Pesquisar este blog

sábado, 30 de maio de 2015

Especialista de Harvard alerta sobre interesses dos EUA em crise na Fifa


Daniel Lisboa
Do UOL, em São Paulo 

  • John Shulman, que estudou direito em Harvard, fala sobre o escândalo na Fifa

    John Shulman, que estudou direito em Harvard, fala sobre o escândalo na Fifa

"Eu estou chocado, você não está?", diz John Shulman ao atender a reportagem do UOL. Ele tem uma opinião diferente sobre o envolvimento dos Estados Unidos no escândalo da FIFA. Professor convidado da Fundação Dom Cabral, especialista em mediação de negociações, cofundador do Centro para a Negociação e a Justiça dos EUA, e formado em direito pela Universidade de Harvard, ele acredita que a intervenção "não teve cunho legal, mas geopolítico".

"Com essa ação, os EUA enviam dois recados. Para o mundo, o de que o nosso sistema legal pode te pegar se você estiver fazendo algo errado. Internamente, mostramos que tomamos a iniciativa de resolver a corrupção dos outros", diz o professor.

E John entende tanto de geopolítica quanto de futebol. Seu currículo de mediador inclui diversos trabalhos ao redor do mundo, incluindo no Oriente Médio, na Índia e em Ruanda. Sobre o "soccer", uma curiosidade: o hoje professor já jogou profissionalmente na Índia, onde, segundo ele, foi o primeiro jogador ocidental por aquelas bandas.

"Os Estados Unidos nunca deram a menor bola para o futebol. De repente, pela primeira vez na história, o The New York Times vem com a primeira página inteira falando do assunto. Aí eu me pergunto: por quê?", questiona John. Para o professor, há vários pontos obscuros no envolvimento americano. "A logística de uma operação internacional deste porte simplesmente não vale a pena. Até porque não há um número de vítimas nos EUA que justifiquem tamanha mobilização", argumenta ele. "Há empresas nos EUA muito mais corruptas do que a FIFA, pode ter certeza", crava o especialista. 

"Para mim, trata-se claramente do seguinte: são os EUA mobilizando seu aparato legal interno em prol de questões geopolíticas. No caso, para colocar pressão na Rússia (sede da Copa de 2018), com quem o país tem tido problemas recentemente, e no Qatar (sede da Copa de 2022), onde também existem questões geopolíticas". 

John cita ainda a chance para os EUA desestruturarem uma organização que, corrupta ou não, tem tentáculos de poder que fogem ao seu alcance. "A ONU está presente em vários países, mas os EUA têm poder sobre ela. Isso não acontece com a FIFA, o que causa uma ruptura da hegemonia americana."

Quer dizer, se você está feliz que alguém finalmente tomou a iniciativa de enquadrar a FIFA, comemore com moderação. "É claro que a FIFA é corrupta. Todo mundo sabe disso. Mas os EUA não estão fazendo isso pelo bem do futebol", completa John.




sexta-feira, 29 de maio de 2015

A convergência das crises econômica e geopolítica do capitalismo

29 de Maio de 2015 - 10h46 

A convergência das crises econômica e geopolítica do capitalismo


A radicalização da luta de classes e dos conflitos internacionais é a marca mais saliente do momento histórico que vivemos. Transparece na guerra civil da Ucrânia, por trás da qual há uma guerra ainda fria entre EUA e Rússia; nas lutas sociais e políticas que sacodem a Europa; nas tensões no Mar da China; nos conflitos instigados pelo imperialismo no Oriente Médio e também na ofensiva das forças conservadoras na Venezuela, no Brasil e na Argentina.

Por Umberto Martins


 

 

O pano de fundo deste fenômeno é a crise mundial do capitalismo, que a meu ver tem dois aspectos fundamentais, diferentes, mas profundamente entrelaçados. Primeiro, embora não por ordem de importância, vem a crise econômica, iniciada no final de 2007 (quando a recessão teve ingresso nos EUA) e que se arrasta, com altos e baixos, até o presente, afetando hoje principalmente países como Rússia, Brasil, Venezuela e Argentina.

Interligada às perturbações econômicas e em convergência com elas, desenvolve-se uma crise geopolítica originária da decomposição da ordem internacional remanescente dos acordos de Bretton Woods hegemonizada pelos Estados Unidos e emergência de um novo arranjo geopolítico, liderado pela China e com crescente protagonismo do Brics. Também podemos caracterizá-la como crise da hegemonia estadunidense.

Uma convergência crítica 

Produto do desenvolvimento desigual das nações e do parasitismo econômico do Ocidente a crise de hegemonia é o corolário do declínio da liderança econômica dos EUA e UE e da ascensão da China e, menor medida, dos países que compõem o Brics. Não restam dúvidas de que a crise econômica acelerou este processo. A economia chinesa, embora afetada, continuou crescendo em ritmo surpreendente e desigual (agora a 7% ao ano) e foi justamente ao longo dos últimos anos que ocorreu a criação (2009) e consolidação do Brics e a rápida multiplicação dos investimentos chineses na África, Ásia e América Latina. É visível a convergência entre as crises econômica e geopolítica do capitalismo. 

O cenário de instabilidade é agravado pela crise ambiental, hídrica e energética, que amadureceu em função das relações predatórias que o capitalismo estabelece com a natureza, desafiando a sustentabilidade dos recursos naturais que ancoram o processo produtivo e evidenciando a irracionalidade do modo e das relações de produção burguesas, que insensíveis aos anseios de bem-estar social e ao equilíbrio ecológico visam exclusivamente a maximização dos lucros.

A necessidade de uma nova ordem mundial ganha corpo e força nas iniciativas lideradas pelo Brics (como a criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingencial de Reservas, instituições alternativas ao Banco Mundial e ao FMI) e pelo governo chinês (criação de um banco asiático de infraestrutura contra a vontade do império, por exemplo) e, em nossa região, pelos governos progressistas - criação da Alba, da Unasul e da Celac, bem como a rejeição da Alca, que em conjunto configuram um processo de transição para um novo arranjo geopolítico. 

A ascensão da China à condição de potência financeira vem ao encontro desta transição latino-americana e caribenha para uma nova ordem regional, respaldando-a. O apoio financeiro dos comunistas chineses a Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina, Brasil e outros países da Nossa América, tem se revelado fundamental no cenário de crise e constitui inegável e forte contribuição à sustentação dos governos progressistas, tornando-os menos vulneráveis aos humores instáveis do combalido sistema financeiro ocidental, bem como às chantagens e sanções do império.

O império contra-ataca 

A reação dos EUA e da Europa contra este movimento histórico é uma das principais causas dos conflitos políticos na Ucrânia, no Mar da China e também por aqui, na América Latina. Por trás da onda conservadora em curso, explorando debilidades políticas e a crise econômica, percebem-se os dedos do império, a ação para desestabilizar os governos progressistas, interromper e reverter o novo ciclo político deflagrado após a primeira eleição de Hugo Chávez na Venezuela. 

Embora em franco declínio na esfera econômica os EUA ainda mantêm a hegemonia militar e forte influência política e ideológica sobre as classes dominantes e parcelas expressivas das populações locais. A ligação entre o imperialismo e as forças conservadoras nos países latino-americanos não é fenômeno novo. Há muito acompanha a conturbada história das relações da Nossa América com o valentão do Norte, cabendo lembrar neste sentido o papel ativo de Tio Sam nos golpes de 1964 no Brasil, 1973 no Chile, 2009 em Honduras e 2012 no Paraguai, além das iniciativas golpistas na Venezuela em 2002/2003 e 2014 contra os governos Chávez e Maduro, na Bolívia (2008) e Equador (2010).

Em meio à ofensiva conservadora é também notável e preocupante o avanço das forças de extrema direita em todo o globo, a exemplo do que ocorreu nos anos 30 do século passado como desdobramento da Grande Depressão e do infame Tratado de Versalhes. A crise, conforme observou Engels, é expressão da explosão das contradições inerentes ao sistema capitalista e imperialista. Enquanto não encontra um desfecho é natural e inevitável que resulte na elevação da temperatura da luta de classes e acirramento dos conflitos políticos e militares entre as nações.

A conjuntura instável e as tensões em crescimento no mundo e no Brasil projetam um futuro de sombras e embutem um risco iminente de conflagrações ainda mais violentas e retrocesso para a classe trabalhadora e a civilização humana. Mas a crise também pode se transformar em oportunidade de mudança, favorecendo a transição para uma nova ordem mundial efetivamente multilateral e democrática, assim como a luta pela superação do capitalismo e construção de uma nova sociedade, socialista.

A polarização crescente sugere que escassez de espaço para soluções intermediárias e a conciliação de classes. As portas para uma saída reformista estão sendo fechadas não pela classe trabalhadora, mas pela própria burguesia, que dobra a aposta no neoliberalismo e promove o acirramento da luta de classes, conforme notou o economista Luiz Carlos Bresser Pereira. Será preciso energia revolucionária para deter a onda conservadora e o avanço do neofascismo e construir uma saída progressista para a crise do capitalismo.  


CELSO AMORIM: POLÍTICA EXTERNA 'ATIVA E ALTIVA' INCOMODA A MÍDIA


LIGADO 


Foto: Felipe Bianchi/Barão de ItararéFoto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé

Em palestra na noite desta quarta-feira (27), no centro de São Paulo, o ex-chanceler Celso Amorim fez um breve retrospecto de quando esteve à frente do Itamaraty e, mesmo em tom ameno, não poupou críticas à postura da mídia no período. “Quando um jornal inglês me chamou de 'o melhor diplomata do mundo', em referência a conquista brasileira em sediar a Olimpíada de 2016, um jornalista brasileiro me perguntou a razão do elogio”, relembra. “E eu respondi que era, provavelmente, porque eles não liam a mídia brasileira”.

