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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Carga tributária no Brasil e no mundo: a verdade em números
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Fascismo à Brasileira - por Leandro Dias
Historicamente a adesão inicial ao fascismo foi um fenômeno típico das classes dominantes desesperadas e das classes médias empobrecidas e apenas pontualmente conquistou os estratos mais baixos da sociedade, ideologicamente dominados pelo trabalhismo social-democrata ou pelo comunismo. Nos mais diversos cantos do mundo, dos nazistas na Alemanha e camisas-negras na Itália, aos integralistas brasileiros e caudilhistas espanhóis seguidores de Franco, as classes médias, empobrecidas pelas sucessivas crises do pós-guerra (1921 e especialmente 1929), formaram o núcleo duro dos movimentos fascistas.
Esse alinhamento ao fascismo teve como fundo principal uma profunda descrença na política, no jogo de alianças e negociatas da democracia liberal e na sua incapacidade de solucionar as crises agudas que seguiam ao longo dos anos 1910, 20 e 30. Enquanto as democracias liberais estavam estáveis e em situação econômica favorável, com certo nível de emprego e renda, os movimentos fascistas foram minguados e pontuais, muito fracos em termos de adesão se comparados aos movimentos comunistas da mesma época. Porém, uma vez que a democracia liberal e sua ortodoxia econômica mostraram uma gritante fraqueza e falta de decisão diante do aprofundamento da crise econômica nos anos 1920 e 30, a população se radicalizou e clamou por mudanças e ação.
Lembremos que, quando os nazistas foram eleitos em 1932, a votação foi bastante radical se comparada aos pleitos anteriores; 85% dos votos dos eleitores alemães foram para partidos até então considerados mais radicais, a saber, Socialistas (social-democracia), Comunistas e Nazistas (nacional-socialistas), os dois primeiros à esquerda e o último à direita. Os conservadores ortodoxos, anteriormente no poder, estavam perdidos em seu continuísmo e indecisão, sem saber o que fazer da economia e às vezes até piorando a situação, como foi o caso da Áustria até 1938, completamente estagnada e sem soluções para sair da crise e do desemprego, refém da ortodoxia de pensadores da escola austríaca, tornando-se terreno fértil para o radicalismo nazista (que havia fracassado em 1934).
Além disso, o fascismo se apresentava como profundamente anticomunista, o que, do ponto de vista das classes dominantes mais abastadas e classes médias mais estáveis (proprietárias) menos afetadas pelas crises, era uma salvaguarda ideológica, pois o “Perigo Vermelho”, isto é, o medo de que os comunistas poderiam de fato tomar o poder, era um temor bastante real que a democracia liberal parecia incapaz de “resolver” pelos seus tradicionais métodos, especialmente após a crise de 1929. O fascismo desta maneira se apresentou como último refúgio dos conservadores (sejam de classe média ou da elite) contra o socialismo. Os intelectuais que influenciavam os setores sociais menos simpáticos ao fascismo, o viam como um mal menor “temporário” para proteger a “boa sociedade” das “barbáries socialistas”, como o guru liberal Ludwig von Mises colocou, reconhecendo a fraqueza da democracia liberal face ao “problema comunista”:
Não pode ser negado que o Fascismo e movimentos similares que miram no estabelecimento de ditaduras estão cheios das melhores intenções e que suas intervenções, no momento, salvaram a civilização européia. O mérito que o Fascismo ganhou por isso viverá eternamente na história. Mas apesar de sua política ter trazido salvação para o momento, não é do tipo que pode trazer sucesso contínuo. Fascismo é uma mudança de emergência. Ver como algo mais que isso, seria um erro fatal. (L. von Mises, Liberalism, 1985[1927], Cap. 1, p. 47)
Além da descrença na política tradicional e do temor do perigo vermelho num cenário de crise, houve ainda uma razão fundamental para as classes médias adentrarem as fileiras do fascismo: o medo do empobrecimento e a perda do status social.
Esse sentimento – chamado dedeclassemént ou declassê no aportuguesado, algo como ”deixar de ser alguém de classe” – remetia ao medo de se proletarizar e viver a vida miserável que os trabalhadores, maior parte da população, viviam naquela época. Geralmente associava-se ao receio de que o prestígio social ou o reconhecimento social por sua posição econômica esmorecessem, mesmo para pequenos proprietários e profissionais liberais sem títulos de nobreza (ver Norbet Elias, Os Alemães). Esse medo entra ainda no contexto de uma evidente rejeição republicana, uma reação conservadora do etos nobiliárquico que dominava as classes altas e parte das classes médias urbanas nos países fascistas, à consolidação dos ideais liberais (mais igualitários) na estrutura social de poder e de privilégios, isto é, na tradição social aristocrática. Não foi por acaso que o fascismo foi uma força política exatamente onde os ideais liberais jamais haviam se arraigado, como Itália, Espanha, Portugal, Alemanha e Brasil.
Por fim, cumpre lembrar que os fascistas apelam à violência como forma de ação política. Como disse Mussolini: “Apenas a guerra eleva a energia humana a sua mais alta tensão e coloca o selo de nobreza nas pessoas que têm a coragem de fazê-la” (Doutrina do Fascismo, 1932, p. 7). A perseguição sem julgamento, campos de trabalho e autoritarismo não só vieram na prática muito antes do genocídio e da guerra, mas também já estavam em suas palavras muito antes de acontecerem. No discurso e na prática, a sociedade é (ou destina-se) apenas para aqueles que o fascista identifica como adequados; há um evidente elitismo e senso de pertencimento “correto” e “verdadeiro”, seja uma concepção de nação ou de identidade de raça ou grupo. E essa identidade “verdadeira” será estabelecida à força se preciso.
