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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

“OS ALEMÃES SABIAM,” ENSINOU HANNAH ARENDT

Reproduzo neste blogdoorro a importante reflexão do jornalista Paulo Moreira Leite sobre a intolerância política, barbárie humana e afloramento do pensamento totalitário no Brasil de hoje. 

mantega 13

Agressão a Mantega no Albert Einstein recorda lição da grande pensadora: "apesar de seu caráter criminoso, regime totalitário contava com apoio das massas."

A agressão sofrida por Guido Mantega no hospital Albert Einstein está destinada a se tornar um marco na conjuntura brasileira, em particular na cidade de São Paulo.

Mantega estava no Einstein, acompanhado da mulher, a psicóloga Eliane Berger, para fazer uma visita.

Os gritos de “Vai para o SUS”, “Safado” e outras manifestações escabrosas expressam uma violência mórbida.


Lembram uma observação de Franz Borkenau (1900-1957), um militante socialista que deixou a Alemanha em 1933, para se dedicar à luta contra as idéias de Adolf Hitler nas décadas seguintes. 

Borkenau combateu o fascismo na guerra civil espanhola e também colaborou com a resistência francesa. 

Produziu uma obra de testemunho, que se tornou uma das fontes primárias da filósofa Hannah Arendt para escrever os textos reunidos em Origens do Totalitarismo.

 Foi Borkenau quem observou que “o mal, em nosso tempo, exerce uma atração mórbida.”

 Ele estava se referindo especificamente ao nazismo de Hitler, mas suas observações têm um valor muito mais amplo.


Como diz Hannah Arendt:”É muito perturbador o fato de o regime totalitário, malgrado seu caráter evidentemente criminoso, contar com o apoio das massas. 

Embora muitos especialistas neguem-se a aceitar essa situação, preferindo ver nela o resultado da força da máquina de propaganda e da lavagem cerebral, a publicação dos relatórios, originalmente sigilosos, das pesquisas de opinião pública alemã dos anos 1939-44, realizadas pelos serviços secretos da SS, demonstra que a população alemã estava notavelmente bem informada sobre o que acontecia com os judeus, sem que isso reduzisse o apoio dado ao regime.”

Este é o ponto grave da cena no Albert Einstein. O grito “vai para o SUS” reflete o vigor dos preconceitos de classe em nossa sociedade, que persistem e possivelmente se aprofundaram em função do progresso realizado pelos brasileiros das camadas mais pobres, nos últimos anos.


Nascido numa família que habita as camadas mais altas de renda, aquelas que frequentam instituições privadas de saúde de padrão internacional, o ex-ministro foi condenado por sua opção política pelos que tiveram menores oportunidades — aquelas famílias que, com muita dificuldade, enfrentando carências muito conhecidas, conseguem tratar-se na rede pública, alvo de uma partilha injusta de recursos e subsídios que ajuda a entender a penúria de um setor e a prosperidade de outro.

A importância da agressão a Mantega não precisa ser exagerada para que se faça uma reflexão adequada sobre o que aconteceu.


Não há uma crise na democracia brasileira. Luiz Inácio Lula da Silva continua, de longe, o mais popular presidente de nossa história — exatamente porque é o avalista das grandes mudanças ocorridas nos últimos anos, das quais Guido Mantega foi um dos protagonistas principais.


Mas o ataque no Einstein foi um ato de rebaixamento moral — e a experiência ensina que ninguém tem o direito de fingir que nada aconteceu.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Documentos dizem que Roberto Marinho (Rede Globo) foi principal articulador da Ditadura Militar

JusBrasil

Publicado por Wagner Francesco 

1 dia atrás

Em telegrama ao Departamento de Estado norte-americano, embaixador Lincoln Gordon relata interlocução do dono da Globo com cérebros do golpe em decisões sobre sucessão e endurecimento do regime

Documentos dizem que Roberto Marinho Rede Globo foi principal articulador da Ditadura Militar

No dia 14 de agosto do 1965, ano seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então classificado como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública. A correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e Roberto Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era sobre a sucessão golpista.

