Cotação do real manipulada criminosamente por grandes bancos internacionais
publicado em 25 de maio de 2015 às 07:18
Manipulação com cotação do Real pode deixar Lava-Jato “no chinelo”. E o BC, vai agir?
O ótimo trabalho do repórter Fernando Nakagawa, do Estadão, divulga, pela primeira vez no Brasil, o que desde ontem já se sabia nos círculos financeiros norte-americanos:
Os grandes bancos internacionais, sobretudo o Barclays – mas também o Citibank, o JP Morgan (que opera no Brasil com a participação deArmínio Fraga), Royal Bank of Scotland (RBS), UBS e Bank of America – estavam envolvidos e pagarão US$ 5,6 bilhões manipularam, entre outras, a cotação da moeda brasileira, pelo menos durante a crise financeira de 2008/2009.
Diz Nakagawa que “documento do órgão supervisor do Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (DFS) mostra que negócios com a moeda brasileira em 2009 foram alvo da ação de operadores que queriam influenciar preços para aumentar lucros. “Operadores de câmbio envolvidos no mercado entre o dólar dos Estados Unidos e o real do Brasil conspiraram juntos para manipular os mercados”, diz o termo de compromisso de cessação de prática (consent order, em inglês) que envolve o Barclays”.
Entre 2008 e 2012, os agentes de FX (Foreign Exchange, câmbio mundial, numa tradução livre) do Barclays comunicavam com os negociantes de FX em outros bancos para coordenar tentativas de manipular os preços de algumas moedas – a nossa, entre elas – através de comunicação online.
O mercado de FX, preste atenção, não está escrito errado, movimenta um quatrilhão de dólares por ano. É, quatrilhão, mil vezes um trilhão. E os bancos envolvidos respondem por mais de 20% do total das operações, o que dá um poder de fogo imenso na cotação. E transforma décimos de centavos nas cotações em somas bilionárias.
Diz a reportagem (na íntegra, no final):
“Uma indicação do esquema veio à tona com a troca de mensagens entre duas pessoas que negociavam a moeda brasileira. Em 28 de outubro de 2009, um operador do Royal Bank of Canada (RBC) conversava com um colega do Barclays. “Todo mundo está de acordo em não aceitar um agente local como corretor?”, questiona o funcionário do banco canadense via programa eletrônico de troca de mensagens. “Sim, menor competição é melhor”, respondeu o operador do banco britânico. Exatamente no dia da troca de mensagens citada no processo, o dólar fechou em alta de 0,6%, a R$ 1,7447, segundo dados do Banco Central. Naquela época, o mercado de câmbio do Brasil vivia o fim de um período de quase um ano de firme valorização da moeda nacional. Enquanto o mundo tentava se desvencilhar dos problemas da crise financeira que estourara um ano antes, o Brasil crescia e o fluxo de moeda estrangeira para o País fez com que o dólar caísse do patamar próximo de R$ 2,50 visto em dezembro de 2008 para R$ 1,70 em outubro de 2009. A manipulação do mercado brasileiro foi descoberta pela investigação que envolveu autoridades dos EUA e Reino Unido e revelou um grande esquema global que influenciou as cotações das principais moedas do planeta.”
Nos EUA e no Reino Unido, as multas aos bancos superam US$ 5 bilhões (R$ 15 bilhões), quase o triplo do que – e com muito exagero – se consideram terem sido os prejuízos possíveis com a Lava-Jato. Só para o Barclays são US$ 2,4 bilhões: US$ 485 milhões para o Departamento de de Serviços Financeiros do Estado de Nova Iorque , US$ 400 milhões para a Commodities Futures Trading Commission , US$ 710 milhões para o Departamento de Justiça dos EUA, US$ 342 milhões ao Federal Reserve, o BC dos EUA, e e 284 milhões de libras esterlinas (aproximadamente US$ 441 milhões para os órgãos reguladores do Reino Unido.
E isso é apenas o acordo de leniência firmado com os bancos.
E nós com isso?
Tudo, porque o Banco Central toma e liquida contratos em dólares, em bilhões de reais, porque opera a troca de moeda. E vende contratos de câmbio compromissados com valores que, agora, sabem-se manipulados.