Mas porque estamos falando disso?
Parece crescente e cada vez mais evidente no Brasil que importantes setores da classe média e classe alta simpatizam com ideais semelhantes aos que formaram o caldeirão social do fascismo?
Vimos em texto recente que a sociedade brasileira, em particular a classe média tradicional e a elite, carrega fortes sentimentos anti-republicanos (ou anticonstitucionais), herdados de nossa sucessão de classes dominantes sem conflito e mudança estrutural, sem qualquer alteração substancial de sua posição material e política, perpetuando suas crenças e cultura de Antigo Regime. Privilégios conquistados por herança ou “na amizade”, contatos pessoais, indicações, nepotismos, fiscalização seletiva e personalista; são todas marcas tradicionais de nossa cultura política. A lei aqui “não pega”, do mesmo jeito que para nazistas a palavra pessoal era mais importante que a lei. Há um paralelo assustador entre a teoria do fuhrerprinzip e a prática da pequena autoridade coronelista, à revelia da lei escrita, presente no Brasil.
Talvez por isso, também tenhamos, como a base social do fascismo de antigamente, uma profunda descrença na política e nos políticos. Enojada pelo jogo sujo da política tradicional, das trocas de favores entre empresas e políticos, como o caso do Trensalão ou entre políticos e políticos, como os casos dos mensalões nos mais variados partidos, a classe média tradicional brasileira se ilude com aventuras políticas onde a política pareceausente, como no governo militar ou na tecnocracia de governos de técnicos administrativos neoliberais. Ambos altamente políticos, com sua agenda definida, seus interesses de classe e poder, igualmente corruptos e escusos, mas suficientemente mascarados em discursos apolíticos e propaganda, seja pelo tecnicismo neoliberal ou pelo nacionalismo vazio dos protofascistas de 1964, levando incautos e ingênuos a segui-los como “nova política” messiânica que vai limpar tudo que havia de ruim anteriormente
Por sua vez, como terceiro ponto em comum, partes das classes médias tradicionais e a elite tem um ódio encarnado de “comunistas”, e basta ler os “bastiões intelectuais” da elite brasileira, como Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino ou Olavo de Carvalho ou mesmo porta-vozes do soft power do neoconservadorismo brasileiro, como Lobão e Rachel Sherazade. É curioso que o mais radical deles, Olavo de Carvalho, enxergue “marxismo cultural” em gente como George Soros (mega-especulador capitalista), associando-o ao movimento comunista internacional para subjugar o mundo cristão ocidental. Esse argumento em essência é basicamente o mesmo de Adolf Hitler: o marxismo e o capital financeiro internacional estão combinados para destruir a nação alemã (Mein Kampf, 2001[1925], p. 160, 176 e 181).
A violência fascista, por sua vez, é apresentada na escalada de repressão punitivista e repressora do Estado, apesar de – ainda – ser menos brutal que o culto à guerra dos fascistas dos anos 1920 e 30. Antes restritos apenas aos programas sensacionalistas de tv sobre violência urbana e aos apologistas da ditadura como Jair Bolsonaro, o discurso violento proto-fascista “bandido bom é bandido morto”, que clama por uma escalada de repressão punitiva, sai do campo tradicionalmente duro da extrema direita e se alinha ao pensamento de economistas liberais neoconservadores que consideram que “o criminoso faz um cálculo antes de cometer seu crime, então é o caso de elevar constantemente o preço do crime (penas intermináveis, assédio, execuções), na esperança de levar aqueles que sentirem tentados à conclusão de que o crime já não compensa” (Serge Hamili, 2013). Assim, a apologia repressora se alinha à lógica do punitivismo mercantil de apologistas do mercado, mimetizando um Chile de Pinochet onde um duríssimo estado repressor, anticomunista, está alinhado com o discurso neoliberal mais radical.
E, ainda, somam-se a isso tudo o classismo e o racismo elitista evidentes de nossa “alta” sociedade. Da “gente diferenciada” que não pode frequentar Higienópolis, passando pelo humor rasteiro de um Gentili, ou o explícito e constrangedor classismo de Rachel Sherazade, que se assemelha à “pioneira revolta” de Luiz Carlos Prates ao constatar que “qualquer miserável pode ter um carro”, culminando com o mais vergonhoso atraso de Rodrigo Constantino em sua recente coluna, mostrando que nossos liberais estão mais inspirados por Arthur de Gobineau e Herbert Spencer do que Adam Smith ou Thomas Jefferson. A elite e a classe média tradicional (que segue o etos da primeira), não têm mais vergonha de expor sua crença no direito natural de governar e dominar os pobres, no “mandato histórico” da aristocracia sobre a patuléia brasileira. O darwinismo social vai deixando o submundo envergonhado da extrema direita para entrar nos nossos televisores diariamente.
Assim, com uma profunda descrença na política tradicional e no parlamento, somada a um anti-republicanismo dos privilégios de classe e herança, temperados por um anticomunismo irracional sob auspícios de um darwinismo social histórico e latente, aliado a uma escalada punitivista alinhada a “ciência” econômica neoliberal, temos uma receita perigosa para um neofascismo à brasileira. Porém, antes que corramos para as montanhas, falta um elemento fundamental para que esse caldeirão social desemboque em prática neofascista real: crise econômica profunda.
Apesar do terrorismo midiático, nossa sociedade não está em crise econômica grave que justifique esta radicalização filo-fascista recente. Pela primeira vez em décadas, o país vive certo otimismo econômico e, enquanto no final dos anos 1990, um em cada cinco brasileiros estava abaixo da linha da pobreza, hoje este número é um em cada 11. A Petrobrás não só não vai quebrar como captou bilhões recentemente. A classe média nunca viajou, gastou no exterior e comprou tanto quanto hoje, nem mesmo no auge insano do Real valendo 0,52 centavos de dólar. O otimismo brasileiroestá muito acima da média mundial, mesmo que abaixo das taxas dos anos anteriores.