Segundo relato do embaixador, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um grupo composto, entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação ou renovação do mandato do ditador Castelo Branco.

No início de julho de 1965, a pedido do grupo, Roberto Marinho teve um encontro com Castelo para persuadi-lo a prorrogar ou renovar o mandato. O general mostrou-se resistente à ideia, de acordo com Gordon.

No encontro, o dono da Globo também sondou a disposição de trazer o então embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ser ministro da Justiça. Castelo, aceitou a indicação, que acabou acontecendo depois das eleições para governador em outubro. O objetivo era ter Magalhães por perto como alternativa a suceder o ditador, e para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era considerado dócil demais para a pasta, como descreve o telegrama. De fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios de comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de jornais.

No dia 31 de julho do mesmo ano houve um novo encontro. Roberto Marinho explica que, se Castelo Branco restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os políticos com mais chances seriam os da oposição. E novamente age para persuadir o general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o risco do voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse que o grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição do Congresso não oferecia riscos. Debateu também as pretensões do general Costa e Silva à sucessão.

Lincoln Gordon escreveu ainda ao Departamento de Estado de seu país que o sigilo da fonte era essencial, ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor tanto do embaixador quanto do general: Roberto Marinho.

Documentos dizem que Roberto Marinho Rede Globo foi principal articulador da Ditadura Militar

Documentos dizem que Roberto Marinho Rede Globo foi principal articulador da Ditadura Militar

O histórico de apoio das Organizações Globo à ditadura não dá margens para surpresas. A diferença, agora, é confirmação documental.

Fonte: MPortal


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quem nos governa?



HSBC

Traficantes de drogas e armas não teriam tanto poder se não existissem bancos que oferecem seus serviços de lavagem de dinheiro
Estamos em 1860. O Império Britânico acaba de vencer a famosa “Guerra do Ópio” contra a China, talvez uma das páginas mais cínicas e criminosas da história cínica e criminosa do colonialismo. Metade do comércio da Inglaterra com a China baseia-se na venda ilegal de ópio. Diante da devastação provocada pela droga em sua população, o governo chinês resolve proibir radicalmente seu comércio. A resposta chega por uma sucessão de guerras nas quais a Inglaterra vence e obriga a China a abrir seus portos para os traficantes e missionários cristãos (uma dupla infalível, como veremos mais à frente), além de ocupar Hong Kong por 155 anos.Em 1860, guerra terminada, os ingleses tiveram a ideia de abrir um banco para financiar o comércio baseado no tráfico de drogas. Dessa forma apoteótica, nasceu o HKSC, tempos depois transformado em HSBC (Hong Kong and Shangai Bank Corporation), conhecido de todos nós atualmente. 

Sua história é o exemplo mais bem acabado de como o desenvolvimento do capitalismo financeiro e a cumplicidade com a alta criminalidade andam de mãos dadas.

A partir dos anos 70 do século passado, por meio da compra de corporações nos Estados Unidos e no Reino Unido, o HSBC transformou-se em um dos maiores conglomerados financeiros do mundo. 

No Brasil, adquiriu o falido Bamerindus. Tem atualmente 270 mil funcionários e atua em mais de 80 países. 

Sua expansão deu-se, em larga medida, por meio da aquisição de bancos conhecidos por envolvimento em negócios ilícitos, entre eles o Republic New York Corporation, de propriedade do banqueiro brasileiro Edmond Safra, morto em circunstâncias misteriosas em seu apartamento monegasco. 

Um banco cuja carteira de clientes era composta, entre outros, de traficantes de diamantes e suspeitos de negócios com a máfia russa, para citar alguns dos nobres correntistas. 

Segundo analistas de Wall Street, a instituição financeira de Nova York teria sido vendida por um preço 40% inferior ao seu valor real.

