Pesquisar este blog

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Prisão perpétua para os responsáveis pelos “voos da morte” na ditadura argentina


Maior julgamento da história do país sobre crimes contra 789 vítimas termina nesta quarta


EL PAÍS
A Justiça argentina condenou pela primeira vez e com várias sentenças de prisão perpétua os responsáveis pelos "voos da morte", o sistema de extermínio dos presos políticos durante a ditadura do país que acabou com a vida de 4.000 pessoas, lançadas ao mar desde aviões militares após serem drogadas para adormecer. A sentença encerra o maior julgamento da história do país, com 54 indiciados por crimes cometidos contra 789 vítimas na Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA), o mais conhecido centro da repressão argentina.
Argentinos celebram a sentença de prisão perpétua para repressores.
Argentinos celebram a sentença de prisão perpétua para repressores.  AP
Os juízes condenaram ao ex-capitão Alfredo Astiz e a Jorge el Tigre Acosta a prisão perpétua, mas as sentenças mais significativas foram contra o grupo de oito responsáveis materiais pelos "voos da morte", entre eles Mario Daniel Arru e Alejandro Domingo D'Agostino. Com a decisão, a Justiça comprova a existência do plano sistemático de eliminação, um dos mais cruéis posto em prática no regime argentino, entre 1976 e 1983.
Passaram-se 40 anos, mas a ESMA está quase intacta. Por isso, Miriam Lewin, que passou dois anos detida ali, pode se colocar no local exato em que os presos eram drogados com Pentotal antes de serem despidos e embarcados em caminhões que os levariam a um avião, do qual seriam lançados ao mar. “Era exatamente aqui, neste espaço, que ficava a enfermaria e onde agora estão vocês. Eles eram levados por estas rampas até um caminhão no pátio. Isso acontecia às quartas-feiras. Os escolhidos tinham que parar quando escutavam seu número e caminhar até aqui em fila indiana”, conta ela aos impressionados visitantes da ESMA, que fica no coração do elegante bairro de Núñez e organiza visitas mensais com sobreviventes.
Hoje a ESMA é um centro de memória, um exemplo mundial de como transformar um lugar de horrores e um centro de aprendizagem para inocular anticorpos nas próximas gerações. Algo que a Espanha, assim como outros países, não soube fazer com o seu Vale dos Caídos, erguido em memória aos nacionalistas mortos na Guerra Civil. No Brasil, apesar das recomendações da Comissão Nacional da Verdade, encerrada em 2014, e da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que dizem que crimes contra a humanidade cometidos por agentes do Estado não prescrevem nem devem ser perdoados a priori, o Supremo Tribunal Federal mantém a validade da Lei de Anistia, de 1979, e barra julgamentos penais contra repressores e torturadores.
Lewin, como vários dos escassos sobreviventes do centro argentino, assistia nesta quarta-feira à leitura sentença na Esma num dia vivido na Argentina como uma catarse coletiva, um ato de justiça reparador, com as vítimas na sala encarando os condenados, e telões nas portas do tribunal para que milhares de pessoas possam acompanhá-la nas ruas. No início da leitura das sentenças, os familiares dos militares aplaudiram no andar de cima, enquanto os das vítimas, no andar de baixo, gritavam “assassinos” e cantavam “assim como os nazistas, não passarão, onde quer que vão, iremos buscá-los”, enquanto exibiam fotos dos desaparecidos a poucos metros dos criminosos, separados apenas por uma parede de vidro.
Na década de oitenta, com Raúl Alfonsín, a Argentina foi um exemplo mundial de julgamentos a seus repressores. Depois vieram os indultos e a impunidade dos anos noventa. Desde 2003, com o impulso dos Governos Kirchner, o país voltou a ser um modelo para o mundo em assuntos de justiça humanitária. Hoje há 449 criminosos detidos em cadeias e 553 em prisão domiciliar, e ainda há outros 420 processos em marcha. A mudança de governo não conteve os julgamentos, que são considerados pela Suprema Corte uma política de Estado. A Argentina já deu o exemplo este ano ao realizar as primeiras condenações pela Operação Condor, e antes pelo roubo sistemático de crianças. Agora chegou a hora do processo principal.
O megajulgamento da ESMA foi especialmente complexo porque ninguém sobreviveu aos voos da morte, e praticamente nenhum militar, salvo Adolfo Scilingo, confessou saber da existência das operações ou de ter participado delas. Os advogados das vítimas tiveram que fazer um enorme trabalho de investigação com a escassa documentação de voo que foi guardada para provar que existiram. “O julgamento, ao indiciar os pilotos, permitiu reconstruir as operações e verificar como o grupo de tarefas da ESMA realizava esse método de extermínio – como, depois de dar soníferos às vítimas dizendo que seriam levadas a um centro de recuperação, o Exército conseguia um avião e pilotos no meio da noite. Nenhum dos envolvidos colaborou. O pacto de silêncio continua. Por isso foram usados documentos do Exército, registros de voo e os depoimentos dos sobreviventes da ESMA”, explica Luz Palmas Zaldúa, advogada do CELS, um respeitado órgão de defesa de direitos humanos que impulsiona esses julgamentos.