No entanto, apesar de tudo isso, parte das antigas classes médias e elites continuam se radicalizando à extrema direita, dando seguidos exemplos de racismo, intolerância, elitismo, suporte ao punitivismo sanguinário das polícias militares, aplaudindo a repressão a manifestações e indiferentes a pobres sendo presos por serem pobres e negros em shopping centers. Isso tudo com aquela saudade da ditadura permeando todo o discurso. Se não há o evidentedeclassmént, o empobrecimento econômico, ou mesmo um medo real do mesmo, como explicar esta radicalização protofascista?
Não é possível que apenas o tradicional anti-republicanismo, o conservadorismo anti-esquerdista e o senso de superioridade de nossas elites e classes médias tradicionais sejam suficientes para esta radicalização, pois estes fatores já existiam antes e não desencadeavam tamanha excrescência fascistóide pública.
Não.
O Brasil vive um fenômeno estranho. As classes médias tradicionais e elite estão gradualmente se radicalizando à extrema direita muito mais por uma sensação dedeclassmént do que por uma proletarização de fato, causada por alguma crise econômica. Esta sensação vem, não do empobrecimento das classes médias tradicionais (longe disso), mas por uma ascensão econômica das classes historicamente subalternas. Uma ascensão visível. Seja quando pobres compram carros com prestações a perder de vista; frequentam universidades antes dominadas majoritariamente por ricos brancos; ou jovens “diferenciados” e barulhentos frequentam shoppings de classe média, mesmo que seja para olhar a “ostentação”; ou ainda famílias antes excluídas lotando aeroportos para visitar parentes em toda parte.
Nossa elite e antiga classe média cultivaram por tanto tempo a sua pretensa superioridade cultural e evidente superioridade econômica, seu sangue-azul e posição social histórica; a sua situação material foi por tanto tão sem paralelo num dos mais desiguais países do mundo, que a mera percepção de que um anteriormente pobre pode ter hábitos de consumo e culturais similares aos dela, gera um asco e uma rejeição tremenda. Estes setores tradicionais, tão conservadores que são, tão elitistas e mal acostumados que são, rejeitam em tal grau as classes historicamente humilhadas e excluídas, “a gente diferenciada” que deveria ter como destino apenas à resignação subalterna (“o seu lugar”), que a ascensão destes “inferiores” faz aflorar todo o ranço elitista que permanecia oculto ou disfarçado em anti-esquerdismo ou em valores familiares conservadores. Não há mais máscara, a elite e a classe média tradicional estão mais e mais fazendo coro com os históricos setores neofascistas, racistas e pró-ditadura. Elas temem não o seu empobrecimento de fato, mas a perda de sua posição social histórica e, talvez no fundo, a antiga classe média teme constatar que sempre foi pobre em relação à elite que bajula, e enquanto havia miseráveis a perder de vista, sua impotência política e vazio social, eram ao menos suportáveis.
*Leandro Dias é formado em História pela UFF e editor do blog Rio Revolta. Escreve mensalmente para Pragmatismo Politico. (riorevolta@gmail.com)
Texto revisado por Carolina Dias
REFERÊNCIAS GERAIS:
ELIAS, Norbert. Os Alemães. Rio de Janeiro: Zahar, 1996
HAMILI, Serge. O laissez faire é libertário?. IN: Le Monde Diplomatique Brasil, número 71, 2013.
HITLER, Adolf. Mein Kampf. São Paulo: Centauro, 1925
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Cia das Letras,1996
MISES, Ludwig von.Liberalism.Irvington.The Foundation for Economic Education, 1985
MUSSOLINI, Benito. Doctrine of Fascism. Online World Future Fund. 1932
POULANTZAS, Nicos. Fascismo e Ditadura. Porto: Portucalense, 1972
SCHMIT, Carl. Teologia Política. Belo Horizonte: Del Rey, 2006
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Renato Rabelo - PCdoB: para destravar a nova arrancada do desenvolvimento
O discurso do dirigente comunista procurou destacar a recente antecipação da campanha presidencial, por meio de gestos agressivos da oposição, e propor uma reação do campo progressista.
A campanha presidencial foi antecipada e levou ao acirramento político e ideológico. Isso acaba revelando o perfil e as posições dos setores dominantes, da elite e das forças conservadoras. É uma espécie de declinação que nos ajuda.
O capital fictício
Foi-se formando uma elite financeira globalizada nestes últimos 20 anos, que provocou a grande crise desencadeada em 2007/2008 e que, ao mesmo tempo, tem o poder de resgatar as suas próprias perdas. Ficam as consequências estruturais da crise, e aí quem paga a conta somos nós.
Hoje, o capitalismo não sabe em que investir o excedente de capital criado. Um exemplo candente disto é a injeção de liquidez financeira do FED (Banco Central dos EUA), coisa de US$ 84 bilhões mensais.
O capitalismo está com dificuldades de transformar trabalho e capital em produtos e serviços. Por isso, fica empoçado na esfera financeira, porque não sabem onde investir para ter o lucro esperado.
Efeitos políticos
Pouca gente se dá conta de que essa crise de magnitude sistêmica e estrutural produz seus efeitos políticos. Depois do desastre, os representantes políticos prestaram o socorro financeiro pra mostrar quem tem o poder de estado, comprometendo o próprio estado em financiar o auxílio financeiro para esses mesmos responsáveis pela crise.
Como disse o principal editor econômico do Financial Times, Martin Wolff: “é correto concluir que os poderosos que detém o poder sacrificaram os contribuintes (leia-se o povo, os trabalhadores) em benefício dos culpados”.