Assim que vários jornais do mundo exibiram documentos com detalhes de como a filial do HSBC em Genebra havia lavado dinheiro de ditadores, traficantes de armas e drogas, auxiliado todo tipo de gente a operar fraudes fiscais milionárias e a abrir empresas offshore, a matriz emitiu um seco comunicado no qual informava que tais práticas, ocorridas até 2007, não tinham mais lugar e que, desde então, os padrões de controle estavam em outro patamar. Mas não é exatamente essa a realidade.

Em julho de 2013, a senadora norte-americana Elisabeth Warren fez um discurso no qual perguntava: quanto tempo seria ainda necessário para fechar um banco como o HSBC? 

A instituição havia acabado de assumir a culpa por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas mexicano e colombiano, além de organizações ligadas ao terrorismo. Tudo ocorreu entre 2003 e 2010. A punição? Multa irrisória de 1,9 milhão de dólares.

Que fantástico. Entre 2006 e 2010, o diretor mundial do banco era o pastor anglicano (sim, o pastor, lembram-se da Guerra do Ópio?) Stephen Green, que, desde 2010, tem um novo cargo, o de ministro do gabinete conservador de David Cameron, cujo governo é conhecido por não ser muito ágil na caça à evasão fiscal dos ricos que escondem seu dinheiro. 

Enquanto isso, os ingleses veem seu serviço social decompor-se e suas universidades serem privatizadas de fato. 

O que permite perguntas interessantes sobre quem realmente nos governa e quais são seus reais interesses.

Alguns fatos são bastante evidentes para qualquer interessado em juntar os pontos. 

Você poderia colocar seus filhos em boas escolas públicas e ter um bom sistema de saúde público, o que o levaria a economizar parte de seus rendimentos, se especuladores e rentistas não tivessem a segurança de que bancos como o HSBC irão auxiliá-los, com toda a sua expertise, na evasão de divisas e na fraude fiscal. 

Traficantes de armas e drogas não teriam tanto poder se não existissem bancos que, placidamente, oferecem seus serviços de lavagem de dinheiro com discrição e eficiência. 

Se assim for, por que chamar de “bancos” o que se parece mais com instituições criminosas institucionalizadas de longa data?

registrado em:   

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Pobres pagam mais impostos que ricos no Brasil, revela pesquisa


PORTAL VERMELHO

17/02/2015

A carga tributária é alta e quem paga a maior parte da conta é quem tem menos poder aquisitivo. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), mais de 79% da população brasileira, que recebe até três salários mínimos por mês, contribui com 53% da arrecadação tributária total no país.


.
Em entrevista, João Eloi Olenike,presidente executivo do IBPT, diz que o sistema tributário brasileiro prioriza tributos em cima do consumo e muito pouco sobre a renda, o lucro e o patrimônio. Diferente de outros países, onde a tributação parte do ganho.

A consequência disso, segundo Olenike, é que o pobre acaba pagando muito imposto. “Como o sistema tributário brasileiro é extremamente concentrado no consumo, o pobre acaba, proporcionalmente, pagando mais. Isso faz com que a população de menor poder aquisitivo tenha um custo tributário muito elevado”. 

Mas, por quê?

Porque os ricos pagam muito menos impostos do que deveriam. Motivos?

* Por causa de uma interpretação legal, jatinhos, helicópteros e lanchas não pagam IPVA, o imposto sobre a propriedade de veículos automotores, embora todos sejam dotados de motores — por sinal, muito mais potentes que aqueles que empurram Fuscas e motocicletas pagantes de IPVA;

* O imposto sobre fortunas, previsto na Constituição de 1988, jamais foi regulamentado;

* Por causa das remessas de dinheiro para refúgios fiscais (o Sindifisco tem atuado contra projetos em andamento no Congresso que oferecem benefícios a quem trouxer o dinheiro de volta, premiando a sonegação);

* Por causa do chamado “planejamento tributário”, nome pomposo que se dá à tarefa de batalhões de advogados que procuram brechas nas leis para reduzir o pagamento de imposto — quando simplesmente não escrevem as leis em nome dos legisladores;

* Porque empresários ficaram isentos de pagar imposto sobre lucros e dividendos distribuídos, pelalei 9.249, de 26 de dezembro de 1995, sancionada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

* Porque programas como o Refis - Programa de Recuperação Fiscal da própria Receita - acabam funcionando, na opinião do Sindifisco, como incentivo à sonegação.

