era o primeiro homem do pelotão a favor da oferta, na economia de Reagan.
Os dois establishments – dos Democratas e dos Republicanos – interessam-se muito mais em controlar o Partido que em promover o bem dos cidadãos e do país. Durante os quatro anos do governo Carter, o establishmentDemocrata não fez outra coisa que não fosse trabalhar para arrancar o controle do Partido, das forças que haviam posto um outsider dentro da Casa Branca. Durante os oito anos de Reagan, o establishment Republicano não fez outra coisa que não fosse trabalhar para arrancar dos Reaganitas o controle sobre o Partido Republicano.
É provável que agora Trump conheça todo o furor armado contra o qual se desenrolaram os governos de Carter e Reagan. Farão de tudo para forçá-lo a ceder e esvaziar a própria agenda de campanha. Ironicamente, esse ataque furioso contra Trump está recebendo o auxílio luxuoso de forças progressistas da esquerda, que teriam de estar defendendo Trump em nome dos interesses da classe trabalhadora, da classe média e a favor da paz com a Rússia. Muitos websites progressistas, de esquerda, já estão recolhendo fundos para fazer campanha contra e tornar impossível o governo de Trump.
Quer dizer: até quando conseguimos eleger um presidente que pode pelo menos tentar defender os interesses do povo dos EUA, que diz falar em nome do povo dos EUA, tantas vozes que dizem defender o mesmo povo... aliam-se à escória dos oligarcas dedicados a destruir Trump.
O lado esquerdo do espectro sempre parece, exatamente como o lado direito, favorecer o que mais odeiam: Trump é bilionário? Não presta. Trump nomeou um magnata da energia? Não presta. Trump nomeou um general de 3 estrelas? Não presta.
A esquerda suposta liberal e progressista não consegue fazer mais ou melhor que repetir as mesmas críticas, não importa se mudarem os bobos da corte.
Claro que podem acertar. Mas, como já escrevi outras vezes, Trump escolheu nomes que sempre se posicionaram contra oestablishment. Mais que isso, todos são homens duros, sobreviventes dentro dos EUA, como Trump. E essa capacidade é indispensável para que tenham planos de conseguir fazer mudanças de cima para baixo.
O diretor-presidente da Exxon quer negócios de energia, não guerras, com a Rússia. O general Flynn foi quem denunciou, pela TV, que Obama estava sustentando o ISIS com homens, dinheiro e armas, insistindo em derrubar o governo sírio, contra todos os pareceres da Agência de Inteligência da Defesa. O general Mattis foi o general daquele grau que contestou publicamente a efetividade dos métodos de tortura.
Todos os indicados de Trump são pessoas que desafiaram oestablishment. A velha cesta conhecida de indicados aprovados pelo establishment não são capazes de fazer mudanças em Washington, a favor do povo.
A esquerda liberal progressista deveria estar festejando a possibilidade de os EUA terem governo que não tenha saído diretamente do establishment. Mas parece ser só esquerda do Establishment, não mais que isso e tão oposta a Trump quanto o Republicano mais retrógrado.
Todos os dias recebo dúzias de pedidos de dinheiro para "ajudar a lutar contra Donald Trump". Que diabo pensam essas pessoas? Por que lutar contra alguém que todo oestablishment político dos EUA quer impedir que governe? Deviam, isso sim, estar trabalhando para ganhar a confiança de Trump e o direito de interferir na agenda de seu governo. Precisamente o que fez o general Mattis.
Não posso garantir que Trump não acabe como mais um fracasso e gigantesco desapontamento e patética enganação, feito Obama. Mas é grave erro partir do pressuposto de que assim será. Porque lutar tão freneticamente e tentar descartar de início o único norte-americano surgido em décadas, com coragem para pôr a própria vida em risco e chamar para a luta o imundo, corrupto, vicioso establishment de Washington?
Por que ajudar o establishment a derrotar Trump? Se Trump trair os norte-americanos, sim, então poderemos derrubá-lo. Podemos até decidir que Chris Hedges está correto, e só a Revolução pode fazer avançar a melhor solução.*****
*Paul Craig Roberts foi Secretário Assistente do Tesouro para Política Econômica de Ronald Reagan e editor associado do Wall Street Journal.
* Epígrafe acrescentada pelos tradutores [NTs].
Fonte: Global Research
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