Mais de 800 pessoas depuseram. Entre os julgados há figuras muito importantes como o Tigre Acosta, que foi condenado à prisão perpétua, Ricardo Cavallo ou Alfredo Astiz, conhecido também fora da Argentina. O processo permitiu, além disso, uma reconstituição da colaboração da Igreja Católica, a conivência dos meios de comunicação, como a Chancelaria argentina utilizava os sequestrados como mão de obra escrava para fazer propaganda e se contrapor ao que chamavam de campanha contra a Argentina no mundo”, completa Zaldúa. Os condenados não apenas não colaboraram, como alguns chegaram a defender os crimes cometidos. Há menos de dois meses, Astiz, preso desde 2003 –ele permaneceu em liberdade durante vários anos graças a anistias parciais e regras que beneficiavam quem teoricamente apenas recebiam ordens—bradou diante do tribunal: “Jamais pedirei perdão por defender a minha pátria”. Ricardo Coquet, outro sobrevivente, sequestrado na ESMA entre março de 1977 e dezembro de 1978, também compareceu. “Passei quase dois anos, todas as quartas-feiras, escutando essas ações, sentindo que estavam matando todos os meus companheiros, com uma enorme impotência. Toda semana caíam 40 ou 50. Imagine o que é ver como se colocavam as esposas diante do Tigre Acosta, que nos dizia: 'Jesus diz que tem de viver e quem tem de morrer'. É algo muito importante. Não é um fecho, mas é especial. É justiça. Porque eles têm um julgamento justo, não os torturam nem os jogam no mar”, se emociona.
Coquet afirma que ali dentro todos sabiam que estavam sendo levados para serem mortos, embora procurassem enganá-los. “Eu soube que os traslados eram para a morte porque o companheiro Ignacio Pedro Ojea Quintaba estava com uma roupa minha, que eu lhe emprestara porque vivíamos juntos. Um dia o levaram e no dia seguinte o Tigre Acosta disse para me darem uma roupa decente porque a minha estava toda rasgada. Então me levaram e me deram a roupa de Ojea, que era minha, uma calça jeans Oxford e camisa xadrez. A gente conhece a nossa roupa. Foi aí que entendi. Eram cruéis. Vi mulheres darem à luz e serem colocadas num avião no dia seguinte. Creio que foi isso que mais sensibilizou a sociedade, saber que até os filhos eram roubados. A Argentina está dando um exemplo para o mundo, mas não vejo que haja outros países seguindo esse exemplo”, afirma Coquet.
Miriam Lewin, que é uma conhecida jornalista investigativa argentina, obteve dados que confirmam a história dos voos da morte, em especial o que levou o grupo fundador das Mães da Praça de Maio, com Azucena Villaflor à frente, e duas freiras francesas. Seus cadáveres apareceram de forma inesperada no litoral argentino e foram enterrados como indigentes. Muitos anos depois, foi possível reconstituir a sua história, que agora foi essencial para a condenação dos responsáveis. “Existem as planilhas. É possível ver que foi um voo de uma quarta-feira, noturno, com uma duração sem sentido, três horas sem destino para depois voltar ao Aeroparque. Os cadáveres apareceram mostrando lesões compatíveis com a queda de grandes alturas. Elas foram encontradas porque ocorreu uma grande “sudestada” [vento de sudeste, vindo do alto mar]; os outros nunca apareceram porque os voos adentravam o espaço sobre o mar para não deixar rastros e por isso duravam três horas”, explica a jornalista.
Alguns participantes dos voos da morte comentaram seus crimes muitos anos depois perante testemunhas, embora hoje o neguem. É o caso de Julio Poch, preso na Espanha depois de relatar suas façanhas a colegas da KLM, ou Ricardo Ormello, que contou aos seus colegas das Aerolíneas Argentinas como era o procedimento e uma história, em especial, que fez com que o denunciassem. “Trouxeram uma gorda que pesava uns 100 quilos e a droga não tinham tido efeito nela. Quando a estávamos arrastando, ela acordou e se agarrou no batente. A filha da puta não largava e tivemos de empurrá-la com pontapés até que ela foi para a merda”, detalhou aos seus amigos este homem, que era cabo da Marinha durante a ditadura.
No entanto, não foi fácil comprovar a culpa e as vítimas se inquietavam diante da possibilidade de que a sentença fosse mais suave que outras esse alegasse falta de provas para absolver alguns pilotos e responsáveis pelos voos da morte. Assim, poderiam sair em liberdade, embora não no caso dos outros condenados por outros motivos à prisão perpétua. Alguns temiam que a mudança política levasse a uma mudança no espírito que até então vinha prevalecendo na Justiça, que adotou nos últimos anos sentenças bastante duras. Mas a realidade confirmou que a Argentina segue sendo uma referência mundial nos julgamentos de crimes contra a humanidade.