Da Redação do Portal Vermelho
Com informações das agências

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Guerra econômica e suas sanções (II)


Pravda em português 

Guerra econômica e suas sanções (II)

15.02.2015


Sanções Econômicas - Trata-se de complexas medidas para fazer pressão em outros países para obter objetivos políticos, mas, tem-se que apesar dessas sanções trazerem consequências negativas para os países sendo atacados, os premeditados objetivos políticos dos países promotores da mesma, nem sempre são alcançados. Mais frequentemente esses objetivos nunca são alcançados.

Por Valentin Katasonov

Tradução Anna Malm*- Correspondente de Pátria Latina na Europa

  

PARTE I  

 

Sanções Econômicas - Trata-se de complexas medidas para fazer pressão em outros países para obter objetivos políticos, mas, tem-se que apesar dessas sanções trazerem consequências negativas para os países sendo atacados, os premeditados objetivos políticos dos países promotores da mesma, nem sempre são alcançados. Mais frequentemente esses objetivos nunca são alcançados. Gary Hufbauer, um conhecido perito americano nessa área e seus associados mostram, de quando classificando 204 casos de sanções, que sómente 30 desses teriam tido sucesso (Tabela 1).



OBJETIVO DAS SANÇOES E SEUS REAIS RESULTADOS

MOTIVO* - Favor ver especificações em português logo abaixo.

 

MOTIVO*                                                          CASOS   /   PORCENTAGEM/SUCESSO

Цель

Число случаев

Процент успеха

Умеренная модификация политики

43

51

Смена режима или демократизация

80

31

Прекращение военных действий

19

21

Разрушение военного потенциала

29

31

Другие существенные изменения политики

33

30


  1. Custo da modificação da política                (43-51%)
  2. Mudança de regime ou democratização      (80-31%)
  3. Cessação das atividades de guerra             (19-21%)
  4. Destruição do potencial militar                  (29-31%)
  5. Outros tipos de mudanças de política         (33-30%)


EM PARÊNTESES:- (Número de Casos-Percentagem de Sucesso)

FONTE: Gary Clyde Hufbauer, Jeffrey J. Schott, Kimberly Ann Elliott, and Barbara Oegg. Economic Sanctions Reconsidered, 3rd edition. November 2007.

Em muitos casos as sanções mostram-se como estimulantes, exercendo uma ação de influência na economia abaixo de sanções. Foi assim que o denominado bloqueio continental que Napoleão Bonaparte organizou contra a Grã-Bretanha, deu um empurrão na segunda fase da revolução industrial nesse país, contribuindo para a finalização da sua tranformação na "oficina do mundo".

A propósito, Napoleão conseguiu até um certo ponto incluir a Rússia no bloqueio continental, tendo conseguido então que ela suspendesse o fornecimento à Inglaterra de cereais, madeira, linho, linhaça e outros bens. 

Ao mesmo tempo a Rússia se sentiu constrangida a rejeitar as importações de produtos industriais da produção da Inglaterra, entre eles as importações de produtos metalúrgicos e de vidro. Conhecedores da história econômica observaram que foi precisamente a entrada da Rússia no bloqueio continental que deu o necessário empurrão para o desenvolvimento das indústrias metalúrgicas e das indústrias de têxtil russas, então.

Um exemplo clássico da não efetividade do sistema de sanções mostrou-se com o caso do embargo levantado contra o comércio com a Itália pela Liga das Nações, 1935. Foi a Grã-Bretanha  que iniciou essas sanções, e o motivo dado pela sua declaração foi o retornar da Itália à Abissínia, Etiópia. Esse embargo mostrou-se inefetivo. 

Em primeiro lugar, o comércio da Itália continuou com os países que não faziam parte da Liga das Nações, principalmente então com a Alemanha nazista de então. 

Depois, em segundo lugar, mesmo países que tinham concordado com as sanções contra a Itália não as observaram muito estritamente.