O bate-papo, que ocorreu no Sindicato dos Jornalistas, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé com o apoio do GRRI – Grupo de Reflexão em Relações Internacionais, também marcou o lançamento do novo livro de Amorim: Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva (editora Benvirá). A obra compila relatos, com riqueza de detalhes e bastidores, de importantes episódios diplomáticos vividos pelo então ministro das Relações Exteriores, durante a era Lula.

“Não me proponho a fazer nenhum tipo de ensaio sociológico sobre a mídia, mas ela é, sem dúvidas, uma das principais personagens desse novo livro – e de meus anteriores também”, pontua. “São coletâneas de crônicas das experiências que vivi. O livro é feito de notas que eu tomei ao longo desses episódios, coisa que eu fazia muito desde antes de Lula me anunciar como ministro”.

Apontado por parte da esquerda brasileira como o responsável por uma verdadeira 'revolução' na diplomacia do país, Amorim opina que os grandes meios de comunicação, atrelados ao poder econômico internacional, incomodavam-se bastante com essa postura 'ativa e altiva' – definição que, segundo ele, surgiu no momento de seu anúncio como ministro, por Lula.

Foto: Felipe Bianchi/Barão de ItararéFoto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé“Não que nunca tivemos momentos positivos, mas havia sempre uma preocupação de o Brasil não aparecer demais. A instrução era para evitar atitudes de protagonismo e eu não via razão alguma nisso”, diz. “Se fossem assuntos de interesse nacional, por que não? Claro que tem de ser cauteloso na diplomacia, mas não se pode ver assombração a todo momento e, por isso, não levantar a sua voz. Tínhamos que estar presentes não apenas para responder à agenda do mundo, mas para fazê-la”.

Em relação ao livro, Amorim retoma a crítica à mídia. “A obra trata de três processos diplomáticos que evidenciam essa nossa ideia de política externa ativa e altiva”, explica. “Achei importante restabelecer os fatos tais como haviam ocorrido, pois a ignorância sobre eles era muito grande. Fui a lugares que obviamente deveria haver algum conhecimento sobre os temas e, pior que desconhecerem, as pessoas abraçavam a versão enviesada da imprensa de que o Brasil teria feito acordos obedecendo, temerariamente, a outros interesses e contra os Estados Unidos”.

O título da obra faz referência a três cidades emblemáticas. Capital do Irã, a cidade de Teerã remonta à viagem de Lula, Amorim e outros diplomatas, ao lado de líderes turcos, para uma tentativa de acordo na questão nuclear, solicitada pelo então recém-eleito presidente Barack Obama. Com a ausência do líder máximo estadunidense, vetado por motivos desconhecidos, o Brasil teria ficado sem sustenação, segundo a imprensa brasileira, que tratou o episódio como uma gafe. Entretanto, a reaproximação entre Irã e Estados Unidos acontece justamente a partir dos termos de acordo firmados pelos representantes brasileiros. Ramalá, embora pequena, remete à virtual capital do território palestino, distando a apenas 15km de Jerusalém. Doha, por fim, faz referência à tentativa de uma negociação global, na Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Dávamos importância para o universalismo”, salienta Amorim. “Abrimos embaixadas na Coréia da Norte e no Irã, por exemplo. Depois de fazer um grande rebuliço, a mídia viu que também havia embaixadas de outros grandes países nesses lugares”, acrescenta, aos risos.Foto: Felipe Bianchi/Barão de ItararéFoto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé

Com auditório lotado e cerca de 5 mil internautas acompanhando a transmissão da palestra em tempo real, feita pela TVT, Celso Amorim entrou em detalhes de diversos acontecimentos descritos no livro, como a espinhosa negociação – intermediada, principalmente, pelo Brasil – entre Irã e Estados Unidos sobre a questão do urânio enriquecido. “À época, em um encontro de Barack Obama e Lula na Itália, o mandatário estadunidense elogiou o Brasil como 'exemplo de país com energia nuclear para fins pacíficos' e disse ao presidente brasileiro: 'Preciso de amigos que falem com aqueles que eu não posso falar'”.

Ilustrando o protagonismo pretendido pela diplomacia brasileira, Amorim resgatou outro fato, dessa vez envolvendo a então secretária de Estado dos Estados Unidos. “Era manhã, eu ainda não havia saído de casa e recebo a mensagem de que Hillary Clinton precisava falar comigo 'agora, daqui uma hora ou quando eu pudesse'”, recorda. “Eles precisavam saber o quê e como deveriam dizer em tratativas com a Turquia”.

De volta ao tema Irã x EUA, Amorim lamenta o desfecho da negociação. “O que posso dizer é que, se tivesse sido aceito o acordo que arranjamos àquela época, teríamos poupados o povo iraniano de quatro anos de sanções e deixado o cenário muito melhor. Eles tinham 2 mil quilos de urânio enriquecido, hoje tem 10 mil e não se sabe como resolver”, avalia. “Podemos especular que tenha sido por divergências na Casa Branca, pelo calendário eleitoral estadunidense e, até mesmo, uma forma de boicote à participação de países em desenvolvimento nos assuntos da alta cúpula do Conselho de Segurança, historicamente dominado por países mais poderosos”.

Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva também trata da aproximação do Brasil com os países árabes, que culminou em diversas ações como o reconhecimento do Estado da Palestina, o envio de ajuda humanitária a Gaza e a retirada de 3 mil brasileiros de um Líbano beligerante. “Nessas épocas todas, a mídia falava: 'o que o Brasil tem a ver com isso? Por que vai se meter?'. Acabei de voltar de uma escola de governo em Harvard, nos Estados Unidos, e ouvi, de mais de uma pessoa, o comentário de que o Brasil pode e deve se envolver ainda mais”, salienta. “Não nos obcecamos com nossos objetivos só preocupados em afirmar a nossa liderança. Fizemos concessões a países pequenos e mais pobres. Isso resume as nossas ações”.


terça-feira, 26 de maio de 2015

Imposto sobre grandes fortunas seria mordidinha de 1,5%


 

Pela primeira vez na história, um jornal – a Folha – dá informações realistas sobre o imposto de grandes fortunas. 

O Globo e a Globo nunca deram.

Não é nenhum bicho papão.

Todos os países avançados tem. É uma mordidinha de 0,5% a 1,5%, e significaria uma arrecadação de até 10 bilhões de reais/ano, para o Estado brasileiro.

Os poucos países que não tem, como a Inglaterra e EUA, pegam os ricos através de um pesadíssimo imposto sobre as heranças, de 40%.

A matéria da Folha diz que o atual ministro da Fazenda, Levy, acha o imposto sobre grandes fortunas uma medida ineficiente. E que o ministro anterior, Guido Mantega, ao contrário, havia encaminhado uma proposta nesse sentido.

Éramos felizes com Mantega e não sabíamos!

Mas os paneleiros de São Paulo adoram o Levy e xingam o Mantega nos restaurantes italianos.

Xingam o Padilha também.

Pegunta: paneleiros pertencem a raça humana? Se sim, por que eles aplaudem a sonegação das grandes empresas, um crime que roubou 700 bilhões de reais de um ano e meio até hoje, e xingam o ex-ministro da Saúde por causa do Mais Médicos, que leva médicos a 60 milhões de pessoas?

Ah, Brasil! Ah, Brasil!

O tempora! O mores!

Por falar nisso, chegam, do Senado, informações ao blog de que a CPI do Carf, que investiga uma corrupção fiscal de quase 20 bilhões de reais, está avançando. Houve reunião há pouco do presidente (senador Ataídes de Oliveira, PSDB-TO), vice-presidente (senador Donizeti Nogueira, PT-TO) e relatora (Vanessa Grazziotin, PCdoB-AM) da CPI com Frederico Paiva, procurador responsável pela Zelote. 

A foto no alto do post é dessa reunião, e mostra, da esquerda para a direita: a senadora Vanessa, o procurador, o vice-presidente da CPI. O homem de chapéu é o presidente da Comissão, o senador Ataídes.

A mesma fonte informa que já houve conversas entre a CPI e a corregedoria do Ministério da Fazenda, que está investigando o caso e também faz parte da força-tarefa que compõe a Zelotes.

A Zelotes é fruto de um trabalho em conjunto da Corregedoria do Ministério da Fazenda, setor de inteligência da Receita, Polícia Federal e Ministério Público.

Abaixo, a matéria da Folha citada no início do post.

*

Saiu na Folha.

Levy barrou taxação de grandes fortunas projetada por Mantega

LEONARDO SOUZA
DO RIO

26/05/2015 02h00

Se fosse aplicado um Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) aos 200 mil contribuintes mais ricos do país, como tem defendido a bancada do PT no Congresso, o governo poderia arrecadar até R$ 6 bilhões por ano, segundo estudo feito no Senado a pedido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

O valor é semelhante à economia que o governo pretende obter, por exemplo, com a revisão das normas para a concessão do seguro-desemprego, uma das principais medidas do pacote fiscal.

Segundo a Folha apurou, o IGF, previsto na Constituição de 1988 mas nunca instituído, estava entre as medidas preparadas pela equipe do ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) para depois das eleições de 2014. Levy, no entanto, é contra o IGF, por considerá-lo ineficiente.

Diante da forte repercussão negativa da revisão dos direitos trabalhistas e previdenciários, os congressistas do PT passaram a exigir da Fazenda um projeto para taxar o “andar de cima”.

Foi nesse contexto que a senadora Gleisi Hoffmann solicitou o estudo.