Não sou eu que estou dizendo isso! Olha a repercussão política desses acontecimentos!
O processo de centralização econômica cria a concentração de poder na Europa e na Alemanha, (com FMI, Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Wall Street), que passam a ter grande influência no partido Democrata dos EUA.
A crise e o Brasil
Concluo que esse conjunto de crise estrutural e sistêmica afeta os países em vias de desenvolvimento como o nosso. A elite dominante, para se salvar, empurra o ônus para os trabalhadores e para a periferia do capitalismo em desenvolvimento.
Eles produziram a crise e têm o poder de serem socorridos, daí a ofensiva. Com a mudança da política monetária dos EUA diminuindo esse aporte financeiro ao mercado, a situação se complica.
Diante disso, onde investir? A atitude desses grandes capitalistas que têm o controle sobre as agências de risco é de tentar colocar o governo brasileiro nas cordas, com o objetivo de fazer com que o nosso governo recue e faça com que voltemos atrás para beneficiar esses setores rentistas e que negociem o investimento em nosso país em melhores condições. Somos o terceiro país no mundo com melhores condições de investimento.
Daí, uma grande campanha interna e externa contra a presidenta Dilma, tentando mostrar que ela é irresponsável na austeridade fiscal e no excesso de intervencionismo na economia.
Atualização do projeto de desenvolvimento
Nesses dez anos, na verdade pouco tempo histórico, atravessamos esse período nessa linha de mudanças no papel do Brasil no mundo, no mercado externo, e na nova diplomacia…
Esta é a questão central: novas exigências pelo desenvolvimento mais acentuado, acelerado e duradouro, mantendo a linha de distribuição per capita da renda. Este é o desafio e essa é a nossa compreensão.
Por isso que a elite dominante capitalista, e seus agregados, a oposição e a mídia, intensificam sua campanha contra a presidenta, querendo um modelo de desenvolvimento do passado, quando a realidade do Brasil é outra. A oposição intensifica a dura luta política e procura atualizar as suas teses superadas.
As forças progressistas precisam dizer não a esses paradigmas, não à desregulamentação financeira, motor dessa grande crise, e não a esse modelo de austeridade fiscal, aliás, a exemplo da Europa.
Nesse período, além do crescimento com desenvolvimento, o Governo promoveu a ascensão social, fez crescer a distribuição de renda, o país ficou menos exposto a choques e crises externas.
Os obstáculos
Como destravar uma nova arrancada do desenvolvimento mais acentuado e responder às demandas para o avanço civilizacional? Esta é a diferença entre nós e eles.
Temos que levar [em conta] grandes contingências na situação atual, rescaldos estruturais da crise, retração dos investimentos, valorização abrupta do dólar com essa indicação de mudança na política monetária dos EUA, forte pressão das grandes finanças sobre nós e firmar uma nova política macroeconômica. Por isso a volta atrás aos interesses dos rentistas.
Foco nos investimentos
A luta política que estamos travando ocorre em desvantagem no terreno econômico. Na etapa atual, defendemos a necessidade de adotar uma estratégia de crescimento focada na adequação dos investimentos e não prioritariamente pressionada pelo consumo.
A hora da integração nacional e das cidades
Opino que duas carências estruturais podem abrir caminho para investimentos e aumento da produtividade. A integração nacional com edificação e ampliação de extensa infraestrutura, mesmo com os dois PACs ainda bastante defasados para as condições de um país continental.
Por isso, a comparação que eu faço com o período Juscelino, através do vetor Brasília da interiorização. Agora a grande questão é a integração nacional com o avanço da infraestrutura moderna que está defasada para as condições de um continente, que é o nosso país.
A segunda carência estrutural é a construção da urbanização moderna e humanizada, sobretudo nas grandes cidades. Respondendo às questões da aguçada especulação imobiliária, mobilidade urbana precária, grandes carências de saneamento básico, lógica excludente de urbanização, aquilo que defendemos como efetiva reforma urbana democrática.
Pensamos, portanto, que os investimentos e a produtividade, levando em conta essas duas carências estruturais, têm que dar passos importantíssimos nesse sentido.
Para isso, primeiro passo, além da crescente exigência de investimento público, age como ação imediata o êxito das concessões. Essa parceria do capital privado com o público, que é fundamental ampliar as possibilidade de investimento. Isso é necessário e urgente nesta etapa, como também o sistema de partilha no petróleo, na questão do pré-sal.
Tripé macroeconômico
Há necessidade básica do redirecionamento da política macroeconômica. O chamado tripé, quando da implantação do Plano Real, foi realizado com um acordo tácito para estabilização dos preços, mantido da seguinte maneira: a condição era média alta de juro real e câmbio sobrevalorizado. Temos que sair desse ciclo vicioso. Temos que romper esse ciclo para aumentar o investimento e a produtividade.
O investimento e a produtividade é que vão permitir a consolidação do papel do Brasil como potência alimentar, potência energética e com a edificação de uma indústria moderna, relacionando também a importância crescente do investimento em educação e inovação tecnológica que se traduz em médio prazo em aumento da produtividade.
Isso é que vai garantir os avanços sociais. Como continuar avançando nos investimentos sociais e na conquista civilizacional sem um crescimento maior e uma produtividade maior?
A nova maioria
Quais as tarefas políticas para enfrentar esses desafios econômicos? De forma resumida, a formação de uma nova maioria política. As manifestações de junho tiveram um papel saliente no curso político brasileiro.
Cresce ainda mais a importância do fortalecimento e da renovação do movimento social organizado, do movimento sindical e das entidades representativas da sociedade civil.