Embora seja virtualmente impossível apurar o valor exato das perdas, é certo que elas foram imensas, a confirmar-se que a manipulação durou anos. Mas o BC, o Itamaraty e a Procuradoria Geral da República têm de agir imediatamente, a começar pelo levantamento de todas as operações de câmbio fechadas por estes bancos, diretamente ou por intermediação com outros, durante aquele período.
E, com isso, estimar as penalidades que devem ser aplicadas.
A tal “mão invisível” do mercado, vê-se, também é dada a manipulações criminosas.
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Cotação do real sofreu manipulação em esquema global
Documento fala em ‘conspiração’ e boicote a corretoras nacionais; após investigações, bancos, em especial o Barclays, foram multados em mais de multas US$ 5 bilhões
LONDRES - O real também sofreu com o esquema internacional de manipulação das taxas de câmbio que envolveu seis dos maiores bancos globais e resultou em multas que superam os US$ 5 bilhões. Desconhecida até agora, a influência sobre a moeda brasileira foi revelada no acordo final entre autoridades dos Estados Unidos e o britânico Barclays. O documento fala em “conspiração” e cita que havia boicote aos corretores nacionais para aumentar o poder de fogo do esquema de manipulação de preços.
Documento do órgão supervisor do Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (DFS) mostra que negócios com a moeda brasileira em 2009 foram alvo da ação de operadores que queriam influenciar preços para aumentar lucros. “Operadores de câmbio envolvidos no mercado entre o dólar dos Estados Unidos e o real do Brasil conspiraram juntos para manipular os mercados”, diz o termo de compromisso de cessação de prática (consent order, em inglês) que envolve o Barclays. O termo foi assinado na terça-feira, dia 19, pelo conselheiro geral do banco britânico, Robert Hoyt.
A investigação analisou especialmente negócios realizados entre 2008 e 2012 e afirma que a manipulação com a moeda brasileira usava procedimentos “mais diretos” que os adotados em outros mercados, como o que negocia euros. Segundo a autoridade norte-americana, operadores “concordavam em boicotar corretores locais para reduzir a competição”. Com menor concorrência, seria mais fácil influenciar a oscilação dos preços no mercado.
Mensagens. Uma indicação do esquema veio à tona com a troca de mensagens entre duas pessoas que negociavam a moeda brasileira. Em 28 de outubro de 2009, um operador do Royal Bank of Canada (RBC) conversava com um colega do Barclays. “Todo mundo está de acordo em não aceitar um agente local como corretor”?, questiona o funcionário do banco canadense via programa eletrônico de troca de mensagens. “Sim, menor competição é melhor”, respondeu o operador do banco britânico.
Exatamente no dia da troca de mensagens citada no processo, o dólar fechou em alta de 0,6%, a R$ 1,7447, segundo dados do Banco Central. Naquela época, o mercado de câmbio do Brasil vivia o fim de um período de quase um ano de firme valorização da moeda nacional. Enquanto o mundo tentava se desvencilhar dos problemas da crise financeira que estourara um ano antes, o Brasil crescia e o fluxo de moeda estrangeira para o País fez com que o dólar caísse do patamar próximo de R$ 2,50 visto em dezembro de 2008 para R$ 1,70 em outubro de 2009.
A manipulação do mercado brasileiro foi descoberta pela investigação que envolveu autoridades dos EUA e Reino Unido e revelou um grande esquema global que influenciou as cotações das principais moedas do planeta.
Barclays, Citibank, JP Morgan, Royal Bank of Scotland (RBS), UBS e Bank of America estavam envolvidos e pagarão US$ 5,6 bilhões em multas e acordos de compensação. O britânico Barclays sofrerá a maior punição. A ação era feita especialmente por operadores que combinavam estratégias para influenciar as cotações. A polícia federal dos EUA, o FBI, classificou o esquema como uma “ação criminosa em larga escala”.
A direção do banco britânico Barclays informou “lamentar profundamente” a conduta adotada por alguns dos colaboradores dentro da instituição.
“A má conduta vista no cerne dessas investigações é totalmente incompatível com o propósito e os valores do Barclays e lamentamos profundamente que isso tenha ocorrido”, disse nota distribuída após o anúncio de que o banco pagará cerca de US$ 2,32 bilhões em multas e acordos com autoridades dos Estados Unidos e Reino Unido. Portanto, o texto diz respeito a todo o processo, e não apenas especificamente à manipulação vista no Brasil.
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