De acordo com o trabalho da consultoria do Senado, o tributo tem eficácia controversa. Na Europa ocidental, só Bélgica, Portugal e Reino Unido nunca o adotaram. O Reino Unido, contudo, assim como os EUA, tem uma carga de até 40% sobre heranças.

Na América do Sul, Uruguai, Argentina e Colômbia também contam com o IGF.

O tributo costuma ser adotado a partir de um determinado valor de patrimônio tangível, como imóveis, ações e aplicações financeiras. As alíquotas normalmente variam entre 0,5% e 1,5%. O limite máximo na França é de 1,8%.

Para chegar ao valor de até R$ 6 bilhões, os consultores do Senado se basearam em declarações de IR das pessoas físicas de 2013 e num relatório do banco Credit Suisse sobre a riqueza mundial.

Segundo o Credit Suisse, o 0,2% mais rico da população brasileira, cerca de 221 mil contribuintes, detinham em 2013 mais de US$ 1 milhão, o que corresponderia hoje a pouco mais de R$ 3 milhões.

Se fosse aplicada sobre essa base mínima uma alíquota de 1,5%, chegaria-se a algo próximo a R$ 10 bilhões.

Os técnicos do Senado ressaltaram, porém, que fatores como transferência de recursos para outros países e imóveis declarados abaixo do mercado poderiam diminuir drasticamente esse número.

A pedido da Folha, dois economistas avaliaram os cálculos do Senado e concluíram que o valor de R$ 6 bilhões é factível, apesar da precariedade dos dados disponíveis no Brasil.

O economista José Roberto Afonso, do IBRE/FGV, defende que antes de criar um IGF o governo deveria corrigir distorções nos impostos sobre propriedade, como o ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural) e IPTU. “O governo federal cobra menos ITR que o IPTU pago pelo bairro de Copacabana. Isso é ridículo, e ninguém fala.”

Para o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, o tributo sobre heranças é mais eficaz que o IGF, por reduzir a distância econômica entre classes das gerações futuras.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Ferrovia transcontinental reflete sabedoria de Brasil e China, diz economista

Portogente
Logística / transporte

Ceci JuruaEm entrevista ao Portogente, a economista Ceci Juruá fala sobre a Ferrovia Transcontinental, anunciada pela presidenta Dilma Roussef, na última semana. Juruá avalia que o empreendimento irá ampliar o intercâmbio comercial entre o Brasil e as zonas de forte crescimento econômico localizadas na Ásia, que, além da China, incluem Japão, Índia e Coreia do Sul. 

Para a economista, a Transcontinental retoma a prioridade do Brasil em utilizar estradas de ferro e trata-se de uma aliança histórica entre Brasil e China, pois ambos resistiram a projetos imperiais anglo-saxão e se unem nesse projeto estratégico que reflete a sabedoria dos atuais governantes. 

“Para o Brasil será a oportunidade de reconfigurar novas modalidades de cooperação internacional, em bases mais igualitárias e mais democráticas”, avalia. Ela defende a criação de uma empresa estatal ou de economia mista e que empresas brasileiras façam os estudos de implantação da ferrovia. “Esta é a única modalidade institucional compatível com a manutenção da plenitude da soberania nacional sobre tão vasto território. Compatível também com a minimização dos riscos ambientais e com a preservação das vantagens decorrentes de nossa Floresta Amazônica.” 

Portogente - Qual a sua opinião sobre a construção de uma megaferrovia por China, Brasil e Peru, que ligará os dois países sul-americanos, criando um corredor de trilhos entre os Oceanos Atlântico e o Pacífico?
Ceci Juruá - Encaro com satisfação e otimismo o anúncio de construção da ferrovia Transcontinental, entre Brasil/Rio de Janeiro e Peru. Trata-se de obra inserida nos planos de governo de Lula e Dilma, iniciativa que sinalizou a devolução de merecida prioridade às estradas de ferro, pois paralelamente à ampliação da malha foram criados incentivos à retomada da produção nacional de material ferroviário. Corrigimos assim o equívoco incorrido nas décadas de 1960 e 1990, quando muitos ramais foram desativados e privatizados, perdendo-se inclusive o que havia sido uma conquista da Era Vargas no transporte internacional, as ligações ferroviárias do Brasil com quatro países da América do Sul: Uruguai, Argentina, Bolívia e Paraguai. A integração econômica, social e cultural dos países da América do Sul não pode prescindir da ferrovia, a modalidade mais eficiente e segura para deslocamento de passageiros e de carga em grandes distâncias. É preciso lembrar, ainda, que as ligações por estradas de ferro constituem uma aspiração histórica de nossos povos desde a segunda metade do século XIX.

 Portogente - Em que medida essa ferrovia é estratégica para o desenvolvimento do Brasil e para as relações comerciais com a China?Juruá - A Ferrovia Transcontinental ora projetada vai favorecer, ainda, a ampliação do intercâmbio comercial entre o Brasil e as zonas de forte crescimento econômico localizadas na Ásia. Além da China, eu citaria o Japão, a Índia e a Coréia do Sul.  Também ficará facilitado o comércio com as áreas da costa oeste dos Estados Unidos e com países fronteiriços do Peru (Colômbia, Equador e Chile, por exemplo). Do ponto de vista estratégico, portanto, pode-se afirmar que a Ferrovia Transcontinental é uma obra afinada com o objetivo permanente da nossa diplomacia desde Rio Branco, a inserção do Brasil como global player na sociedade mundial. Analisando a construção da Estrada de Ferro Noroeste (entre Bauru e Corumbá), no inicio do século passado, Fernando de Azevedo enfatizou “o papel dos caminhos na vida das unidades políticas, sempre destinados a permitir ao Estado o livre e fácil emprego de todos os seus recursos e de todos os seus poderes e a conservação de relações fáceis com os países vizinhos que importam à sua vida”.  Para esse autor, um grande estudioso de nossas ferrovias, a E.F. Noroeste foi um desses caminhos políticos, uma via de penetração configurada idealmente por ocasião da política de centralização do Império e admitida como necessária após o final da Guerra do Paraguai.  Talvez por esta razão tenha sido a primeira ferrovia privatizada, em leilão ao qual se apresentou um único comprador: a norte-americana Noel Group.   
Portogente - Por que essa ferrovia é tão importante para a China, que enviou seu primeiro-ministro para fazer as tratativas preliminares com o Brasil e Peru?
Juruá - Não posso responder pela China, faltam-me conhecimentos para isto.  Mas suponho que tal interesse esteja vinculado às novas oportunidades de intercâmbio comercial e à fixação de uma nova fronteira de investimentos fora da China, no maior país da América do Sul. Trata-se ainda de uma aliança justificada historicamente, pois ambos, Brasil e China, estiveram inseridos passivamente em zonas imperiais sob-hegemonia anglo-saxã. Que estejam unidos agora em um projeto estratégico dessa relevância, em tempos de multipolaridade, é uma decisão que reflete a sabedoria dos atuais governantes.  Para o Brasil será a oportunidade de reconfigurar novas modalidades de cooperação internacional, em bases mais igualitárias e mais democráticas. 

Portogente - Em termos de investimentos e impactos ambientais, que custo-benefício gera a construção dessa ferrovia?
Juruá - A relação custo-benefício, para o Brasil, não é dada a priori obviamente.   Vai depender das negociações e das entidades responsáveis pelo detalhamento do projeto.  Hoje nós dispomos de um corpo técnico suficientemente qualificado em matéria de construção ferroviária, mas também de estudos históricos sobre vantagens e prejuízos vinculados às nossas estradas de ferro.  Conhecemos relativamente bem a cobiça dos estrangeiros por nossas terras férteis e por nossos recursos minerais, e suas formas lícitas e/ou ilícitas de apropriação privada de lucros e socialização dos prejuízos. Sobretudo naquelas áreas do Brasil central houve imensos latifúndios geridos por estrangeiros, muitas vezes dotados de grupos armados, milícias particulares, geradores de inúmeros conflitos com posseiros e com as autoridades brasileiras. Defendo por isto que os estudos de implantação dessa Ferrovia Transcontinental sejam feitos por empresas brasileiras e aproveitem a experiência por nós acumulada em matéria de construção ferroviária. À luz dessa experiência e dos estudos feitos por ocasião de minha tese, eu diria que a Transcontinental deve ser organizada como empresa estatal ou de economia mista, proprietária da infraestrutura e das áreas lindeiras.  Esta é a única modalidade institucional compatível com a manutenção da plenitude da soberania nacional sobre tão vasto território.  Compatível também com a minimização dos riscos ambientais e com a preservação das vantagens decorrentes de nossa Floresta Amazônica.

Cotação do real manipulada criminosamente por grandes bancos internacionais

VIOMUNDO


Cotação do real manipulada criminosamente por grandes bancos internacionais

publicado em 25 de maio de 2015 às 07:18

manipulação realmanipulação

Manipulação com cotação do Real pode deixar Lava-Jato “no chinelo”. E o BC, vai agir?

Fernando Brito, no Tijolaço

O ótimo trabalho do repórter Fernando Nakagawa, do Estadão, divulga, pela primeira vez no Brasil, o que desde ontem já se sabia nos círculos financeiros  norte-americanos:

Os grandes bancos internacionais, sobretudo o Barclays  – mas também o Citibank, o JP Morgan (que opera no Brasil com a participação deArmínio Fraga), Royal Bank of Scotland (RBS), UBS e Bank of America  – estavam envolvidos e pagarão US$ 5,6 bilhões manipularam, entre outras,  a cotação da moeda brasileira, pelo menos durante a crise financeira de 2008/2009.