Compreendendo que não há avanço democrático sem partido político. Não há como alcançar o poder político, conquistando a hegemonia política no estado, ou conseguindo um parcela de poder sem um partido político com representatividade que goze de ampla influência e respeito da sociedade. Esta é uma questão universal.
Reformas prioritárias
Daí a importância que damos à reforma política e midiática. Nosso Estado é essencialmente conservador e antirreformista. Esta é uma condicionante histórica.
Depois dos acontecimentos de junho, merecem nosso apoio as iniciativas populares de reforma política democrática, que temos que dar peso.
Democratização da comunicação é uma bandeira estratégica. Este é um obstáculo. Ter meios de comunicação tão monopolizados como os nossos [é um entrave] para o aprofundamento democrático em nosso país.
Fortalecer o campo à esquerda
É necessário que defendamos o fortalecimento do campo à esquerda. Diante da demanda atual por reformas mais profundas, ganha centralidade a construção de um campo político e social formado por todos quantos tenham afinidade com bandeiras de esquerda, sobretudo com essa compreensão de levar adiante as reformas democráticas e estruturais.
A proposta é de coesionar o campo de afinidades de esquerda no âmbito dessa coalizão maior que apoia o governo. É necessário existir uma representação nessa coalizão que seja um bloco que represente a unidade popular.
A formação de uma nova maioria política é uma questão fundamental. Por isso que no atual curso político nacional, sobretudo levando em conta a antecipação da campanha presidencial, é importante responder à agressividade cada vez maior dos setores conservadores com essas iniciativas que temos que tomar.
Essa é a compreensão do projeto que vamos defender para esse quarto mandato, projeto atualizado que procurei explicitar de forma resumida. Não temos ilusão em relação à agudeza do combate político que está em desenvolvimento.
A compreensão do PCdoB é que nós temos que ter um campo muito bem definido e tomar posição na encruzilhada política de 2014. Já estamos diante dela agora.
Por isso o objetivo traçado no Congresso do PCdoB, sua mais alta instância, é que todos esses meios programáticos e lutas sejam levadas adiante para que o povo obtenha a sua quarta vitória consecutiva.
O antirreformismo brasileiro
Antes de Rabelo, o presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, de forma objetiva sinalizou os temas segundo sua concepção.
Ele também detecta uma mudança histórica com a política adotada nestes últimos dez anos de governos populares, com o fim do “paulistanismo”, em que São Paulo seria a locomotiva que conduzia o Brasil por meio de uma industrialização forçada, até mesmo na Amazônia.
Pochmann apontou a dificuldade do país em estabelecer projetos nacionais claros, sempre interrompidos por rupturas políticas. O petista apontou as dificuldades brasileiras na formação de maiorias.
A resistência a reformismos vem desde outros tempos, como as reformas de base que vinham avançando com João Goulart e foram bruscamente interrompidas.
Ele afirmou alguns dilemas que o Brasil não resolve e que precisam ser enfrentados. Citou a intenção da China em ter 150 grandes empresas (das 500 mais importantes que existem no mundo hoje) para disputar em pé de igualdade a invasão transnacional. “Quantas o Brasil quer ter?”
Por outro lado, ele admite a importância das políticas de estímulo à pequena empresa, responsável pela formação do quadro de emprego nos pequenos empreendimentos.
Abordando o tema da formação de maiorias políticas, Pochmann avalia que as manifestações juvenis mostram que os problemas estão articulados, enquanto as políticas públicas para resolvê-los são fragmentadas e desarticuladas.
*Assessoria da presidência do PCdoB; enviado domingo (26) às 00h14.
A COPA, OS BLACK BLOCs E UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Até onde isso pode chegar?
A espúria aliança da direita sem proposta + partidos ditos de esquerda ou não, mas sem rumo + anarquistas + neofascistas + neoviolentos de toda ordem contra a Copa (e contra o Governo Dilma, é claro) começou mal, foi repudiada pela própria população.
Nos próximos atos poderão se formar dois blocos, um do povo repudiando o quebra desvairado, o fogo em fusca de trabalhador com a família dentro, o vandalismo psicopata contra o show na Praça da República, como aconteceu na festa dos 460 anos de São Paulo neste fim de semana. Gente que só queria diversão, assistir ao show gratuito, revoltou-se contra o vândalo e o espancou.
Imaginem como poderá ser na Copa, se milhares que pagaram caro e muito caro pelo ingresso da FIFA se virem ameaçados de perder o espetáculo por ações da turma do quebra-quebra, do quanto pior melhor? Será como diz a minha irmã, muito religiosa: "Só Jesus na causa".
A sandice praticada em São Paulo deriva de uma premissa falsa e maniqueísta, de que se não houver COPA os problemas estruturais e seculares do Brasil serão resolvidos, o que é uma evidente bobagem.
Agora, já não se trata mais apenas de um erro de formulação política ou acadêmica, os atos violentos contra a COPA podem e já estão a desencadear respostas também violentas de outra parcela da população, majoritária, por certo, segundo as recentes pesquisas e o minguado ajuntamento dos antiBrasil.
E a polícia, quando for autorizada a intervir, como será?
Com uma formação de violência, herdada da ditadura militar e mesmo de antes, a tropa vai escolher um grupo para proteger e outro para dispersar/atacar? Ou atacará os dois lados? Virá para fazer cessar a violência ou a incrementará? A ver.
Em que nível de violência se pretende chegar no ano da COPA e da eleição presidencial?
Que outros interesses motivam os atos anticopa?
A direita, a mídia empresarial, seus partidos e o capital financeiro, sabem que não ganham as eleições em condições de normalidade. A pequena denominada ultraesquerda também não tem condições de vencer em 5 de outubro. A disputa real parece que será entre Dilma e Eduardo. E a agudização de conflitos de rua parece que interessa a todos os que não estão no Governo.