Sem candidato, direita vai melar a eleição.

27/11/2017




Por Altamiro Borges, em seu blog. 


As forças golpistas estão em uma encruzilhada. 

Elas patrocinaram uma aventura perigosa ao abortar a jovem democracia brasileira, depondo uma presidenta legitimamente eleita e alçando ao poder a quadrilha de Michel Temer. 

Com uma velocidade alucinante, elas impuseram uma pauta regressiva sem precedentes na história – que inclui, entre outras maldades, a PEC da Morte que congela por 20 anos os investimentos em saúde e educação; a “reforma” trabalhista que extingue a CLT; e o projeto de “reforma” da Previdência que elimina com a aposentadoria dos trabalhadores. 
Este plano, batizado de “Ponte para o futuro” – mas que na verdade é uma “pinguela para inferno” –, está sendo execrado pela sociedade em todas as pesquisas de opinião. O covil golpista tem apenas 3% de aprovação – dentro da chamada margem de erro.

Neste cenário devastador, as eleições marcadas para outubro de 2018 – quando deveriam ser escolhidos o novo presidente da República, os governadores dos 26 Estados e Distrito Federal, 513 deputados federais e 54 senadores – viraram um pesadelo para os golpistas.


 Mantidas as regras democráticas, eles temem perder importantes espaços de poder.

Os parlamentares que se corromperam neste show de horrores e esfaquearam os direitos dos trabalhadores estão desgastados e correm o risco de não se reeleger.

Eles são vaiados nos locais públicos e têm seus nomes estampados em vários cantos.

Já os governadores que apoiaram as regressões também padecem com a queda de popularidade e são tragados por uma crise econômica que paralisa os Estados.

 O maior temor dos golpistas, porém, é com a eleição presidencial. 

O “fantasma” de Lula assombra a direita nativa. O golpe ficaria inconcluso com o retorno das forças de esquerda e centro-esquerda ao Palácio do Planalto.

Até agora, mesmo com o apoio da mídia chapa-branca e das elites empresariais, as forças golpistas não conseguiram construir um nome em condições de disputar o pleito com competitividade. 

Já fizeram vários ensaios, mas todos deram chabu. Henrique Meirelles, o queridinho do “deus-mercado”, nem aparece nas pesquisas eleitorais. 

Ele prometeu recuperar a econômica de maneira “instantânea”, mas o que se vê no país é o aumento do desemprego e da miséria. 

Além disso, o ex-executivo da JBS foi atropelado por várias denúncias de corrupção e de enriquecimento ilícito. 

João Doria, o “prefake” turista de São Paulo, virou capa de revistas e destaque na tevê, mas sua ambição logo virou farinata – como a que compõe sua desastrosa “ração para os pobres”. 

Luciano Huck, o garoto-propaganda da TV Globo, também já desistiu da disputa com medo de uma necessária devassa na sua vida empresarial.


Sobraram o governador Geraldo Alckmin, o “picolé de chuchu”, que nunca convenceu o eleitorado brasileiro, e o fascista aloprado Jair Bolsonaro, que não inspira confiança nem na chamada “zelite”.

Três saídas golpistas

A ausência de alternativas tende a estimular nas forças da direita – que têm no seu DNA os golpes e as saídas autoritárias – a busca de saídas ainda mais traumáticas para a combalida democracia brasileira. 

Três hipóteses parecem estar no tabuleiro. 

A primeira é a impugnação de uma nova candidatura do ex-presidente Lula. 

Sergio Moro e os seus cúmplices na midiática Operação Lava-Jato trabalham incansavelmente para realizar este trabalho sujo, que representaria um atentado à soberania do voto popular e à democracia. Sem provas, mas com muita convicção, eles correm atrás do tempo. 

O atraso na degola, porém, pode atrapalhar os planos golpistas, gerando forte reação na sociedade. A cada dia que passa, o líder petista se consolida ainda mais na simpatia do eleitorado. Há um típico “efeito saudade” do ex-presidente.

Caso esta manobra não se viabilize a tempo, as forças da direita podem apelar para outras duas saídas ainda mais bruscas. 