Diz Nakagawa que “documento do órgão supervisor do Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (DFS) mostra que negócios com a moeda brasileira em 2009 foram alvo da ação de operadores que queriam influenciar preços para aumentar lucros. “Operadores de câmbio envolvidos no mercado entre o dólar dos Estados Unidos e o real do Brasil conspiraram juntos para manipular os mercados”, diz o termo de compromisso de cessação de prática (consent order, em inglês) que envolve o Barclays”.

Entre  2008 e 2012, os agentes de FX (Foreign Exchange, câmbio mundial, numa tradução livre)  do Barclays comunicavam com os negociantes de FX em outros bancos para coordenar tentativas de manipular os preços de algumas moedas – a nossa, entre elas – através de comunicação online.

O mercado de FX, preste atenção, não está escrito errado, movimenta um quatrilhão de dólares por ano. É, quatrilhão, mil vezes um trilhão. E os bancos envolvidos respondem por mais de 20% do total das operações, o que dá um poder de fogo imenso na cotação. E transforma décimos de centavos nas cotações em somas bilionárias.

Diz a reportagem (na íntegra, no final):

“Uma indicação do esquema veio à tona com a troca de mensagens entre duas pessoas que negociavam a moeda brasileira. Em 28 de outubro de 2009, um operador do Royal Bank of Canada (RBC) conversava com um colega do Barclays. “Todo mundo está de acordo em não aceitar um agente local como corretor?”, questiona o funcionário do banco canadense via programa eletrônico de troca de mensagens. “Sim, menor competição é melhor”, respondeu o operador do banco britânico. Exatamente no dia da troca de mensagens citada no processo, o dólar fechou em alta de 0,6%, a R$ 1,7447, segundo dados do Banco Central. Naquela época, o mercado de câmbio do Brasil vivia o fim de um período de quase um ano de firme valorização da moeda nacional. Enquanto o mundo tentava se desvencilhar dos problemas da crise financeira que estourara um ano antes, o Brasil crescia e o fluxo de moeda estrangeira para o País fez com que o dólar caísse do patamar próximo de R$ 2,50 visto em dezembro de 2008 para R$ 1,70 em outubro de 2009. A manipulação do mercado brasileiro foi descoberta pela investigação que envolveu autoridades dos EUA e Reino Unido e revelou um grande esquema global que influenciou as cotações das principais moedas do planeta.”

Nos EUA e no Reino Unido, as multas aos bancos superam  US$ 5 bilhões (R$ 15 bilhões), quase o triplo  do que – e com muito exagero – se consideram terem sido os prejuízos possíveis com a Lava-Jato. Só para o Barclays são US$ 2,4 bilhões: US$ 485 milhões para o Departamento de de Serviços Financeiros do Estado de Nova Iorque , US$ 400 milhões para a Commodities Futures Trading Commission , US$ 710 milhões para o Departamento de Justiça dos EUA, US$ 342 milhões ao Federal Reserve, o BC dos EUA, e e 284 milhões de libras esterlinas (aproximadamente US$ 441 milhões para os órgãos reguladores do Reino Unido.

E isso é apenas o acordo de leniência firmado com os bancos.

E nós com isso?

Tudo, porque o Banco Central toma e liquida contratos em dólares, em bilhões de reais, porque opera a troca de moeda. E vende contratos de câmbio compromissados com valores que, agora, sabem-se manipulados.

Embora seja virtualmente impossível apurar o valor exato das perdas, é certo que elas foram imensas, a confirmar-se que a manipulação durou anos. Mas o BC, o Itamaraty e a Procuradoria Geral da República têm de agir imediatamente, a começar pelo levantamento de todas as operações de câmbio fechadas por estes bancos, diretamente ou por intermediação com outros, durante  aquele período.

E, com isso, estimar as penalidades que devem ser aplicadas.

A tal “mão invisível” do mercado, vê-se, também é dada a manipulações criminosas.

*

Cotação do real sofreu manipulação em esquema global

Fernando Nakagawa, correspondente em Londres |O Estado de S. Paulo | 21 Maio 2015 |, sugestão de Álvaro Rodrigues dos Santos

Documento fala em ‘conspiração’ e boicote a corretoras nacionais; após investigações, bancos, em especial o Barclays, foram multados em mais de multas US$ 5 bilhões

LONDRES - O real também sofreu com o esquema internacional de manipulação das taxas de câmbio que envolveu seis dos maiores bancos globais e resultou em multas que superam os US$ 5 bilhões. Desconhecida até agora, a influência sobre a moeda brasileira foi revelada no acordo final entre autoridades dos Estados Unidos e o britânico Barclays. O documento fala em “conspiração” e cita que havia boicote aos corretores nacionais para aumentar o poder de fogo do esquema de manipulação de preços.

Documento do órgão supervisor do Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (DFS) mostra que negócios com a moeda brasileira em 2009 foram alvo da ação de operadores que queriam influenciar preços para aumentar lucros. “Operadores de câmbio envolvidos no mercado entre o dólar dos Estados Unidos e o real do Brasil conspiraram juntos para manipular os mercados”, diz o termo de compromisso de cessação de prática (consent order, em inglês) que envolve o Barclays. O termo foi assinado na terça-feira, dia 19, pelo conselheiro geral do banco britânico, Robert Hoyt.

A investigação analisou especialmente negócios realizados entre 2008 e 2012 e afirma que a manipulação com a moeda brasileira usava procedimentos “mais diretos” que os adotados em outros mercados, como o que negocia euros. Segundo a autoridade norte-americana, operadores “concordavam em boicotar corretores locais para reduzir a competição”. Com menor concorrência, seria mais fácil influenciar a oscilação dos preços no mercado.

Mensagens. Uma indicação do esquema veio à tona com a troca de mensagens entre duas pessoas que negociavam a moeda brasileira. Em 28 de outubro de 2009, um operador do Royal Bank of Canada (RBC) conversava com um colega do Barclays. “Todo mundo está de acordo em não aceitar um agente local como corretor”?, questiona o funcionário do banco canadense via programa eletrônico de troca de mensagens. “Sim, menor competição é melhor”, respondeu o operador do banco britânico.

Exatamente no dia da troca de mensagens citada no processo, o dólar fechou em alta de 0,6%, a R$ 1,7447, segundo dados do Banco Central. Naquela época, o mercado de câmbio do Brasil vivia o fim de um período de quase um ano de firme valorização da moeda nacional. Enquanto o mundo tentava se desvencilhar dos problemas da crise financeira que estourara um ano antes, o Brasil crescia e o fluxo de moeda estrangeira para o País fez com que o dólar caísse do patamar próximo de R$ 2,50 visto em dezembro de 2008 para R$ 1,70 em outubro de 2009.

A manipulação do mercado brasileiro foi descoberta pela investigação que envolveu autoridades dos EUA e Reino Unido e revelou um grande esquema global que influenciou as cotações das principais moedas do planeta.

Barclays, Citibank, JP Morgan, Royal Bank of Scotland (RBS), UBS e Bank of America estavam envolvidos e pagarão US$ 5,6 bilhões em multas e acordos de compensação. O britânico Barclays sofrerá a maior punição. A ação era feita especialmente por operadores que combinavam estratégias para influenciar as cotações. A polícia federal dos EUA, o FBI, classificou o esquema como uma “ação criminosa em larga escala”.

A direção do banco britânico Barclays informou “lamentar profundamente” a conduta adotada por alguns dos colaboradores dentro da instituição.

“A má conduta vista no cerne dessas investigações é totalmente incompatível com o propósito e os valores do Barclays e lamentamos profundamente que isso tenha ocorrido”, disse nota distribuída após o anúncio de que o banco pagará cerca de US$ 2,32 bilhões em multas e acordos com autoridades dos Estados Unidos e Reino Unido. Portanto, o texto diz respeito a todo o processo, e não apenas especificamente à manipulação vista no Brasil.

 Leia também:

Sonegômetro no Brasil: Por ano, mais de 500 bi vão para o ralo


sábado, 23 de maio de 2015

FERROVIA TRANSOCEÂNICA: ""É um Plano Marshall sem contrapartidas políticas nem ideológicas"

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Porque não temos de temer os investimentos chineses como “imperialistas”



18 de maio de 2015 | 22:08 
Autor: Fernando Brito 

chinaied

Quando fiz comentários, outro dia, aqui, sobre o interesse dos chineses em investir no Brasil, surgiram algumas pessoas preocupadas com o que seria o “imperialismo chinês no Brasil”.

Respondi meio na base da brincadeira (politicamente incorreta, aliás) de que deveríamos, quem sabe, procurar nas pastelarias os agentes de Pequim.

Mas acho que isso vale um reflexão mais profunda sobre o que é diferente no estabelecimento de relações de negócio com a China do que foram, no passado, as com a Inglaterra e ainda são as com o EUA.

A primeira, obvia, é que somos praticamente antípodas. Estamos fora do conceito de espaço vital (o Lebensraun da Alemanha nazista é um conceito do século 19, fortemente inspirado nas ideias do “Destino Manifesto” que empolgou os EUA, ao ponto do presidente James Buchanan, em meados do século ter dito que “a expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a América do Sul, é o destino de nossa raça (…) e nada pode detê-la”.

O que foi repetido, 150 anos depois, pelo General Colin Powell: “O nosso objetivo com a Alca é garantir para as empresas norte-americanas o controle de um território que vai do Pólo Ártico até a Antártida“.

Muito menos parece que os chineses pretendam criar, como arrogavam-se os ingleses, um império “onde o sol nunca se põe”.