Um impressionante exemplo do poder de mobilização das sanções viu-se com o caso da União Soviética. Já nos primeiros meses da chegada ao poder pelos bolcheviques os países Antantes, ou seja dos outros aliados, começaram a organizar bloqueios marítimos e comerciais contra a Rússia Soviética. 

Ao final esses bloqueios vieram a fazer com que junto a direção do país tivesse começado a amadurecer a visão da necessidade de se decidir a respeito de uma elaboração construtiva da economia, a qual deveria ser minimalmente dependente dos mercados exteriores.

Em dezembro de 1925 foi proposta uma solução socialista para a industrialização. Já depois de quatro anos saiu o primeiro plano cinquenal, ou seja de cinco anos, o qual veio a caracterizar a indústria pesada da União Soviética. No começo da Segunda Guerra Mundial construiram-se mais do que 9.000 empresas industriais. 

O país fez mesmo por onde se preparar para a agressão por parte da Alemanha fascista de então.

O custo para satisfazer o consumo interno da importação de meios de produção para a URSS, assim como para meios de consumo no mercado, cairam no nível de mais ou menos 2%. 

Depois de mais 10 à 12 anos a União Soviética conseguiu realizar o seu grandioso programa de substituição de importações.

A seguir a Segunda Guerra Mundial, uma das direções que a guerra fria do ocidente contra a União Soviética tomou expressou-se na proibição de dar a ela tecnologia militar, assim como tecnologia com possibilidades a serem usadas tanto civíl como militarmente, além de embargo a exportação de cereais, a limitação de créditos, acusações de dumping, e negação a eventuais concessões de regime de país mais favorecido em comércio, etc.

Entretanto, o efeito da guerra econômica do ocidente contra a União Soviética foi limitado. Em primeiro lugar porque a União Soviética aprendeu a contornar algumas limitações e proibições de comércio com o ocidente. 

Em segundo lugar porque a dependência da União Soviética tanto qunato a importação como a exportação, no decorrer dos primeiros trinta anos depois da Segunda Guerra Mundial, manteve-se num nível minimal. 

Em terceiro lugar então, porque algumas importações necessárias para a URSS foram cobertas por outros países do bloco socialista.

Essa situação só começou a mudar no começo dos anos 70. Nos finais de 1973 o preço do petróleo nos mercados internacionais deu um salto quádruplo. Na União Soviética começou então a chover dólares, e gradualmente ela foi ficando dependente da exportação do petróleo. 

De ser uma potência industrial ela se transformou numa fonte de matéria prima, o que fez com que a potencialidade da efetividade de eventuais sanções do ocidente contra ela no quadro de uma guerra econômica foi aumentada.

* * *

Entretanto, o que serviria como um bom exemplo de baixa efetividade de sanções econômicas nos nossos tempos, seriam as ações do ocidente contra o Iraque e o Irã.

Depois da anexação de Kuweit pelo Iraque - mesmo que de caso pensado Saddam Hussein possa ter sido levado a isso por artimanhas dos americanos - em 6 de agôsto de 1990, o Conselho de Segurança da ONU tomou a resolução 661 em 1990, a qual tinha como objetivo o tomar contra o Iraque medidas coercivas mas sem recurso a armas. Abaixo dessas medidas entrava o estrangulamento de todos os caminhos para transações financeiras e mercadorias, excluindo-se só o fornecimento de medicamentos e produtos alimentares, num quadro humanitário.  Entretanto, tem-se que como medida principal fecharam-se todos os caminhos para exportações de petróleo do Iraque.

Naturalmente então que a influência das sanções na economia do Iraque, a qual é dependente da exportação do petróleo, tornou-se muito sensível. 

Nas vésperas mesmo das sanções o sector petrolífero garantia mais do que 60% do PIB do Iraque. Essas sanções fizeram então por abaixar o nível de vida da população a qual veio a sentir falta até de produtos alimentares. Observou-se também ao mesmo tempo uma contínua desvalorização da moeda nacional.