Mesmo que não declarados os interesses reais, suas consequências são preocupantes, muito preocupantes.
Luiz Carlos Orro
- Veja os 3 vídeos da sequência.
- Leia neste blog os argumentos sobre a realização da Copa 2014 no Brasil.
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Multidão espanca black bloc na Praça da República
Grupo de homens se revoltou contra manifestantes, iniciando um tumulto no intervalo entre os shows de Paulinho da Viola e Os Opalas na Praça da República
Date: 8 hrs ago Exibições: 46252
Vídeo por: TV Estadão
http://t.co/kL6lVxhRLy
domingo, 26 de janeiro de 2014
MINHA COLEÇÃO DA BOA MÚSICA GOIANA
sábado, 25 de janeiro de 2014
Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil
Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil |
- Republicado do Carta Maior |
Como a desinformação alimenta o festival de besteiras ditas contra a Copa do Mundo de Futebol no Brasil.
Profetas do pânico: os gupos que patrocinam a campanha anticopa
Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem sucedida em queimar o filme do evento.
Tiveram, para isso, uma mãozinha de alguns governos, como o do estado do Paraná e da prefeitura de Curitiba, que deram o pior de todos exemplos ao abandonarem seus compromissos com as obras da Arena da Baixada, praticamente comprometida como sede.
A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra “cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos dirigentes de futebol do mundo inteiro.
Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre patrocinado pelos profetas do pânico.
O objetivo desses falsos profetas não é prever nada, mas incendiar a opinião pública contra tudo e contra todos, inclusive contra o bom senso.
Afinal, nada melhor do que o pânico para se assassinar o bom senso.
Como conseguiram azedar o clima da Copa do Mundo no Brasil
O grande problema é quando os profetas do pânico levam consigo muita gente que não é nem virulenta, nem violenta, mas que acaba entrando no clima de replicar desinformações, disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil de dar conta do recado.
Isso azedou o clima. Pela primeira vez em todas as copas, a principal preocupação do brasileiro não é se a nossa seleção irá ganhar ou perder a competição.
A campanha anticopa foi tão forte e, reconheçamos, tão eficiente que provocou algo estranho. Um clima esquisito se alastrou e, justo quando a Copa é no Brasil, até agora não apareceu aquela sensação que, por aqui, sempre foi equivalente à do Carnaval.
Se depender desses Panicopas (os profetas do pânico na Copa), essa será a mais triste de todas as copas.
“Hello!”: já fizemos uma copa antes
Até hoje, os países que recebem uma Copa tornam-se, por um ano, os maiores entusiastas do evento. Foi assim, inclusive, no Brasil, em 1950. Sediamos o mundial com muito menos condições do que temos agora.
Aquela Copa nos deixou três grandes legados. O primeiro foi o Maracanã, o maior estádio do mundo – que só ficou pronto faltando poucos dias para o início dos jogos.
O segundo, graças à derrota para o Uruguai (“El Maracanazo”), foi o eterno medo que muitos brasileiros têm de que as coisas saiam errado no final e de o Brasil dar vexame diante do mundo - o que Nélson Rodrigues apelidou de “complexo de vira-latas”, a ideia de que o brasileiro nasceu para perder, para errar, para sofrer.
O terceiro legado, inestimável, foi a associação cada vez mais profunda entre o futebol e a imagem do país. O futebol continua sendo o principal cartão de visitas do Brasil – imbatível nesse aspecto.
O cartunista Henfil, quando foi à China, em 1977, foi recebido com sorrisos no rosto e com a única palavra que os chineses sabiam do Português: “Pelé” (está no livro “Henfil na China”, de 1978).
O valor dessa imagem para o Brasil, se for calculada em campanhas publicitárias para se gerar o mesmo efeito, vale uma centena de Maracanãs.
Desinformação #1: o dinheiro da Copa vai ser gasto em estádios e em jogos de futebol, e isso não é importante
O pior sobre a Copa é a desinformação. É da desinformação que se alimenta o festival de besteiras que são ditas contra a Copa.
Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto uma planilha de gastos da copa.
A “Copa” vai consumir quase 26 bilhões de reais.
A construção de estádios (8 bi) é cerca de 30% desse valor.
Cerca de 70% dos gastos da Copa não são em estádios, mas em infraestrutura, serviços e formação de mão de obra.
Os gastos com mobilidade urbana praticamente empatam com o dos estádios.
O gastos em aeroportos (6,7 bi), somados ao que será investido pela iniciativa privada (2,8 bi até 2014) é maior que o gasto com estádios.
O ministério que teve o maior crescimento do volume de recursos, de 2012 para 2013, não foi o dos Esportes (que cuida da Copa), mas sim a Secretaria da Aviação Civil (que cuida de aeroportos).
Quase 2 bi serão gastos em segurança pública, formação de mão de obra e outros serviços.
Ou seja, o maior gasto da Copa não é em estádios. Quem acha o contrário está desinformado e, provavelmente, desinformando outras pessoas.
Desinformação #2: se deu mais atenção à Copa do que a questões mais importantes
Os atrasos nas obras pelo menos serviram para mostrar que a organização do evento não está isenta de problemas que afetam também outras áreas. De todo modo, não dá para se dizer que a organização da Copa teve mais colher de chá que outras áreas.
Certamente, os recursos a serem gastos em estádios seriam úteis a outras áreas. Mas se os problemas do Brasil pudessem ser resolvidos com 8 bi, já teriam sido.
Em 2013, os recursos destinados à educação e à saúde cresceram. Em 2014, vão crescer de novo.
Portanto, o Brasil não irá gastar menos com saúde e educação por causa da Copa. Ao contrário, vai gastar mais. Não por causa da Copa, mas independentemente dela.