A segunda é que, ao que conste, não existe de parte dos chineses nenhuma iniciativa de controlar jazidas e terras por aqui. No primeiro caso, a modéstia (20%) com que participaram do leilão de Libra e – aqui revelo algo que me contaram – com um chinês vigiando o envelope do lance, para que não se desse um tostão acima do lance mínimo. Positivamente, não é atitude de quem quer, a qualquer preço, abocanhar um grande naco do nosso petróleo. Também não se registra qualquer interesse por minas de ferro ou de outros minérios, que eu saiba.

Também não causa preocupação aqui o apetite chinês por áreas agricultáveis – que eles têm, sim, na Austrália e na África  – porque depois de muita conversa, no início da década, que que os chineses queriam comprar terras por aqui o assunto sumiu e deu lugar a interesse de acordos entre produtores brasileiros – ou empresários do agronegócio – com o poderoso mercado chinês, aliás no qual a liberação das importações de carne do Brasil é um dos maiores interesses do setor.

O foco deles é, sim, a logística, porque são importadores e serão ainda mais, com o crescimento de sua economia e, sobretudo, de seu consumo interno, onde inclusão, mesmo pequena, representa agregação de dezenas de milhões ao mercado.

No “front” tecnológico, embora estejam muito mais avançados que nós, também não tem a China a possibilidade de pretender ser “dona” do pedaço, ao menos no horizonte visível. Pode partilhar algumas pesquisas de ponta, mas não pretender domínio – o que aliás nem tenta – de nossa indústria, onde o prejuízo que traz é no setor têxtil e de vestuário, que está longe de ser indústria high-tech ou de base, embora seja importante.

Mas temos muito a partilhar em áreas onde os chineses são fortes: transmissão de energia elétrica (natural, porque também têm dimensões continentais), construção naval, ferrovias, siderurgia (são o maior produtor de aço do mundo), tecnologia agrícola (da qual eles dependem fortemente) e muitas outras áreas.

Igualmente na área militar, não consta que os chineses estejam tentando espalhar sua doutrina. Ao contrário, dos grandes países, são mesmo o que menos detém tecnologia própria, que se desenvolveu, como todos sabem, com “cópias adaptadas” de armamentos de outros países e só agora – e muito modestamente – cuidam de criar vetores bélicos (porta-aviões, aviões furtivos e mísseis de longo alcance- áreas em que são assumidamente muito inferiores aos EUA) com poder de projeção a longas distâncias.

O melhor exemplo é que só agora estão fazendo seu segundo porta-aviões.

No que eles se esmeram, seja em armas, convencionais ou nucleares  ou em meios eletrônicos – é, isto sim, em criar um poder bélico dissuasório.

Bem, some o leitor e a leitora todas as brutais diferenças culturais, econômicas e sociais que há entre os dois países e veja se estamos sujeitos a uma hipotética “dominação chinesa”.

Claro que os chineses não são “santinhos” e querem, como sempre foi a regra das grandes potências econômicas mundiais, ganhar dinheiro e poder, ou vice-versa. E que com eles, ou com os norte-americanos, os alemães ou os franceses devemos fazer negócios que sejam bons para o Brasil. A única diferença é que eles estão oferecendo estas oportunidades e os outros, não ou, ao menos, nem tanto ou muito menos.

E estão oferecendo porque, como você pode ver no mapa acima (mesmo não sendo tão atual, ajuda a ter uma ideia) que mostra o investimento chinês através do mundo e revela  o quanto a participação do Brasil nestas inversões de capital é pequena em relação ao tamanho da sétima economia do mundo.

Mesmo que tenhamos, nesta década, nos tornado o quinto ou sexto destino de capitais chineses, ainda atraímos muito menos que Austrália, EUA e Canadá ( será que alguém acha que estão controlados pelos chineses?) e, sobretudo, que acumulamos um atraso imenso nessa captação, comparada ás nossas potencialidades.

É isso, e não outra coisa, que explica o volume dos acordos que estamos assinando com aquele país.

O resto é conversa de quem, em relação ao capital internacional, fez séculos de maus negócios, embora para os estrangeiros o Brasil tenha sido, sim, um negócio da China

terça-feira, 19 de maio de 2015

História não contada no Ocidente: II Guerra Mundial e a vitória de 1945

Nos 70 anos da Vitória de 1945

12.05.2015
 
Nos 70 anos da Vitória de 1945. 22161.jpeg
Assinalar o fim da II Guerra Mundial na Europa e a derrota do monstro nazi-fascista nunca é mera formalidade.

 Tragédia maior da História humana, a II Grande Guerra (II GM) foi também, em múltiplos aspectos, um momento de viragem histórico. 

Mas a comemoração dos 70 anos de Maio de 1945 ganha importância ainda maior. 

Confrontadas com uma crise do sistema capitalista de profundidade sem precedentes, boa parte das classes dominantes aposta de novo na guerra, na ditadura e na violência, como instrumentos para afirmar o seu poder. 

Conhecer o fascismo, as suas origens e patrocinadores, a sua realidade e trágicas consequências, é um imperativo, não só para entender o passado, mas também o presente.

Por Jorge Cadima
No Pravda em português


A II GM é inseparável da Grande Guerra de 1914-18, de que foi em certos aspectos a continuação; da ascensão nos anos 20 e 30 do nazi-fascismo - expressão mais brutal e violenta do capitalismo e causa direta da Guerra de 1939-45; e da grande crise do capitalismo iniciada em 1929, que alimentou o fascismo, em particular a sua variante mais violenta e perigosa, o nazismo. A primeira metade do Século XX foi de crise permanente, indissociável do sistema capitalista e das suas contradições.

Tecnologia moderna foi usada para matar milhões de seres humanos, com blindados, aviação e foguetões como os V1 e V2 alemães que semearam a morte e destruição em Inglaterra, mas também com as bombas incendiárias anglo-americanas (que em Tóquio provocaram 100 mil mortos em 9 de Março de 1943 e em Dresden 25 mil mortos em duas noites de Fevereiro de 1945) e sobretudo no bombardeamento atómico pelos EUA das cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaqui, em Agosto de 1945.
 

A barbárie foi levada ao extremo nos campos de concentração nazis, que eram não apenas campos de extermínio de quantos eram incapazes de trabalhar, mas também campos de trabalho onde a exploração era levada até à morte, e que asseguravam a mão de obra a custo quase nulo para que os grandes monopólios que levaram Hitler ao poder (Thyssen, Krupp, IG Farben, etc.) pudessem engordar e alimentar a poderosa máquina de guerra nazi. 

O professor de História Económica nas Universidades de Cambridge e Yale, Adam Tooze, na sua grande obra sobre a economia da Alemanha Nazi, escreve: «o primeiro campo a fornecer em grande escala os seus reclusos foi Auschwitz que, para além do estaleiro de construção da IG [Farben] em Monowitz, também fornecia mão de obra para projetos da indústria pesada em toda a Silésia. 

Foi seguida por Oranienburg, que forneceu 800 reclusos à Heinkel em Setembro de 1942, e Ravensbruck, que fornecia trabalhadoras à Siemens. Em breve, Mauthausen estabelecera uma relação com a Steyr Daimler Puch. Sacshausen abastecia a fábrica da Daimler-Benz em Genshagen. Dachau fazia negócio com a BMW. 

Outros parceiros notáveis das SS incluíam [...] a fábrica da V[olks]W[agen] em Fallersleben».Na II GM morreram mais de 60 milhões de pessoas - quase metade soviéticos - ou seja, mais de 3% da população mundial de então e quase 15% da população da URSS.

 Em 2 mil dias do conflito registaram-se cerca de 30 mil mortos por dia. À carnificina juntou-se a destruição em larga escala do continente europeu - em especial da URSS (e da Alemanha), onde se travaram o grosso dos combates - e parte importante do Extremo Oriente. Quase toda a Europa continental chegou a estar sob o domínio direto ou indireto do nazi-fascismo e em 1942 parecia plausível que as potências fascistas vencessem a guerra.
 


A caminho da Guerra


Os livros de História indicam o começo da guerra em Setembro de 1939 quando, após a invasão da Polónia pelas tropas nazis, Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha. 

Mas os anos anteriores haviam sido já anos de agressões e ocupações por parte das potências fascistas. 

Em 1931 o Japão imperial, futuro aliado de Hitler e Mussolini, ocupa a Manchúria chinesa. 

Em 1935 a Itália fascista lançou a sua guerra de rapina contra a Etiópia, único país africano que havia mantido a sua independência durante a vaga de ocupações coloniais. A Etiópia foi abandonada à sua sorte. «O seu apelo à Sociedade das Nações [antecessora da ONU - N.A.] apenas foi apoiado pela União Soviética e alguns pequenos Estados. Os EUA, Inglaterra e França não só se negaram a vender armas à Etiópia, como recorreram, na prática, a um bloqueio contra ela». 

Igual sorte teve a vítima seguinte, a Espanha Republicana, cujo governo democraticamente eleito foi impedido de se defender do golpe militar do fascista Franco - apesar do apoio militar que este recebeu de Mussolini e Hitler - pela vergonhosa política da «não intervenção», que na realidade representou uma luz verde das 'democracias ocidentais' à vitória do fascismo espanhol. Apenas a URSS se manteve solidária com a República democrática. 

No Extremo Oriente, o Japão, aliado desde 1936 à Alemanha nazi e à Itália fascista no «Pacto Anti-Comintern» - que, como o próprio nome indica, assentava no combate à Internacional Comunista e à URSS - lançou-se numa nova fase de ocupação da China em Julho de 1937. 