Uma seria a da imposição de um “parlamentarismo” de fachada, para aprisionar o presidente eleito em 2018. O jagunço Alexandre de Moraes, guindado ao posto de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo usurpador e compadre Michel Temer, já opera abertamente para viabilizar esta alternativa.

 Vale lembrar que esta saída antidemocrática já foi testada em 1961 contra o trabalhista João Goulart, mas durou pouco tempo. Um plebiscito anulou a mutreta. 

A outra seria a da pura e simples suspensão das eleições do próximo ano. Parece uma manobra extremada – mas é bom evitar novamente as ilusões como as dos que não acreditavam no golpe do impeachment contra Dilma Rousseff.

O que está em jogo no país é algo de dimensão colossal. O Brasil, com suas riquezas, potencialidades e bilionários interesses, não pode ser transformado em uma republiqueta de última categoria. 

Ou as vozes que almejam a democracia, o progresso e a justiça social se levantam com urgência e maior radicalidade, ou a direita nativa vai destruir de vez o Brasil. 

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Manuela D’Ávila: Brasil é maior que o medo e o ódio

15 de novembro de 2017 - 13h02 



Foto: Caroline Ferraz/Sul21
  
“2018 é o momento de discutir o futuro do Brasil, e não o passado. A gente tem uma caracterização política muito firme. Em 2016 houve uma ruptura, um golpe parlamentar e, a partir disso, se abre um novo ciclo. Temos uma interpretação muito parecida com a do PT sobre o passado. Mas as saídas para a crise nós temos as nossas e eles têm as deles. Sim, a gente acredita que vai se encontrar no futuro. Mas achamos que esse futuro é o segundo turno das eleições”, afirmou.

Segundo ela, politicamente, a sua pré-candidatura defende uma frente ampla, que é a ideia de reunir setores maiores da sociedade. Mas o tema central de sua campanha é a política econômica e a retomada do crescimento. “Nosso projeto é de desenvolvimento com crescimento da economia a partir da indústria nacional, que significa emprego de qualidade com direitos sociais.”

Ao falar de suas propostas para a indústria, ela defendeu um referendo revogatório para anular medidas levadas adiante pelo atual governo, como a alteração da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) do BNDES, por exemplo. “Sem a TJLP a gente jamais vai ter emprego de qualidade no Brasil. Porque todos os países têm banco de desenvolvimento com taxa de juro de longo prazo para favorecer a indústria própria e de inovação, que geram empregos.”

De acordo com Manuela, a economia brasileira tem que estar a serviço do povo brasileiro. “Como a gente tem taxas de juro tão altas se elas não servem para a indústria nacional, para gerar competitividade? Como a gente tem um câmbio que não serve para a indústria brasileira?”, criticou.

Defensora dos direitos das mulheres, ela destacou que a maternidade a ajudou perceber melhor os problemas do país nessa área. “Eu consegui muito mais conectar o tema da mulher com o tema do Brasil. Porque a maternidade torna muito visível o que é um Estado não adequado às mulheres. O que representa um Estado pequeno e a ausência de creches, de escola em turno integral, para uma mãe trabalhadora?”, colocou.

A pré-candidata destacou que o Brasil é um país muito violento com as mulheres. “Pautas como salário inferior [ao dos homens] e assédio sempre fizeram parte da minha rotina de parlamentar. Mas talvez eu tenha compreendido o peso da maternidade na situação que a mulher vive no Brasil”, completou.

Em 2016, uma foto da deputada estadual amamentando a filha Laura, na Assembleia, ganhou as redes sociais. De acordo com Manuela, a repercussão da imagem fez com que ela tivesse a dimensão de como o ato de amamentar é um tabu em uma sociedade que objetifica o corpo das mulheres. “Cumprir a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é algo visto como um absurdo, um erro”, lamentou.

Ela comentou ainda a iniciativa de seu gabinete de desenvolver o “machistômetro” – um termômetro que indica atitudes machistas e orienta mulheres –, que terminou virando alvo de ataques na web. “A gente fez o machistômetro como apoio para os debates sobre violência contra mulher. Ele era bastante simples, mas acabou gerando muito impacto. Essa onda de ódio na internet acontece sistematicamente, não só com o tema das mulheres. Existem candidaturas que têm tentado organizar e potencializar o ódio e o medo”, declarou.

Segundo ela, “há pessoas que não percebem como o ódio é um instrumento político e pode sair das redes sociais para as ruas”. Manuela tem publicado vídeo na internet, num esforço de mostrar que é possível construir diálogos e soluções.