No que se refere à segurança pública, também haverá mais recursos para a área. Aqui, uma das razões é, sim, a Copa.
Dados como esses estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso (nas referências ao final está indicado onde encontrar mais detalhes).
Se alguém quiser ajudar de verdade a melhorar a saúde e a educação do país, ao invés de protestar contra a Copa, o alvo certo é lutar pela aprovação do Plano Nacional de Educação, pelo cumprimento do piso salarial nacional dos professores, pela fixação de percentuais mais elevados e progressivos de financiamento público para a saúde e pela regulação mais firme sobre os planos de saúde.
Se quiserem lutar contra a corrupção, sugiro protestos em frente às instâncias do Poder Judiciário, que andam deixando prescrever crimes sem o devido julgamento, e rolezinhos diante das sedes do Ministério Público em alguns estados, que andam com as gavetas cheias de processos, sem dar a eles qualquer andamento.
Marchar em frente aos estádios, quebrar orelhões públicos e pichar veículos em concessionárias não tem nada a ver com lutar pela saúde e pela educação.
Os estádios, que foram malhados como Judas e tratados como ícones do desperdício, geraram, até a Copa das Confederações, 24,5 mil empregos diretos. Alto lá quando alguém falar que isso não é importante.
Será que o raciocínio contra os estádios vale para a também para a Praça da Apoteose e para todos os monumentos de Niemeyer? Vale para a estátua do Cristo Redentor? Vale para as igrejas de Ouro Preto e Mariana?
Havia coisas mais importantes a serem feitas no Brasil, antes desses monumentos extraordinários. Mas o que não foi feito de importante deixou de ser feito porque construíram o bondinho do Pão-de-Açúcar?
Até mesmo para o futebol, o jogo e o estádio são, para dizer a verdade, um detalhe menos importante. No fundo, estádios e jogos são apenas formas para se juntar as pessoas. Isso sim é muito importante. Mais do que alguns imaginam.
Desinformação #3: O Brasil não está preparado para sediar o mundial e vai passar vexame
Se o Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria conta agora?
Se realizou a Copa das Confederações no ano passado, por que não daria conta da Copa do Mundo?
Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade, porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais de uma cidade?
O Brasil não vai dar vexame, quando o assunto for segurança, nem diante da Alemanha, que se viu rendida quando dos atentados terroristas em Munique, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972; nem diante dos Estados Unidos, que sofreu atentados na Maratona Internacional de Boston, no ano passado.
O Brasil não vai dar vexame diante da Itália, quando o assunto for a maneira como tratamos estrangeiros, sejam eles europeus, americanos ou africanos.
O Brasil não vai dar vexame diante da Inglaterra e da França, quando o assunto for racismo no futebol. Ninguém vai jogar bananas para nenhum jogador, a não ser que haja um Panicopa no meio da torcida.
O Brasil não vai dar vexame diante da Rússia, quando o assunto for respeito à diversidade e combate à homofobia.
O Brasil não vai dar vexame diante de ninguém quando o assunto for manifestações populares, desde que os governadores de cada estado convençam seus comandantes da PM a usarem a inteligência antes do spray de pimenta e a evitar a farra das balas de borracha.
Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias. Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas.
Desinformação #4: os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil
De tanto medo do Brasil, o turismo para o Brasil cresceu 5,6% em 2013, acima da média mundial. Foi um recorde histórico (a última maior marca havia sido em 2005).
Recebemos mais de 6 milhões de estrangeiros. Em 2014, só a Copa deve trazer meio milhão de pessoas.
De quebra, o Brasil ainda foi colocado em primeiro lugar entre os melhores países para se visitar em 2014, conforme o prestigiado guia turístico Lonely Planet (“Best in Travel 2014”, citado nas referências ao final).
Adivinhe qual uma das principais razões para a sugestão? Pois é, a Copa.
Desinformação #5: a Copa é uma forma de enganar o povo e desviá-lo de seus reais problemas
O Brasil tem de problemas que não foram causados e nem serão resolvidos pela Copa.
O Brasil tem futebol sem precisar, para isso, fazer uma copa do mundo. E a maioria assiste aos jogos da seleção sem ir a estádios.
Quem quiser torcer contra o Brasil que torça. Há quem não goste de futebol, é um direito a ser respeitado. Mas daí querer dar ares de “visão crítica” é piada.
Desinformação #6: muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, o que é um grave problema
É verdade, muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, mas isso não é um grave problema. Tem até um nome: chama-se “legado”.
Mas, além do legado em infraestrutura para o país, a Copa provocou um outro, imaterial, mas que pode fazer uma boa diferença.
Trata-se da medida provisória enviada por Dilma e aprovada pelo Congresso (entrará em vigor em abril deste ano), que limita o tempo de mandato de dirigentes esportivos.
A lei ainda obrigará as entidades (não apenas de futebol) a fazer o que nunca fizeram: prestar contas, em meios eletrônicos, sobre dados econômicos e financeiros, contratos, patrocínios, direitos de imagem e outros aspectos de gestão. Os atletas também terão direito a voto e participação na direção. Seria bom se o aclamado Barcelona, de Neymar, fizesse o mesmo.
Estresse de 2013 virou o jogo contra a Copa
Foi o estresse de 2013 que virou o jogo contra a Copa. Principalmente quando aos protestos se misturaram os críticos mascarados e os descarados.
Os mascarados acompanharam os protestos de perto e neles pegaram carona, quebrando e botando fogo. Os descarados ficaram bem de longe, noticiando o que não viam e nem ouviam; dando cartaz ao que não tinha cartaz; fingindo dublar a “voz das ruas”, enquanto as ruas hostilizavam as emissoras, os jornalões, as revistinhas e até as coitadas das bancas.