Em Março de 1938 foi a vez da Alemanha anexar a vizinha Áustria (o «Anschluss»). Em seguida, Hitler virou-se para a Checoslováquia, que foi retalhada pelos acordos de Munique, um dos mais sórdidos episódios da política colaboracionista das classes dirigentes de França e Inglaterra com o ascensão do nazi-fascismo. 

Em 29 e 30 de Setembro de 1938, os Primeiros Ministros inglês e francês, Chamberlain e Daladier, em conjunto com Mussolini e Hitler, desmembraram aquele país - com quem a França tinha um acordo de defesa mútua. 

De fora da conferência ficou o Governo checoslovaco, que foi vítima das chantagens e ameaças anglo-francesas. 

Nos dias seguintes a Alemanha nazi ocupou a zona dos Sudetos e a Polónia e Hungria ocuparam também parcelas de território checoslovaco. E em Março de 1939 a Alemanha tomou conta do que restava do país. A Polónia viria a ser a próxima vítima dos apetites expansionistas de Hitler.

Para compreender o compadrio das democracias burguesas com o ascensão do fascismo é preciso ter presente as suas raízes de classe.

O fascismo emergiu das entranhas do sistema capitalista, como dominação sem entraves pelo grande capital e latifundiários, que se sentiam ameaçados pela ascensão impetuosa do movimento operário e popular na viragem do século, pela Revolução de Outubro e pelas próprias contradições e crises do sistema, que eram incapazes de controlar. 

Foi assim em Itália, na Alemanha, em Espanha ou Portugal. 

E foi assim também em França, Inglaterra ou EUA, onde sectores importantes das classes dominantes eram simpatizantes do fascismo. 

Norman Montagu, Governador do Banco de Inglaterra (que, sendo o banco central, foi também um banco privado até 1946), declarou numa conferência em Nova Iorque em 1934: «Hitler e Schacht [Presidente do Reichsbank e Ministro da Economia de Hitler - NA] são na Alemanha bastiões da civilização. São os únicos amigos que temos naquele país. Defendem o nosso tipo de ordem social contra o comunismo. Se eles fracassarem, os comunistas chegarão ao poder na Alemanha e, nesse caso, tudo será possível na Europa». 

Mesmo Churchill, que mais tarde encabeçaria o sector da classe dirigente inglesa que fez frente ao nazi-fascismo, não o fez por convicções anti-fascistas. O seu biógrafo inglês Clive Ponting escreve: «Churchill era um grande admirador de Mussolini, que chegara ao poder em Itália em 1922. 

Saudava quer o anti-comunismo de Mussolini, quer a sua forma autoritária de organizar e disciplinar os italianos. Visitou a Itália em 1927 [...] e encontrou-se com Mussolini, sobre quem proferiu rasgados elogios numa conferência de imprensa [...]. 'Se fosse italiano, estou seguro que estaria de todo o coração ao vosso lado, desde o início até ao fim, na vossa luta triunfante contra os apetites e paixões animalescas do Leninismo'. 

Durante os dez anos seguintes, Churchill continuou a elogiar Mussolini». E sobre as simpatias de Churchill pelos golpistas espanhóis escreve Ponting: «todas as suas simpatias estavam com Franco e o lado nacionalista. [...] Descreveu o governo legítimo e a parte republicana como 'um proletariado pobre e atrasado que exige o derrube da Igreja, do Estado e da propriedade e a instalação dum regime Comunista'. Contra eles erguiam-se 'forças patrióticas, religiosas e burguesas, sob o comando do exército [...] em marcha para reestabelecer a ordem através da instauração duma ditadura militar'» [sic!].

Em França, o 'susto' da vitória eleitoral da Frente Popular em 1936 levara à fascização de largos sectores da burguesia, «começando[-se] a ouvir nos círculos da classe alta em Paris um comentário que se tornou quase num cântico: 'antes Hitler que Blum'». 

Nos meses que antecederam a invasão nazi, a burguesia francesa dedicou-se a proibir e perseguir o Partido Comunista Francês (que viria a ser a força dirigente da resistência à ocupação) e a ultimar planos para um ataque militar à URSS! A «opção pela derrota» (título dum livro da historiadora francesa Annie Lacroix-Riz) haveria de conduzir à capitulação frente à invasão nazi em apenas seis semanas e à constituição do 'governo' colaboracionista de Vichy.

A política de conivência com Hitler, conhecida por «appeasement», era na realidade muito mais do que 'apaziguamento'. 

As classes dirigentes das 'democracias ocidentais' que acolheram com simpatia o ascensão de Mussolini, Franco e Hitler, pensavam resolver as suas rivalidades, que um quarto de século antes haviam conduzido à guerra, à custa da União Soviética, inimigo de classe comum. 

No seu livro de 1925-6 Mein Kampf, Hitler via aí o 'espaço vital' (Lebensraum) para o povo alemão. 

Em Munique, em Setembro de 1938, Chamberlain propôs a Hitler «a solução do problema russo». 

Em Janeiro de 1939, o Chefe de Estado-Maior da Marinha francesa Darlan escrevia: 

«Devemos antes de mais nada conservar o nosso Império. O resto é secundário. Por isso [...] devemos deixar a Alemanha livre de agir no Leste». O Leste, e a URSS em particular, seria o império colonial da Alemanha - que chegara tarde à 'corrida para África' imperialista de finais do Século XIX. 

Escreve o Prof. Tooze: «No Outono de 1941 Hitler voltou repetidamente ao exemplo americano ao discutir o futuro da Alemanha no Leste. O Volga, declarou, seria o Mississipi da Alemanha. 

E a conquista sangrenta do Oeste Americano dava à Alemanha o direito de que necessitava para justificar a limpeza da população eslava. [...] Uma população 'superior' de colonos iria deslocar uma população indígena 'inferior' abrindo o caminho a uma nova era de possibilidades económicas». 

O anti-semitismo nazi não estava desligado desse objectivo. 

Escrevera Hitler no Mein Kampf: 

«a essência e objectivo do Bolchevismo é a eliminação das camadas da Humanidade que até aqui garantiram a liderança, e a sua substituição pela Judiaria mundial». 

A «conspiração judaico-bolchevique» era uma teoria então popular no seio das 'instruídas' classes dominantes europeias e norte-americana, da qual mesmo Churchill se fez porta-voz. 

Escreve Tooze: «A invasão alemã da União Soviética é [...] a última grande conquista territorial na longa e sangrenta história do colonialismo europeu. A destruição da população judaica era o primeiro passo para extirpar o Estado bolchevique. O que se seguiria seria uma gigantesca campanha de limpeza de território e de colonização, que também envolvia a 'limpeza' da esmagadora maioria da população eslava e a colonização de milhões de hectares do Lebensraum oriental com colonos alemães». A guerra era o desenlace inevitável destas concepções, mas também do facto de que a recuperação económica da Alemanha nos anos do nazismo assentara na militarização acelerada. «Quase metade (47%) do crescimento no produto nacional total da Alemanha entre 1935 e 1938 era resultado directo do aumento nas despesas militares do Reich».


Durante anos, a URSS desenvolveu uma acção diplomática intensa, visando criar um sistema de segurança colectiva com acordos de não-agressão e defesa mútua entre o maior número possível de países. 

Em particular, procurou acordos deste tipo com as duas velhas potências capitalistas europeias, Inglaterra e França», as principais potências coloniais de então, e com a maior das potências capitalistas (EUA). 

Esta política da URSS baseava-se numa análise sobre os perigos do ascenso do fascismo para a paz mundial e para os povos e sobre as possibilidades resultantes das rivalidades existentes. 

O grande dirigente búlgaro da Internacional Comunista, Dimitrov, escrevia em 1937»:

 «Há dois anos, em Agosto de 1935, o VII Congresso da Internacional Comunista, analisando a situação internacional e procurando as vias e os meios de luta da classe operária contra a ofensiva do fascismo, demonstrou a indissolúvel ligação entre a luta contra o fascismo e a luta pela paz. 

O fascismo é a guerra, declarou o Congresso. [...] Ao aceder ao poder, contra a vontade e os interesses do povo, o fascismo procura uma solução para as suas dificuldades internas crescentes na agressão contra outros países e outros povos, numa nova divisão do mundo através do desencadeamento de uma guerra mundial». 

Esta «nova divisão do mundo», que as potências fascistas pretendiam impôr pela guerra exprimia as mesmas rivalidades inter-imperialistas que conduziram à I Guerra Mundial. A Internacional Comunista considerava que o perigo duma nova guerra mundial - para os trabalhadores e os povos, incluindo para a URSS socialista entretanto surgida com a Revolução de Outubro - tornava necessária a unidade de toda a classe operária, mas não só: exigia «a unidade de acção dos países interessados na manutenção da paz». 

Mas a política de paz da URSS não alcançou frutos imediatos: não era o fascismo que era visto pelas classes dirigentes dos países capitalistas como ameaça, mas sim os comunistas e a União Soviética socialista.

Tentar fazer crer (como está hoje na moda) que a responsabilidade da guerra recai sobre a URSS por ter assinado, em 23 de Agosto de 1939, ou seja uma semana antes do ataque de Hitler à Polónia, um Tratado de Não-Agressão com a Alemanha, é fazer tábua rasa da verdade histórica. 

O acordo permitiu evitar que a URSS viesse a encontrar-se isolada, combatendo simultaneamente em duas frentes: naqueles mesmos dias tropas soviéticas combatiam lado a lado com os seus aliados mongóis contra tropas japonesas invasoras, junto ao rio Khalkhin Gol. 

O acordo permitia ainda ganhar tempo precioso. Como escreve o gaullista De La Gorce:

 «Não há qualquer dúvida de que os acordos de Munique convenceram [os soviéticos] de que a França e a Grã-Bretanha, perante o risco de uma guerra geral, preferiam um compromisso com Hitler e excluíam, em qualquer caso, a opção de lhe resistir com a ajuda da União Soviética. 