Assim como fez na coletiva de lançamento de sua pré-candidatura, a comunista respondeu àqueles que a consideram muito jovem. “Quando me candidato, falam: ‘Ela é muito nova’. (...) Este é meu quarto mandato e minha sétima eleição, e continuo eternamente jovem. Por isso, a eleição é meu elixir, nunca envelheço perante os olhos dos críticos. Fui eleita pela primeira vez quando tinha 23 anos. Agora tenho 36. É praticamente a idade do presidente da França [Emanuel Macron, 39 anos], basicamente a mesma idade do primeiro-ministro do Canadá [Justin Trudeau, 45 anos], da prefeita de Roma [Virginia Raggi, 39 anos]”, comparou.

Ao ser indagada sobre a pré-candidatura de Jair Bolsonaro, Manuela avaliou que ele não tem propostas para o país. “Quando falei que o bom senso da população é o principal adversário do Bolsonaro, é porque o medo e o ódio não são propostas para sair da crise que o Brasil vive. Fui colega dele por oito anos e sei que foi um parlamentar invisível. Ele não tem propostas sequer para as áreas nas quais estimula o ódio. Qual é a proposta dele para a segurança pública?”, provocou.

Para ela, uma candidatura de extrema direita como a dele serve para impulsionar uma alternativa de centro. “O Alckmin, por exemplo, não é um candidato de centro, mas, diante do Bolsonaro, ele pode parecer. Por isso precisamos debater ideias. Para que aqueles que defendem o fim do Estado não se passem por alternativas centristas, que não são”, disse.

Manuela reforçou que nunca tive o PT como adversário, nas eleições em que disputou. E assim será em 2018. “Nossas candidaturas sempre tentaram colocar os problemas das pessoas e da cidade no centro. Isso faz com que você enxergue os outros partidos de uma forma diferente. Tenho bastante tranquilidade com isso. Nós e o PT temos uma relação fraterna, mas somos partidos diferentes. É natural que tenhamos candidaturas diferentes e que nos encontremos, na frente, em eleições de dois turnos.”

Ela voltou a defender a participação do participação do ex-presidente Lula na eleição. “Eleição é momento de superação da crise, não de agravamento dela. Em uma eleição em que o Lula estivesse impedido de concorrer, a crise estaria agravada”, apontou.

Segundo a comunista, se Lula cometeu crimes, é preciso que haja provas. “O Lula e qualquer brasileiro têm que ser julgados pela lei, é isso que garante a democracia e a existência das nossas instituições. Enquanto não apresentarem uma prova de que ele cometeu crime, ele não cometeu crime. É assim com ele e deve ser assim como todos.”

Na sua opinião, a Lava Jato surgiu com o bonito interesse de combater a corrupção no Brasil, mas virou uma operação “absolutamente política”. “Basta ver o que acontece hoje em Brasília, os desfechos e o entorno do presidente Temer”, indicou.

À Veja, Manuela falou ainda sobre temas como a legalização das drogas. Para ela, é preciso discutir o tema na perspectiva proposta pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), unindo a sociedade para debater estatísticas. “Os números mostram que a violência aumentou a partir de uma política de guerra às drogas. O Brasil pode fazer esse debate, vinculando inclusive a tributação das drogas a campanhas educativas de prevenção do consumo de todas as drogas. O Brasil subestima o consumo de drogas lícitas”, avaliou.



 Do Portal Vermelho, com Veja

---------------------------------------

Amigas e amigos:

A entrevista de Manuela d’Ávila na revista Veja ( abaixo) está muito boa. Madura, equilibrada, inteligente e de esquerda. 

A Manuela realça o sentido geral  que sua candidatura defende, o da retomada do desenvolvimento, nas condições atuais do Brasil e do mundo, para viabilizar um grande projeto de Nação. 

Rechaça a política do ódio e do medo, que hoje procura se impor na  cena  política brasileira, para nos dividir e nos enfraquecer. 

Todos os que acreditam e lutam por um Brasil sem ódio e sem medo, desenvolvido e justo, onde predominam direitos sociais amplos, devem divulgar essa entrevista. 

Haroldo Lima

---------------------------------------------

O Brasil é muito maior que o medo e o ódio, diz Manuela D’Ávila

Mais votada nas eleições parlamentares que disputou, deputada gaúcha afirma que candidatura ao Planalto pelo PCdoB busca saída para a crise sem radicalismos