O fato é que um sentimento estranho tomou conta dos brasileiros. Diferentemente de outras copas, o que mais as pessoas querem hoje saber não é a data dos jogos, nem os grupos, nem a escalação dos times de cada seleção.
A maioria quer saber se o país irá funcionar bem e se terá paz durante a competição. Estranho.
É quase um termômetro, ou um teste do grau de envenenamento a que uma pessoa está acometida. Pergunte a alguém sobre a Copa e ouça se ela fala dos jogos ou de algo que tenha a ver com medo. Assim se descobre se ela está empolgada ou se sentou em uma flecha envenenada deixada por um profeta do apocalipse.
Todo mundo em pânico: esse filme de comédia a gente já viu
Funciona assim: os profetas do pânico rogam uma praga e marcam a data para a tragédia acontecer. E esperam para ver o que acontece. Se algo “previsto” não acontece, não tem problema. A intenção era só disseminar o pânico e o baixo astral mesmo.
O que diziam os profetas do pânico sobre o Brasil em 2013? Entre outras coisas:
Que estávamos à beira de um sério apagão elétrico.
Que o Brasil não conseguiria cumprir sua meta de inflação e nem de superávit primário.
Que o preço dos alimentos estava fora de controle.
Que não se conseguiria aprontar todos os estádios para a Copa das Confederações.
O apagão não veio e as termelétricas foram desligadas antes do previsto. A inflação ficou dentro da meta. A inflação de alimentos retrocedeu. Todos os estádios previstos para a Copa das Confederações foram entregues.
Essas foram as profecias de 2013. Todas furadas.
Cada ano tem suas previsões malditas mais badaladas. Em 2007 e 2008, a mesma turma do pânico dizia que o Brasil estava tendo uma grande epidemia de febre amarela. Acabou morrendo mais gente de overdose de vacina do que de febre amarela, graças aos profetas do pânico.
Em 2009 e 2010, os agourentos diziam que o Brasil não estava preparado para enfrentar a gripe aviária e nem a gripe “suína”, o H1N1. Segundo esses especialistas em catástrofes, os brasileiros não tinham competência nem estrutura para lidar com um problema daquele tamanho. Soa parecido com o discurso anticopa, não?
O cataclismo do H1N1 seria gravíssimo. Os videntes falavam aos quatro cantos que não se poderia pegar ônibus, metrô ou trem, tal o contágio. Não se poderia ir à escola, ao trabalho, ao supermercado. Resultado? Não houve epidemia de coisa alguma.
Mas os profetas do pânico não se dão por vencidos. Eles são insistentes (e chatos também). Quando uma de suas profecias furadas não acontece, eles simplesmente adiam a data do juízo final, ou trocam de praga.
Agora, atenção todos, o próximo fim do mundo é a Copa. “Imagina na Copa” é o slogan. E há muita gente boa que não só reproduz tal slogan como perde seu tempo e sua paciência acreditando nisso, pela enésima vez.
Para enfrentar o pessoal que é ruim da cabeça ou doente do pé
O pânico é a bomba criada pelos covardes e pulhas para abater os incautos, os ingênuos e os desinformados.
Só existe um antídoto para se enfrentar os profetas do pânico. É combater a desinformação com dados, argumentos e, sobretudo, bom senso, a principal vítima da campanha contra a Copa.
Informação é para ser usada. É para se fazer o enfrentamento do debate. Na escola, no trabalho, na família, na mesa de bar.
É preciso que cada um seja mais veemente, mais incisivo e mais altivo que os profetas do pânico. Eles gostam de falar grosso? Vamos ver como se comportam se forem jogados contra a parede, desmascarados por uma informação que desmonta sua desinformação.
As pessoas precisam tomar consciência de que deixar uma informação errada e uma opinião maldosa se disseminar é como jogar lixo na rua.
Deixar envenenar o ambiente não é um bom caminho para melhorar o país.
A essa altura do campeonato, faltando poucos meses para a abertura do evento, já não se trata mais de Fifa. É do Brasil que estamos falando.
É claro que as informações deste texto só fazem sentido para aqueles para quem as palavras “Brasil” e “brasileiros” significam alguma coisa.
Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que têm que mostrar que isso existe sim.
Ter orgulho do país e torcer para que as coisas deem certo não deve ser confundido com compactuar com as mazelas que persistem e precisam ser superadas. É simplesmente tentar colocar cada coisa em seu lugar.
Uma das maneiras de se colocar as coisas no lugar é desmascarar oportunistas que querem usar da pregação anticopa para atingir objetivos que nunca foram o de melhorar o país.
O pior dessa campanha fúnebre não é a tentativa de se desmoralizar governos, mas a tentativa de desmoralizar o Brasil.
É preciso enfrentar, confrontar e vencer esse debate. É preciso mostrar que esse pessoal que é profeta do pânico é ruim da cabeça ou doente do pé.
(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política e torcedor da Seleção Brasileira de Futebol desde sempre.
Mais sobre o assunto:
A Controladoria Geral da União atualiza a planilha com todos os gastos previstos para a Copa, os já realizados e os por realizar, em seu portal:
Os dados do orçamento da União estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso.
O “Best in Travel 2014”, da Lonely Planet, pode ser conferido aqui.
Sobre copa e anticopa, vale a pena ler o texto do Flávio Aguiar, “Copa e anti-copa”, aqui na Carta Maior:
Sobre o catastrofismo, também do Flávio Aguiar: “Reveses e contrariedades para a direita”, na Carta Maior.
Sobre os protestos de junho e a estratégia da mídia, leiam o texto do prof. Emir Sader, "Primeiras reflexões".