Em artigo publicado no jornal goiano Diário da Manhã, quinta-feira, dia 26 de fevereiro de 2009, presidente regional do PCdoB, Luiz Carlos Orro comenta sobre o vergonhoso editorial da Folha de São Paulo que apelida a ditadura militar no Brasil de "ditabranda" Piada de salão: a ditadura virou “ditabranda” no carnaval
Causou espanto ao mundo democrático a diatribe originada das reacionárias elites representadas pela Folha de São Paulo. Na semana passada, parece que querendo azedar a festa de Momo que se iniciava, inventaram de rebatizar a ditadura militar de 1964 de “ditabranda”, em pleno carnaval, quer dizer, editorial. O mote surgiu da tentativa de desqualificar a recente vitória do presidente Hugo Chávez no referendo democrático em que o povo da Venezuela disse “sim” à possibilidade da reeleição continuada dos dirigentes daquele país. Indignado com a vitória popular, o jornal da família Frias tirou a máscara e expôs a sua concepção autoritária, ao insinuar que o governo bolivariano seria pior do que a ditadura militar brasileira, e que esta, comparada a outras instaladas na América Latina, apresentou ‘níveis baixos de violência política e institucional'. Alguns desavisados pensaram que haviam mudado o dia da mentira; outros acharam que só podia ser brincadeira de carnaval e puxaram a marchinha “é ou não é, piada de salão...”!
Passada a folia, nessa manhã de Cinzas, não restam cores alegres, pois a coisa foi séria mesmo. A Folha pretendeu reescrever e fraudar a história, esquecendo que o golpe militar de 64 violentou a soberania popular ao derrubar do poder o presidente Jango, que havia sido eleito vice-presidente pelo povo e assumiu a titularidade de Chefe de Estado de acordo com a lei vigente e apoiado pelo movimento Cadeia da Legalidade em 62. O estelionato histórico do editorial criticado quer apagar da memória do povo brasileiro que o regime militar perseguiu, demitiu, exilou, cassou mandatos, prendeu, matou, torturou e mutilou milhares de patriotas entre 1964-1985. Até cabeças e mãos foram cortadas e corpos foram “desaparecidos”, crimes cometidos por agentes militares contra os membros do PCdoB na Guerrilha do Araguaia, um dos exemplos que a história registra. Pois é, no neologismo macabro que criaram tudo isso não passou de uma “ditabranda".
A resposta democrática não tardou e já circula pela internet um manifesto, aberto à adesão dos interessados, de repúdio ao infeliz editorial e de solidariedade à professora Maria Victoria Benevides, da Sociologia da USP e ao jurista Fabio Konder Comparato, professor aposentado da Faculdade de Direito da USP (http://www.ipetitions.com/petition/solidariedadeabenevidesecomparat/index.html. Os eminentes intelectuais foram os primeiros a condenarem o editorial na sessão de cartas daquele jornal. ''Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de 'ditabranda'?'', questionou Benevides. ''O autor do vergonhoso editorial e o diretor que o aprovou deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça púbica e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada'', afirmou Comparato. Em nota da redação, como resposta, foram insultados pela direção daquele jornal.
A Folha teve seus tempos de idílio com o regime militar, quando até as famosas camionetes C-14 da Folha da Tarde eram emprestadas para o transporte de presos políticos do DOi-Codi e DOPS durante a Operação Bandeirantes nos anos 60 e 70, como informa Beatriz Kushnir, em seu "Cães de guarda", livro resultante de sua tese de doutoramento na UNICAMP, em que analisa o colaboracionismo de vários órgãos da mídia com o arbítrio de então. Portanto, a pretensa preocupação do editorial com a democracia nos traz à memória aquela outra marchinha carnavalesca: “Se você fosse sincera...”. E quando o então presidente FHC fez aprovar a emenda da reeleição em 1997, em puro proveito próprio? Alguém ouviu um pio dessa gente fina clamando por democracia? Diziam que tudo estava muito bom, que era um avanço. Ora, isso não passa de arrogância daquela elite branca, má e perversa a que já se referiu o ex-governador paulista, Cláudio Lembo. Os donos do poder econômico querem ditar qual democracia pode e qual não pode.
Em nome dos desaparecidos políticos goianos Honestino Monteiro Guimarães, Divino Ferreira de Souza, Marco Antônio Dias Batista, Paulo de Tarso Celestino da Silva e Ismael de Jesus Silva, lavramos aqui esse nosso protesto. Convém registrar ainda que o tal editorial partiu do mesmo baú onde se engendra a volta da direita demo-tucana ao poder, com o representante-mór da burguesia paulista, José Serra. Atenção Dilma, Aldo Rebelo, Ciro e outros possíveis candidatos do campo progressistas: segurem o tranco, que a eleição de 2010 vai ser de tirar pica-pau do oco.
*Luiz Carlos Orro - 13/02/2009
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