O ano de 2018 vai ser decisivo tanto para o Brasil, que terá eleição após sucessivos escândalos de corrupção de sua classe política, quanto para Manuela D´Ávila, que anunciou que vai concorrer à Presidência da República pelo PCdoB após ter sido a parlamentar mais votada pelos gaúchos em todas as eleições que disputou – iniciou-se na carreira aos 23 anos. 
Agora, aos 36, ela deverá ser a primeira do seu partido a pleitear o comando do país desde a redemocratização. “O PCdoB tem 95 anos. A nossa história é a prova de que não lançamos candidatura para causar”, disse em entrevista exclusiva a VEJA no seu gabinete de deputada estadual, em Porto Alegre, em resposta a quem acha que o lançamento de seu nome é apenas uma estratégia para marcar território – o PT, diz, pode ser um aliado, mas apenas no segundo turno na eleição.
Formada em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), casada com o músico Duda Leindecker e mãe de Laura, de 2 anos e três meses, Manuela se apresenta como uma alternativa para o eleitor atingido pela crise econômica, mas não recorre a discursos radicais. “O medo e o ódio não são propostas para sair da crise que o Brasil vive”, disse, fazendo referência a um provável adversário na disputa, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ)

Para ela, uma candidatura de extrema direita como a dele serve para impulsionar uma alternativa de centro. “O Alckmin, por exemplo, não é um candidato de centro, mas, diante do Bolsonaro, ele pode parecer”, disse.
PUBLICIDADE
Em 2016, uma foto da senhora amamentando a filha Laura na Assembleia repercutiu no Brasil inteiro. Por quê?
Decidi amamentá-la exclusivamente até os 6 meses. Era um dia normal na Comissão de Direitos Humanos e ela começou a chorar, chorar, e eu estava no meio da fala. Fiz o que todas as mães fazem: resolvi o problema dela. Amamentar não era um ato político. A repercussão dessa foto fez com que eu tivesse a dimensão de como o ato de amamentar é um tabu na nossa sociedade, que objetifica o corpo das mulheres. Cumprir a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é algo visto como um absurdo, um erro.
A senhora sempre atuou pelo direito das mulheres. Depois do nascimento de Laura, a perspectiva mudou?
Eu consegui muito mais conectar o tema da mulher com o tema do Brasil. Porque a maternidade torna muito visível o que é um Estado não adequado às mulheres. O que representa um Estado pequeno e a ausência de creches, de escola em turno integral, para uma mãe trabalhadora? O Brasil é um país muito violento com as mulheres. Pautas como salário inferior [ao dos homens] e assédio sempre fizeram parte da minha rotina de parlamentar. Mas talvez eu tenha compreendido o peso da maternidade na situação que a mulher vive no Brasil.
Manuela D’Ávila
A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) amamenta sua filha Laura durante comissão na Assembleia Legislativa (Reprodução/Facebook)
A primeira-dama, Marcela Temer, é embaixadora do programa Criança Feliz. O que acha do programa? O papel da mulher ainda é o de primeira-dama?
A ideia é boa, inspirada no Primeira Infância Melhor [do Rio Grande do Sul], mas não existe investimento para ele, é só uma jogada publicitária. Então, na realidade, dizer que vai investir nas nossas crianças congelando o investimento em políticas sociais por vinte anos [PEC dos Gastos] é uma falácia. Sobre ser primeira-dama, quando a gente debate que “lugar da mulher é onde ela quiser”, é para fazer com que as mulheres saibam que podem estar em qualquer lugar. Não é que não possam se sentir bem no espaço de primeira-dama. É que queremos mostrar que podem estar em outros espaços também.
Seu gabinete desenvolveu e distribuiu o “machistômetro”, um termômetro que indica atitudes machistas e orienta mulheres. Esperava os ataques que recebeu na internet?
A gente fez o machistômetro como apoio para os debates sobre violência contra mulher. Ele era bastante simples, mas acabou gerando muito impacto. Essa onda de ódio na internet acontece sistematicamente, não só com o tema das mulheres. Existem candidaturas que têm tentado organizar e potencializar o ódio e o medo.
Por que a senhora faz vários vídeos para o Facebook respondendo a comentários nas redes sociais?
Há pessoas que não percebem como o ódio é um instrumento político e pode sair das redes sociais para as ruas. Esses vídeos são feitos com o esforço de mostrar que é possível construir diálogos e soluções.
Essa onda de ódio na internet acontece sistematicamente, não só com o tema das mulheres. Existem candidaturas que têm tentado organizar e potencializar o ódio e o medo (…) Há pessoas que não percebem como o ódio é um instrumento político e pode sair das redes sociais para as ruas.
Quando anunciou a candidatura à Presidência, a senhora disse que eleição é seu “elixir da juventude”. Por quê?
