TIJOLAÇO
Como o alívio do tiroteio político por alguns dias, a gente pode tratar de alguns outros temas que, de alguma forma, ficaram meio de lado.
E um deles é o preço do petróleo, a mais importante commodity mundial, que alcançou uma baixa inédita na última semana, ficando na cada dos 36 dólares, o que não aconteceu nem mesmo nos piores dias da crise do subprime, em 2008/9, com uma recessão brutal.
A tabela aí de cima, que eu tomei emprestada do blog do professor de Economia Fernando Nogueira da Costa e editei com apenas alguns dados, para facilitar a compreensão (a tabela inteira você pode ver aqui) ajuda a gente a entender a forma que toma hoje a guerra pelo óleo, a mais presente desde o final do século passado.
Os dois países que mais aumentaram a produção proporcionalmente foram os Estados Unidos (inclua o Canadá nesta conta norte-americana) e o Brasil. O Iraque também, mas isso é reflexo apenas da recuperação da capacidade perdida com a guerra e o caos que a sucedeu. Quase todos os outros diminuíram, exceção para nossa vizinha Colômbia, que tem uma produção de 1 milhão de barris diários, menos significativa.
O nosso aumento de produção, todos sabem, veio do pré-sal, em tempo recorde. Em dez anos, a produção brasileira cresceu quase 40%, mesmo com o declínio do seu núcle, a Bacia de Campos, explorada há 40 anos e cujo óleo, muito viscoso, é de mais complexa extração no “final da jazida”, por exigir mais injeção de água – ou gás – para faze-lo vir à superfície..
O dos EUA/Canadá, deveu-se ao óleo de xisto, o shale oil, que elevou a produção do país, como se observa, a níveis sauditas. É óleo tirado de rochas betuminosas, que são explodidas para formarem fraturas e onde se injeta produtos químicos para que flua da pedra e possa ser retirado. Com ele, em 10 anos, a dupla EUA/Canadá aumentou em 60% sua produção. E você vê que este percentual se dá sobre volumes significativamente altos.
É isso o que está causando a queda dos preços.
Ao longo do ano, criaram-se problemas imensos para a indústria do shale oilamericano com a baixa do preço. Esta extração é mais cara do que a maior parte da realizada em jazidas convencionais. Para ser economicamente equilibrada, precisa de preços entre 60 e 70 dólares e isso hoje caiu à metade. A Agência de Energia dos Estados Unidos prevê significativas reduções na redução do país em para este ano (9,3 milhões de barris dia) e para 2016 (8,8 milhões).
Considerada a produção dos EUA, exclusivamente, isso é uma redução de 25% sobre o extraído em 2014.
A resistência dos produtores de shale oil americano tem sido maior, certamente, do que esperavam os sauditas quando capitanearam, no início de 2015, o rebaixamento dos preços ao decidirem não reduzir a produção de seus campos.
Mas tudo isso pode se acelerar muito rapidamente, com o componente adicional – e imponderável – das dúvidas sobre os problemas ambientais que possam ocorrer no shale, pelas críticas que recebe pelo uso de explosivos no subsolo e a injeção de produtos químicos que, dizem alguns cientistas, pode contaminar, no médio prazo, os lençóis freáticos.
Quem achar que o preço baixo do petróleo é razão para o Brasil abrir mão do controle do seu pré-sal, pela perda de importância econômica não está vendo que a guerra do petróleo segue, agora com preços em lugar de mísseis.
Ou então está vendo muito bem e se aproveitando disso para ver se convence os trouxas de que o petróleo não é mais o “ouro negro” e consegue que o entreguemos de mão-beijada.
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