No período das muito abrangentes e inclusivas medidas, de 1990 a 1995, o valor do dinheiro do Iraque em relação ao dólar caiu mais de 20 vezes e a inflação, medida em bases anuais, ficou numa porcentagem de várias centenas.

É verdade que depois do programa "Petróleo por Alimentos" ser elaborado, em 1996, a inflação começou a diminuir, e o problema da falta de alimentos, e medicamentos, perdeu a sua natureza aguda. 

Entretanto o governo do Iraque gradualmente começou a construir um esquema que permitiria o negociar com o mundo exterior, contornando as sanções. Foi por causa da ineficiência das sanções que os Estados Unidos resolveram retornar ao Iraque.

No Irã que já se encontra abaixo das sanções dos Estados Unidos e seus associados a 35 anos não se observa nenhum sinal de grande crise no país. A influência negativa na economia do Irã é, em resumo, sómente visível na indústria do petróleo e isso por causa da proibição quanto a importaação de equipamentos para essa indústria. Depois tem-se uma pressão suplementar na economia iraniana dado que os Estados Unidos conseguiram ligar a União Europeia as suas sanções. Entretanto, tem-se que, literalmente falando, o Irã de 2 a 3 anos, conseguiu adaptar-se a esse total bloqueio ocidental da sua indústria petrolífera.

Para Washington isso apresentou-se como uma surpresa e um fato absolutamente não aceitável. Irã tornou-se depois numa espécie de manual educacional, mostrando a outros países como se poderia contornar as sanções ocidentais. Do nosso ponto de vista foi exatamente isso que motivou a que em 2013, por iniciativa de Washington, as discussões em Geneva foram iniciadas quanto ao programa nuclear do Irã, com a participação do sexteto, ou seja dos 5 permanentes membros do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha, como intermediários.

Entretanto, não pensamos que os Estados Unidos estejam antes de mais nada preocupados com o programa nuclear iraniano, como também não pensamos que como troca pela redução do programa nuclear o ocidente iria suspender, ou reduzir, as sanções contra o Irã. Mesmo no caso da promessa de Washington de descongelar parte das detidas reservas monetárias do Irã, para mostrar boa vontade, tem-se que fala-se aqui de uma muito pequena parte dessas reservas. Depois disso também, a administração dos Estados Unidos sublinhou que qualquer que fosse a decisão tomada a respeito de mudanças nas sanções contra o Irã, essas seriam sempre de "carácter reversível".

Em termos gerais as seguintes conclusões podem ser tiradas:

1) Não se nega a influência das sanções econômicas nos países sancionados mas reconhece-se que os motivos políticos quanto aos países promotores das sanções raramente são alcançados. As negativas consequências sociais que seguem-se as sanções são normalmente compensadas através de que as autoridades governamentais acabam usando as sanções para introduzir novas idéias assim como para consolidação política da comunidade.

2) Com o tempo a influência das sanções vai diminuindo e o país sancionado vai também se adaptando. Sucede frequentemente que as sanções tornam-se numa espécie de empurrão para extensivas reorganizações e mudanças econômicas .

3) Os países promotores das sanções frequentemente sofrem também perdas relativas ao fato de que suas empresas perdem possibilidades de fazer negócios com os países sancionados. Depois disso tem-se que as empresas dos países distribuindo sanções também perdem na concorrência com as empresas de países que não fazem parte dessas.

4) De quando os países distribuindo sanções percebem a ausência de resultados, quanto aos  efeitos políticos desejados, esses podem vir a valer-se do uso de outros métodos de pressão, como por exemplo pressão diplomática, guerras, operações de serviços secretos, etc.

5) O ocidente tem tentado de todas as maneiras possíveis negar os casos onde o uso de sanções econômicas tenha sido ineficiente. Isso sendo porque eles querem continuar a usar suas ameaças de sanções econômicas como arma para amedrontar os países que se desviem do curso estipulado pelos centros de forças ocidentais.

No final do artigo, na parte III dessa sequência, com base na análise da experiência internacional passaremos a examinar a questão da forma de adaptação empregadas por vários países abaixo do regime de sanções.