Quando me candidato, falam: “Ela é muito nova”. Quando é que eu vou ficar velha? Este é meu quarto mandato e minha sétima eleição, e continuo eternamente jovem. Por isso, a eleição é meu elixir, nunca envelheço perante os olhos dos críticos. Fui eleita pela primeira vez quando tinha 23 anos. Agora tenho 36. É praticamente a idade do presidente da França [Emanuel Macron, 39 anos], basicamente a mesma idade do primeiro-ministro do Canadá [Justin Trudeau, 45 anos], da prefeita de Roma [Virginia Raggi, 39 anos].
Em 2011, a senhora presidia a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e pediu a saída de Bolsonaro do grupo. Em 2018, vão disputar o mesmo cargo. Conhece bem seu adversário? 
O Bolsonaro tem feito um esforço para aglutinar o ódio e o medo. Quando falei [no anúncio de sua candidatura] que o bom-senso da população é o principal adversário do Bolsonaro, é porque o medo e o ódio não são propostas para sair da crise que o Brasil vive. Fui colega dele por oito anos e sei que foi um parlamentar invisível. Ele não tem propostas sequer para as áreas nas quais estimula o ódio. Qual é a proposta dele para a segurança pública?
Quando me candidato, falam: ‘Ela é muito nova’. Quando é que eu vou ficar velha? Este é meu quarto mandato e minha sétima eleição, e continuo eternamente jovem. Por isso, a eleição é meu elixir, nunca envelheço perante os olhos dos críticos.
Mas Bolsonaro é um risco?
Ele é usado como alternativa de extrema direita para que que uma eventual candidatura de centro cresça, mas sem ser de centro. O Alckmin, por exemplo, não é um candidato de centro, mas, diante do Bolsonaro, ele pode parecer. Por isso precisamos debater ideias. Para que aqueles que defendem o fim do Estado não se passem por alternativas centristas, que não são.
Como a senhora se tornou candidata à Presidência? É a primeira candidatura majoritária do PCdoB desde a redemocratização.
No decorrer da construção do Congresso Nacional do partido [marcado para 17 e 19 de novembro], avaliamos que a melhor forma de apresentar as saídas que a gente interpreta como as melhores para a crise do Brasil seria lançando essa pré-candidatura. Foi um processo de uns seis meses da direção do partido comigo, de conversas, de diálogo.
A crise é grave, tanto econômica como política. Quais são suas principais propostas?
O tema central é a política econômica, retomar o crescimento. Politicamente, a candidatura defende uma frente ampla, que é a ideia de reunir setores maiores da sociedade. Como a gente faz para o Brasil entrar nesse período da revolução 4.0, da tecnologia, da quarta Revolução Industrial? Precisamos entender qual é o papel do Estado na indução desse crescimento. Precisamos saber qual é o Estado que servirá melhor o povo. De forma mais eficiente? Claro. Mas o debate sobre o Estado não é uma mera discussão sobre gestão. A gestão é fundamental, o Estado tem que funcionar, ser harmônico e ter menos burocracia. Mas a gente não pode fazer com que esse debate pareça que é o debate que vai resolver o problema da retomada do crescimento do Brasil. A gente está discutindo emprego. Melhorar gestão não necessariamente gera emprego.
Quais são as medidas efetivas para melhorar esse desempenho da indústria nacional?
Vou dar um exemplo das medidas [prejudiciais] do Temer, que é a alteração da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) [mudança de taxa subsidiada para taxa de mercado]. Defendemos um referendo revogatório da alteração porque sem a TJLP a gente jamais vai ter emprego de qualidade no Brasil. Porque todos os países têm banco de desenvolvimento com taxa de juro de longo prazo para favorecer a indústria própria e de inovação, que geram empregos. A mesma coisa com os juros e câmbio. A economia brasileira tem que estar a serviço do povo brasileiro. Como a gente tem taxas de juro tão altas se elas não servem para a indústria nacional, para gerar competitividade? Como a gente tem um câmbio que não serve para a indústria brasileira?
Há uma crise no Congresso, com parte significativa dos deputados investigada. Se for eleita, como conseguirá negociar com os parlamentares para ter governabilidade?
O Congresso também vai ser eleito em 2018. É preciso fazer esse debate com a sociedade: quais os compromissos dos parlamentares que serão eleitos? Acredito muito no debate com a população e com o Congresso. Cito o exemplo dos 10% do pré-sal para a educação. Era um grande pacto para o futuro do país, que foi destruído agora. Mas naquela ocasião o Congresso votou a favor por causa do debate popular. Acredito nessa equação.
A senhora já disputou eleições, como a municipal em Porto Alegre, contra candidatos do PT. Como é ter o PT adversário?
Nunca tive o PT como adversário. Nossas candidaturas sempre tentaram colocar os problemas das pessoas e da cidade no centro. Isso faz com que você enxergue os outros partidos de uma forma diferente. Tenho bastante tranquilidade com isso. Nós e o PT temos uma relação fraterna, mas somos partidos diferentes. É natural que tenhamos candidaturas diferentes e que nos encontremos, na frente, em eleições de dois turnos.