Não há qualquer dúvida de que eles foram sensíveis a todos os indícios que sugeriam que elas deixariam a Hitler as mãos livres no Leste e que a União Soviética deveria então enfrentar, sozinha, as acções alemãs, com o risco de ver Londres e Paris intervirem mais tarde, quando a Alemanha e a Rússia se tivessem mutuamente destruído. [...] 

Não é correcto, como fizeram mais tarde os países ocidentais, invocar qualquer semelhança entre a URSS e a Alemanha para ver nisso o verdadeiro fundamento do pacto germano-soviético. A hostilidade feroz para com o comunismo e a vontade de destruí-lo sob todas as suas formas estavam na própria raiz dos movimentos fascistas. [...] 

Foi o partido comunista alemão que [Hitler] proibiu e esmagou em primeiro lugar»».

 Havia, aliás, precedentes para acordos com Hitler: o acordo anglo-germânico sobre a dívida de 1934»; o tratado naval anglo-germânico de 1935, assinado «nas costas da França»»; o pacto pós-Munique Bonnet-Ribbentrop; ou o tratado de não-agressão polaco-alemão de 1934. 

Também a história da 'ocupação da Polónia oriental pelas tropas soviéticas' é objecto de falsificação. A URSS aproveita a conjuntura criada em Agosto de 1939 para recuperar territórios que haviam sido seus, chegando até à linha de armistício proposta na guerra polaco-soviética em 1920 pelo então MNE inglês, Lord Curzon. 

Essa guerra fora iniciada pelas classes dirigentes polacas para, aproveitando as debilidades da jovem Rússia soviética, anexar território. A Linha Curzon é hoje a fronteira da Polónia, e os territórios a leste (descritos como 'Polónia Oriental' pela propaganda anti-soviética) são hoje território da Ucrânia, Bielorússia e Lituânia. Incluem Vilnius, a capital da Lituânia.

 Nessa região, «mesmo de acordo com as estatísticas oficiais polacas do período inter-guerras, os polacos não constituiam a maioria da população». «Mal tinha sido estabelecido pelos seus amigos ocidentais, [a Polónia] travou guerras contra a Rússia, a Alemanha, a Lituânia e mesmo a Checoslováquia - em todos os casos para ocupar territórios em disputa». 

O ditador polaco Pilsudski, e o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros Beck «que tinha calorosas simpatias pela ditadura Nazi» aproveitaram os acordos de Munique para, a 1 de Outubro de 1939, ocuparem a região checa de Teschen. Como em França e Inglaterra, foi a cegueira reacionária dos dirigentes polacos que conduziu o seu país à desgraça e o mundo à guerra. 

Não é preciso concordar-se com todos os aspectos da política externa soviética daqueles anos para perceber que a reescrita da História que é hoje moeda corrente procura escamotear as simpatias fascizantes de grande parte das classes dominantes da Europa dos anos 30 e as suas responsabilidades directas no abrir caminho para a catástrofe de 
1939-45.


A Guerra


Apesar de acordos de defesa mútua entre a Polónia e a Inglaterra e França, que obrigavam estes últimos a intervir militarmente em caso de agressão à Polónia, a verdade é que à invasão nazi se seguiram sete meses de quase inactividade militar, no que ficou conhecido em inglês por «phoney war», em francês por «drôle de guerre» e em alemão por «sitzkrieg» ('guerra sentada'). 

Esta «falsa guerra» prolongou-se mesmo durante a invasão da Dinamarca e Noruega em Abril de 1940. 

Apenas em Maio, quando as tropas nazis invadem a Bélgica, Holanda, Luxemburgo e França, e quando Chamberlain é substituído por Churchill, se pode falar de reais operações militares envolvendo as tropas anglo-francesas. 

A Segunda Guerra, tal como a Primeira, começava como expressão das rivalidades inter-imperialistas. Hitler, receoso de ver a Alemanha entalada entre duas frentes como em 1914-18, desejoso duma desforra histórica e consciente da receptividade que encontraria nas classes dominantes ocidentais, decide controlar a sua retaguarda para depois se dedicar ao objectivo estratégico de sempre: a URSS. 

O desastre de Dunkirk {Dunquerque} e a capitulação das classes dirigentes francesas permitiram que, em pouco tempo, Hitler controlasse o enorme potencial económico da Europa Ocidental continental, factor nada secundário para o curso da futura guerra a Leste.

Em Junho de 1941 começa o ataque à URSS. Foi nos gigantescos combates travados na Frente Leste que se decidiu a II GM. 

Por muito que custe à ficção hollywoodiana, «o ataque lançado pela Wehrmacht a 22 de Junho de 1941 foi a maior operação militar de que há registo histórico» e «nunca, nem antes, nem depois, uma batalha foi travada com tanta ferocidade por tantos homens, numa frente de batalha tão extensa». 

É impossível escamotear o facto histórico de que a grande maioria das forças armadas nazi-fascistas estava concentrada na Frente Leste, e que a sua derrota determinou a derrota final do nazismo em 1945. 

«Ao longo do ano 1942 o Exército Soviético combatia contra 98% do Exército Alemão operacional - 178 divisões concentradas na frente leste - enquanto que os britânicos combatiam contra quatro no Norte de África».

 É não apenas falso, mas vergonhoso, negar ou escamotear os incomparáveis sacrifícios do povo soviético, o heroísmo do seu Exército Vermelho, a determinação e firmeza dos dirigentes soviéticos, sem os quais o curso da História teria sido incomparavelmente mais negro para a Humanidade. 

Não se pode esquecer nem silenciar o heroísmo dos combatentes que, desde o primeiro dia da invasão da URSS deram a sua vida para travar o avanço da, até então invencível, máquina de guerra nazi. 

No final de 1941 os nazis foram travados às portas de Moscovo, numa planície sem obstáculos geográficos dignos de nota. Pela primeira vez, o caminho das tropas de Hitler fora travado. Nos duros meses seguintes, e à custa de incontáveis sacrifícios e pesadíssimas baixas, a resistência foi gradualmente assentando terreno e criando condições para passar à ofensiva.

Cercada pelo avanço das tropas fascistas em Setembro de 1941, a segunda maior cidade soviética, Leningrado, resistiu sem capitular 872 dias, até ao romper do cerco em Janeiro de 1944. A sua resistência heróica é bem o espelho do sacrifício soviético. 

O cerco custou a vida a quase um milhão de pessoas, das quais 650 mil morreram de fome, frio e doenças provocadas pela redução abaixo dos limites de sobrevivência das rações disponíveis.

Nos seus avanços de 1941-42, as tropas nazis penetraram em território soviético entre 850 e 1200 km, ocupando uma superfície de quase 2 milhões de km2 onde vivia cerca de 42% da população e com um terço da produção industrial. 

Nos territórios ocupados, concretizava-se a 'limpeza' de Hitler. Entre as vítimas contam-se os prisioneiros de guerra soviéticos que «a Wehrmacht sistematicamente matava à fome. 

Até ao final de Dezembro de 1941, de acordo com os registos da própria Wehrmacht, o número de prisioneiros alcançara 3,35 milhões. Destes, apenas 1,1 milhões ainda estavam vivos e apenas 400 mil em estado físico suficiente para trabalhar. 

Dos 2,25 milhões que morreram, 600 mil foram fuzilados». Os nazis prometeram a sobrevivência a quantos se juntassem aos bandos colaboracionistas do 'Exército Vlasov', «mas a esmagadora maioria dos prisioneiros de guerra soviéticos recusou a oferta e cerca de 2 milhões [...] a quem foi dada a opção, entre 1942 e 1945, de colaboração ou morte pela fome, escolheram a morte em vez de ajudar os Nazis».

O recuo das tropas soviéticas retirou importante potencial económico ao esforço de guerra soviético. Foram tomadas medidas de fundo para enfrentar a emergência.

 Investiu-se nas vastas regiões não ocupadas (Urais, Sibéria, Ásia Central) e empreendeu-se uma épica desmontagem e transferência para Leste de «1523 empresas, entre elas 1360 grandes fábricas, a maioria de material de guerra. 

Em pouco mais de cinco meses foram transportados por via férrea cerca de um milhão e meio de carruagens com instalações evacuadas». A superioridade do sistema socialista de planificação económica manifestou-se aqui em toda a sua plenitude. 

Nas palavras de Tooze: «Se houve um verdadeiro 'milagre armamentista' em 1942, ele verificou-se, não na Alemanha, mas nas fábricas de armas dos Urais. 

Apesar de ter sofrido perdas territoriais e perturbações que resultaram numa perda de 25% no produto nacional global, a União Soviética em 1942 conseguiu produzir mais do que a Alemanha em praticamente todas as categorias de armamento. [...] Foi esta superioridade industrial, contrária a todas as expectativas, que permitiu ao Exército Vermelho, primeiro absorver a segunda grande investida da Wehrmacht e depois, em Novembro de 1942, lançar toda uma série de contra-ataques demolidores. [...] os triunfos de Júkov e seus colegas teriam sido impossíveis não fora o excelente material militar fornecido pelas fábricas soviéticas. [...] 

Quem teve um desempenho excepcional foi a União Soviética, que em 1942 produziu o dobro das armas de infantaria, tantas peças de artilharia e quase tantos aviões de combate e tanques quantos os Estados Unidos, o campeão indiscutível de produção industrial a nível mundial. O milagre Soviético não se deveu ao auxílio ocidental». A grande industrialização soviética dos anos 30 foi decisiva para o desenlace da II GM.