A SER CONTINUADO - 

Referências e Notas:

Valentin Katasonov - Экономические войны и экономические санкции (II)

Copyright: "фонд стратегической культуры" - www.fondsk.ru

PARTE I  - URL: para o português - http://artigospoliticos.wordpress.com/guerra-e-sanc/

 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Wikileaks revela gravíssima sabotagem contra o Brasil com aval de FHC

GWikileaks revela gravíssima sabotagem dos EUA contra Brasil com aval de FHC

Telegramas revelam intenções de veto e ações dos EUA contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro com interesses de diversos agentes que ocupam ou ocuparam o poder em ambos os países

alcântara brasil fhc wikileaks tecnologia

Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedir, dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa, a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses estratégicos do Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em relação à independência tecnológica brasileira. Segue o artigo do jornalista Beto Almeida.

O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 – de fabricação ucraniana – no Centro de Lançamentos de Alcântara , no Maranhão.

Veto imperial

O telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford Sobel, enviado aos EUA em fevereiro daquele ano, relata que os representantes ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo americano revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA. A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que os EUA “não quer” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.

Leia mais

“Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”, diz um trecho do telegrama.

Em outra parte do documento, o representante americano é ainda mais explícito com Lokomov: “Embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil”.

Guinada na política externa

O Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em 2000 por Fernando Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro após a chegada de Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa brasileira, a mesma que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição o parlamento brasileiro considerou que seus termos constituíam uma “afronta à Soberania Nacional”. Pelo documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para uso exclusivo dos EUA sem permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da ocupação da área e da proibição de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro nas áreas de lançamento, o tratado previa inspeções americanas à base sem aviso prévio.

Os telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam do veto norte-americano ao desenvolvimento de tecnologia brasileira para foguetes, bem como indicam a cândida esperança mantida ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja, finalmente, implementado como pretendia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo mandatário esforçaram-se pela grave limitação do Programa Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas ONGs, normalmente financiadas por programas internacionais dirigidos por mentalidade colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto tecnológico brasileiro para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países com capacidade para a exploração econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites. Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a gravíssima confissão de sabotagem norte-americana contra o Brasil, provavelmente porque tal atitude contraria sua linha editorial historicamente refratária aos esforços nacionais para a conquista de independência tecnológica, em qualquer área que seja. Especialmente naquelas em que mais desagradam as metrópoles.

Bomba! Bomba!

O outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado pelo Wikileaks e que também revela intenções de veto e ações contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista Veja, e fala da preocupação gringa sobre o trabalho de um físico brasileiro, o cearense Dalton Girão Barroso, do Instituto Militar de Engenharia, do Exército. Giráo publicou um livro com simulações por ele mesmo desenvolvidas, que teriam decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear dos EUA, a W87, cuja tecnologia é guardada a 7 chaves.

A primeira suspeita revelada nos telegramas diplomáticos era de espionagem. E também, face à precisão dos cálculos de Girão, de que haveria no Brasil um programa nuclear secreto, contrariando, segundo a ótica dos EUA, endossada pela revista, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, firmado pelo Brasil em 1998, Tal como o Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA, sobre o uso da Base de Alcântara, o TNP foi firmado por Fernando Henrique. Baseado apenas em uma imperial desconfiança de que as fórmulas usadas pelo cientista brasileiro poderiam ser utilizadas por terroristas , os EUA, pressionaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exigiu explicações do governo Brasil , chegando mesmo a propor o recolhimento-censura do livro “A física dos explosivos nucleares”. Exigência considerada pelas autoridades militares brasileiras como “intromissão indevida da AIEA em atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército Brasileiro”.

Como é conhecido, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, vocalizando posição do setor militar contrária a ingerências indevidas, opõe-se a assinatura do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que daria à AIEA, controlada pelas potências nucleares, o direito de acesso irrestrito às instalações nucleares brasileiras. Acesso que não permitem às suas próprias instalações, mesmo sendo claro o descumprimento, há anos, de uma meta central do TNP, que não determina apenas a não proliferação, mas também o desarmamento nuclear dos países que estão armados, o que não está ocorrendo.