Gleisi Hoffman, presidente nacional do PT, elogiou a senhora na semana passada, em Porto Alegre, mas disse que o partido não desistiu de uma aliança com o PCdoB. A sua candidatura é só para tentar ocupar o cargo de vice?
O PCdoB tem 95 anos. A nossa história é a prova de que não lançamos candidatura para causar. Se fosse para causar, poderíamos ter lançado candidatura em todas as eleições e depois retirado. Lançamos a candidatura porque 2018 é o momento de discutir o futuro do Brasil, e não o passado. A gente tem uma caracterização política muito firme. Em 2016 houve uma ruptura, um golpe parlamentar e, a partir disso, se abre um novo ciclo. Temos uma interpretação muito parecida com a do PT sobre o passado. Mas as saídas para a crise nós temos as nossas e eles têm as deles. Sim, a gente acredita que vai se encontrar no futuro. Mas achamos que esse futuro é o segundo turno das eleições.
Quando anunciou sua candidatura, a senhora disse que a participação do ex-presidente Lula na eleição do ano que vem é importante. Por quê?
Eleição é momento de superação da crise, não de agravamento dela. Em uma eleição em que o Lula estivesse impedido de concorrer, a crise estaria agravada.
Mas a senhora acha que o Lula não cometeu crime, como aponta a Lava Jato?
Eu não sou juíza, mas, se ele cometeu crimes, é preciso que haja provas. O Lula e qualquer brasileiro têm que ser julgados pela lei, é isso que garante a democracia e a existência das nossas instituições. Enquanto não apresentarem uma prova de que ele cometeu crime, ele não cometeu crime. É assim com ele e deve ser assim como todos.
E o que pensa da Lava Jato e da atuação do juiz Sergio Moro?
A operação surgiu com o bonito interesse de combater a corrupção no Brasil, só que ela virou uma operação absolutamente política. Basta ver o que acontece hoje em Brasília, os desfechos e o entorno do presidente Temer.
Eleição é momento de superação da crise, não de agravamento dela. Em uma eleição em que o Lula estivesse impedido de concorrer, a crise estaria agravada.
No início deste ano, um delator, Alexandrino Alencar, da Odebrecht, chegou a citar a senhora na Lava Jato. Como foi sua reação? Isso avançou na Justiça?
Qualquer pessoa honesta se sentiria mal de ser citada por alguém naquela circunstância. Inclusive, citada de forma triangulada, não me menciona diretamente. O caso está fora da Lava Jato e está no Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul, não avançou ainda. Foi direto ao TRE por estar ligado à eleição, e não a outro tipo de crime. Ele me mencionou de forma equivocada. Fala coisas que não são verdadeiras, como eu ter recebido valor em caixa dois. Na verdade, eu recebi em caixa um, está registrado. Todas as doações da minha campanha foram legais. A prova maior é que ele diz que não se encontrou comigo. Qualquer pessoa honesta se sentiria mal de ver seu nome [envolvido] porque é uma injustiça. Mas, o.k., a Justiça vai comprovar isso.
A senhora é a favor da legalização das drogas?
É preciso discutir o tema na perspectiva proposta pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), unindo a sociedade para debater números, e não achismos. Quantos jovens morrem, qual é a situação da segurança, qual o resultado concreto. Os números mostram que a violência aumentou a partir de uma política de guerra às drogas. O Brasil pode fazer esse debate, vinculando inclusive a tributação das drogas a campanhas educativas de prevenção do consumo de todas as drogas. O Brasil subestima o consumo de drogas lícitas.
Alguns grupos, como o MBL (Movimento Brasil Livre) usam o termo “comunista” como xingamento. Por que isso acontece?
Por ignorância, por não saberem o que representamos. Somos aqueles que defendem a ideia do comum, de que é possível viver em uma sociedade com acesso ao básico.
Como seria uma Presidência comunista no Brasil?
Nosso projeto é de desenvolvimento com crescimento da economia a partir da indústria nacional, que significa emprego de qualidade com direitos sociais. As pessoas olham para outros países e buscam viver como as pessoas de lá vivem. Só que elas não enxergam que essa vida de andar tranquilo na rua, de poder ter o filho matriculado em escola pública, como é na Europa, tem por trás um projeto de país. “Quero viver como o inglês, que tem transporte público, mas sou contra o Estado.” Não combina. É preciso saber que aquilo existe a partir de um projeto de nação, que serve para Inglaterra, Holanda ou França. Qual é o nosso projeto? O governo do PCdoB será um governo amplo, que reúna setores, dialoga e constrói saídas que passam pela ideia de que é possível fazer do Brasil um grande país. Acredito nisso. O Brasil é muito maior do que o medo e o ódio que tentam plantar nos nossos corações