A viragem nos campos de batalha deu-se em Stalingrado. Travado no seu avanço para os grandes centros urbanos soviéticos, Hitler voltou-se para uma ofensiva mais a sul, visando o petróleo do Cáucaso, as regiões agrícolas do Volga e a indústria do Donbass e Stalingrado. 

«Nesta situação começou a grandiosa batalha do Volga, que durou desde 17 de Julho de 1942 até 2 de Fevereiro de 1943. [...] Em determinadas etapas participaram na batalha de ambos os lados mais de 2 milhões de pessoas [...]

O bloco fascista perdeu na batalha de Stalingrado entre mortos, feridos, prisioneiros e desaparecidos, quase 1,5 milhões de soldados e oficiais, cerca de 3000 tanques e canhões motorizados, mais de 12 000 canhões e morteiros, até 4400 aviões, ou seja, uma quarta parte das suas forças que actuavam na frente soviético-alemã».

Após Stalingrado, as tropas soviéticas passaram à ofensiva. Haveriam de se seguir outras grandes batalhas, como Kursk no Verão de 1943. No final desse ano, metade do território soviético ocupado fora já libertado. 

Por toda a Europa ocupada surgiam movimentos de resistência popular armada, em que os comunistas desempenhavam papel determinante e que foram cruciais na libertação da Jugoslávia, Grécia, Albânia, França, Itália e outros países. 

Em Julho de 1943 dá-se também a primeira acção militar importante das potências ocidentais, com a invasão da Sicília, que conduziria a um golpe palaciano que derruba Mussolini. Quando em Setembro desse ano o novo governo italiano decide retirar o país da guerra, os alemães invadem e mantêm o centro do país sob ocupação até meados de 1944 e o norte até aos dias finais da guerra.

O desembarque da Normandia, apresentado como episódio decisivo da guerra, apenas se dá em Junho de 1944, ou seja, após todas as grandes batalhas que decidiram, na Frente Leste, o curso da guerra, e numa altura em que o Exército Vermelho completara praticamente a libertação do território nacional e iniciava a libertação dos países vizinhos.

 A libertação de Berlim pelas tropas soviéticas, em Maio de 1945, foi o episódio final da guerra na Europa e fez justiça histórica. Fora realmente a URSS, o seu Exército Vermelho, povo e Partido Comunista, que tiveram o papel decisivo na derrota do nazi-fascismo.


O pós-guerra


O papel determinante da URSS e dos comunistas na vitória sobre o nazi-fascismo alterou profundamente a correlação de forças mundial. 

Por toda a parte, o prestígio dos comunistas reforçou o movimento operário e as suas organizações, que alcançaram, na nova correlação de forças, conquistas sociais e laborais sem precedentes, quer com a chegada ao poder de governos populares no Leste da Europa, quer em países onde o domínio capitalista se manteve (nalguns com comunistas no governo). 

O movimento de libertação nacional dos países colonizados ou semi-colonizados avançou de forma impetuosa, lançando as bases para a derrocada dos impérios coloniais. 

Países imensos como a Índia e a Indonésia alcançaram a independência. Noutros (China, Vietnam, Coreia), a libertação nacional e social fundiram-se com a vitória de revoluções que colocavam expressamente o objectivo do socialismo. 

Uma nova ordem mundial progressista, consubstanciada nos princípios da Carta da ONU, aflorava no horizonte. Mesmo nos países do centro capitalista foi possível arrancar ao grande capital conquistas importantes, como nacionalizações de sectores básicos da economia ou serviços de saúde, ensino e segurança social em muitos casos gratuitos e universais.

 A derrota do nazi-fascismo revelava também o seu conteúdo de classe ao obrigar as classes dominantes a fazer concessões até então impensáveis.

Para travar o impetuoso movimento operário e popular no plano mundial, antes mesmo do final da II GM as potências anglo-saxónicas optaram por um realinhamento que incorporou os adversários fascistas da véspera numa nova aliança global, em nome do anti-comunismo. 

Os crimes atómicos dos EUA em Agosto de 1945 já foram muitas vezes descritos como sendo, não o último episódio da II GM, mas o primeiro do que se convencionaria chamar «Guerra Fria». 

A tentativa das potências europeias de preservar os seus impérios coloniais (na Indochina francesa, na Malásia britânica, na Indonésia holandesa, entre outras), fora acompanhada da opção pela contenção e, quando possível o esmagamento pela força, das grandes organizações populares da resistência anti-fascista. 

Na Europa, este esmagamento atingiu proporções brutais na Grécia, país em grande parte libertado pelo movimento de resistência popular EAM-ELAS, no qual a influência dos comunistas era decisiva. 

Em Dezembro de 1944, ainda em plena II GM, tropas britânicas e antigos serventuários da ocupação nazi disparam sobre manifestantes desarmados nas ruas de Atenas, provocando 28 mortos e centenas de feridos. 

A guerra iniciada pelos britânicos haveria de durar cinco anos e a ditadura mais três décadas. Idêntica aliança com fascistas repetiu-se a nível mundial, com especial relevância nas forças militares, policiais e repressivas de numerosos países.

 Salazar foi membro fundador da NATO, em 1949, e são conhecidas as ligações da PIDE com a CIA. 

Logo após o fim da guerra, em campos de concentração ingleses na Alemanha «suspeitos comunistas eram torturados numa tentativa de colher informação sobre as intenções militares soviéticas», sendo «pelo menos dois[...] mortos à fome e pelo menos um espancado até à morte». 

Largas centenas de cientistas nazis, incluindo intervenientes directos nos mais sórdidos crimes, foram recrutados para trabalhar nos EUA (operação Paperclip), com papel de destaque, entre outros, no programa espacial norte-americano. Milhares de colaboracionistas nazis foram igualmente reciclados. 

De especial importância foi o recrutamento de toda a estrutura de espionagem militar nazi na URSS, chefiada por Reinhard Gehlen, que passou a trabalhar para a CIA no pós-guerra, chegando a organizar operações militares clandestinas em território da URSS. Em 1956, Gehlen foi nomeado como primeiro chefe da BND, os recém-criados serviços secretos da Alemanha Federal.


O perigo do fascismo hoje


A História mostra que o fascismo torna-se uma ameaça séria quando as classes dominantes optam pelo exercício do seu poder através da violência extrema. Hoje, são evidentes os sinais de alarme.

Desde o início de 2014 que um grande país europeu, a Ucrânia, tem fascistas assumidos nos órgãos de poder, chacinando populações civis (como no martirizado Donbass ou no massacre de Odessa). 

Tal como os seus antecessores dos anos 20 e 30, impõem pela violência e o terror as políticas de classe e de exploração dos trabalhadores e dos povos, desta vez sob a bandeira do FMI e da UE. 

Reabilitam e idolatrizam os colaboracionistas e carniceiros que participaram no terror nazi de há sete décadas. 

A sua ascensão ao poder e o seu reino de terror não acontecem à revelia dos EUA ou da União Europeia. Pelo contrário. São múltiplos os fios que ligam os modernos fascistas ucranianos aos velhos nazis reciclados pelos EUA. E não se trata apenas da Ucrânia.

 No dia 16 de Março, veteranos da divisão letã das Waffen-SS nazis e seus apoiantes desfilaram em Riga, capital da Letónia, país que detém actualmente a Presidência rotativa do Conselho da União Europeia. 

Marchas análogas têm-se realizado nos últimos anos também na Estónia e Lituânia, sem que tal facto perturbe as boas consciências 'liberais' e 'democráticas'. A conivência assumiu dimensões até há pouco impensáveis em 18 de Dezembro de 2014, quando a Assembleia Geral da ONU votou uma resolução russa condenando a glorificação da ideologia nazi. A moção foi aprovada por 115 países. Mas três países votaram contra: EUA, Ucrânia e Canadá. E todos os países da União Europeia (incluindo Portugal) abstiveram-se. 

Gradualmente, a falsa equação entre nazismo e comunismo vai dando lugar à reabilitação do nazi-fascismo em nome do combate ao comunismo.

O mundo mudou muito desde 1939. Mas há fortes pontos de contacto com a realidade de então. De novo o capitalismo global se mostra incapaz de gerir as suas próprias contradições e crise. 

De novo, ambições de hegemonia planetária imposta pela força das armas fazem pairar o espectro de novo conflito mundial. As analogias não excluem importantes diferenças. Hoje a URSS, e tudo o que ela representava, desapareceu.

 E, como toda a realidade dos últimos anos revela à saciedade, os principais perigos de guerra não vêm hoje das potências emergentes, mas das velhas potências imperialistas (EUA e da UE) que, incapazes de estancar o seu declínio relativo e de travar a ascensão de outros países, nomeadamente extra-europeus, procuram pela via da força e da guerra manter o insustentável status quo. 

O declínio dos EUA, em particular, revela-se de grande perigosidade para a paz mundial, tendo em conta o imenso poderio bélico da, até aqui, super-potência capitalista. 

É da maior importância acertar na identificação das linhas de clivagem existentes, mesmo entre potências capitalistas, que permitam criar uma correlação de forças mais favorável à paz, aos trabalhadores e aos povos. Importa aprender com as lições da História. 

Entre as quais a grande lição da II GM sobre o papel decisivo da luta dos povos, mesmo perante as maiores adversidades e quando tudo pode parecer perdido. Foi essa confiança e determinação que permitiu ao povo soviético e ao seu Partido Comunista desempenhar o difícil mas honroso combate que salvou a Humanidade em 1945.

- See more at: http://port.pravda.ru/russa/12-05-2015/38664-vitoria_setenta_anos-0/#sthash.0QXzI4tT.dpuf