Desarmamento unilateral

A revista publica providencial declaração do físico José Goldemberg, obviamente, em sustentação à sua linha editorial de desarmamento unilateral e de renúncia ao desenvolvimento tecnológico nuclear soberano, tal como vem sendo alcançado por outros países, entre eles Israel, jamais alvo de sanções por parte da AIEA ou da ONU, como se faz contra o Irã. Segundo Goldemberg, que já foi secretário de ciência e tecnologia, é quase impossível que o Brasil não tenha em andamento algum projeto que poderia ser facilmente direcionado para a produção de uma bomba atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para reforçar a linha de vetos e constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como mostram os telegramas divulgados pelo Wikileaks. Por outro lado, tudo o que os EUA querem esconder do mundo é a proposta que Mahmud Ajmadinejad , presidente do Irà, apresentou à Assembléia Geral da ONU, para que fosse levada a debate e implementação: “Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Até agora, rigorosamente sonegada à opinião pública mundial.

Intervencionismo crescente

O semanário também publica franca e reveladora declaração do ex-presidente Cardoso : “Não havendo inimigos externos nuclearizados, nem o Brasil pretendendo assumir uma política regional belicosa, para que a bomba?” Com o tesouro energético que possui no fundo do mar, ou na biodiversidade, com os minerais estratégicos abundantes que possui no subsolo e diante do crescimento dos orçamentos bélicos das grandes potências, seguido do intervencionismo imperial em várias partes do mundo, desconhecendo leis ou fronteiras, a declaração do ex-presidente é, digamos, de um candura formidável.

São conhecidas as sintonias entre a política externa da década anterior e a linha editorial da grande mídia em sustentação às diretrizes emanadas pela Casa Branca. Por isso esses pólos midiáticos do unilateralismo em processo de desencanto e crise se encontram tão embaraçados diante da nova política externa brasileira que adquire, a cada dia, forte dose de justeza e razoabilidade quanto mais telegramas da diplomacia imperial como os acima mencionados são divulgados pelo Wikileaks.

Plano Brasil

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Petróleo: dois filmes interessantes para entender o tema


IL CASO MATTEI

(O caso Mattei) - Itália

Belíssimo filme sobre Enrico Mattei, que dirigiu a defesa do controle nacional do petróleo na Itália do pós guerra.

 Mattei, junto com o então ministro de relações exteriores da Argélia Bouteflikha, organizaram a OPEP. 

Antes da OPEP, os países produtores de petróleo recebiam em média 50 centavos de dólar por barril de petróleo extraído. 

O avião de Mattei foi sabotado, morreu no acidente, como morreram as pessoas que foram encarregadas de investigar o acidente. (Ladislau Dowbor)

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OURO NEGRO

- Brasil
www.ouronegrofilme.com.br/

OURO NEGRO, a saga dos pioneiros do petróleo no Brasil...

Alagoas, 1910. 

O médico e geólogo alemão José Gosch (Odillon Wagner) desenvolveu uma pequena fábrica de beneficiamento de xisto. 

Seu sonho, porém, é implantar uma companhia de petróleo. Gosch trabalha em parceria com o cunhado Inocêncio (Daniel Dantas) que desenvolve ligações ambíguas com Otto Manheimer (Felipe Kannemberg), conceituado técnico americano contratado pelo governo brasileiro.

O assassinato de José Gosch em 1918 interrompe a busca do petróleo em Alagoas. 

Em meados dos anos 20, seu filho Pedro (Thiago Fragoso) e o afilhado João Martins (Danton Mello) se formam em Engenharia e perseguem, por caminhos diferentes, o sonho deixado por José Gosch.

Paralelamente à busca do petróleo brasileiro, esses personagens viverão também intensas histórias passionais. 

Em uma trama de paixões e sonhos, apenas um objetivo: o sonho do progresso nacional.

Ouro Negro é livremente inspirado em fatos e personagens reais.